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89 Até a primeira década deste século, as famílias lavristas, sobretudo a aristocracia do diamante, só admitiam e professavam o catolicismo, tendo em vista não só a influência, mas, sobretudo a intolerância do padroado, que era absoluta nos sertões longínquos. Antes essa evidencia a missão presbiteriana que no fundaria no alvorecer do século XX, a comunidade de Ponte Nova, numa fazenda abandonada à beira do rio Utinga, hoje sede do município de Wagner, lutaria com as mais serias dificuldades para conseguir autorização dos chefes políticos regionais para se instalar na Chapada Diamantina, não tendo nenhum deles permitido, em princípio, a fixação missioneira em seus respectivos domínios. “Protestantismo” – diziam - “é negócio do demônio”223.

Na região em que o poder político e militar se concentrava nos coronéis, as relações do campo religioso estavam sujeitas as decisões desses líderes. Neste contexto o cristianismo, enquanto religião tradicional, gozava de apoio em detrimento das outras manifestações religiosas. Dentro do cristianismo, o catolicismo possuía hegemonia e expressividade, entretanto, até mesmo os agentes católicos eram perseguidos e expulsos se interferissem nos negócios locais ou tivessem atitudes consideradas na ordem moral “afrontosos as sociedades”224. Os agentes católicos poderiam ser afugentados, mesmo antes dos trâmites

legais de solicitar via abaixo assinado ao arcebispo a troca do religioso. Os coronéis utilizavam de mecanismos repulsivos como “colocar fezes” na frente da residência do religioso para forçar sua retirada “voluntária” e evitar o processo legal, que poderia demorar. Nota-se que as querelas dos coronéis endereçavam-se aos agentes católicos e não ao catolicismo, pedia-se a mudança do religioso e não da igreja. Acreditamos que a atuação da nova proposta de credo para se instalar, além de superar as desconfianças de sua presença estrangeira, deveriam também obedecer às condições políticas e morais impostas aos católicos.

No cenário religioso da região, a presença maior da Igreja Católica obedecia à normalidade dos outros espaços do Estado: as cidades que tinham determinada importância econômica possuíam igrejas e nas comunidades distantes a religiosidade era sustentada pelas missões sazonais. Na região a freguesia mais próxima de Ponte Nova era a de Bom Jesus da Boa Esperança do Riachão de Utinga fundada em 1887. Mesmo com relativa proximidade de quase 23 quilômetros entre a freguesia e Ponte Nova, a presença católica se fazia pelas missões de tempos em tempos. Possivelmente o número pequeno de habitantes da localidade tenham influenciado na ausência da igreja, o que facilitou o estabelecimento e os trabalhos

223 MORAES, Valfrido. Jagunços e Heróis: a civilização do diamante nas lavras da Bahia. 5 ed. Bahia. ALBA,

1997. p. 45-46- nota 2

90 presbiterianos sem maiores problemas. Essas missões eram comumente retratadas na secção de religião, nas páginas do Correio do Sertão que anunciava os ofícios para preparar fiéis e, posteriormente, divulgava os resultados dessas visitas com número de crismas, batismo, casamentos etc. A presença católica na localidade certamente foi influenciada pela sua ausência física, como se percebe nas palavras de uma memorialista:

O culto católico não passava de um punhado de fiéis na sua maioria mulheres que se reuniam em datas especiais comemorativas (...) O Padre Ramos residente em Utinga visitava os fiés católicos no máximo três vezes ao ano em ocasião de casamentos, batizados (...)225.

Outra manifestação religiosa conhecida na região das lavras no período investigado foi o Jarê, uma experiência religiosa derivada das religiões de matriz africana que assumia contornos próprios em diferentes ambientes. Embora seja difícil enquadrar o Jarê em uma classificação estática diante de sua diversidade de origem e das simbioses com outras manifestações que resultou em uma mescla de crenças e rituais. Entendemos o Jarê a partir da contribuição dos estudos de Ronaldo Senna, que o entende como uma expressão religiosa nascida nas lavras, de uma adaptação das diversas manifestações religiosas afro-brasileiras, que dividia espaço e se relacionava com experiências místicas vivenciada no “mundo mágico do garimpo”226 e religiosas, com o catolicismo oficial e popular227.

