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CAPÍTULO I: Design e Metodologia Conceitos operativos

I.3. O DESIGN

I.3.2. Retrospectiva histórica

São muitos os momentos históricos que discutem e afirmam as várias tendências na afirmação do design e do seu processo. Apesar de que o objectivo deste trabalho não é fazer uma exaustiva abordagem à história do design, no entanto, é inevitável abordar alguns pontos principais interligados com as questões sobre a afirmação do design e da sua metodologia projectual.

Por volta das décadas de 60 e 70, do século XIX, influenciado pelas ideias de William Morris em Inglaterra era criado o movimento Arts & Crafts, a partir do qual se definiu a profissão ligada ao design. Segue-se a Art Nouveau (França), Jügendstil (Alemanha), Modern Style (Inglaterra) ou Sezessionstil (Áustria) que vão igualmente contribuir para mudanças no sector da arquitectura e que irá influenciar de igual forma as artes plásticas e o design (moda, mobiliário, produto, etc).

Os avanços tecnológicos, a partir do início do séc. XX, irão influenciar enormemente a qualidade em vários sectores, passando pela arquitectura, pela produção industrial de objectos, de comunicação e impressão gráfica. A partir desta evolução, percorre-se um trilho que encaminha o mundo do design e da arquitectura ao mundo moderno.

Em 1907, é fundada a Deutscher Werkbund - Liga de Ofícios Alemã (1907-1938), fundada em Munique por arquitectos, artistas, artesãos, designers e empresários alemães que, influenciados pela Jügendstil, tinham como objectivo melhorar o trabalho profissional mediante a educação e a propaganda — e através da integração da arte na produção industrial, por meio da formação e do ensino. Estas preocupações tiveram como linhas orientadoras duas facetas: por um lado a estandartização industrial e a tipificação dos produtos; por outro, o desenvolvimento da individualidade artística do criador (designer, artista, arquitecto, etc). Estas duas linhas de pensamento irão marcar o trabalho de projecto do século XX. Seguindo esta base, foram fundadas outras associações em diversos países (Áustria, Suiça, Suécia e Inglaterra), com o objectivo global de formar o gosto, tanto do lado do produtor como no do consumidor ou utilzador dos produtos. Um dos nomes fundadores da Deutscher Werkbund, é o de Peter Behrens. Considerado, por muitos, o primeiro designer industrial da era moderna, arquitecto de formação, projectou inúmeros projectos de arquitectura e trabalhou como publicitário e consultor artístico da AEG (Allgemeine Elektrizitäts Gesellschaft) onde projectou produtos de massa, para o consumo geral.

Um outro movimento, entre o final do século XIX e inícios do século XX, forma-se na Escócia - Modern Style, o qual teve como figura-chave Charles Rennie Mackintosh, que defendia a utilização de formas puras e linhas sóbrias, que se situavam entre a tradição dos móveis escoceses da Idade Média e as forças futuristas do construtivismo.

Em 1917, formou-se na Holanda o grupo De Stijl5, e seus maiores representantes foram Theo van Doesburg, Piet Mondrian e Gerrit T. Rietveld, que defendiam uma utopia estética e social, e uma produção orientada para o futuro. A estética apresentada tinha como príncipio o reducionismo formal e figurativo, baseando-se no uso, no campo bidimensional, do círculo, quadrado e triângulo e, no campo tridimensional, da esfera, cubo e pirâmide. Esta abordagem minimalista, levou à adopção de categorias de forma ainda hoje actuais e válidas. Talvez a frase de Dieter Ram - "menos design é mais design" - poderá ter sido originária ou influenciada de forma directa pela De Stijl. Este movimento, juntamente com outros que surgiriam na Alemanha e na Rússia, ocupa a vanguarda na evolução do design gráfico internacional.

Na Rússia, após a revolução de Outubro de 1917, forma-se o grupo dos construtivistas, que tinha como grande objectivo fazer chegar à população iletrada a informação. Pautados por preocupações estéticas-morais-sociais, irão desenvolver um tipo de design (gráfico) marcado pelo uso intensivo de apenas três cores (preto, branco e vermelho – tornava mais barata a impressão serigráfica) e a utilização de formas fortes e simples, mas com grande impacto visual.

Finalmente, a Bauhaus - o grande marco histórico no desenvolvimento do design. Em 1902, Henry van de Velde funda, em Weimar, um seminário de artes aplicadas e em 1906, também sob a sua orientação, funda uma escola de artes aplicadas. Walter Gropius, em 1919, originará a Staatliche Bauhaus Weimar (Casa da Construção Estatal de Weimar). A ideia fundamental de Gropius era a de que, com esta escola, a arte e a técnica deveriam tornar-se uma nova e moderna unidade, como afirma Bürdek (2006, p.28) em relação à Bauhaus “a técnica não necessita da arte, mas a arte necessita muito da técnica”. Estas unidas, deveriam criar uma noção de princípio social: consolidar a arte no povo (Bürdek, 2006, p. 28). Este conceito, defendido por Gropius, deu uma nova visão e criou um novo tipo de profissional para a indústria, alguém que na sua formação tenha tido a possibilidade de explorar e dominar, para além da moderna técnica, uma linguagem formal consolidada. Será a partir da Bauhaus que acontece a mudança definitiva na prática do artista/artesão para o que hoje conhecemos como a prática do design, com maior incidência na área industrial, mas também em outras áreas (gráfico, moda, etc). Será a partir desta escola, que se irão fundamentar e desenvolver algumas das preocupações, que o processo de projectar produtos levanta e as

