• Nenhum resultado encontrado

4.1 CONTEXTO HISTÓRICO E A IMPORTÂNCIA DA AGRICUTLURA

Segundo evidências arqueológicas, o início da domesticação de culturas economicamente importantes como os cerais, alguns legumes, raízes comestíveis e as espécies animais, aconteceu há cerca de 12.000 anos. Pode-se dizer, então, que foi nesse período que começou a agricultura para os seres humanos. A prática permitiu com que os aglomerados humanos se fixassem em regiões por períodos longos de tempo, sem a necessidade de migrar em decorrência de aspectos ambientais, como o clima, ou devido à falta de alimentos (advindo da vegetação nativa ou até mesmo da caça) em uma determinada época em uma determinada região, e, por consequência, esses grupos humanos tiveram a oportunidade e a necessidade de desenvolver novas tecnologias para dominar o uso da terra em seu benefício, gerando uma fonte estável de suprimento de alimentos (Borlaug, 2003).

É correto dizer, portanto, que a agricultura foi o estopim para o surgimento das civilizações. A fonte de alimento, uma vez assegurada, permitiu com que as populações crescessem em ritmo mais acelerado e proporcionou um aumento na expectativa de vida dos seres humanos.

Por outro lado, essa multiplicação populacional continua acentuada. Dados das Nações Unidas, através do Departamento de Relações Econômicas e Sociais, Divisão de População, estima, em seu relatório sobre a População Mundial de 2015, que os seres humanos no planeta devem chegar aos 8,5 bilhões em 2030, passando dos 9,7 bilhões em 2050, alcançando a marca dos 11 bilhões em 2100. Desse crescimento exagerado, contribuem enormemente os países subdesenvolvidos, que são os mais afetados pela fome.

Recursos essenciais à vida como comida e água se tornarão ainda mais escassos. A Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO) divulgou em 2014 que um terço da população mundial ainda não tem acesso ao saneamento básico e água potável (Figura 4.1).

Um fator agravante desse panorama é que, quanto maior a população, menor é a área disponível para o plantio dos alimentos. Portanto, cria-se um paradigma pois, mais pessoas precisam de mais comida, mas o espaço físico disponível para tanto, é menor. O uso de fertilizantes químicos é uma ferramenta essencial para plantios cada vez mais eficientes, ou seja, mais produção para uma mesma área, para a crescente demanda de alimentos no mundo.

7

Figura 4.1 – Disponibilidade de água potável no mundo – (adaptado WHO, 2014)

4.2 A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DOS FERTILIZANTES QUÍMICOS

Estudos já demonstraram a ligação entre o aumento do uso dos fertilizantes com a melhora em índices econômicos. McArhtur e McCord (2014) atestaram que um aumento de produção de cereais (através do uso de insumos como fertilizantes, água e sementes modernas) de 1,5 tonelada por hectare para 2 toneladas por hectare, está ligado ao aumento da renda per capta de uma população entre 13% a 19%, a um decréscimo percentual de 3,3 a 3,9 em 5 anos na participação do trabalho no campo, e um aumento de produtividade do trabalho não relacionado à agricultura de aproximadamente 20% após, em média, uma década.

Segundo relatório do Banco Mundial Breaking Down Barriers: Unlocking Africa's Potential through Vigorous Competition Policy, o fertilizante desempenha um papel importante em todas as economias com setores agrícolas significantes.

Em países com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH), como os da África subsaariana, onde a produtividade agrícola é a mais baixa do mundo, a expansão da produção e uso do fertilizante químico representariam um amparo essencial no desenvolvimento do agronegócio de larga escala e proporcionariam uma melhora nos índices de pobreza e alívio da fome.

Portanto, percebe-se a importância multifatorial do fertilizante químico no desenvolvimento econômico, na erradicação da fome e no aumento de produtividade das culturas.