Esta experiência conviveu com as sucessivas perseguições dos grupos religiosos, e dos chefes locais. O tratamento dado ao Jarê e às manifestações com matriz africana é retratado no trecho do livro de Américo Chagas, que demonstra o panorama das lavras em diversos aspectos. Chagas relata como alguns chefes locais agiam em relação às religiões afro- brasileiras nos seus domínios segundo ele “a feitiçaria ali era terminantemente proibida. Os feiticeiros, eram por ordem do chefe, expulsos dos seus domínios, por meios drásticos”228.

Mesmo com a perseguição, esta experiência religiosa resistiu se adaptando-se às realidades locais, incorporando outras características, longe das lavras. Onde as atividades de agricultura e pecuária predominavam, ela apresentava outras faces religiosas.

As manifestações religiosas mais tradicionais do Jarê, se situavam-se nas cidades de Lençóis, Andaraí e Palmeiras. As presentes na cidade de Wagner e Bela Vista de Utinga por

225 ALMEIDA, 2004. op. cit. 97

226 Uma das faces desse mundo mágico era a crença que os astros pudessem revelar os locais das pedras

preciosas.

227 SENNA, Ronaldo Salles. Jarê - Uma Face do Candomblé: Manifestação Religiosa na Chapada Diamantina.

Feira de Santana: UEFS, 1998. P. 86

228 CHAGAS, Américo. O Chefe Horácio de Matos. 3ed. Salvador: Assembleia Legislativa do Estado da Bahia

91 serem rural, modificaram sua atuação, porém mantiveram alguns aspectos do Jarê tradicional praticado próximo ao garimpo229. Se nas Lavras o Jarê uniu-se às práticas mágicas locais junto com o catolicismo popular, fora deste local ele geralmente era praticado longe das cidades em ambientes rurais em casas isoladas, devido às perseguições. As características religiosas do jarê “rural” consistiam nos rituais de cura, mais que nos de festa, por ser menos visível socialmente, trabalhando no silêncio para manutenção religiosa.

A atuação do Jarê nas relações de concorrência do campo religioso lavrista deve ser entendida a partir da perspectiva que o culto afro-brasileiro mantém em relação ao número de fiéis. A característica dessas manifestações religiosas se limita à manutenção da necessidade de sustento do funcionamento da organização e do grupo, pois o proselitismo, pedra angular de seus concorrentes, não é a sua principal preocupação. Belamy Almeida, no seu livro memorialista, relata a visão que muitos tinham sobre o Jarê e a quantidade de fies que arrebatava: “terreiros de macumba era comum (...) para os lados de Utinga, atraia muita gente”230. Em Ponte Nova, porém, como ressalta Senna, sofria a concorrência da “maré

presbiteriana”231.

Nesse cenário religioso e político complexo, as condições para a compra e estabelecimento da Missão em Ponte Nova foram favorecidas por alguns fatos. A recusa das outras cidades em receber uma instituição protestante foi reforçada pela presença física ou de pessoas ligadas à Igreja Católica, que criavam e reproduziam imagens negativas dos protestantes. A localização geográfica de Ponte Nova contribuiu para o estabelecimento da missão. Por ser uma localidade que estava distante das maiores cidades, não possuía um grande contingente populacional, e não possuía grandes chefes políticos morando na localidade, por fim, não contava com igreja fisicamente estabelecida. Ademais, a fazenda estava fisicamente abandonada232 e sua compra foi efetuada de um tenente-coronel convertido ao protestantismo. Acreditamos que a conversão do Coronel João Dourado e sua elevação ao cargo de presbítero tenha ajudado na manutenção dos presbiterianos na região.

