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RETORNOS DO INVESTIMENTO EM CAPITAL HUMANO NO CRESCIMENTO

Segundo Nakabashi e Figueiredo (2008), mesmo com a ampla literatura econômica referente aos benefícios do capital humano no crescimento econômico, muitos trabalhos empíricos não conseguem obter esses retornos. Entretanto, quando se analisa a ótica dos retornos microeconômicos, muitos trabalhos demonstram a relação positiva do investimento em capital humano e a renda do agente. Para os autores, as diferenças podem ser explicadas pelos dados utilizados nas análises e pelos erros no modelo.

Sendo assim, os autores efetuam a análise dos impactos diretos e indiretos do investimento em capital humano no crescimento da economia. Os impactos diretos consistem nos benefícios do aumento da produtividade do indivíduo com todas as outras variáveis constantes (como capital físico e tecnologia). Para os impactos indiretos, leva-se em consideração o aumento de tecnologia disponível para a função de produção, sendo os fatores que influenciam a tecnologia e a difusão de informação.

Os dados trabalhados pelos autores estão divididos em duas amostras, a primeira com 96 países em quatro distintos períodos, sendo eles em 1985, 1990, 1995 e 2000 (Quadro 1), e a outra amostra é composta por 29 países, com o mesmo período da amostra citada anteriormente, porém com dados mais completos (Quadro 2).

Quadro 1 – Países que compõem a maior amostra

Fonte: Nakabashi e Figueiredo (2008).

Quadro 2 – Países que compõem a menor amostra

Fonte: Nakabashi e Figueiredo (2008).

O modelo utilizado no trabalho consiste na seguinte função de produção: 𝑌𝑖𝑡 = 𝐾𝑖𝑡𝑎𝐻𝑖𝑡 𝛽 (𝐴𝐿)𝑖𝑡1−𝑎−𝛽 (22)

Onde, as variáveis Y consiste no nível de renda, K, o nível de capital físico, e H, o nível de capital humano. A variável A é o nível de tecnologia, e L é o fator trabalho utilizado no processo de produção. O país e o tempo são representados pelas variáveis 𝑖 e 𝑡 respectivamente. As demais variáveis são parcelas de

fatores de renda. Após derivar e trabalhar a equação baseando-se em trabalhos distintos, os autores chegaram na seguinte expressão:

𝑦𝑖𝑡̇ 𝑦𝑖𝑡= 𝛼𝑖𝑖𝑡 𝑘 + 𝛽𝑖 𝑖𝑡ℎ + (1− 𝛼−𝛽)𝜋𝐻𝐴𝑖𝑡 𝐴𝑖𝑡1−𝜉 + (1 − 𝛼 − 𝛽)𝜑ℎ𝑖𝑡 ( 𝑇𝑡− 𝐴𝑖𝑡 𝐴𝑖𝑡 ) − (𝛼 + 𝛽)(𝑛𝑖𝑡 + 𝛿) + (1− 𝛼− 𝛽) 𝐴𝑖𝑡 𝜀 (23)

Para as seguintes definições, 𝛿 é taxa de depreciação para qualquer capital. Para a presente equação, o capital humano afeta a taxa de crescimento por intermédio da renda por unidade de trabalho, diretamente com o aumento das habilidades de trabalho na função de produção e, indiretamente, com a criação de tecnologia, onde aplica-se a quantidade de capital humano em P&D. Após efetuar mais tratamentos na equação, a fim de equilibrar os retornos diretos e indiretos do capital humano, atentos a qualquer particularidade de países, os autores chegam na seguinte equação:

𝑦𝑖𝑡̇ 𝑦𝑖𝑡= 𝛼𝑖𝑖𝑡 𝑘 + 𝛽𝑖 𝑖𝑡ℎ + (1 − 𝛼 − 𝛽) [ 𝜋𝐻𝐴𝑖𝑡 𝐴𝑖𝑡1−𝜉 + (𝜑ℎ𝑖𝑡 + 𝜑2 𝐹𝐷𝐼𝑖𝑡+ 𝜑3 𝑀𝑖𝑡+ 𝜑4 𝐹𝐷𝐼𝑖𝑡𝑖𝑡+ 𝜑4𝑀𝑖𝑡 𝑖𝑡) (𝑇𝑡 −𝐴𝑖𝑡 𝐴𝑖𝑡 )] − (𝛼 + 𝛽)(𝑛𝑖𝑡+ 𝛿) +(1− 𝛼− 𝛽) 𝐴𝑖𝑡 𝜀 (24)

Na equação apresentada, o crescimento da renda per capita não é necessariamente endógena. Após apresentar a equação a ser trabalhada, os autores abordam os dados aplicados no trabalho.

