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2.6 APROVEITAMENTO DE EFLUENTES TRATADOS

2.6.2 Reuso industrial de água não-potável

Para o reuso industrial não-potável e não-agrícola, os critérios específicos de qualidade devem ser analisados caso a caso. Não existe legislação específica sobre o assunto no país. O nível de tratamento depende da qualidade requerida para a água de reuso. Trata-se da reciclagem de água, com aproveitamento dela no próprio processo onde foi gerado o efluente (BLUM, 2003).

O PROSAB apresenta diretrizes para reuso urbano de esgoto tratado (Tabela 4). Os usos urbanos podem ser: irrigação de áreas verdes, descarga de toaletes, lavagem de pisos e edifícios públicos, controle de poeira, construção civil, entre outros. Em relação ao uso restrito, o limite de coliformes termotolerantes é o mesmo recomendado para o reuso agrícola. Para todos os usos recomenda-se que o efluente apresente qualidade esteticamente não objetável.

Tabela 4 – Diretrizes do PROSAB para reuso urbano de esgoto tratado Categoria de Irrigação Coliformes termotolerantes NMP/100mL Ovos de helmintos unidade/|L Irrestrita ≤ 200 ≤ 1 Restrita ≤ 104 Predial* ≤ 104 * Descarga de toaletes

Fonte: Bastos e Bevilacqua (2006)

O trabalho de Blumenthal et al. (2000), sobre as diretrizes inglesas para reuso de esgoto, cita três abordagens para o estabelecimento de critérios de qualidade para o uso de esgotos sanitários, e que são aplicáveis ao reuso industrial de água não-potável:

- ausência de riscos potenciais (perigos), caracterizada pela ausência de organismos indicadores e/ou, patogênicos no efluente;

- ausência de risco de doença, que seja atribuível à utilização de esgotos dentre uma população exposta;

- aplicação de uma metodologia de Avaliação de Risco e a definição de níveis de risco aceitáveis, ou seja, a estimativa da concentração de patógenos no efluente correspondente ao nível de risco aceitável em uma dada população.

De acordo com esses autores, as duas primeiras abordagens são bastante restritivas e possuem um caráter de incerteza, já que a maior dificuldade da epidemiologia (estudo dos fatores que agem em uma doença) é justamente a demonstração convincente da associação entre fatores e doenças. Para Natal (2004), um determinado fator pode estar associado a várias doenças e uma doença é decorrente da atuação de diferentes fatores.

Sendo assim, segundo Bastos e Bevilacqua (2006) a análise de risco tem sido incorporada aos estudos dos diferentes e possíveis impactos na saúde pública decorrentes da prática do reuso, proporcionando possibilidades de identificação ou estimativa do risco atribuível à esta prática.

Peterson e Ashbolt (2002)2, autores das diretrizes da OMS para o reuso agrícola, referenciados por Bastos e Bevilacqua (2006), estabelecem uma metodologia para a estimativa de risco biológico. Ela consiste em etapas de formulação do problema, caracterização dos cenários de exposição ao agente patogênico e da interação entre o patógeno, ambiente e população. Nesta etapa, faz-se também a caracterização dos efeitos à saúde e da dose-resposta. Com estas informações, define-se a probabilidade de infecção decorrente de n exposições à mesma dose. Na conclusão da análise, o risco calculado é comparado com o risco aceitável.

2

PETERSON, S. A. e ASHBOLT, N. J. WHO Guidelines for the safe wastewater and excreta in agriculture: microbial risk assessment section, 2002.

A definição do risco aceitável é então um fator determinante no resultado da análise. No caso das operações de limpeza de granjas de suínos (lavação de baias, por exemplo), onde o ambiente e as condições de trabalho são a princípio carregados de risco microbiológico decorrente dos dejetos dos animais, o risco apresentado pela água de reuso é muito difícil de ser quantificado, já que o meio é o maior fator de exposição aos contaminantes (patógenos e substâncias tóxicas). Para o aproveitamento do efluente tratado na limpeza das instalações, o mesmo não deve oferecer também risco à saúde animal. Neste caso pode ser aplicada s recomendação do Occupational Safety and Health

Administration dos Estados Unidos – OSHA, citada por Donham et al.

(2006), que aborda a questão da acumulação de resíduos nos criadouros de suínos, os quais podem gerar gases tóxicos e asfixiantes para os animais e trabalhadores, se manejados inadequadamente e em local pouco ventilado. Segundo o autor, a amônia (N-NH3), ácido sulfídrico (H2S), e monóxido de carbono (CO) são os primeiros gases que devem ser considerados.

A presença de CO deve-se à combustão em motores, não tendo relação com os dejetos. Já amônia, que tem odor detectável em concentração acima de 5ppm segundo Donham et al. (2006), poderia representar risco caso ocorra sua transferência do líquido (dejeto) para o ar. Porém, esta transformação somente ocorre com altas temperaturas ou pH maior que 10 (ARAUJO, 2007).

3 METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em uma média propriedade produtora de suínos no município de Braço do Norte – SC (Figura 2), de propriedade do Sr. Vilibaldo Michels. A área apresenta relevo acidentado, com cerca de 2,2 mil animais, criados em sistema de confinamento. A produção ocorre em ciclo completo, com unidades de maternidade, creche, crescimento e terminação. O tempo de permanência dos leitões na granja, do nascimento até a terminação, onde atingem 100 Kg, é de 5,5 meses em média.

Figura 2 – Localização do município Braço do Norte em Santa Catarina

Fonte: www.mapaintererativo.com.br

O sistema de tratamento existente é composto de lagoa de decantação, biolagoa (biodigestor), lagoa anaeróbia, lagoa facultativa, lagoa de maturação e filtro de pedras. A unidade piloto lagoa com filtro de pedras (L+F) foi instalada após a lagoa facultativa, sem passar pela lagoa de maturação, recebendo apenas parte da vazão total efluente da lagoa facultativa (aproximadamente 2%). O piloto filtro de pedras (FP) recebe parte do efluente da lagoa de maturação (aproximadamente 2%).

A produção de dejetos é bastante variável: 20 m3/d, em média, sendo que aproximadamente 15 m3/d passam pelo sistema de tratamento existente (Figura 3) e o restante é armazenado em uma lagoa de decantação e utilizado em fertirrigação.

ST) retorno do efluente ao Sistema de Tratamento

Figura 3 - Fluxograma e disposição das unidades de tratamento da “Estação Experimental de Tratamento de

Dejetos Suínos” – média propriedade Vilibaldo Michels (a partir de 2008) Lagoa Anaeróbia

Lagoa Facultativa

Lagoa de Maturação Filtro de Pedras

Recalque Biolagoa Lagoa de Decantação Dejeto Bruto Efluente Tratado Reservatórios de Reuso Filtros de Pedras Piloto

Lagoa-filtro Piloto ST*

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