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Reunião de pais: as relações entre família e escola

No documento Tessituras docentes de avaliação formativa (páginas 144-148)

CAPÍTULO 3 ESCOLA COMO LOCUS DA PESQUISA: DESVELANDO

4.3. Tempos coletivos dos docentes e instâncias para a avaliação

4.3.2. Reunião de pais: as relações entre família e escola

A relação família-escola nas EMAM e EMLF, em geral, foi marcada por diferentes formas de relacionamento. Aliás, a pesquisa do GAME já havia identificado problemas de relacionamento decorrentes da não-compreensão dos eixos norteadores do Projeto Escola Plural, especialmente no que se refere à avaliação62, à ausência de notas e à não-retenção. No caso das escolas pesquisadas percebi queixas relacionadas com a pouca participação dos pais nas questões escolares. De acordo com os professores, quando necessitavam da presença dos pais, apoiando-os nos encaminhamentos de seus filhos, enfim quando mais necessitavam deles, eles estavam ausentes. Só com muito empenho conseguiam a presença deles a reuniões.

Por outro lado, observei que as famílias se interessavam muito pelos eventos culturais, religiosos, esportivos, como: festa junina, feira da cultura, formaturas, jogos

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De modo geral, os pais que se posicionam contra a proposta Escola Plural acham que a escola não está boa. A sua forma de entender a escola está ainda condicionada ao ensino tradicional, seriado e com reprovações. Do mesmo modo, a comunidade acredita na escola pelo que ela tem sido ao longo dos tempos, mas não sabe se a implementação da Escola Plural vai dar certo (GAME/FAE/UFMG, 2000b, p. 107).

internos, cultos ecumênicos63. Reclamações sobre ausência dos pais a reuniões estão claras nos seguintes depoimentos dos professores da EMLF.

“Precisamos pensar estratégias para envolvê-los mais. Cobrar a sua presença. Ser mais ousados para trazê-los na escola”. (ISAURA, Matemática e Filosofia, 1º ano, 3º ciclo, EMLF).

“Acho que a família está muito ausente. A participação é pequena. Precisam ter mais compromisso com a educação dos filhos. O aluno hoje na Escola Plural está muito caro: livros, bolsa escola, material e a família muitas vezes não reconhece”. (DANIEL, Matemática e Filosofia, 1º ano, 3º ciclo, EMLF).

Já esse professor preferiu analisar o desenrolar das reuniões:

“A reunião de pais está bem organizada, tem seqüência, temos uma preocupação com o trabalho pedagógico. Porém, as vezes falamos muito. O pai quer saber coisas mais simples. Quer saber como está seu filho. Falamos muito, quem sabe, precisamos ouvir mais?” (FÁBIO, Historia e Geografia, 1º, 2º e 3º anos, 3º ciclo, EMLF).

Os depoimentos revelam que os docentes não estão satisfeitos com a participação dos pais no processo educativo escolar. Por isso, defendem espaços- tempos para que a presença deles seja significativa. Por conseguinte definiram que nas reuniões de pais privilegiariam a partilha da vida escolar dos alunos. Assim, consideravam importante que os pais tivessem conhecimento do perfil da turma, do desempenho do seu filho, do trabalho desenvolvido e dos objetivos pretendidos. Para isso, garantiam acesso dos pais à avaliação individual (relatório), além de atendimento individual feito pelo professor, quando necessário.

Já na EMAM, percebi que os pais estavam presentes em diferentes momentos, tanto em grupos quanto individualmente. Havia receptividade grande por parte dos agentes da escola no atendimento aos pais, sempre que eles procuravam a escola. Além disso, nos momentos esportivos e culturais, nos momentos de enfrentamento de desafios da vida escolar dos filhos, os pais são convidados a participar.

Com referência à aceitação/compreensão da proposta plural, percebi coexistência de resistências e euforias, entre os pais. Muitos deram depoimentos positivos a respeito do desempenho obtido pelos filhos. Outros manifestaram

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Ao longo da pesquisa de campo ocorreram diversos eventos nas duas escolas. Percebi a presença dos pais nesses eventos através de registros fotográficos realizados pelas escolas com o objetivo de documentar a sua história. As fotos atestam uma presença significativa dos pais na Escola.

dúvidas com relação ao aproveitamento dos filhos questionando a falta de exercício para ser feito em casa ou quantidade de tarefas feitas no caderno, o qual nem sempre eram utilizados. Neste ponto parece-me pertinente apresentar algumas propostas apresentadas, para reflexão, aos pais e professores por ocasião da Preparação do II Congresso da Escola Plural. Dessas assembléias, os pais participaram e manifestaram sua opinião sobre o trabalho da escola. Como eixo norteador de preparação desse encontro, as duas escolas utilizaram a proposta sugerida pela SMED e GERED’s sobre a relação Escola – Família – Comunidade: qual tem sido o papel da família/comunidade nas escolas ao longo desses anos? Qual é o papel da família/comunidade na sua escola? De que instâncias, práticas e ações ela tem participado? Como é esta participação? Qual deve ser o papel da família/comunidade nas escolas? De que instâncias, práticas e ações ela deve participar? (Notas de Campo, maio de 2002, Assembléia em Preparação do II Congresso da Escola Plural).