No que se referem às questões políticas da região, os missionários não ofereciam perigo aos coronéis por não tomar partido nas brigas políticas entre eles. A fundação da

229SENNA, 1998. op. cit. 86 230 ALMEIDA, 2004. op. cit. p. 53 231 SENNA, 1998. op. cit. 85

92 escola, logo após a compra da fazenda e posteriormente a criação do hospital, colaborou para maior aceitação das elites políticas locais. São comuns nas folhas do periódico do Correio do Sertão as notícias das viagens médicas da elite local (especialmente a militar) para se tratar-se com os médicos americanos em Ponte Nova. Lá os familiares e pessoas próximas aos coronéis se tratavam, gerando um profundo respeito por aquele pedaço de terra e, consequentemente, pelo trabalho social da Missão. Nas páginas do Correio do Sertão233, nos anos 1920, é comum ver matérias registrando os embates na Vila Wagner. Em um dado momento, as famílias foram retiradas da localidade, entretanto em Ponte Nova, localizada perto dos embates não se ouvia notícias de invasão. Uma memorialista relatou como as querelas políticas e militares ganhavam outro contorno em Ponte Nova. “Nas brigas de Horácio de Matos e os seus contrários, quando um jagunço ou um soldado conseguia ser hospitalizado, estava na Cidade Refúgio. Mesmo havendo lá enfermos inimigos, lá eram amigos”234.

O início do trabalho com a fundação da escola na fazenda ainda alugada não demorou em chamar atenção das pessoas a procurarem o serviço educacional, o que levou o aumento do número de moradores na localidade. Mais tarde o local revelou a grande necessidade de intervenção médica e sanitária, afim de combater as doenças e aumentar a qualidade de vida dos missionários e da população que moravam no local. Diante da alta procura pelos serviços oferecidos às diversas camadas da população do interior da Bahia, o trabalho da Missão nas áreas educacional e médica evidenciou uma grande oportunidade de difusão da fé presbiteriana.

A atuação presbiteriana obedecia a sua forma de pensar e agir no mundo, pautada na racionalidade, no pragmatismo e religiosidade, impulsionada pelo puritanismo. Este modo de vida, classificado como civilizado, trazia ao interior a sua forma cristã e ascética de viver. Assim, intervir no sertão baiano concorria para modificar os costumes da sociedade local, retirando de suas vidas as práticas tradicionais e encantadas em caminho de uma vida baseada na educação formal, medicina oficial e na ciência e empirismo, como mediação do homem e o meio. Propagavam uma vida pautada na dieta alimentar equilibrada, enquanto que no campo educacional os ensinamentos deveriam ser voltados para melhor utilização no ambiente vivido, ancorado na ciência e longe de superstições. A promoção desse modelo de vida foi

233 Villa Wagner. Correio do Sertão. Morro do Chapéu. Ed. 187. 06-fevereiro-1921, p.3;

Wagner está alarmada. Correio do Sertão. Morro do Chapéu. Ed. 188. 13-fevereiro-1921, p.3. ;

O Sertão Baiano novamente conflagrado. Correio do Sertão. Morro do Chapéu Ed, 189, 20-fevereiro-1921, p. 3

93 orientada por agências institucionais locais legitimadas para tal: a escola na esfera educacional; o hospital na esfera médica. Estes centros articulados à sua forma contribuiriam na proposta de mudança cultural. Para localizar o trabalho e importância adquirida pelo trabalho educacional e médico para a região, faz-se necessário observar as condições especificas em que ele atuou, elementos que são objetos dos próximos capítulos, junto com a vinculação destas atividades a atuação evangelística.

CAPÍTULO II

2. EDUCAR PARA SALVAR: O INSTITUTO PONTE NOVA NO PROJETO DA MISSÃO CENTRAL

Neste capítulo, analisaremos a obra educacional desenvolvida em Ponte Nova, sua importância dentro do projeto da Missão Central, as representações criadas acerca de seu trabalho na região e os embates gerados com a evangelização direta. Para alcançar estes objetivos, foi necessário compreender as complexas relações entre os presbiterianos, sua essência religiosa e a sua concepção de educação que dialogava com a sua visão de mundo. Só depois dessa localização necessária, foi possível entender como essa forma de atuação educacional organizou seus trabalhos de acordo com a realidade educacional no Brasil e na Bahia. Posteriormente, descrevemos e analisamos a estrutura do IPN e seus desdobramentos na obra missionária. E, por fim, analisamos a tensão existente entre a evangelização direta, representada pelos missionários em campo, e a evangelização indireta, representada pela obra educacional.

