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2.1. ANTIMICROBIANOS

Antimicrobianos são fármacos empregados no tratamento de doenças

infecciosas inviabilizando o crescimento dos micro-organismos nocivos, não

prejudicando o hospedeiro. A descoberta da penicilina em 1929 e sua posterior

inserção no tratamento de doenças infecciosas foi o marco inicial que culminou no

desenvolvimento dessa nova classe de fármacos. Hoje existe uma infinidade de

antimicrobianos disponíveis, que sistematicamente podem ser divididos em dois

subgrupos, aqueles que são sintetizados por procedimentos químicos em

laboratórios são chamados fármacos sintéticos, já os produzidos por bactérias ou

fungos são denominados antibióticos. Posteriormente, os antimicrobianos são

classificados em grupos de acordo com certas características pertinentes a seus

representantes, tais como suas estruturas químicas, mecanismos de ação e

espectros de atividade (TORTORA, FUNKE, CASE, 2000; LOPES, 2005).

O uso de antimicrobianos, entre os anos 2000 a 2010 atingiu um elevado

crescimento de 36% em escala global. Sendo que, 76% do aumento global do

consumo dessa classe medicamentosa correspondeu a Brasil, Rússia, Índia, China

e África do Sul, os chamados países do BRICS (BOECKEL, et al. 2014).

No âmbito de controlar o consumo desnecessário dessa classe de fármacos,

bem como evitar automedicação e surgimento de bactérias resistentes, no Brasil a

ANVISA implementou em 2010 a RDC 44/10, posteriormente revogada pela RDC

20/2011, que tornou obrigatória a venda de antibióticos apenas mediante a retenção

de receita. Posteriormente, complementar a essa resolução, passou a vigorar em 16

de abril de 2013 a prática de escrituração eletrônica dos antibióticos por parte de

todas as drogarias e farmácias do território nacional brasileiro, no Sistema Nacional

de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC). Processo semelhante que já

havia sido implementado realizado para psicotrópicos (portaria 344) há alguns anos

(BRASIL, 2011; BRASIL, 2013).

Essa medida se faz importante, pois o uso indiscriminado de antimicrobianos

induz ao surgimento de resistência bacteriana, que é uma resposta adaptativa

Objetivos

inevitável ao uso de antimicrobianos, pois esse processo de alteração de patógenos

suceptíveis por uma espécie mais resistente é uma resposta natural (FRENCH,

2005).

2.2. QUINOLONAS

As quinolonas são um gupo de antimicrobianos cujo mecanismo de ação

consiste na inibição de processos de transcrição e replicação do ácido

desoxirribonucléico (DNA) bacteriano. O uso dessa classe de antimicrobianos se

consolidou desde a década de 1960, quando em 1962 Lesher e colaboradores

descreveram o ácido nalidíxico, que foi introduzido na prática clínica. Antibióticos

quinolínicos tem como alvo a inibição da atividade da DNA girase ou topoisomerase

II, enzima essencial à sobrevivência bacteriana, pois a enzima DNA-girase é que se

encarrega de tornar a molécula de DNA compacta e biologicamente ativa. Ao inibir

essa enzima, a molécula de DNA passa a ocupar grande espaço no interior da

bactéria e suas extremidades livres causam a síntese descontrolada de RNA

mensageiro e de proteínas, determinando a morte das bactérias (BERGAN, 1988;

GOODMAN e GILMAN’S, 2006).

Quinolonas estão entre os antibióticos de maior uso nos últimos anos. A

classificação das quinolonas é dada em gerações de acordo com seu espectro de

ação, além de suas características farmacocinéticas. As quinolonas de primeira

geração (ácido nalidíxico) apresentam um espectro de ação limitado a bacilos

gram-negativos e, com isso, são utilizadas apenas para infecções do trato urinário. A

indrodução de um átomo de flúor na estrutura das quinolonas possibilitou o

surgimento das novas gerações capazes de apresentar melhor atividade

farmacocinética, que são as chamadas de fluoroquinolonas (WOLFSON e HOOPER,

1985; CALVO e MARTINEZ, 2009).

