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46 Na concepção da análise técnica, um trabalho relevante é o de Oliveira, Montini e Bergmann (2008). O objetivo do trabalho foi realizar previsões de séries de retornos de ações de empresas dos setores financeiro, de alimentos, industrial e de serviços, utilizando redes neurais artificiais (RNA) do tipo feedforward treinadas com algoritmo de Levenberg- Marquardt e modelos Arima-Garch. A amostra foi composta por duas séries de cada setor. Do setor financeiro foram analisadas as séries dos bancos Bradesco e Itaú, do de alimentos a Perdigão e a Sadia, do setor industrial a Marcopolo e a Gerdau, e do de serviços o Pão de Açúcar e as Lojas Americanas.

Com base nos resultados obtidos, constatou-se que as previsões dos modelos Arima-Garch foram as melhores nos casos das empresas Perdigão, Gerdau, Lojas Americanas e Pão de Açúcar. As RNA realizaram melhores previsões nos casos das empresas Bradesco, Itaú, Sadia e Marcopolo. Quanto aos critérios de desempenho adotados, as maiores diferenças de previsões aconteceram nos casos da Perdigão e das Lojas Americanas, em favor dos modelos Arima-Garch, que foram em torno de 2% melhores que as RNA. As previsões das duas técnicas utilizadas foram mais próximas no caso da Sadia em que a RNA foi 0,6% melhor que os modelos Arima-Garch. Portanto, verificou-se que as previsões realizadas pelas duas técnicas têm desempenhos parecidos, não revelando superioridade de nenhuma técnica, sendo que ambas podem ser utilizadas como ferramentas complementares e de comparação para melhorar a capacidade de decisão do analista (OLIVEIRA, MONTINI e BERGMANN, 2008)

Já na concepção da análise fundamentalista, um estudo importante foi realizado por Costa Jr, Meurer e Cupertino (2007), tendo como objetivo verificar o relacionamento entre as séries trimestrais de retornos contábeis (ROE) e de retornos de mercado (RET) de empresas brasileiras com ações em bolsa, através do teste de causalidade de Granger. A amostra foi composta de 97 empresas com ações negociadas na Bovespa durante o período de janeiro de 1995 a março de 2007.

Agregando-se todos os resultados individuais, os resultados dos testes evidenciaram a existência de causalidade na direção do retorno contábil para o retorno de mercado a um nível marginal de 10%, não se verificando nenhuma causalidade, também a nível agregado, na direção do retorno de mercado para o retorno contábil. Com base nestes resultados, os autores concluíram que embora marginalmente, há certa ineficiência no mercado de ações brasileiro

47 frente às publicações de balanços, sendo esta constatação similar à do trabalho realizado no Reino Unido por O’Hanlon (1991), que também adotou a metodologia de Granger.

Outro trabalho nacional foi o de Sonza e Kloeckner (2009), cujo objetivo principal foi avaliar o equilíbrio de longo prazo e a dinâmica de curto prazo na relação entre o lucro contábil das empresas e o respectivo preço das ações negociadas pela BM&FBOVESPA, por meio da análise de co-integração e do Vetor de Correção de Erros. A amostra foi composta por 20 empresas com dados trimestrais do primeiro trimestre de 1990 ao segundo trimestre de 2008. Os resultados indicaram uma velocidade de ajustamento relativamente lenta para o equilíbrio de longo prazo entre o lucro e o preço das ações, evidenciando um período de tempo relativamente extenso para estas variáveis atingirem equilíbrio.

Portanto, os resultados mostram que a relação entre o lucro e o preço das ações, na maior parte das empresas, é significativa, evidenciando que os lucros influenciam consideravelmente o preço das ações no longo prazo. O artigo de Sonza e Kloeckner (2009) evidencia, por meio de análises quantitativas consistentes, a relevância dos dados contábeis para o mercado de capitais, enfatizando as relações de longo prazo existentes no mercado de ações e mostrando que os resultados das empresas influenciam o comportamento dos preços das ações, o que contraria os resultados do trabalho de Costa Jr, Meurer e Cupertino (2007).

Estudo similar ao de Costa Jr, Meurer e Cupertino (2007) foi a recente pesquisa de Carvalhal (2010). Através dos testes estatísticos de causalidade de Granger, seu trabalho teve como objetivo verificar a relação de causalidade entre o retorno contábil (ROE) e o retorno do mercado de ações (RET) para empresas listadas na BM&FBOVESPA. A amostra foi composta por 93 empresas e abrangeu o período de 1995 ao primeiro trimestre de 2009.

Os resultados dos testes indicaram, de forma geral, que não há evidências que possibilitem identificar causalidade entre o RET e o ROE e vice-versa, não sendo possível apontar nesses casos precedência temporal no período analisado, considerando-se os níveis de significância de 10%, 5% e 1%. Isso demonstra o baixo poder de melhoria da previsão dos retornos com a inclusão de uma das variáveis em análise como uma variável defasada na equação de regressão (CARVALHAL, 2010). Este resultado condiz com o encontrado por Costa Jr, Meurer e Cupertino (2007).

48 Outro artigo desenvolvido sobre o tema foi o trabalho comparativo realizado por Galdi e Lopes (2008), que teve como objetivo analisar a relação entre o lucro contábil e o preço das ações no mercado latino-americano. Para isso, foram aplicados os testes econométricos de estacionariedade (KPSS), co-integração (Johansen) e causalidade (Granger). A amostra foi composta por 41 empresas de nacionalidades argentina, brasileira, chilena, mexicana e peruana. Os resultados evidenciaram que existe um relacionamento de longo prazo entre o lucro e os preços das ações para a maior parte das empresas analisadas. Esses resultados são consistentes com os modelos apresentados por Ohlson (1995) e Ohlson e Juettner-Nauroth (2005), que relacionaram o preço da ação com o lucro da empresa. Porém, não se pode estabelecer uma relação de causalidade (de acordo com o conceito de causalidade de Granger) entre estas duas variáveis.

