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6 DECISÕES DO CONSELHO E DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO

6.5 B REVE ANÁLISE DA COM(2015) 285 FINAL

Ainda no ano de 2015 a Agenda Europeia da Migração, adotada pela Comissão Europeia a 13 de maio de 2015, identificou a “luta contra o tráfico de migrantes como uma prioridade” com o objetivo de evitar a exploração de migrantes por redes criminosas. Da mesma forma, tal agenda buscou também desestimular a migração irregular. A proposta é fazer uma inversão econômica no processo, de maneira que tais operações passem a ser “de alto risco” e “pouco rentáveis”273.

É nesta perspectiva que surge o plano de ação contra o tráfico de migrantes. Tal plano apresenta-se como relevante especialmente pelo momento em que surgiu, no auge da crise dos refugiados, que foi um momento em que pessoas menos escrupulosas se aproveitaram da situação de fragilidade e de hipossuficiência dos refugiados para deles se aproveitarem economicamente. A título de exemplo,

Embora não haja dados disponíveis sobre os lucros obtidos pelas redes de passadores a nível mundial, alguns casos isolados mostram que são avultados. Num único caso – o do cargueiro Ezadeen que foi intercetado em 1 de janeiro de 2015 pela operação conjunta Triton com 360 migrantes a bordo – calcula-se que os traficantes tenham ganho 2,5 milhões de EUR274.

O plano engloba algumas ações para caracterizar a resposta europeia ao tráfico de migrantes. O ponto de partida é o estabelecimento de uma forte rede de cooperação no âmbito da própria União Europeia, bem como com países terceiros de origem e de trânsito, organizações internacionais e a sociedade civil. O objetivo último é a garantia dos direitos humanos destes mesmos migrantes. Destaca-se ainda a possibilidade de serem encontradas as causas da própria migração irregular, buscando sanar tais causas e evitar, desta maneira, a quase

273 COMISSÃO EUROPEIA. COM(2015) 285 final. Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao

Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões. Plano de Ação da UE contra o tráfico de migrantes (2015 – 2020). Bruxelas, 27/05/2015, p. 2. Disponível em: <https://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52015DC0285&from=PT>. Acesso em: 6 jun. 2018.

incontável perda de vidas em consequência do tráfico dos migrantes275. Os pontos centrais do plano contra o tráfico de migrantes são os seguintes:

1) Reforçar as respostas policiais e judiciárias276

Busca-se aumentar a capacidade policial dos Estados-membros e das agências da União Europeia no sentido de investigar e processar as redes de tráfico. Da mesma forma, espera-se que a colaboração entre estas instituições leve à penalização e punição efetiva daqueles que realmente cometem tais crimes, evitando criminalizar quem realmente precisa de assistência humanitária.

Esta ação passa pela identificação, captura e destruição de embarcações, inclusive com a criação de uma lista de embarcações suspeitas. Serão também criados critérios de risco que possam identificar tais embarcações antes mesmo de chegarem ao território europeu. Há a indicação de que a FRONTEX será a responsável por realizar o reboque das embarcações à terra firme para sua posterior destruição.

Outro foco passa pela realização de investigações financeiras eficazes e efetivas, as quais poderão apreender e recuperar bens de origem criminosa, bem como evitar o branqueamento de capitais. Haverá maior preocupação em analisar os aspectos financeiros do crime organizado de tráfico de migrantes por meio da cooperação com bancos, serviços de transferência de crédito e emissores de cartões de crédito.

Propõe-se também a criação de agências nos Estados-membros que atuassem como um ponto de contato único, no respectivo Estado-membro, contra o tráfico de migrantes. Desta forma seria possível centralizar e organizar as informações reunidas por estas diferentes agências no espaço europeu transformando-as em insumos para as políticas futuras de combate a este crime.