O surgimento das fluoroquinolonas nos anos 1980 possibilitou avanços

terapêuticos importantes, mais especificamente com o acréscimo de um átomo de

flúor na posição 6 do anel quinolínico, possibilitando aumento do espectro de ação e

melhor biodisponibilidade por via oral. Nesse momento surgiam as fluoroquinolonas

de segunda geração, como o norfloxacino (Figura 1). Com esse incremento na

Objetivos

atividade farmacocinética, a atividade contra bacilos gram-negativos foi melhorada,

porém ainda apresentando baixa atividade contra gram-positivos e anaeróbios,

como é o caso do norfloxacino. Já quinolonas de terceira geração, a exemplo do

levofloxacino (Figura 1), exibem maior atividade contra gram-positivos, além de

melhora em sua farmacocinética, o que viabilizou seu emprego sistêmico. As

quinolonas de quarta geração, a exemplo do gemifloxacino, mostram maior atividade

frente a bactérias gram-positivas e bactérias anaeróbias. Entretanto, algumas

espécies de bactérias tais como, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa

e Mycobacterium tuberclosis são capazes de adquirir mutações que inviabilizem a

eficiência das fluoroquinolonas (ZHAO et al. 1997; HAYASHI; NAKATA; YAZAKI,

2004; CALVO e MARTINEZ, 2009).

Figura 1. Fórmula estrutural de norfloxacino e levofloxacino

.

Norfloxacino (A) Levofloxacino (B)

(A): ácido-etil-6-fluoro-4-oxo-1,4-dihidro-4-oxo-7-(1-piperacinil)-3-quinilonocarboxílico;

(B): (S)-(-)9-fluoro-2,3-di-hidro-3-metil-10-(4-metil-1-piperazinil)-7-oxo-7H-pirido[

1,2,3-de]-1,4-benzoxazina-6-carboxílico;

Tamanha a importância das quinolonas, especialmente quinolonas fluoradas,

fez com que as mesmas tivessem sido constantemente estudadas para se chegar a

aprimoramentos estruturais vidando melhoras terapêuticas pelo uso das mesmas.

Especialmente após a introdução do norfloxacino, diversas outras estruturas de

fluoroquinolonas surgiram na tentativa de aumentar o espectro geral antibacteriano,

melhorar absorção, permeação celular, biodisponibilidade, entre outros. Observa-se

inclusive, derivados de fluoroquinolonas capazes de apresentar potencial anticâncer

(BHANOT; SINGH; CHATTERJEE, 2001; RAJULU, G. G. et al. 2014).

Algumas dessas novas fluoroquinolonas apresentam modificações não

somente na estrutura básica anelar, mas também, possuem novas aminas cíclicas

Objetivos

ou heterocíclicos nitrogenados, apropriadamente substituídos na posição sete do

grupamento farmacóforo. No entanto, vale ressaltar que as posições indispensáveis

para a atividade biológica das fluoroquinolonas são a C-6 (contendo um átomo de

flúor), C-7 (contendo grupos piperazila e pirrolidina) e N-1 (contendo grupos etila,

ciclopropila, ter-butila e arilas fluorados) (BHANOT; SINGH; CHATTERJEE, 2001;

SOUZA et al., 2004).

Mesmo várias décadas após a descoberta classe de quinolonas, ainda hoje

seus representantes são de grande interesse terapêutico e econômico para a

indústria farmacêutica por se manterem eficientes contra vários antimicrobianos.

Com isso possuem prática clínica consolidada (do ponto de vista terapêutico), perfil

de impurezas (Tabela 1), vias de degradação e métodos analíticos quantitativos já

bem elucidados (do ponto de vista químico). Portanto, representantes dessa classe

de fármacos se mantêm em posição privilegiada para continuarem sendo estudados

nos mais diversos campos científicos (DEVI e CHANDRASEKHARB, 2009; USP,

2012).