Diante desses objetivos, o desafio deste capítulo foi tentar compreender como se efetivou a obra educacional, percebendo suas nuances e tensões dentro de um ambiente educacional que conflitava a ênfase religiosa com a essência liberal. Outro fator que revela determinada complexidade analítica é a tentativa de mensurar os resultados religiosos oriundos da obra educacional, principalmente porque não é uma equação simples e direta, mas resulta numa análise complexa da investigação de um todo maior.

Para entender a educação promovida pela Missão Presbiteriana no Brasil, precisamos, antes, compreender a concepção educacional que orientou este trabalho, para, a partir de

94 então, analisar como ela se relacionou com a realidade brasileira em um contexto histórico especifico. Antes mesmo de analisar a educação dentro da ótica presbiteriana, convém evidenciar como a educação pode ser percebida em determinadas sociedades. O processo educativo, para além do propósito de transmissão, construção ou mediação de conhecimento, na maioria das situações está condicionado a objetivos e funções que extrapolam o ato de educar; desta maneira não pode ser pensada de forma neutra. O processo educativo pode estar vinculado, de forma explicita ou implícita, a interesses de projetos políticos, econômicos, sociais, religiosos e ideológicos. Nesse sentido, a educação não está encerrada em si mesma no ato de educar, de ensinar a compreensão códigos linguísticos, matemáticos ou técnicos, que alfabetizam e disseminam informações. Educar é entendido neste trabalho como um ato político que, ao disseminar conhecimentos, contribui na formação, tipos de comportamentos, representações, visões de mundo, entre tantas outras funções.

No Brasil, o campo educacional, por muito tempo, não esteve na agenda de elementos essenciais para a sociedade. Na Colônia, a promoção da educação foi negligenciada pelo Estado, ficando a cargo de instituições privadas que, ao disseminar a educação, faziam de forma exclusiva. No Império, mesmo com a disposição constitucional que visava à efetivação da educação para todos, o cumprimento da lei esteve longe de tornar-se realidade. Os sucessivos avanços tecnológicos e mudanças econômicas no mundo refletiram no país de uma maneira considerável, alterando a visão de uma parcela da sociedade, que passou a enxergar na educação a peça chave para o progresso do país. Entretanto, a realidade educacional brasileira era considerada como um ensino débil quantitativamente e atrasado pedagogicamente. Estas condições tornaram o campo educacional promissor para as ações que buscassem seu desenvolvimento. Neste contexto, as agências missionárias que vieram ao Brasil em meio à proibição jurídica enxergavam nessas condições educacionais uma preciosa oportunidade de inserir-se na sociedade e disseminar sua fé. Fator que legou ao programa educativo ser uma das “primeiras e mais importantes da expressão da obra missionária”235.

Uma das percepções da época acerca da relação da religião com a educação afirmava que: É neste campo negligenciado de educação primária e secundária que as missões e igrejas brasileiras têm sua maior oportunidade. As pessoas estão ficando mais ambiciosas em relação à educação de seus filhos e estão dispostos a pagar por esta educação em escolas particulares. Agora as escolas americanas são bem aprovadas. Além do ensino dos assuntos

95 normais também temos a oportunidade de ensinar aos alunos sobre Jesus e sua vida236.

Em um contexto amplo, em que as características capitalistas assumiram contornos de modernidade, as escolas protestantes das capitais, ao fornecer um ensino pautado nos princípios de cientificismo, industrialismo e liberalismo, ganharam uma imagem positiva frente às elites, tornando-se responsáveis pelo sucesso da defesa da mensagem protestante. Numa relação de mutualismo, os ensinamentos trazidos pelos norte-americanos poderiam contribuir para formação da sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que gerava respeito e proteção para essa experiência religiosa.

Além da influência que poderá ser exercida numa camada da sociedade que mantém parcela do poder político no momento, o estabelecimento de bons cursos secundários dá ao grupo minoritário religioso que se implanta um certo grau de respeito e autoridade de que tanto necessita237.