2) Melhorar a recolha e a partilha de informações277

Conhecer o modo de operação das redes internacionais de tráfico de migrantes, bem como suas rotas e seus modelos econômicos, é elemento fundamental para combatê-las de maneira realmente eficaz. É nesta perspectiva que surge a proposta de reforçar a capacidade de

275 COMISSÃO EUROPEIA, COM(2015) 285 final..., cit., p. 3. 276 COMISSÃO EUROPEIA, COM(2015) 285 final..., cit., p. 4-5. 277 COMISSÃO EUROPEIA, COM(2015) 285 final..., cit., p. 6-7.

inteligência das agências da União Europeia com o objetivo de obter, trocar e analisar informações a respeito do tráfico de migrantes.

Além disso, propõe-se também o aumento das capacidades das delegações da União Europeia no sentido de avaliar a migração originária em países-chave para a União. Estimula- se também maior cooperação com a Interpol, especialmente nos países africanos que enviam migrantes para a Europa.

Ainda, outro aspecto destacado é a inteligência na previsão de movimentos migratórios. Desta forma seria possível trabalhar em conjunto com Estados terceiros objetivando-se prevenir a saída das pessoas de tais países. Indica-se que a concentração e a junção de informações obtidas pelas diversas agências europeias podem auxiliar nas investigações que levam ao desmonte das redes de tráfico de migrantes.

3) Reforçar a prevenção do tráfico e a assistência a migrantes vulneráveis278

Um outro foco do plano diz respeito à sensibilização das pessoas para os riscos do tráfico. A proposta é a de tentar conscientizar as pessoas de que aqueles que são mais vulneráveis, como as crianças, não devem embarcar em travessias potencialmente mortais. Nesta perspectiva o plano estimula a criação do que chama de “contradiscurso nos meios de comunicação social”, com o objetivo de mostrar às pessoas que a migração não é tão fácil quanto os passadores fazem parecer. A realização de campanhas de informação é primordial para o sucesso deste objetivo.

Da mesma maneira, a União Europeia se propõe a realizar mais esforços para melhorar a assistência e a proteção àqueles migrantes que são vítimas de tráfico, com ênfase em grupos vulneráveis como mulheres e crianças.

Ainda neste objetivo, é indicado o interesse em realizar não apenas campanhas, mas também parcerias com empresários cuja atividade-fim possa ter algum tipo de relação com o tráfico, como é o caso dos transportes, nomeadamente os marítimos. A proposta visa à conscientização de tais empresários no sentido de mostrar de que maneira a aceitação de determinadas propostas comerciais para a prestação de seus serviços pode trazer impacto negativo a quem os utiliza.

Indica-se também a realização de campanhas de conscientização a respeito da prerrogativa que a União Europeia tem de enviar de volta os migrantes ilegais. A perspectiva é

tentar dissuadir aqueles que, iludidos pelas promessas realizadas pelos passadores, busquem entrar em território europeu de maneira ilegal. A perspectiva é a de mostrar que a União Europeia efetivamente irá cumprir sua promessa de fazer regressas aqueles que se apresentam de maneira irregular.

4) Aumentar a cooperação com países terceiros279

A perspectiva aqui estabelecida diz respeito à necessidade de cooperar de maneira próxima com países terceiros buscando acabar com a impunidade. Além disso, tal cooperação irá buscar encontrar as causas da migração, de maneira que a União Europeia possa contribuir, de alguma forma, com o fim dessas migrações, nomeadamente as irregulares.

Tal ação implica na transferência de competências e recursos aos países terceiros, reforçando suas capacidades próprias. Tal transferência se dá tanto no que diz respeito à troca de informações e cooperação policial e penal quanto na própria transferência de ciência e tecnologia de uma região a outra.

Isto está em consonância com o que é chamado de aumento da coerência e do impacto das ações da União Europeia em países terceiros. A proposta é fazer com que redes de agentes de ligação de imigração possam contactar agentes de outros países e também de organizações internacionais para o estabelecimento de ações conjuntas em outros territórios, evitando ou ao menos diminuindo o número de migrantes e, consequentemente, do tráfico.

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