Tabela 1. Exemplos de algumas impurezas conhecidas de levofloxacino e norfloxacino

Impurezas conhecidas de levofloxacino Impurezas conhecidas de norfloxacino

Fórmula estrutural Fórmula molécular Fórmula estrutural Fórmula molécular

O N O OH O F F

(1)

C

13

H

9

F

2

NO

4

N

O

OH

O

F

Cl

(4)

C

12

H

9

ClFNO

3 N O O N N F

(2)

C

17

H

20

FN

3

O

2 N O N HN F

(5)

C

15

H

18

FN

3

O

O N O OH O N N -O F

(3)

C

18

H

20

FN

3

O

5 N O HO N N O F O

(6)

C

17

H

18

FN

3

O

4

Objetivos

2.3. ESTUDO DE ESTABILIDADE

Estudos de estabilidade são realizados afim de se avaliar a manutenção das

características químicas, físicas, microbiológicas, terapêuticas e toxicológicas de

determinada especialidade farmacêutica, determinando assim, seu prazo de

validade. Sendo o prazo de validade o tempo limite para que o produto farmacêutico

apresente-se apto ao uso, este é determinado com base em estudos de

estabilidade, que vão atestar as características dos produtos farmacêuticos

estabelecendo ou confirmando seu prazo de validade. Os testes de estabilidade

determinam tal prazo, baseando-se também no período temporal compreendido

entre a fabricação do produto farmacêutico até o momento em que sua potência não

seja inferior a 90% e os produtos de alteração, caso presentes, estejam

devidamente identificados, quantificados e qualificados (BRASIL, 2005; ALLEN JR.,

POPOVICH e ANSEL, 2007; BRASIL, 2013).

Além disso, a etapa de desenvolvimento e pré-formulação conta com estudos

de estabilidade para aperfeiçoar a disposição dos excipientes propostos juntamente

com o princípio ativo, evitando incompatibilidade de atividades com base em suas

propriedades físicas e químicas, tais como forma cristalina ou polimórfica individual,

tamanho da partícula e presença de água. A avaliação de possíveis interações entre

produto e materiais de embalagem também são determinadas devido aos estudos

de estabilidade, sendo possível identificar alterações químicas que podem acarretar

modificação em nível físico ou químico entre componentes de embalagem e

formulação (LACHMAN, LIEBERMAN e KANIG, 2001; KLICK et al. 2005).

Estudos de estabilidade podem ser realizados de três formas, são eles os

estudos de estabilidade acelerado, de longa duração e de acompanhamento. O

estudo de estabilidade acelerado (em temperaturas e umidade elevadas) é projetado

para acelerar a degradação química e/ou mudanças físicas no produto, a fim de

simular o impacto de curtas exposições a condições drásticas de armazenamento,

fato que pode ser observado ao longo do transporte. Esse estudo pode simular o

que ocorreria com o produto farmacêutico em condições normais de armazenamento

por longos períodos de tempo. Para tanto, a realização de estudos de estabilidade

acelerada conta com produtos farmacêuticos submetidos a condições de 40°C ± 2ºC

Objetivos

e 75% ± 5% UR (umidade relativa), fato que possibilita acelerar possíveis

degradações intrínsecas do fármaco (BRASIL, 2005).

O estudo de estabilidade de longa duração é projetado em condições de

temperatura e umidade menos elevadas que os estudos de estabilidade acelerada,

30°C ± 2ºC e 75% ± 5% UR, para países que se enquadrem na classificação

climática de clima quente e úmido, como é o caso do Brasil. Estudos de estabilidade

de longa duração são utilizados para estabelecer ou confirmar o prazo de validade e

recomendar as condições de armazenamento do produto. Por fim, os estudos de

estabilidade de acompanhamento são realizados a fim de garantir se o medicamento

mantém o padrão de qualidade verificado nos estudos de estabilidade de longa

duração (BRASIL, 2005).

Para se considerar um produto farmacêutico estável, não basta simplesmente

considerar sua potência para assegurar que o mesmo mantenha suas

características e resposta farmacológica, mas deve-se controlar também a presença

de Produtos de Degradação (PD) e outras impurezas, que podem afetar a atividade

terapêutica do medicamento. Logo, deve-se monitorar o aparecimento destes

compostos nos medicamentos acabados ou nos fármacos, visto que sua presença é

praticamente inevitável. Para tanto, deve-se ter total conhecimento da estrutura

química, propriedades físicas e químicas, processos de isolamento e purificação do

PD no produto acabado (ICH, 2003b; CARVALHO et al. 2005; RAO, et al., 2010).

