Como dito anteriormente, os objetivos gerais e específicos apresentados foram norteadores no desenvolvimento metodológico da pesquisa. A partir dos objetivos definidos, buscamos alternativas para coleta de dados que respondessem à questão de investigação lançada no início do processo.
80 Uma discussão a ser retomada decorre da natureza do objeto de estudo: o ser humano e suas ações inseridas em um contexto. Martins (2004) reforça as dificuldades em se fazer pesquisa dentro das ciências sociais, pois a complexidade dos fenômenos dificulta a separação de causas e motivações em cada ação e, portanto, não podem ser reproduzidos em laboratórios ou submetidos a grupos controle. A autora ainda reforça que não existe neutralidade nessa condição de pesquisa e a objetividade é relativa aos interesses do pesquisador. É justamente a ausência de neutralidade e controle sobre a pesquisa que desqualifica sua inserção em um paradigma positivista54.
Em contraponto, Bogdan e Biklen (1994) discutem diversas questões relacionadas à pesquisa qualitativa, inicialmente muito questionada pelos positivistas no que se refere à validação dos resultados obtidos a partir dos dados coletados. No entanto, Martins (2004) esclarece que:
As chamadas metodologias qualitativas privilegiam, de modo geral, da análise de microprocessos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais. Realizando um exame intensivo dos dados, tanto em amplitude quanto em profundidade, os métodos qualitativos tratam as unidades sociais investigadas como totalidades que desafiam o pesquisador. Neste caso, a preocupação básica do cientista social é a estreita aproximação dos dados, de fazê-lo falar da forma mais completa possível, abrindo-se à realidade social para melhor apreendê-la e compreendê-la (MARTINS, 2004, p.292).
Tratando especificamente do campo da Educação Matemática, a revisão bibliográfica apresentada no Capítulo 2 nos permitiu inferir que o método qualitativo é predominante entre os trabalhos nessa área. A escolha por essa metodologia pode estar diretamente relacionada à inserção nas ciências sociais, bem como a ampla possibilidade de ações paralelas ao processo educacional e que permitem a análise de diversos aspectos relacionados a uma determinada circunstância vivenciada em campo.
O método qualitativo possui características que, se bem observadas, traçam o caminho metodológico a ser seguido ao longo da pesquisa. Dessa forma, apresentamos algumas características fundamentais que foram baseadas em Bogdan e Biklen (1994), e procuramos identificar a presença delas em nosso trabalho, como apresentamos a seguir:
54Segundo Elizabeth Pádua (2004, p.23), a sua premissa fundamental é a de que o comportamento
humano em coletividade estaria sujeito às leis invariáveis de uma “física social”, podendo, portanto, ser previsto e investigado objetivamente (ALTMICKS, 2014, p.388).
81 1) O pesquisador pode recorrer às suas experiências, aos seus valores e crenças para coletar os dados, compreendê-los e interpretá-los, sendo assim de certa forma considerado como um instrumento de pesquisa:
Em nosso caso, trabalhamos na instituição onde a pesquisa foi realizada, e nossa experiência docente de Cálculo Diferencial e Integral I instigou as primeiras pesquisas que convergiram à questão de investigação apresentada neste trabalho. Além disso, estivemos em contato com os sujeitos da pesquisa, durante as aulas de Cálculo e em monitorias oferecidas extraclasse.
2) Os dados coletados são de natureza descritiva, muitas vezes são coletados sob a forma de palavras:
Fizemos anotações das observações de aula e das monitorias em um diário de campo e foram aplicados dois questionários, compostos por perguntas objetivas e discursivas. Além disso, aconteceram entrevistas clínicas e uma entrevista com o professor da disciplina.
3) Nesse tipo de pesquisa, qualitativa, a fonte direta dos dados é o ambiente natural:
A pesquisa foi feita ao longo de um semestre, dentro dos ambientes que os sujeitos de pesquisa se sentiam confortáveis: a sala de aula, a área de estudos da universidade, a sala do professor da disciplina e os ambientes virtuais que foram apresentados pelos estudantes, pelo professor e pela pesquisadora.
4) Os pesquisadores qualitativos se interessam mais pelo processo do que a busca por resultados ou geração de produtos:
O objeto de estudo está diretamente ligado ao processo, pois é de interesse da pesquisa compreender como as tecnologias podem auxiliar no desenvolvimento de estilos de aprendizagem. Portanto, observamos o processo de um sujeito inserido no contexto digital, descobrindo tecnologias que podem auxiliar seu processo de aprendizagem; senão descobrindo, ao menos aprofundando suas descobertas advindas do Ensino Médio. Outro
82 viés foi a descoberta (ou não) de estratégias para se aprender algo novo, e que essas estratégias podem ser amadurecidas (ou não) ao longo da vida acadêmica.
5) Nenhuma hipótese ou teoria é aceita previamente, o método de trabalho é indutivo:
De fato, não podemos afirmar de antemão que as tecnologias auxiliam a aprendizagem, nem tampouco podemos afirmar o contrário. A partir da análise dos dados coletados, tentamos compreender se as tecnologias puderam auxiliar no desenvolvimento de estratégias de aprendizagem e, em caso afirmativo, quais estratégias seriam identificadas.
6) O conhecimento da realidade depende da perspectiva de que se observa:
Como dito anteriormente, o pesquisador também é sujeito da pesquisa e, como tal, interfere na coleta de dados devido à sua perspectiva da situação. Neste trabalho, trabalhamos com o ponto de vista de uma pesquisadora que se apresenta como professora- observadora. No entanto, não nos privamos de ajudar um aluno que teve dúvidas durante o semestre e nos perguntou algo, muito menos deixamos de discutir a prática pedagógica com o professor da disciplina, especialmente quando ele assim possibilitou a partir de discussões paralelas à sala de aula. Assim, ao permitir-se relacionar com professor e alunos, intentamos como pesquisadora, ser um agente transformador da realidade que observa.
As características abordadas e detalhadas acima não são um conjunto de regras que foram seguidas passo a passo, mas sim um conjunto de pontos de afinidade entre nossa pesquisa e a teoria metodológica que mais se adequou às nossas propostas. No final, o caminho percorrido foi livremente traçado, de forma a cumprir os objetivos propostos no início do trabalho