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5.3 Metodologia da análise das revistas: pesquisa imagética e de conteúdo

6.2.5 Revista Nova anos 80

Nas 148 páginas da edição nº 115 de abril de 1983, Nova refletiu tudo o que estava na moda na década, tanto em termos de comportamento quanto de modo de vestir. Do ―new romantic‖, as lingeries do editorial herdaram as rendas e babados e a roupa escolhida para a modelo de capa também tinha babados e estilo ―camisola‖. Ícone de beleza da época, Xuxa estampou a capa com um cabelo bem curto parecido ao de Lady Di, também estilo de beleza dos anos 80. O decote já na capa deixou explícito que a mulher de Nova, assim como a da

105 década de 70, quer explorar o lado sensual, exibindo as partes do corpo que mais chamam a atenção. Mais uma vez, a escolha por uma mulher de pele clara prevaleceu.

Na edição, matérias sobre algum aspecto do comportamento sexual receberam destaque, como foi o caso da ―De cama em cama‖ (página 30). Na matéria, o tema discutido são as ―sexoólicas‖, as mulheres obcecadas por sexo que ―pulam de homem em homem‖, como diz o texto. Uma parte interessante e diferente de Nova desta época era a seção ―De olho no preconceito‖, onde as leitoras enviavam anúncios, declarações, frases, e quaisquer outros materiais onde houvesse discriminação da mulher.

Em ―O eterno poder da beleza‖, logo no texto de abertura a imposição do belo se faz presente: ―O movimento feminista avança mas os homens ainda se fixam no corpo da mulher. As feias se queixam, as bonitas se dizem infelizes. A beleza ainda está à procura de uma definição‖. A matéria diz que o feminismo foi importante para dar liberdade de escolha à mulher que passou a considerar ter uma carreira de sucesso e realização no campo profissional. Mas, o que o texto mostra é que achar que a beleza perdeu sua importância é ―ingenuidade‖. Isso porque na década de 80 ela também era um dos elementos de impacto nas relações interpessoais e determinantes à autoestima feminina.

Capa

106 A Nova de abril de 1983 optou por trazer na capa uma personalidade famosa da época: Xuxa. Ícone de beleza, a apresentadora tinha então 20 anos. O corpo de Xuxa era o admirado dos anos 80: curvilíneo. A marca da época foram os corpos mais ―normais‖, nem muito magros, nem mais cheinhos, que exibiam um aspecto de saúde. A pose da modelo denota um ar sensual. O destaque é para o decote e o olhar fixo e profundo para o leitor. O visual é completado com a roupa de renda preta com transparência, no estilo camisola – tendência do ―new romantic‖. A foto evidencia rosto e a parte do colo.

Outro ícone de beleza da época era a Princesa Diana. Na capa, a modelo exibia cabelo bem curto, com volume, bem no estilo de Lady Di. Olhos verdes, cabelos loiros e pele branca, essas são as características de Xuxa. Apesar de ser a famosa da moda – o que deve ter sido um fator determinante para a escolha dela na capa – mais uma vez a modelo que estampa a primeira impressão do leitor com a edição, tinha mais características européias e americanas, que brasileiras propriamente ditas.

Editorial – “Fantasia em negro” – “A feminilidade está de volta na renda preta, na lingerie que provoca vontade de seduzir”.

Figura XXVII e XXVIII

Lingerie. Este foi o tema do único editorial da edição de abril de 1983 de Nova. A modelo escolhida tinha pele clara, olhos verdes e cabelos lisos com corte chanel. O corpo

107 exibido reflete os padrões da época: nem muito magro, nem gordo. A modelo exibia coxas grossas, cintura fina e busto pequeno.

As roupas do editorial, como o título já diz, são todas pretas – o que passou um ar de sensualidade. Esse caráter mais sexy da mulher é exposto pelas poses, roupas e pelo cenário (quarto), mas não há nenhuma referência sobre isso no texto que acompanha as fotos. O ensaio traz bodys (maiôs), corseletes, conjuntos de calcinha (pequena) e sutiã, e acessórios para destacar algumas partes do corpo e compor o visual exposto. Em uma das páginas (94), o texto que acompanha a foto classifica a lingerie como ―tanga mínima‖.

Os looks abusam das transparências, babados e rendas (legado do ―new romantic‖). Em uma das fotos (página 92), a modelo usa apenas calcinha e sutiã e como o sutiã é transparente, seus seios ficam à mostra – evidenciando, assim, o máximo de exposição do corpo que foi encontrado durante a análise de revistas em períodos anteriores. Como não havia edição de imagem, as fotos mostram as dobrinhas da cintura e as que se formam na lateral do seio. A mulher ali representada é a ―normal‖, a do cotidiano, sem intervenções de

photoshop – a fim de representar um corpo livre de quaisquer ‗imperfeições‘. A maquiagem

da modelo é bem leve. O destaque vai para os olhos, que com a pintura preta, ficaram em evidência (contraste com a cor do olho). A ideia que o ensaio passa é de uma sensualidade natural, não forçada. As fotos ocupam toda a mancha gráfica das páginas.

Matéria de beleza com chamada de capa – “A moça sem graça vira um deslumbre” – “Três maquiladores contam o que está por trás do „milagre‟”.

108 A matéria é, na verdade, um passo a passo de maquiagem. O título já se encarrega de mostrar qual o tratamento que o texto vai dar e durante as explicações dos maquiadores, algumas adjetivações são encontradas – que mostram certas opiniões acerca de um padrão de beleza. Para visualizar a transformação, as modelos aparecem em fotos antes e depois. As opiniões expressadas nos textos que acompanham as fotos são dos maquiadores e não de um jornalista da publicação.

A primeira modelo (página 108 e 109) tem pele clara; olhos grandes e claros; e cabelos escuros e bem volumosos. Com a maquiagem carregada que foi feita, ela ficou com aparência de mais velha. O destaque da pintura facial foi para os olhos e boca. Analisando apenas pelo rosto e o osso da clavícula (que é o que está aparente na foto), a modelo exibe um corpo saudável, com bochechas, o que mostra que não há magreza excessiva. Termos destacados nas duas primeiras páginas:

- Uso de palavra que pode conotar aspecto negativo: imperfeições

―[...] usei Erace líquido (M. Factor) nas imperfeições [...]‖. (Página 108).

As outras duas modelos (páginas 110 e 111) exibem uma silhueta bem mais magra que a menina que abre a matéria. Todas as duas têm a pele clara, porém com um leve bronzeado, e cabelos com volume. Uma delas tem cabelo curto (no pescoço) e olhos claros; a outra tem cabelo longo e olhos escuros. Em ambas as ―transformações‖, a ênfase da maquiagem foi para os lábios (pintados com batom vermelho). Termos destacados nas páginas:

- Uso de palavra que pode conotar aspecto negativo: imperfeições

―Use pó! Nada pior do que um rosto oleoso, cheio de brilhos nos lugares errados; além disso o óleo ressalta as espinhas e imperfeições da pele‖. (Página 110).

- Uso de palavra que pode conotar aspecto negativo: adjetivações

―Algumas mulheres insistem em usar blush marrom, que só enfeia e envelhece [...]‖. (Página 110).

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