8

4.2.1 O setor agrícola e de fertilizantes minerais no Brasil e suas perspectivas

O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo e representa 7% desse mercado. Segundo dados da International Fertilizer Association (IFA), o país consumiu, em 2014, 3,9 milhões de toneladas de nitrogenados, 4,8 milhões de toneladas de fosfatados e 5,4 milhões de toneladas de potássicos (Belon, 2018). O consumo de NPK total em 2016 foi de 15,1 milhões de toneladas (IFA, 2018). O setor agrícola e o agronegócio contribuíram, em 2017, com 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Isoladamente, a agricultura representou, em 2016, 5,4% do PIB, 8,2% do volume de importações, 38,6% do volume de exportações e 18,1% do emprego (Guimarães, 2018).

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil, haverá uma expansão de área plantada no país passando, de 74 milhões de hectares em 2017 para 84 milhões de hectares em 2027. Somente na produção de grãos (algodão, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio, cevada, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trigo e triticale), espera-se um incremento de 18,3% na área cultivada. A quantidade de fertilizante entregue ao consumidor final no Brasil cresceu, em média, 4,7% ao ano de 2000 a 2016 (ou um crescimento de 108% no período), enquanto o consumo de fertilizantes em kg/ha, no mesmo período, cresceu 40%. Há também um crescimento projetado do consumo de fertilizante considerando a entrega ao consumidor final para 2026 de 25% segundo dados da Associação Nacional Para Difusão De Adubos (ANDA) (ver na Figura 4.2) (Guimarães, 2018).

No que se refere à demanda de fertilizantes até 2022, projeções da ANDA indicam que os números devem aproximar-se de 37,6 milhões de toneladas e os fatores chaves que impactam no indicador são restrições de crédito, a volatilidade da moeda, dos custos de inputs e grãos e a lucratividade dos agricultores. Há ainda uma tendência na mudança na logística do setor no Brasil onde a região norte passa ter mais participação no escoamento e uso dos insumos agrícolas. Os custos de transporte ainda são consideravelmente altos e persiste a predominância no transporte rodoviário.

Na comercialização, estima-se um aumento no volume de transações através de distribuidores e revendedores em comparação com o cenário atual, onde há maior venda direta das misturadoras para os agricultores (McLellan, 2018). O Brasil ainda é um país predominantemente importador de matéria-prima, sendo que esta parcela do consumo representa 76% do total. Isso indica que ainda há muito espaço para investimentos nos primeiros elos da cadeia produtiva, aqueles ligados à fabricação de matérias-primas simples.

9

A Figura 4.2 apresenta a projeção de entrega de fertilizantes ao consumidor final.

Figura 4.2 – Projeção da entrega de fertilizantes ao consumidor final (Guimarães, 2018)

Outro fator fundamental para que o país alcance os níveis de crescimento econômico no setor agrário em menor prazo que aqueles relacionados aos novos investimentos em unidades fabris é o aumento da eficiência técnica dos insumos desde a sua fabricação, o que mostra a tendência atual à produtos premium que produzem impacto na produtividade especialmente em solos pobres como os brasileiros, que possuem maior qualidade e eficiência, e que se traduzem em menor risco (McLellan, 2018).

Ainda segundo McLellan (2018), há dois cenários possíveis no que concerne à capacidade de utilização e margens das misturadoras: i) continuar crescendo de maneira acentuada, a taxa de utilização continuar caindo e alta pressão nas margens de comercialização, e ii) diminuição do crescimento da capacidade de mistura, aumento ou estabilização da taxa de utilização e as margens conseguem espaço para melhorar.

De qualquer maneira, o futuro do setor para 2022 projeta ser significantemente maior, mais eficiente e altamente competitivo, mostrando uma inversão na política de produção puxada pelo volume para um maior foco na qualidade e especialização dos produtos.

Essa tendência evidencia também a necessidade da busca de melhores práticas produtivas orientadas ao uso racional dos recursos para que se evite o desperdício e que se aumente a eficiência dos processos produtivos de maneira a alcançar produtos cada vez mais eficazes e com níveis de qualidades física e química cada vez maiores.

10

Tabela 4.1 – Principais indicadores do setor de fertilizantes no Brasil (ANDA, 2018)