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AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL EM ADULTOS

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo Sanches et al. (2008), o envelhecimento da população mundial é um fato concreto e de conhecimento público. Portugal está a tornar-se um país envelhecido pois o número de idosos é cada vez maior, devido à diminuição da taxa de natalidade e ao aumento da esperança média de vida (INE, 2002 e 2011). Em países em desenvolvimento, a população idosa é o grupo que apresenta elevado risco nutricional e aquela que apresenta maior risco de desnutrição (Tier et al., 2004; ADA, 2005). Os efeitos da malnutrição apresentam complicações de maior preocupação junto da população idosa institucionalizada, visto que são um grupo com maior vulnerabilidade do ponto de vista nutricional estimando-se que haja entre 24 e 85% de desnutrição (Salva et al., 2009; Llamas, 2011). A intervenção nutricional na população idosa deve ser orientada em função do estado nutricional e das patologias associadas, das mudanças biológicas e psicológicas associadas ao envelhecimento, da capacidade funcional e cognitiva, das necessidades nutricionais de cada indivíduo e das preferências alimentares (Salva et al., 2009; Sousa e Guariento, 2009).

De modo a diminuir a prevalência de desnutrição, estudos têm sugerido que oferecer aos idosos suplementos nutricionais orais de forma a enriquecer os alimentos melhora o estado nutricional do idoso (Llamas, 2011; Ahmed et al., 2010; Hickson, 2006; Visvanathan et al., 2004). A adequação da textura dos alimentos bem como a utilização dos produtos espessantes, devem ser sempre acompanhados por um profissional de nutrição, o que demonstra a importância e necessidade de profissionais de nutrição e dietética e por outro lado a presença de terapeutas da fala seria benéfico visto que auxiliavam na recuperação dos idosos que apresentam dificuldades em deglutir (Ahmed et al., 2010; Marchini et al., 1998; Huffman (2002).

Em Portugal, pelo Decreto-lei nº 101/2006, as Unidades de Longa Duração e Manutenção (ULDM) são unidades de internamento, de caráter temporário ou permanente, que têm como finalidade proporcionar cuidados que previnam e retardem o agravamento da situação de dependência, favorecendo o conforto e a qualidade de vida, por um período de internamento superior a 90 dias consecutivos.

3. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo observacional, analítico e transversal. O cálculo da amostra baseou-se no número total (798) de indivíduos internados em ULDM (ARS Norte, 2011). Assumiu-se um intervalo de confiança de 95% (α = 5%), através da calculadora do tamanho amostral online “The Survey System” obtendo-se como resultado uma amostra de 265 indivíduos provenientes de 14 ULDM, aleatoriamente, determinadas. Foram excluídos os indivíduos que apresentavam doenças contagiosas.

Foram cumpridos todos os requisitos éticos relacionados com os direitos dos participantes, sendo garantida a confidencialidade dos dados, a saúde física, psicológica e social dos intervenientes. Cada participante deu o seu consentimento informado via oral.

No período de fevereiro a abril de 2012 foram aplicados dois questionários, o Mini Nutritional Assessement (MNA) da Nestlé Nutrition Institute (2012) e um segundo questionário, elaborado pelos autores. Foi ainda realizada a avaliação antropométrica dos indivíduos.

O MNA foi utilizado segundo as condições exigidas, mantendo o formato original validado, para idosos Portugueses, por Loureiro (2008). Optou-se por este instrumento de recolha de dados uma vez que analisa vários parâmetros, é de simples e rápida aplicação e é amplamente utilizado em adultos e idosos. Este questionário identifica o risco de desenvolvimento de desnutrição e a desnutrição num estágio precoce (Johansson et al., 2009; Lei et al., 2009; Orsitto, 2012).

O segundo questionário utilizou-se para avaliar parâmetros relativos à alimentação fornecida ao utente, assim como o tempo de internamento.