O encontro de pais e professores na EMLF realizou-se dia 23/09/02 em dois turnos (manhã e noite). Além de considerar o roteiro básico proposto pela SMED, a avaliação contemplou a seguintes questões: Escola Plural – o que foi possível implementar? Facilitadores? Dificultadores? O que não foi possível implementar ? E, no final, definiram ações a curto, médio e longo prazo para superação das dificuldades.

Para trabalhar essas questões, a EMAM realizou um encontro com a comunidade no dia 26/10/02. Organizados em grupos, professores e pais discutiram juntos a Escola Plural identificando: aspectos positivos, negativos e o que precisa melhorar. Em todas essas ocasiões, os professores procuraram explicar, na forma mais clara possível, o sentido da proposta, realçando, ainda, o número de habilidades que eram formadas na escola e não eram registradas nos cadernos.

Os exemplos, a seguir, expressam a opinião dos professores sobre a participação dos pais às reuniões:

“É difícil trazer os pais na escola. A participação deles é fundamental. Com os que vêm estamos conseguindo dialogar”. (JOÃO, Educação Física, 3º ciclo, EMAM).

“Temos procurado envolver os pais no projeto educativo. Melhorou a confiança no grupo e a compreensão da Proposta Plural. Mas, as vezes, aparece ainda alguns questionamentos. Estão entendendo melhor o que significa inclusão”. (MARLENE, Educação Artística, 3º ciclo, EMAM).

E, este observa:

“Alguns não gostam da Escola Plural. Preferem o modelo tradicional. Outros entregam o filho para a escola e não acompanham o trabalho”. (MATEUS, Inglês, 3º ciclo, EMLF).

Um professor explica:

“O desafio é mobilizar os pais desinteressados, ausentes. Os pais que mais precisam da presença e apoio, estão longe. Dos que participam das reuniões, melhorou a compreensão da Escola Plural. O bom desempenho dos nossos alunos no ensino médio em outras escolas ajudou muito”. (SÔNIA, Ciências, 3º ciclo, EMLF).

Isso posto, com relação às formas de relação e comunicação escola-família, as duas escolas se esforçaram no sentido de sensibilizar os pais para a proposta. Promoveram várias atividades tendo em vista essa integração. Como exemplo disso, cito: elaboração de carta convite para reuniões que incluíam atividades culturais, esportivas e religiosas; conscientização dos alunos em sala de aula no sentido de entregarem os comunicados aos pais para que eles pudessem estar presentes às reuniões, assembléias, eventos. Além disso, mantiveram um sistema de recepção aos pais que procurassem a escola, atendendo-os e possibilitando o contato direto com os professores que trabalhavam com seus filhos.

Considerando os conflitos anteriores, percebi que houve um avanço significativo nas relações escola/família. A escola buscou estreitar essa relação e sensibilizar os pais para o Projeto Escola Plural. No entanto, à época da pesquisa, ainda existiam resistências, inseguranças e dificuldades de entendimento das mudanças ocorridas, especialmente no tocante à avaliação. A superação da cultura instalada entre os pais e os alunos da relação produto=nota era um desafio presente.

Os professores reconheciam e contavam com o importante papel dos pais no processo de escolarização dos filhos. Acreditavam também na existência de um sentimento, aliás generalizado, de que as mudanças para melhor somente ocorreriam nas escolas se elas fossem capazes de desenvolver laços de colaboração com as famílias e as comunidades.

Também a pesquisa realizada pelo GAME constatou que o tipo de relação escola/família está vinculado a alguns elementos importantes: localização, história

da escola e suas raízes no bairro, o projeto pedagógico construído pela direção e professores. De modo geral, a pesquisa destaca:

Foi unânime a opinião de que ainda há muito o que fazer no sentido de se conseguir o entrosamento escola/comunidade. Para as escolas, a principal forma de relação com a família ocorre mesmo por meio do interesse que os pais têm sobre o desempenho dos filhos e isso ocorre, ou espontaneamente, quando o pai procura, ou através de reuniões e atendimentos individualizados convocados pela própria escola (GAME/FAE/UFMG, 2000b, p. 111).

Também Abreu (2002) desenvolveu pesquisa analisando as lógicas da relação entre família de camadas populares e o programa Escola Plural. Em seus estudos, verificou que essas famílias reivindicam, da escola, primeiramente, a certificação escolar e os conhecimentos que julgam fundamentais para que os filhos possam se inserir no mundo contemporâneo e no mercado de trabalho e obter melhores condições de vida do que a vivida pelos pais. De acordo com Abreu (2002), de trinta famílias pesquisadas, dezessete mostraram-se predominantemente contra ao Programa Escola Plural e treze posicionaram-se de forma predominantemente favorável a ele.

Com referência às escolas pesquisadas, os depoimentos dos professores das duas escolas sinalizam que escola e família precisavam crescer nas relações. Para enfrentar os inúmeros desafios, os professores contam com o apoio dos pais. Assim, percebo que escola e família podem partilhar a responsabilidade pelo bom desempenho e crescente maturidade dos adolescentes, mantendo-se a especificidade dos papéis de cada um dos sujeitos dessa interação. Por isso, os professores tentaram criar estratégias para trabalhar em conjunto. No meu ponto de vista tal atitude demanda disponibilidade para o diálogo construtivo.

No documento Tessituras docentes de avaliação formativa (páginas 144-148)