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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA (HISTÓRICO E TRABALHOS ANTERIORES)

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA (HISTÓRICO E TRABALHOS ANTERIORES)

3.2.1 Dados históricos da UTM-Caldas

De acordo com dados históricos, em 1948, técnicos do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) detectaram radioatividade em minerais de zircônio no Planalto de Poços de Caldas. Desta forma, foi constatada a presença de urânio no caldasito, rocha rica em baddeleíta (ZrO2) e zircão (ZrSiO4), que ocorre no Planalto de Poços de Caldas. Em 1959, a CNEN iniciou a construção de uma usina no município de Poços de Caldas, para a produção de concentrado de urânio a partir do tratamento físico-químico do caldasito. Entretanto, em 1961 as obras foram paralisadas em virtude de insuficiência de reservas e problemas no processo de tratamento (CARVALHO FILHO, 2014; GOLDER ASSOCIATES, 2012).

Em 1970, foi identificada uma anomalia que, com as pesquisas subsequentes, resultou na jazida de urânio do Campo do Cercado, no município de Caldas, dando origem ao Complexo Industrial de Poços de Caldas - CIPC, atual UTM-Caldas. Em 1974, houve o início da abertura da galeria de pesquisa e, três anos após, começaram os serviços de decapagem da cava da mina da jazida do Cercado, com remoção de cinco milhões de metros cúbicos de material. Somente em 1982, houve a inauguração oficial do CIPC, com produção comercial do concentrado de urânio e ácido sulfúrico concentrado (98,5%) no CIPC (CARVALHO FILHO, 2014).

Após este período, projetos de engenharia com intuito de diminuir os impactos ambientais negativos decorrentes do empreendimento foram acoplados ao projeto, tais como: o início do tratamento químico das águas marginais (geralmente ácidas) da mina, e lançamento da fração sólida tratada na bacia de rejeitos (1983); a construção da bacia de captação de efluentes do BF4 (Bota Fora 4, vide item 4.3), denominada de Bacia Nestor Figueiredo (BNF) (1989) e ampliação da capacidade da bacia de rejeitos com a elevação da altura do vertedouro da barragem (1995). Neste último ano, houve a paralisação definitiva das atividades de lavra e beneficiamento do minério de urânio do CIPC e, desta forma, não se lançou mais efluente industrial na bacia de rejeitos (CARVALHO FILHO, 2014).

A partir de 1996, investiu-se na montagem de novos equipamentos e adaptação das unidades industriais do CIPC para o beneficiamento da torta II composta de hidróxido

bruto de tório, contendo urânio, resultante do beneficiamento de areia monazítica. Também houve inclusão de um minério de baixo teor de urânio armazenado no pátio de minérios do CIPC, para seu reaproveitamento (CARVALHO FILHO, 2014).

Em 1997, ocorreu a impermeabilização com argila do topo do BF4 e desvio do córrego da Consulta para fora da área do depósito. No próximo ano, cessou-se o lançamento da fração sólida do tratamento das águas marginais na bacia de rejeitos. Esse resíduo passou a ser depositado na cava da mina. A partir do ano 2000, houve a transferência do concentrado de monazita de Buena – RJ para o CIPC e a desmontagem e transferência da fábrica de ácido sulfúrico para outra empresa (CARVALHO FILHO, 2014).

Em 2002, o IBAMA encaminhou à INB, um termo de compromisso referente à UTM-Caldas para apresentação ao IBAMA do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD/UTM, no prazo de 24 (vinte e quatro) meses, contados do recebimento do Termo de Referência. Em 2005, a INB decide encerrar as atividades industriais visando o fechamento da UTM. Somente em 2010, os efluentes da BNF deixam de ser bombeados para a cava da mina e passam a ser conduzidos para a unidade de tratamento de águas ácidas. No próximo ano iniciou-se a impermeabilização da Bacia Nestor Figueiredo (BNF) (CARVALHO FILHO, 2014).