Finalmente, a avaliação antropométrica baseou-se na medição do peso, da estatura, do Perímetro Braquial e da Perna, nos indivíduos com mobilidade. Utilizou-se uma Balança Digital Portátil da Marca SECA, Modelo 8691321004, com capacidade máxima de 250Kg, capacidade mínima de 2Kg e precisão de 0,2Kg para pesar os utentes. Para avaliar a estatura, recorreu-se a um Estadiómetro da Marca SECA Portátil e para medir a Circunferência Braquial e a Circunferência da Perna foi utilizada uma fita métrica inextensível milimétrica.

Para os indivíduos restritos ao leito ou em cadeira de rodas recorreu-se a fórmulas para estimar o peso. Foi utilizada a fórmula de Chumlea, que varia de acordo com o género (Chumlea e Mukhenjee, 1987). No género masculino, o peso (kg) = ( 1,73 x CB) + (0,98 x CP) + (0,37 x PCS) + (1,16 x AJ) - 81,69. No género feminino, o peso (kg)

= (0,98 x CB) + (1,27 x CP) + (0,4 x DCS) + (o,87 x AJ) – 62,35 em que CB é a circunferência do braço (cm); CP é a circunferência da panturrilha (cm); DCS é a prega cutânea subscapular (mm); e, AJ = altura do joelho (cm).

Para o cálculo do peso em indivíduos amputados recorreu-se à utilização da fórmula: peso (kg) = peso (kg) + [peso (kg) x %], indicada pelo MNA (Nestlé Nutrition Institute, 2012). Em que as percentagens são as que se apresentam na Tabela 1.

Tabela 1 – Partes do corpo expressas em percentagem do Peso Corporal

Parte Corporal Percentagem (%)

Tronco sem membros 50.0

Mão 0.7

Antebraço com mão 2.3

Antebraço sem mão 1.6

Parte superior do braço 2.7

Braço inteiro 5.0

Pé 1.5

Parte inferior da perna com pé 5.9

Parte inferior da perna sem pé 4.4

Coxa 10.1

Perna Inteira 16.0

Fonte: Nestlé Nutrition Institute, 2012.

Quando a estatura não pôde ser medida por dificuldade de permanecer em pé ou devido a problemas de coluna, recorreu-se à utilização da fórmula: altura (cm) = 78.31 + (1.94 x altura do joelho) – (0.14 x idade), fornecida pelo MNA para indivíduos brancos não hispânicos (Nestlé Nutrition Institute, 2012).

Para tratar, estatisticamente, os dados recolhidos foi utilizado o programa informático Statistical Package for Social Sciences (SPSS 19.0).

Numa primeira fase, foi calculado o score do MNA que permitia avaliar o Estado Nutricional (EN). O score referido tem um máximo de 30 pontos e distingue os grupos de pacientes, designadamente; pacientes com estado nutricional normal (24-30 pontos), pacientes sob risco de desnutrição (17-23,5 pontos) e pacientes desnutridos (menos de 17 pontos) (Izaola et al., 2005; Daniel et al., 2006).

Numa segunda fase, verificou-se a existência ou não de diferenças, estatisticamente, significativas no EN tendo em consideração as variáveis independentes (tempo de internamento, idade, textura da dieta, composição nutricional e suplementação nutricional, género e patologias). Para isso, utilizaram-se testes de localização não paramétricos uma vez que, quando verificadas as condições de aplicação dos testes paramétricos, designadamente, a

normalidade dos dados (Kolmogorov- Smirnov com a correcção de Lilliefors) e a homogeneidade de variâncias (Teste de Levene), estas eram violadas (Pestana e Gageiro, 2008; Maroco, 2003). Assim, para as variáveis tempo de internamento, idade, textura da dieta, composição nutricional e suplementação nutricional usou-se o Teste de Kruskal-Wallis (k amostras independentes). Para o género e patologias usou-se o Teste Mann-Whitney-Wilcoxon (2 amostras independentes).