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A reunião de demandas é determinada, nesses casos, por razões de economia processual, “já que, em função da mencionada afinidade, é comum que a mesma fase probatória

possa ser partilhada por ambas as ações, e as provas, que deverão dar origem a duas sentenças,

sejam produzidas de uma só vez”

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. Também tem por objetivo prevenir a existência de decisões logicamente contraditórias, cuja vedação pode ser extraída do princípio da isonomia.

Conexão é instituto que identifica a semelhança entre demandas, em razão da comunhão de pedido ou causa de pedir (art. 55 CPC)

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. A reunião das causas é consequência do reconhecimento da existência de conexidade entre elas

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, assim como também justifica a formulação de pedido reconvencional (art. 343 CPC) ou a formação de litisconsórcio (art. 113, II CPC). O legislador, portanto, estabelece o conceito de conexão

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, orientando uma das

430 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso.. v. 1, op. cit., p. 161.

431 O conceito de conexão de Carnelutti, como ele próprio explica, apresenta “una grande ampiezza o elasticitá”

(CARNELUTTI, Francesco. Lezioni di Diritto Processuale Civile, v. 4. Padova: Cedam, 1986, p. 29). Para o autor, são lides conexas aquelas “la cui decisione richiede la soluzione di questioni comuni o, in altre parole, di questioni identiche. É la identitá delle questioni, non la identitá (totale o parziale) degli elementi della lite, che determina o costituisce la connessione” (Ibid., p. 26). E arremata: “La conessione comprende la comunanza di una come la comunanza di tutte; la comunanza della questione principale come di una questione secondaria; di una questione di diritto come di una questione di fatto” (Ibid., p. 30). Antonio Junqueira Azevedo parte de concepção semelhante.

Para o autor, “há conexão sempre que duas ou mais causas tiverem um ou vários elementos em comum, desde que essa comunidade de elementos tenha a possibilidade de, tomada isoladamente ou somada a outros fatores, produzir um efeito processual qualquer” (AZEVEDO, Antonio Junqueira de. Conceito, identificação e conexão de causas no direito processual civil. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1967, p. 78). A partir deste conceito, o autor estabelece dez graus de conexão, definidos pelos seguintes critérios: a) identidade de ação, caso em que basta a conexão para a produção dos efeitos; b) identidade de violação; identidade de exigibilidade; identidade de direito subjetivo; identidade do fato jurídico, todas hipóteses de “conexão pelo título” para as quais, além da conexão, é necessária a vontade de uma das partes para a produção dos efeitos; c) identidade do titular passivo; identidade do titular ativo; identidade do objeto do direito subjetivo; identidade de fato; identidade de norma jurídica, nas quais são necessárias, além da conexão, as vontades de todas as partes para a produção dos efeitos. Por fim, a conexão imprópria, para o autor, é aquela que ocorre “entre causa e pedidos de medidas cautelares ou de jurisdição voluntária, ou destes entre si”, sendo que a produção de efeitos, neste caso, é “entregue ao poder discricionário do juiz” (Ibid., p. 98). Proto Pisani indica as seguintes hipóteses de conexão: a) identidade total ou parcial “di uno o due degli elementi necessari per l’individuazione del rapporto giuridico fatto valere in giudizio o, il che è lo stesso, della domanda giudiziale”, ou seja, partes, pedido e causa de pedir; b) por “pregiudizialità-dipendenza tra rapporti sostanziali”, isto é, aquela hipótese “in cui un diritto o un rapporto giuridico è elemento costitutivo, modificativo, impeditivo o estintivo di una fattispecie da cui deriva un diverso diritto o rapporto giuridico”; c) por mera identidade de questão de fato ou de direito da qual dependa a solução (total ou parcial) da controvérsia. Neste caso, distingue a conexão meramente subjetiva, “che si attua quando più domande giudiziali sono connesse per il solo fatto di essere proposte da o contro le medesime parti (che si affermano) titolari dei rapporti giuridici dedotti in giudizio”, e a conexão objetiva, “che ricomprende tuttle le ipotesi in cui il collegamento tra le domande giudiziali si attua mediante elementi che attengono alla fattispecie fonte del rapporto giuridico dedotto in giudizio o al rapporto stesso”. Esta última abrange a conexão por identidade de questão de fato ou de direito, por identidade total ou parcial de fato constitutivo ou causa de pedir, por prejudicialidade-dependência, e por “identità di rapporto fatto valere in giudizio o petitum”, que se distingue em “connessione per incompatibilità e per alternatività, quando l’identità investe solo gli ementi oggettivi del rapporto dedotto in giudizio” e “connessione per identità di petitum e di causa petendi quando oggetto delle più domande è un rapporto plurisoggettivo” (PISANI, Andrea Proto.

Lezioni di Diritto Processuale Civile, sesta edizione. Napoli: Jovene Editore, 2014, P. 317-318). A respeito da conexão por identidade de questão de fato e de direito, afirma tratar-se de hipótese frequente nas controvérias trabalhistas, quando cada trabalhador “deduce in giudizio un distinto e autonomo diritto, fondato su una distinta e autonoma causa petendi, rappresentata dal contratto di lavoro. D’altra parte, però, sull’na (non sul quantum) del diritto azionato dipende dall’interpretazione della stessa norma giuridica o dello stesso contratto collettivo o di contratti individuali similari” (Ibid., p. 341).