Para atender aos requisitos legais para o fechamento da mina, em 2012 foi apresentado o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) da UTM-Caldas. Em maio, a INB divulgou o PRAD em audiência pública realizada em Poços de Caldas. Após analisar o PRAD, o IBAMA emitiu parecer solicitando à operadora a apresentação do projeto executivo assim como o estabelecimento de cronograma de implantação das atividades propostas no plano. Desta forma, em 2014 a INB, o IBAMA e a CNEN iniciam a elaboração de um memorando de entendimento conjunto, com o objetivo de se estabelecer um fórum oficial para discutir, orientar e recomendar ações com vistas à remediação ambiental e o descomissionamento da UTM-Caldas (CARVALHO FILHO, 2014).

3.2.2 Medidas de remediação contidas no Plano de Recuperação de Áreas Degradadas da UTM Caldas com influência na restauração da qualidade dos sedimentos

Um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) foi elaborado (GOLDER ASSOCIATES, 2012) visando à identificação de alternativas para o

descomissionamento da UTM Caldas. O Quadro 7 a seguir apresenta as principais alternativas propostas para recuperação ambiental que influenciam na qualidade dos sedimentos na área de estudo.

Quadro 7 – Principais alternativas para recuperação ambiental da UTM Caldas

Alternativa Função

Eliminação do lago da cava por meio do preenchimento com estéril e/ou remoção do material dos depósitos de estéril e transferência

para a cava da mina

Redução das vazões de água contaminada proveniente das pilhas de estéreis.

Remoção total das pilhas de estéril Retornar para a cava todos os materiais com potencial poluente originados da fonte. Cobertura com solo do Depósito/Barragem de

Rejeitos

Submersão e/ou colocação de uma cobertura de solo para fechamento dos depósitos de rejeito radioativo e com potencial de drenagem ácida. Destaca-se ainda a proteção contra a emissão de

poeira e radiação ionizante. Cobertura com água com açudes em cascata do

Depósito/Barragem de Rejeitos

Colocação de uma cobertura de água sobre o depósito existente sem movimentação do material

emerso. Fonte: GOLDER ASSOCIATES, 2012.

Destaca-se que com a implantação das alternativas busca-se minimizar ou eliminar a percolação de águas ácidas contaminadas provenientes das pilhas de estéreis bem como o impacto negativo sobre a qualidade das águas nos corpos receptores (GOLDER ASSOCIATES, 2012).

3.2.3 Qualidade das águas e dos sedimentos na área de estudo

Foram desenvolvidos vários trabalhos voltados para a avaliação da qualidade das águas nas imediações da mina de urânio de Caldas. Os trabalhos com esta abordagem, mas focados na qualidade dos sedimentos, são mais escassos quando comparados com os referentes às águas fluviais. Dentre os trabalhos mais recentes podem-se destacar os desenvolvidos por Tedeschi (2005), Oliveira (2011), Golder Associates (2012), Carvalho Filho (2014).

Tedeschi (2005) avaliou a dinâmica dos processos hidrológicos e hidrogeoquímicos do reservatório na mina Osamu Utsumi. O autor observou que a drenagem ácida gerada no BF-4 é o principal contribuinte para acidificação do reservatório que recebe as águas acidificadas em conjunto com a drenagem pluvial que infiltra ou escoa a área emersa a microbacia (Bacia hidrográfica do Consulta). Além disso, o fluxo de água subterrânea que sai da microbacia é igual ou superior ao fluxo de água subterrânea que entra na microbacia, o que sugere fugas de águas subterrâneas ácidas para outras bacias. Foram identificados nas águas ácidas do reservatório os seguintes elementos: Al, Ba, Be, Bi, Ca, Cd, Cr, Co, Cu, Fe, K, Li, Na, Mg, Mo, Mn, Ni, S, Sb, Sc, Si, Sr, Pb, V, Y, Zn e Zr. Oliveira (2011) realizou o cálculo do Índice de Qualidade das Águas (IQA) desenvolvido pela National Sanitation Foundation (NSF) dos Estados Unidos. Apesar de o índice não ser o mais aplicável para determinação de contaminações provenientes das atividades da UTM-Caldas, os resultados demonstraram um panorama das cargas de efluentes domésticos lançados na área de estudo. O IQA “médio” foi obtido para praticamente todos os pontos de amostragens (algumas das estações obtiveram altas concentrações de coliformes fecais, nitrato e fosfato). O Ribeirão Soberbo e sub-bacia do Rio Taquari (Baixo) apresentaram pontos com IQA “bom”.

