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4. Análise dos editoriais da Revista Mátria

4.2. Revista Mátria – História e Contexto

A CNTE publica a Revista Mátria desde o ano de 2003. A periodicidade é anual: a revista sai a cada dia 8 de março, data em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher. As onze edições lançadas até o ano de 2013 foram elaboradas pela Secretaria de Relações de Gênero da entidade. A Revista Mátria traz reportagens, artigos científicos, artigos de opinião e entrevistas que contêm histórias de vida, dados concretos e informações acerca da presença e atuação das mulheres em vários setores sociais, como no meio artístico, econômico, político, além de levantar questões quanto à violência e à discriminação contra as mulheres ainda existente no Brasil.

Para compreendermos a relação entre a temática específica da publicação e a organização sindical que a produz, traçamos um breve histórico e o quadro político e social da CNTE. No Brasil, os trabalhadores em educação começaram a se organizar em associações a partir de 1945. Em 1960, foi fundada a primeira grande associação de educadores do país, a Confederação dos Professores Primários do Brasil (CPPB).

Dezenove anos depois, devido a alterações estatutárias e a aproximação de professores secundários ao movimento, a CPPB virou simplesmente Confederação dos Professores do Brasil (CPB). No período entre 1982 e 1988, em que o país estava vivendo um processo gradual de redemocratização, a CPB se consolidou como entidade sindical federativa e ferramenta fundamental de organização dos docentes brasileiros. Em 1988, filiou-se à Central Única dos Trabalhadores (CUT)22. Só no ano de 1990, após um

congresso que objetivava unir as federações relacionadas à docência numa mesma entidade nacional, a CPB passou a se chamar CNTE23.

A luta setorial organizada pela CNTE se pauta na valorização específica dos trabalhadores em educação, como o enfrentamento à múltipla jornada de trabalho, a mobilização pela profissionalização e pelo piso salarial profissional nacional. A entidade também atua em questões menos específicas da categoria, mais voltadas à sociedade de um modo geral. Algumas dessas pautas são a mobilização pela garantia dos direitos sociais e pela ampliação dos espaços de cidadania. Põe em discussão temas como reforma agrária, exploração do trabalho infantil, racismo e – vide a temática da própria Revista Mátria – opressão de gênero.

Segundo dados disponíveis no site oficial da CNTE (www.cnte.org.br), acessado em 03/11/2013, mais de 80% dos sindicalizados na entidade são mulheres. Diante desse quadro, a CNTE, através de seu estatuto, atribui funções específicas à Secretaria de Relações de Gênero. Dentre as principais atribuições, está a de coordenar e desenvolver atividades pertinentes às relações de gênero dos trabalhadores em educação. O objetivo desse setor da entidade, portanto, é envolver a entidade na luta pela emancipação e resguardo dos direitos das mulheres brasileiras.

22A Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi fundada em 28 de agosto de 1983, na cidade de São

Bernardo do Campo, São Paulo, em meio ao cenário repressivo da Ditadura Militar brasileira, que se estenderia até 1985. O sindicato se baseia na defesa dos interesses da classe trabalhadora brasileira, organizando e conduzindo sua luta em prol de melhores condições de vida e trabalho. Segundo o perfil institucional da Central, disponibilizado no site oficial, os marcos estratégicos da entidade são: o fortalecimento da democracia, o desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho. "A luta pela universalização dos direitos, bandeira histórica, é cotidianamente reafirmada com a participação ativa da Central na construção de políticas públicas e afirmativas de vários setores e segmentos da sociedade, com destaque para mulheres, juventude, pessoas com deficiência física, saúde, combate à discriminação racial, idosos, entre outras.” (disponível em: <http://cut.org.br/institucional/38/historico>. Acessado em: 06/11/2013). Atualmente, a CUT é a maior central sindical do Brasil e da América Latina e a 5ª maior do mundo, contando com 3.806 entidades filiadas - dentre elas, a CNTE - e cerca de 7 milhões e 900 mil trabalhadoras e trabalhadores associados.

23Atualmente, a CNTE tem sede em Brasília, conta com 44 entidades filiadas e mais de um milhão de

sindicalizados. (Dados disponíveis em: <http://www.cnte.org.br/index.php/institucional/a-cnte.html>. Acessado em: 05/11/2013.

Desde o ano 2000, a CNTE trabalha na produção de material gráfico informativo ligado a questões feministas. Antes de projetar a Mátria, a entidade distribuía aos sindicatos filiados, no Dia Internacional da Mulher, um cartaz e uma pasta com textos soltos sobre temas como violência, questão de gênero e igualdade de oportunidades. A partir de 2001, quando a agência Frisson Comunicação assumiu a conta da CNTE, foi proposta a ideia de transformar essas peças soltas numa publicação só, para que o debate fosse contemplado de forma mais organizada, com o devido destaque e à base de uma produção verdadeiramente jornalística. O ano de 2003 foi o primeiro do governo Lula, em que houve um fortalecimento de políticas públicas voltadas para questões sociais. Houve também um forte favorecimento de organizações sindicais, como a CUT – e, consequentemente, a CNTE –, vinculadas há muito tempo ao Partido dos Trabalhadores (PT). Surge, então, nesse contexto político, a Revista Mátria, como um produto concreto da relação entre a entidade sindical e as questões sociais referentes à discussão de gênero. Seu projeto gráfico, além da redação e edição, é feito, desde então, pela Frisson Comunicação.

Atualmente a revista é coordenada pela própria secretária de Relações de Gênero da CNTE, Isis Tavares Neves, e tem como jornalista responsável Kátia Maia. A tiragem de cada edição não é fixa. Apresentou, até a edição mais atual, uma variação de 10 mil a 27 mil exemplares. Isso porque a CNTE financia integralmente apenas 10 mil exemplares, sendo a eventual tiragem extra encomendada e financiada pelos sindicatos filiados a CNTE. A revista não é vendida em bancas e livrarias. É enviada para os sindicatos filiados, que, por sua vez, enviam-na gratuitamente para escolas públicas e entidades governamentais ligadas a políticas públicas para as mulheres e educação de todo o país.

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