Vistos como vanguardistas em sua metodologia e prática pedagógicas esses centros eram considerados de grande importância para o futuro do país. Em uma análise da ótica missionária acerca das características do ensino brasileiro em comparação ao norte-americano implantado, Jether Ramalho nos informa as principais percepções desses religiosos. Segundo este, os missionários viam como principais características no sistema de ensino brasileiro o forte autoritarismo e verticalidade, sem o encorajamento da participação dos alunos em questionamentos. Era uma prática alicerçada em uma pedagogia essencialmente mnemônica, com lições apresentadas de forma monótonas, quase sempre ditadas, sem praticamente a elaboração e assimilação pelos alunos. Possuíam a ênfase nas disciplinas de Línguas, Literatura, Filosofia e História, já as disciplinas Físicas e Naturais eram lecionadas sem o uso de laboratório e experimentação, resumindo-se aos estudos sem trabalho de campo. Os estudos eram baseados nas realidades europeias, sem releitura com a realidade local, e a orientação educacional não possuía uma vinculação pedagógica entre as disciplinas oferecidas no mesmo período, gerando estudos em “tanques isolados e rasos”, com isso favorecia o cultivo do “enciclopedismo”. Observavam também a falta de preparo profissional dos professores, que não possuíam formação na área. Era aceita qualquer pessoa que tivesse diploma, a exigência apenas de tempo para as aulas favorecia a atração de pessoas que

236 WHITE, M.G. Apud SILVA, 1998. Op. cit. 207

237 RAMALHO, J. P. Colégios protestantes no Brasil: uma interpretação sociológica da prática educativa dos

96 precisavam de renda; sem, no entanto, possuírem a capacitação pedagógica. Desta maneira eram raros os professores formados com a preparação ideal. Para os missionários, o ensino brasileiro reproduzia a tradição portuguesa, regada à rigidez no ensino e à separação de alunos pelo sexo, sem incentivo à coeducação. Finalizavam com a percepção de que a essência educacional não possuía um sentido prático, por ser distante da realidade, com um curso secundário, de caráter elitista e, no geral, desenvolvido com a desvalorização dos trabalhos manuais e industriais, além do desprezo pela educação física, sem obrigatoriedade e atenção necessária.

Pelo plano educacional missionário apresentado em 1871238, a educação proposta tinha como característica a substituição do ensino de estudo em voz alta, decoração excessiva, de pouco estímulo ao raciocínio, para o método intuitivo e estudo silencioso. Os programas de ensino utilizavam compêndios de disciplinas especificas, produzidos a partir dos métodos americanos. O arranjo serial se organizaria em primário, ginásio e colégio. O calendário possuiria aulas nos cinco dias da semana e período anual de 190 dias, com a instituição do princípio coeducativo. No plano sócio, político e religioso, a escola se orientaria pelos princípios de igualdade e liberalismo, pregando a não distinção racial e política, além da educação com a valorização dos princípios da moral cristã e exclusão do elemento de propaganda religiosa e abertura a todas as religiões.

Buscaram implementar uma postura pedagógica aberta e flexível, que aplicasse os métodos considerados modernos à realidade onde estariam situados. A proposta era de vincular a teoria à prática, com a aplicação do binômio experimentação-verificabilidade através do trabalho em campo e em laboratórios. Sua essência era uma educação que preparava para vida239. Incluíam ainda o cuidado com o corpo, que na sua visão, era morada do espirito, assim davam tratamento diferenciado à Educação Física240. Essa metodologia na prática chamou a atenção do governo de São Paulo, que em 1890 utilizou como padrão o modelo de ensino para as escolas primárias e normais241.

Natural para um grupo que pretende conquistar determinado campo produzir a desqualificação do concorrente, na visão missionária o ensino brasileiro em comparação ao modelo norte-americano era posto numa perspectiva simples e dicotômica, em contraponto

238 RAMALHO, 1976. Op. cit. p. 82 239 Ibidem, p. 154

240 Ibidem, p. 156 241 Ibidem, p. 87

97 aos métodos atrasados e avançados, ofertando à sociedade o poder de escolha ao que melhor se adequaria aos objetivos que a sociedade deveria criar. A visão missionária, em relação à sua superioridade cultural, não era artificial e montada para adquirir espaço na sociedade

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