Ao longo da realização dos estudos de estabilidade se pode concluir que um

determinado produto farmacêutico acabado (PFA) realmente conserva-se dentro dos

limites de teor e de produto de degradação por meio de métodos analíticos

específicos ao fármaco de interesse, sendo indispensável que os testes sejam

capazes de avaliar a presença ou formação qualitativa e quantitativa de produtos de

degradação de forma rápida, fornecendo resultados precisos e reprodutíveis. Caso a

metodologia empregada ser por cromatografia, aconselha-se ainda emprego de

detector de arranjo de fotodiodos ou espectrometria de massas, que são capazes de

assegurar a pureza dos picos cromatográficos referentes as substâncias de

interesse de modo específico e seletivo, portanto sem interferentes. Médodos que

sigam essa regra são conhecidos como metodologias indicativas de estabilidade

(SINGH e BAKSHI, 2002; BRASIL, 2003; BRASIL 2013).

Objetivos

Para controle de produtos de degradação de fármacos, testes específicos

para os mesmos devem ser adotados. Caso as impurezas ou produtos de

degradação não estejam disponíveis, deve-se adotar procedimentos que envolvam

testes de estresse em condições variadas. Assim, os estudos de degradação

forçada devem promover degradação em extensão suficiente a fim de permitir

avaliação da formação de PD e sem que haja degradação completa da molécula de

interesse farmacológico (BRASIL, 2013).

2.4. PRODUTOS DE DEGRADAÇÃO

Impurezas podem ser conceituadas como substâncias que apresentem

potencial de contaminação. A impureza pode ainda ser definida como uma

substância de interesse misturada ou impregnada em outra substância estranha ou

de qualidade inferior. Em outras palavras, impurezas são caracterizadas como todos

os componentes presentes no insumo farmacêutico ou no produto farmacêutico

acabado que não sejam princípio ativo nem excipientes (ICH, 1999; AHUJA, 2007).

As impurezas são oriundas de vias orgânicas e inorgânicas. Classificam-se

como impurezas inorgânicas, metais pesados, catalisadores, entre outros

componentes que tenham sido utilizados na via de síntese do próprio fármaco.

Quando se refere à impurezas orgânicas, trata-se de substâncias correlatas ao

insumo ativo, sejam elas produtos intermediários, subprodutos, substâncias

relacionadas ou PD, podendo essas impurezas ser originárias das mais variadas

vias, tais como síntese, estocagem inadequada, e no PFA, podem advir desde a

produção até do seu próprio envelhecimento (RAO et al., 2010).

Já os produtos de degradação presentes no produto acabado, geralmente

surgem de condições de transporte e estocagem do medicamento. Especificamente,

tratam-se de alterações na pureza do PFA que são mediadas por efeitos de

mudanças na temperatura, umidade, pH, ou ainda de características intrínsecas do

insumo ativo, bem como de interações na formulação entre insumos ativos e

excipientes, forma farmacêutica e propriedades dos materiais de embalagem

primária (BRASIL, 2005).

Objetivos

2.5. ESTUDOS DE DEGRADAÇÃO FORÇADA

Estudos de degradação forçada ou testes de estresse são importantes para

determinar a estabilidade de um fármaco, elucidar suas principais rotas de

degradação, além de monitorar seus possíveis produtos de degradação. Os testes

de degradação forçada visam, portanto, simular condições extremas de estresse que

o produto farmacêutico venha a enfrentar, tanto para o insumo ativo como para as

variadas formas farmacêuticas de PFA (ICH, 2003; ICH, 2006).

Testes de estresse são essenciais nas pesquisas de identificação de

possíveis PD, propiciando que as principais vias de degradação de determinado

princípio ativo sejam determinadas. Os testes de estresse devem obrigatoriamente

ser mais extremos que as condições apresentadas nos estudos de estabilidade

acelerados. A exemplo disso, tem-se métodos de degradação forçada

proporcionados por altas temperaturas, diversas faixas de pH, oxidação, metais

pesados e fotólise. Contudo, avaliar alguns dos possíveis produtos de degradação

formados sob tais condições talvez não seja necessário uma vez que se prove que

os mesmos não sejam formados sob condições de estabilidade acelerada ou de

longa duração (ICH, 2003; BRASIL, 2013).