várias perspectivas de abordagem à resolução de problemas. Entre os quais, os métodos de "pesquisa do comportamento", de "análise funcional" e de uma "ciência da configuração" que demonstram as grandes linhas orientadoras e objectivas na preocupação de entender o que se projecta, como se projecta e para quem se projecta. Segundo Eckstein (1985), Gropius afirma, em 1926:

"Um objecto é determinado pela sua essência. Para ser projectado de forma que funcione correctamente - um vaso, uma cadeira, uma casa - sua essência precisa ser pesquisada; pois ele necessita de cumprir correctamente a sua finalidade, preencher a suas funções práticas, ser durável, barato e bonito."(Bürdek, 2006,p.37)

A Bauhaus, já em Dessau, irá ser encerrada pelo advento da Segunda Guerra Mundial e por os seus professores serem considerados pelo nazismo como “artistas degenerados”. Apesar do seu carácter revolucionário, os seus projectos, dos anos 30, pouca influência tiveram na cultura de massas, sendo os seus produtos comprados apenas por grupos restritos e intelectuais abertos a estes novos conceitos de projecto. Contudo, não se pode negar o seu contributo e a influência das suas ideias no desenvolvimento da pesquisa, do ensino e da prática do design, que através dos seus docentes e alunos se propagou pelos EUA, pela Europa e resto do mundo.

Um outro ponto histórico importante, nasce na Alemanha, em 1952. A Hochshuke für Gestaltung Ulm - Escola Superior da Forma de Ulm (escola privada), irá influenciar a teoria, a prática e o ensino do design nas suas diferentes vertentes. Fundada por Inge Aicher-Scholl (1917-1998), Otl Aicher (1922-1991), Max Bill (1908-1994), entre outros, como homenagem aos irmãos judeus mortos pelos nazistas, na 2ª Guerra Mundial, dura até 1968. Sucessora da Bauhaus pelos seus métodos de ensino, disciplinas lecionadas, ideais políticos e também por acreditar que o design tinha um importante papel social a desempenhar; inclui nos seus programas novas disciplinas para o design como a ergonomia, a história da cultura e a semiótica; fotografia, tipografia, embalagem, sistemas expositivos e técnicas publicitárias que se consideravam como suportes ao projecto de design.

Em 1954, nasce o Push Pin Style criado por Milton Glaser, Seymour Chwast, Reynold Ruffins e Edward Sorel, considerado na época como um ponto de referência para o design gráfico dos anos 60. Como antítese ao Estilo Internacional suiço, considerado elitista e limitador, o Push Pin não se prendia apenas ao que era consiedrado o bom design, e incorpora nas suas criações elementos de várias influências (considerado por vezes excêntrico), inspiradas na estética do século XIX e nas tendências da cultura pop. Criou uma linguagem contemporânea, compatível com um design pós-moderno. No Push Pin foram projectados capas de discos, livros, cartazes, identidades visuais, tipografias originais e Revistas.

A partir da década de 60 e 70, o design entra numa ruptura com o paradigma modernista e, livre da rigidez, ingressa em grandes mudanças. Os avanços da informática vão impor uma crescente fluidez nos processos de comunicação, produção, uso e consumo. O pluralismo de ideias e conceitos aplicados ao design tornam-se a sua marca registada. Nesta época pós- moderna já não se pretende encontrar uma única forma correcta de fazer as coisas, encontrar a solução única que resolva todos os problemas. Tal como indica Cardoso (2008), talvez pela primeira vez, desde o início da era da industrialização, a nossa sociedade (ocidental) está disposta a conviver com a complexidade em vez de a combater e, com esta predisposição das tecnologias informáticas, a era do design entra num novo mundo de problemáticas na definição das suas áreas de desenvolvimento e de para quem trabalha.

Começámos por um design que se preocupava por produzir em massa um objecto que responde às necessidades das massas, para um objecto quase que individual e único, e que pode mesmo ser desenvolvido por apenas uma única pessoa, que controla todo o processo criativo e produtivo - objecto virtual (exemplo um website).

Contundo, esta não deverá ser considerada como uma visão esclarecedora da actualidade, no entanto fica no ar qual o caminho que o design e as suas mais variadas vertentes, irá seguir nesta nova era global e informatizada.

A Bauhaus e a Escola Superior da Forma de Ulm são, ainda actualmente, as bandeiras da educação em design. A estrutura do ensino da Bauhaus teve repercussões a nível mundial na estruturação de escolas de artes e design e Ulm contribuiu, grandemente, para o que hoje se considera o estilo internacional do design clássico. No entanto, não foram estas as únicas, como a história simplifica, a contribuir para o estudo, desenvolvimento e implementação do design na sociedade e na formação de um ensino direccionado para o design.