432 DIDIER JR., Fredie. Curso... v. 1, p. 74.

433 Em sentido contrário, entendendo que o dispositivo não chega a conceituar a conexão, na medida em que “não exclui que haja outros tipos de vínculos de conexidade que não aquele decorrente da identidade total ou parcial entre pedidos ou entre causas de pedir de demandas distintas”, OLIVEIRA, Bruno Silveira de. Da modificação de competência. In WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR., Fredie; TALAMINI, Eduardo; DANTAS,

hipóteses que, no direito brasileiro, admite a reunião de demandas. Como se vê do dispositivo citado, essas hipóteses se dividem em identidade de pedido ou de causa de pedir, mas com uma

“intensidade menor do que em se tratando de continência, litispendência ou coisa julgada”

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, na medida em que a identidade de apenas um dos elementos que compõe o pedido (pedido mediato) ou da causa de pedir (remota) é suficiente à sua caracterização

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.

A identidade das causas de pedir de demandas diversas, portanto, determina a reunião de demandas por conexão. O que se constata de imediato é que nos fatos

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, e não na fundamentação jurídica, reside o elemento mais importante dessa hipóteses de conexidade entre demandas. Uma questão de fato que seja objeto de diferentes ações pode ensejar a conexão, ainda que a qualificação jurídica e o resultado (pretensão) que se pretenda extrair desse fato sejam diversos. Retome-se aqui tudo o que se disse no item anterior, em especial a posição de Castanheira Neves no sentido de que, uma vez trazido ao processo, o fato jamais será um simples fato, sendo diretamente influenciado pelo direito. Fatos iminentemente jurídicos, mas ainda não qualificados juridicamente. É este o elemento essencial para a identificação de conexidade entre demandas.

Para fins de conexão e consequente reunião de demandas, portanto, basta que um ou mais fatos, dentre aqueles que compõem a causa de pedir, sejam idênticos

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. Em outras

Bruno. Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil, 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p.

245.

434 MONIZ DE ARAGÃO, Egas. Conexão e “tríplice identidade”. In Revista de Processo n. 29, jan.mar/1983, p.

54. Para o autor, à luz do CPC de 1973, “o Código de Processo Civil é perfeitamento fiel à lição de Pescatore, que abona as disposições inscritas em seus arts. 104 e 300, §2º, nos quais está bem delineada a exigência da tríplice identidade para caracterizar a coisa julgada e a litispendência, enquanto que para a conexão, afastada a identidade, basta a existência de elementos comuns, como acertadamente dispõe o art. 103” (Ibid., p. 56). A teoria de Pescatore acerca da conexão é elaborada a partir da configuração dos três elementos da demanda, do que emerge “due sommi generi di cause connesse: il primo di quelle che abbiano due elementi comuni e un solo diverso; il secondo di quelle che abbiano due elementi diversi, e un solo comune. Ciascuno di questi generi si suddivide poi in tre specie;

perocché tre essendo gli elementi, l’elemento diverso nel primo genere, e l’elemento comune nel secondo può variare tre volte” (PESCATORE, Matteo. Sposizione Compendiosa della Procedura Civile e Criminale nelle somme sue ragioni e nel suo ordine naturale, v. I, parte I. Torino: Unione Tipografico Editrice, 1864, p. 168).

435 MONIZ DE ARAGÃO, Egas. Conexão... op. cit., p. 55.

436 Em interessante estudo acerca do tema, Tomás Pará Filho entende a conexão como uma relação de dependência genérica ou finalística entre ações diversas que possuem finalidades equivalentes ou visam a efeitos que se completam ou compenetram. Afirma que “para verificar essa relação de dependência genérica ou finalística, não há senão analisar os fatos determinantes ou condicionates dos direitos ou das relações jurídicas demandadas, de modo que a conexão preexiste, quase sempre, ao processo, na relação de direito material subjacente, real ou alegada” (PARÁ FILHO, Tomás. Estudo sobre a conexão de causas no processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1964, p. 65). Não por outra razão, ressalta que se deve pesquisar a conexão “na esfera dos fatos que condicionam, causalmente, as relações jurídicas. O que patenteia, também, o caráter instrumental do processo”

(Ibid., p. 153).

437 Bruno Silveira de Oliveira apresenta interessante e didático exemplo: “Pensemos, por exemplo, em duas ou mais demandas condenatórias fundadas em responsabilidade civil por um mesmo acidente de trânsito, envolvendo um ônibus de transporte municipal. Suponhamos que um dos passageiros vitimados haja voltado sua pretensão contra a concessionária do serviço; outro contra o motorista do coletivo e, quem sabe, um terceiro contra o município concedente, imputando-lhe falhas na manutenção do sistema viário (por exemplo, um defeito no semáforo do cruzamento onde ocorreu o sinistro). Temos aí três demandas fundadas na mesma alegação fática

palavras, há, entre as causas, um fato único comum que sustenta as (variadas ou não) fundamentações jurídicas e pretensões formuladas em cada uma das demandas. Nesse caso, e desde que o juízo seja competente e o procedimento compatível, deverá ser determinada a reunião das demandas para julgamento conjunto. A medida é obrigatória. Se dúvidas havia no regime anterior quanto à obrigatoriedade da reunião de demandas como decorrência da conexão, foram elas supridas com a previsão do art. 55 do CPC de 2015

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.

A conexão, porém, não é a única hipótese que autoriza a reunião de demandas. O Código de Processo Civil de 2015 cria nova hipótese de reunião de ações, inserta no §3º do art.

55, viabilizando o julgamento conjunto de “processos que possam gerar risco de prolação de