O período tratado consiste de 1985 a 2000. A primeira amostra, em que há ausência de alguns dados, é de 1996, conforme mencionado. A segunda amostra, que Nakabashi e Figueiredo (2008) entendem como mais confiável, aborda 29 países, entretanto composta com países de renda mais elevada.

Conforme Nakabashi e Figueiredo (2008), onde o investimento em capital humano aumenta a capacidade do indivíduo e sua produtividade, aumenta-se a difusão tecnológica, conforme o trecho a seguir:

Desse modo, a conclusão que se chega ao analisar os resultados da Tabela 1 é que o papel do capital humano parece ser mais importante via difusão de tecnologia, mesmo para os países ricos, pois os coeficientes de interação entre capital humano e distância da fronteira (ah) são positivos em todos os casos e significativos, exceto para os resultados apresentados na coluna (5) (NAKABASHI; FIGUEIREDO, 2008, p. 162).

A Tabela 4, a seguir, apresenta a Tabela 1 referida pelos autores.

Tabela 4 – Efeitos diretos e indiretos do capital humano sobre a taxa de crescimento da renda

Fonte: Nakabashi e Figueiredo (2008).

Os autores utilizaram o método de efeitos fixos (EF) para estimação da equação de regressão, em todos os casos. A seguir o quadro com a lista de símbolos utilizadas pelos autores para melhor entendimento dos resultados da tabela anterior.

Quadro 3 – Lista de Variáveis Utilizadas

Fonte: Nakabashi e Figueiredo (2008).

Os resultados encontrados para a amostra de 29 países, em que a variável dependente é a taxa de crescimento da renda por trabalhador, demonstraram seguir a mesma linha apresentada em outros trabalhos. O capital humano não possui fortes influências no crescimento econômico quando se controlam as demais variáveis utilizando a especificação da equação apresentada (NAKABASHI; FIGUEIREDO, 2008).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo apresentar a teoria do capital humano sob suas diferentes óticas e os retornos que os investimentos no capital humano proporcionam nos âmbitos macroeconômico e microeconômico. No segundo capítulo, observou-se que capital humano consiste no estoque do investimento em educação, treinamento e saúde. Todo investimento que aumente a produtividade do indivíduo pode-se considerar um investimento em capital humano. A definição de capital humano é ampla e, por esse motivo, dificulta as análises empíricas, assim como isolar a variável em todos seus âmbitos de investimento nas análises. Apesar de o capital humano ser tratado há um longo período, apenas após 1970 a teoria do capital humano tomou forma no modelo que se conhece hoje.

Identificou-se a abordagem de Adam Smith sobre a importância da aquisição de talentos e os estudos como capital do indivíduo como o início da teoria. O autor Irving Fisher também trabalhou a teoria, abrindo caminho para novos trabalhos e discussões acerca do tema. Mincer fez a teoria tornar-se mais conhecida ao abordar a relação entre o investimento do trabalhador e distribuição da renda. Já Theodore William Schultz demonstrou que a teoria poderia explicar algumas anomalias econômicas em seu trabalho, acompanhando Gary Becker. Todos os autores foram importantes para o estudo da teoria e a evolução do tema, sendo os últimos considerados pioneiros no assunto.

A teoria do capital humano busca identificar as diferenças da distribuição de renda e o crescimento econômico, atuando como uma variável importante na explicação do comportamento do crescimento em distintos países. Identifica-se que o investimento no capital humano possui benefícios diretos para o agente, assim como externalidades para a sociedade como um todo, demonstrando assim sua suma importância nos estudos do crescimento econômico de um país. Também se observa que o capital humano possui um índice de desenvolvimento mais rápido que o investimento em capital físico, o que mostra sua importância com o mesmo peso que qualquer outro investimento.