Testes de degradação forçada são recomendados, ainda, para casos em que

se pretende avaliar impurezas ou apenas PD de determinados fármacos e tais

impurezas não estejam disponíveis. Neste momento os estudos de degradação

forçada podem ser realizados desde que abordem procedimentos bem

caracterizados (ICH, 1994; BRASIL, 2003).

A natureza dos testes de estresse de fármacos depende diretamente do

fármaco em questão e tendem a variar amplamente de acordo com sua estabilidade

inerente do fármaco. Para tanto alguns dos principais guias, tais como o

International Conference on Harmonization (ICH) já recomendam condições iniciais

de estresse, tais como aquecimento com incremento de 10°C a partir da condição de

estabilidade acelerada (50°C, 60°C, etc.). Entretanto existem condições estressantes

bastante distintas entre si, a exemplo de algumas regiões que adotam como estudo

de estresse o simples uso das mesmas condições de estabilidade acelerada

(40°C/75% UR) e até outros casos com condições mais extemas, como o uso de 5 –

Objetivos

10°C abaixo da temperatura de fusão do fármaco. Embora exista uma infinidade de

recomendações a cerca da condução de estudos de estresse, pode-se observar

guias validados e mundialmente respeitados que dispontam como referência nesse

campo, como o ICH (ICH, 2003; REPUBLIC OF KENYA, 2010; ASEAN, 2012).

Condições catalíticas por faixas extremas de pH buscam induzir hidrólise na

molécula do fármaco. Para essa técnica uma condição inicial pode partir do uso de

ácido clorídrico 0,1 mol L

-1

como condição hidrolítica ácida e hidróxido de sódio 0,1

mol L

-1

como condição hidrolítica alcalina. A indução a degradação pela ação de luz

trata-se de uma condição também indispensável, pois possibilita avaliar a

fotosensibilidade de determinado fármaco, sendo ainda, indispensável para definir

condições de estocagem do fármaco e do PFA. Esse estudo de estresse pode ser

conduzido a princípio pelo fármaco isolado e/ou em solução simples ou em

suspensão, sendo recomendada uma exposição a 1,2 milhões de lux por hora

emitida por fontes de luz fluorescente. Para o estudo de degradação oxidativa

observa-se uso amplo de peróxido de hidrogênio (0,02 – 3,0%) como agente

estressante, além de azobisisobutironitrila (AIBN) e hidrocloreto de

2,2'-azobis(2-amidinopropano) (AAPH), por exemplo, que são agentes oxidantes mais seletivos.

Metais como cobre e ferro também podem ser usados como agentes indutores de

oxidação em estudos de estresse (ICH, 1996; ICH, 2003; OMS, 2009; ALSANTE, et

al. 2007).

Em relação a gama de materiais empregados na realização de testes de

estresse, as possibilidades são diversas. O primeiro material é o recipiente onde

ocorrerá a condição de estresse, de modo que o vidro destaca-se por ser tratar de

material inerte. Diversos materiais tais como frascos, tubos, ampolas, entre outros

podem ser usados e devem sempre se apresentar devidamente vedados.

Geralmente opta-se pelo uso de estudos de degradação forçada em solução, onde

os volumes usados podem chegar até a 100 mL e as concentrações de fármacos

normalmente usadas são de até 10 mg mL

-1

(SINGH e BAKSHI, 2000).

Um segundo material de destaque em estudos de estresse consiste no

equipamento para criar determinada condição de estresse. Pode-se optar pela

realização de estudos de degradação forçada à temperatura ambiente, mas quando

se pretende acelerar a degradação, parte-se para técnicas de aquecimento tais

Objetivos

como banhos termostatizados de água, que ajudam no fornecimento de altas

temperaturas às amostras a serem estressadas, ou ainda, banhos de óleo e refluxo,

quando testes de estresse requerem temperaturas mais elevadas (superiores a

80°C). Independente da condição catalítica escolhida, sempre é necessário manter

um controle rígido da temperatura reacional com auxílio de termômetros

devidamente calibrados (SINGH e BAKSHI, 2000; JUNWAL, et al. 2012).