Este resultado pode ser explicado pela falta de tempestividade do lucro contábil advinda de demonstrações contábeis baseadas em normas, já que é uma contabilidade presa a instruções pré-estabelecidas, concedendo informações muitas vezes atrasadas. Costa, Costa e Lopes (2006) apresentaram evidências de que o lucro contábil nos países da América do Sul é conservador, o que legitima as observações de que quando há relação de causalidade de Granger entre preço e lucro, normalmente ela ocorre do preço para o lucro e não no sentido contrário. Segundo Galdi e Lopes (2008), ocorreram situações em que se apresentou causalidade do preço para o lucro; em outras análises, demonstrou-se causalidade do lucro para o preço. Porém, na maioria das situações não se constatou direção de causalidade consistente em nenhum sentido. Portanto, evidencia-se o baixo poder de melhoria das previsões dos retornos, preços e lucros, com a inclusão de uma das variáveis em análise como uma variável exógena defasada.

Abordando a metodologia de Vetores Auto-Regressivos (VAR), o estudo de Van Doornik (2007) teve como objetivo desenvolver e testar empiricamente um modelo de Vetores Auto- Regressivos (VAR) baseado em variáveis contábeis e macroeconômicas que explicasse o comportamento econômico-financeiro de uma empresa brasileira, a PETROBRÁS – Petróleo Brasileiro S/A. A metodologia utilizada fez uso de análise de correlação, testes de raiz unitária, análise de co-integração, modelagem VAR, testes de causalidade de Granger, além de métodos de impulso-resposta e decomposição de variância. Além das variáveis endógenas

49 pertencentes às demonstrações financeiras, um vetor de variáveis exógenas foi utilizado, incluindo o PIB brasileiro, as taxas de juros nacionais e internacionais, o preço internacional do petróleo, a taxa de câmbio e o risco país. Como principais resultados do teste de causalidade de Granger, o autor verificou que o preço do petróleo antecede a Receita Operacional Líquida, consequentemente influenciando na lucratividade da empresa, e que o modelo de Vetores Auto-Regressivos possui maior capacidade preditiva do que o sistema de equações múltiplas.

Outro trabalho de cunho similar foi realizado por Araújo Júnior (2009) com o objetivo de projetar o retorno acionário e o preço da ação de uma empresa através da simulação de um processo de análise fundamentalista baseado num modelo econométrico do tipo VAR. A empresa analisada foi a Sadia S/A, e a validação estatística do modelo consistiu na realização de testes de raiz unitária, de co-integração, causalidade de Granger, análise de correlação, função impulso-resposta e decomposição da variância. Como variáveis endógenas foram definidos sete indicadores fundamentalistas extraídos das demonstrações contábeis da empresa, e como variáveis exógenas utilizaram-se o retorno do Ibovespa, o PIB brasileiro, a taxa de juros SELIC, a taxa de câmbio e os preços internacionais do frango e do milho. Como resultado obteve-se um modelo do tipo VEC (Vetor de Correção e Erros) no qual as relações de co-integração entre as variáveis endógenas foram levadas em consideração. Com base nesse modelo foram obtidas as projeções ex-post dos indicadores fundamentalistas, assim como dos preços e retornos das ações da Sadia S/A. O modelo proposto apresentou robustez, principalmente no que se refere aos primeiros períodos projetados.

50 3 HIPÓTESES

Como os trabalhos de Bar-Yosef, Callen e Livnat (1987) e Sonza e Kloeckner (2009) verificam que o lucro derivado das demonstrações financeiras é uma informação relevante para prever o valor de ativos, a primeira hipótese desta pesquisa é:

1- Dentre os índices pesquisados, os derivados do Lucro Líquido exercem maior influência sobre os retornos das ações.

Como normalmente os modelos multivariados possuem mais parâmetros que os modelos univariados, e de acordo com Greene (1997), Tsay (2002) e Enders (2003) os modelos mais parcimoniosos, de forma geral, oferecem melhores previsões, a segunda hipótese deste estudo é:

2- Os modelos univariados fornecem melhores previsões sobre os retornos das ações do que os modelos multivariados, o que indicaria a irrelevância da informação contábil para previsões de retornos trimestrais das ações.

51 4 METODOLOGIA

De acordo com os objetivos traçados, esta pesquisa busca comparar a capacidade de previsão dos retornos das ações por meio dos modelos univariados do tipo Auto-Regressivo Integrado de Média Móvel (ARIMA) – utilizando a metodologia de Box-Jenkins – em relação aos modelos multivariados do tipo de Vetores Auto-Regressivos (VAR). Desta forma, primeiramente serão feitas as previsões pelo método ARIMA, utilizando-se apenas a variável RETit (retorno da ação no mercado de ações). Posteriormente, buscar-se-á verificar por meio dos modelos VAR – com base na relevância da informação contábil - se as variáveis contábeis aumentam a capacidade de previsão dos retornos das ações.

Portanto, foi feita a verificação da relevância da informação contábil, representada pelo método VAR, em que, ao se conseguir fazer previsões dos retornos das ações das empresas, foi possível, de acordo com Fama (1970), definir em qual tipo de ineficiência o mercado analisado se encontra. Todos os dados foram coletados na base do Economática® e no site da BM&FBOVESPA e os cálculos, testes e análises estatísticas foram realizados no Software Stata®.