Identifica-se que a teoria explicaria as diferenças salariais, bem como as diferenças de desenvolvimento. Conclui-se que há variáveis importantes que

influenciam o capital humano do indivíduo, como a relação dos pais com os filhos na influência do investimento. Isso está diretamente relacionado a oportunidades que o agente possuirá para investir no seu capital humano e, consequentemente, à influência nos retornos futuros. Pode-se dizer que a teoria do capital humano apresenta relação importante para entender e analisar o crescimento econômico de um país.

No terceiro capítulo, foram abordados os retornos do investimento no capital humano no âmbito microeconômico. Na primeira subseção, entendeu-se os motivos que levam o agente a efetuar investimento no seu capital humano. O investimento apenas torna-se atrativo caso os retornos futuros compensarem o dispêndio ocasionado pelo investimento presente. O primeiro retorno para o indivíduo que investe em capital humano consiste no aumento da sua produtividade, o que o beneficia em razão das diferenças positivas salariais e atribuições. A segunda vantagem apresentada consiste no fenômeno da triagem, em que o currículo com maiores atividades relacionadas ao investimento no capital humano possui vantagens na pré-seleção. Os retornos discutidos são facilmente analisados empiricamente, conforme observa-se nos estudos sobre o efeito da educação sobre a renda. Sabe-se que há outras variáveis que também influenciam nos retornos salariais, como, por exemplo, o gênero, no entanto os estudos demonstram que o de maior importância, excluindo a idade, consiste nos anos de escolaridade. O contexto brasileiro demonstrou o mesmo comportamento, isto é, quanto mais anos dedicados ao investimento em capital humano, maiores os retornos salariais.

Na segunda subseção, analisaram-se os retornos do investimento em capital humano para as empresas. Identificou-se que mensurar os retornos para a empresa do investimento em capital humano apresenta algumas dificuldades, em virtude de os dados serem de difícil acesso e com pouca padronização referente aos retornos. O primeiro retorno que se pode concluir para a empresa é o aumento da produtividade dos agentes que a empresa efetua investimento no capital humano. O aumento da produtividade leva ao segundo retorno discutido. O aumento da produtividade dos colaboradores leva ao aumento de faturamento da empresa, que transfere parte para o reconhecimento dos funcionários por meio de melhorias no salário e outra para o lucro da empresa.

O último retorno abordado no capítulo consiste na competitividade da empresa a longo prazo.

O quarto capítulo apresentou os modelos de crescimento e sua relação com a variável capital humano. O capítulo admitiu o entendimento das variáveis principais para o crescimento econômico, incluindo a variável capital humano, e identificou o motivo de alguns países crescerem mais que outros.

O quinto capítulo apresentou estudos empíricos do capital humano. Na primeira subseção, se demonstrou o aumento do investimento em capital humano por meio da escolaridade formal. Com base nos resultados empíricos, pode-se afirmar que o investimento em escolaridade ocorre mais em países avançados, entretanto, em países em desenvolvimento, o aumento em investimento na educação demonstrou crescente positiva. Também ocorre de forma sútil a diminuição da diferença de investimento em anos de escolaridade em países avançados e em desenvolvimento. Na seguinte subseção, efetuou-se a discussão da análise empírica do investimento em capital humano no Brasil. No trabalho, concluiu-se que permanece vantajoso tanto para o indivíduo como para a sociedade efetuar o investimento em capital humano, da mesma forma que os ciclos de conclusões dos anos de escolaridade afetam os retornos. Na última subseção, identificou-se, empiricamente, a influência do capital humano no crescimento econômico, demonstrando que a variável do investimento em capital humano não possui grandes influências no crescimento econômico, quando as outras variáveis se encontram controladas.

Por fim, observou-se a importância da teoria do capital humano, suas diferentes visões e diferentes origens, assim como os benefícios do investimento em capital humano, para o agente, para a empresa e para o crescimento econômico. Identifica-se que a economia é construída por pessoas, suas decisões e suas conquistas individuais, que somadas às demais pessoas constroem a economia. O agente, sendo a principal variável para um crescimento econômico, demonstra que o investimento em capital humano é de suma importância para o entendimento de um país. A economia é orgânica e composta por todas as decisões somadas, sendo assim, o capital humano é o mais importante para a economia.

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