Golder Associates (2012) realizou a avaliação da qualidade dos sedimentos na área da INB, sendo as bacias hidrográficas do Consulta e Soberbo de maior relevância para este estudo. As avaliações concluíram que para a bacia hidrográfica do rio Consulta os seguintes parâmetros extrapolaram o limite TEL (OMEE, 1993): As, Cu, Mn e Pb, sendo que Cu e Mn atingiram níveis superiores ao PEL. Na bacia hidrográfica do Ribeirão Soberbo a única amostra de sedimentos coletada apresentou índices que sugerem que, o risco a biota deve ser observado.

Golder Associates (2012), também apresentou no PRAD da UTM Caldas a avaliação de radionuclídeos presentes em sedimentos em pontos de entorno do empreendimento realizada pela própria INB. Observou-se que na bacia hidrográfica do Consulta (ponto de amostragem a jusante da bacia de rejeitos): a atividade de 210Pb foi menor que 620 Bq/100g e nos demais pontos 31 Bq/100g; 226Ra obteve atividade menor do que 62 Bq/100g e nos demais pontos 37 bq/100g; 228Ra a atividade foi menor do que 51 Bq/100g e nos demais pontos 31 Bq/100g e U a concentração foi menor do que 36 mg/100g e nos demais pontos 6 mg/100g. Destaca-se que o pH neste ponto é da ordem de 5,5 e nos demais pontos de 6 a 6,5. Os resultados apontam para uma possível contaminação dos sedimentos devido às contribuições da bacia de rejeitos que armazena

as águas ácidas provenientes da pilha de estéril (BF4, melhor detalhada no item posterior).

Carvalho Filho (2014), realizou a avaliação da qualidade das águas na área de influencia da UTM-Caldas. O autor concluiu que os efluentes provenientes da BNF contribuem para que os corpos d‟água a jusante, (principalmente o córrego da Consulta), apresentem contaminação por flúor, cádmio, urânio, zinco, alumínio, manganês e acidez, sulfato, cálcio, arsênio, magnésio, 238U, 226Ra, 232Th e 228Ra. Os resultados indicaram que efluentes advindos de uma das bacias de rejeito (D2) também causam um enriquecimento em cálcio, flúor, sulfato e molibdênio nas águas do ribeirão Soberbo.

Carvalho Filho (2014) também realizou o cálculo da CT (Contaminação por Tóxicos) na água com base em sete parâmetros: flúor, cádmio, alumínio, ferro, manganês, urânio e zinco. A CT foi classificada em „Baixa‟, „ Média‟ e „Alta‟ (IGAM, 2004 e IGAM, 2013). As amostragens a jusante da UTM-Caldas na bacia hidrográfica do Ribeirão Consulta e Soberbo apresentaram um percentual de 100% de CT “alta” final, sugerindo uma influência dos efluentes provenientes da UTM-Caldas. Os resultados de CT para urânio, zinco e flúor obtiveram a maioria da classificação “alta” para as amostragens realizadas a jusante do empreendimento, nas bacias hidrográficas do Consulta e Soberbo.

No mesmo trabalho, Carvalho Filho (2014) calculou o WQI (Water Quality Index) de acordo com CCME (2001). Observou-se que as estações situadas a montante da UTM-Caldas apresentaram WQI predominantemente classificados como “Marginal” o que significa que a qualidade da água superficial da área de estudo em locais sem interferência da UTM-Caldas encontra-se frequentemente ameaçada. As estações situadas à jusante do empreendimento, situadas no córrego da Consulta, apresentaram um índice “Pobre”, ou seja, que a qualidade da água encontra-se quase sempre ameaçada. Por último, nos demais pontos de amostragem localizados nas áreas a jusante da UTM-Caldas predominou a classe “Razoável”. Isso significa que a qualidade da água encontra-se geralmente protegida, porém ocasionalmente é ameaçada.

4 CARACTERÍSTICAS DA UTM-CALDAS E DA ÁREA DE

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