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Retinóides na quimioprofilaxia do câncer de pele em doentes

1. INTRODUÇÃO

1.4. Retinóides na quimioprofilaxia do câncer de pele em doentes

Os retinóides sistêmicos (etretinato e acitretina) têm sido usados para a prevenção e tratamento de lesões neoplásicas e pré-neoplásicas cutâneas em doentes imunossuprimidos por transplantes de órgãos sólidos.

Kelly et al. (1991) utilizaram etretinato na dosagem de 50mg/dia em 4 pacientes do sexo masculino por um período que variou de 8 a 13 meses; todos os pacientes obtiveram uma boa resposta ao tratamento, diminuindo

o número de lesões de queratose actínica e o número de lesões de carcinoma espinocelular durante o período com etretinato.

Bellman et al. (1996) administraram isotretinoína (0,5mg/kg/dia) como quimioprofilático para câncer cutâneo e queratoses actínicas em um único paciente transplantado renal. Observaram diminuição de queratoses e, após dois meses de tratamento aumentaram a dosagem para 1mg/kg/dia sem observar efeitos adversos.

Rook et al. (1995) ao tratar 11 doentes transplantados renais com etretinato (10 mg/dia) associado a creme de tretinoína a 0,025% observaram, aos seis meses de tratamento, uma considerável melhora nas lesões cutâneas. Mantiveram os doentes em uso de etretinato em dias alternados e tretinoína tópica a 0,05%. Observaram que na pele perilesional de quatro doentes o número de CL foi maior que antes do tratamento. Esse aumento foi maior na pele de dois doentes observados após 12 meses de tratamento. Entretanto, em um doente que foi submetido somente à terapêutica tópica o aumento das CL foi sete vezes maior que o basal. O número de linfócitos T aumentou na pele controle pós-tratamento de uma e meia a duas vezes o da pele controle antes do tratamento. Os autores concluem que o uso de tretinoína tópica seria adequado para a prevenção das lesões pré-neoplásicas e neoplásicas da pele desses doentes.

Gibson et al. (1998a) submeteram 11 doentes transplantados renais a terapêutica com etretinato na dose de 0,3 mg/kg/dia, como quimioprofilaxia para neoplasias cutâneas, e observam uma diminuição do

número de lesões cutâneas nos primeiros três a seis meses de tratamento quando comparado igual período antes do tratamento além de tendência a diminuir o número de carcinomas de pele nos 12 e 18 meses. Observaram boa tolerância dos doentes à medicação.

Gibson et al. (1998b) verificam uma tendência ao aumento da densidade das CL nas lesões de carcinoma espinocelular dos doentes transplantados renais que se desenvolveram durante o tratamento com etretinato em baixas doses quando comparada com aquela de tumores prévios à terapêutica.

Vandeghinste et al. (1992) relatam o uso da acitretina em um doente transplantado renal com queratoses actínicas e carcinomas. Referem que não houve aparecimento de novas lesões durante o tratamento.

Yuan et al. (1995) tratam 15 doentes transplantados renais com complicações cutâneas (queratose actínicas de aparecimento progressivo, verrugas virais múltiplas e carcinomas recorrentes) com acitretina em dose que variou de 10 a 50mg/dia. Os doentes referiram melhora subjetiva de sua pele e as queratose actínicas e verrugas melhoraram ou mesmo desapareceram. De seis doentes que usaram a medicação por 12 meses, o número de carcinomas diminuiu em quatro deles. Nove doentes apresentaram efeitos colaterais muco-cutâneos que foram controlados com a redução da dose. Nenhum doente apresentou alteração da função renal ou hepática. Não verificaram interação entre acitretina e ciclosporina em sete doentes que a utilizavam no esquema de imunossupressão. Os

autores ressaltam a necessidade de estudos prospectivos, duplo – cegos e multicêntricos para melhor avaliação dos benefícios da acitretina nesses doentes.

Shuttleworth et al. (1988) relatam bons resultados com etretinato na dosagem de 1mg/kg/dia por 6 meses em 6 pacientes. Quatro doentes apresentaram remissão completa total do quadro de queratoses durante o tratamento e em um foi quase total. A função renal manteve-se adequada em todos os pacientes submetidos ao tratamento.

Bavinck et al. (1995) verificam o efeito da acitretina (dose de 30mg/dia) no desenvolvimento de lesões queratósicas e carcinomas (espino e basocelular) em grupo de doentes transplantados renais através de estudo duplo-cego com grupo controle submetido a placebo. Não observam degradação da função renal com o uso do retinóide. Num período de seis meses de tratamento dois dos 19 doentes do grupo da acitretina apresentaram novos carcinomas espinocelulares contra 18 dos 19 doentes que tomaram o placebo. Observam ainda uma diminuição relativa de queratoses actínicas de 13,4% no grupo em uso do medicamento e 28,2% no grupo em uso do placebo. Três dos 19 doentes apresentaram aumento do colesterol no período e nenhum apresentou alteração na função hepática.

McKenna; Murphy (1999) verificam o efeito da acitretina em baixa dose (0,3 mg/kg/dia) como profilático, por período de cinco anos, do câncer de pele em grupo de 16 doentes transplantados renais. Doze dos doentes

apresentaram redução significativa do número de lesões quando comparado a igual período antes do tratamento. Dois doentes abandonaram o tratamento devido a efeitos colaterais e dois desenvolveram hiperlipidemia.

George et al. (2002) também utilizaram a acitretina na prevenção das lesões cutâneas pré-cancerosas e carcinomas de pele em doentes transplantados renais. Administraram a droga na dose de 25 mg/dia ou em dias alternados. De 23 doentes que iniciaram o tratamento 11 completaram dois anos no experimento. Dos 12 que abandonaram o tratamento nove o fizeram devido aos efeitos colaterais. Os autores referiram que o número de novos carcinomas no período de tratamento foi menor que em igual período sem tratamento. Relataram um efeito rebote no aparecimento de novos carcinomas espinocelulares em um dos doentes após terminado o período de tratamento.

A acitretina também foi utilizada na profilaxia de câncer cutâneo em doentes transplantados cardíacos. McNamara et al. (2002) utilizaram a acitretina em doses de 10 a 25mg/dia em cinco doentes transplantados cardíacos com lesões cutâneas pré-cancerosas e carcinomas. Verificaram melhora das lesões cutâneas sendo que em somente um dos doentes houve a necessidade de descontinuar a droga transitoriamente por efeitos colaterais.

Como vimos a maioria dos trabalhos revisados sobre o efeito dos retinóides na prevenção de processos pré-cancerosos e neoplásicos da pele nos doentes imunossuprimidos por transplantes avaliam a sua eficácia por

critérios clínicos comparativos relativos a igual período anterior ao tratamento ou com grupo controle pareado. Há raros trabalhos que analisam as alterações histopatológicas cutâneas e o comportamento de seus elementos celulares relacionados a imunovigilância contra tumores com o uso dos retinóides.

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