Dessa forma, cuidados com monitoramento da temperatura são importantes

tanto para se assegurar quais variáveis juntas geram situação de estresse além de

garantir que a condução de estudos de estresse se dê de maneira segura. Essa

preocupação ganha campo especialmente quando se opta por utilizar fornos de

convecção ou câmaras de aquecimento para aquecer amostras, pois nesses casos,

cuidados com temperatura reacional devem ser redobrados, já que propiciam maior

incidência de acidentes no ambiente laboratorial caso amostras aquecidas estourem

no interior dos fornos (SINGH e BAKSHI, 2000).

Ao longo da realização de ensaios de degradação forçada é importante

salientar que não basta apenas estressar o fármaco e/ou o PFA de maneira

descontrolada visando apenas formar produtos de degradação. É necessário saber

quando a degradação atinge um limite satisfatório, o que indica o término do estudo

de estresse. Caso os estudos de estresse persistam por longos períodos de tempo,

os produtos de degradação formados podem sofrer novas clivagens originando

compostos secundários, o que não é o intuito dos estudos de degradação forçada,

uma vez que um PFA dificilmente encontra condições tão severas no

armazenamento quando está prestes a ser destinado ao uso (OMS, 2009).

Assim, orienta-se que em tais estudos atinjam em torno de 10 a 30% de

degradação em relação a concentração inicial de fármaco não degradado. Isso faz

com que cada teste de estresse siga condições particulares de acordo com a

susceptibilidade do fármaco a sofrer ou não degradação nas mais diversas

condições de estresse (OMS, 2009).

Para se avaliar os resultados do estudo de degradação forçada, técnicas

cromatográficas como cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e

cromatografia líquida de ultra eficiência (CLUE) são bastante populares por

possibilitarem boa separação entre fármaco e PD formados no estudo de estresse.

Objetivos

Para tanto, a metodologia cromatográfica deve ser capaz de validar a

especificidade/seletividade para determinados compostos, por exemplo, por seu

acoplamento a detectores com arranjo de diodos e espectro de massas, que são

capazes de monitorar purezas cromatográficas. Assim pode-se confirmar se o

método em questão seja efetivo ou não na função de medir determinado composto

(fármaco ou produto de degradação) sem presença de interferentes (SINGH e

BAKSHI, 2002; ICH, 2003; USP, 2012).

2.6. FATORES ATUANTES NA DEGRADAÇÃO DE FÁRMACOS

A estabilidade de uma especialidade farmacêutica é dependente de fatores

ambientais como temperatura, umidade, luz e de fatores diretamente relacionados

ao próprio produto como propriedades físicas e químicas, de substâncias ativas e

excipientes farmacêuticos, forma farmacêutica, processo de fabricação e

propriedades dos materiais de embalagens (BRASIL, 2005).

2.6.1. Temperatura

A temperatura é um fator que influencia a velocidade de reações, portanto

análises que empreguem termodegradação são úteis para avaliação da estabilidade

térmica (ATKINS, 1999). Por essa via de degradação destacam-se alterações que

podem ocorrer na estrutura da molécula por reações de descarboxilação, hidrólise e

rearranjos, por exemplo (BAERTSCHI et al., 2005).

Em se tratando de fármacos, sua degradação pode ser aumentada com o

aumento da temperatura, de modo que a cada aumento de 10°C aumenta-se em

média de duas a três vezes a velocidade da reação (nesse caso, reações de

degradação). Algumas reações não são afetadas significamente quando ocorre uma

variação da ordem de 10°C enquanto que outras apresentam alterações

significativas. E, ainda, quando se pretende conduzir estudos de degradação

forçada, sugere-se que o intervalo de temperatura em que amostras são submetidas

varie de 40° C a 110° C e, o período de exposição de poucos minutos a meses

Objetivos

(SINGH e BAKSHI, 2000; LACHMAN, LIEBERMAN e KANIG, 2001; ALSANTE, et al.

2007).

2.6.2. Hidrólise

Quando se considera mecanismos de degradação, a água é avaliada como

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