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A esta altura, o líder comunista já apresentava sinais de sua megalomania e não se deixou animar. Apesar de estar cada vez mais isolado em seu próprio partido, resolveu em 1966 lançar mais uma campanha considerada bizarra e dirigida contra os intelectuais e funcionários do partido que, segundo ele, queriam conduzir a China para o mesmo objetivo levado pela União Soviética, à qual ele continuava a se opor. Começou ao recrutar jovens para a chamada Guarda Vermelha, o braço principal da Revolução Cultural.

A Revolução (que também ganharia a alcunha de Grande Revolução Cultural Proletária) ocorreu entre os anos de 1966 e 1976 e foi realizada por estudantes e trabalhadores, que se posicionavam contra a burocracia que tomava conta do PCC. Essa repressão toda terminou por enfraquecer o poder que os inimigos de Mao possuíam.

Nos três primeiros anos da Revolução houve a formação de comitês revolucionários, que seriam as bases da Guarda Vermelha e tinham componentes das diversas forças militares do país (havia militares, camponeses, elementos do partido e até do governo envolvidos). Todos tinham por missão tomar o poder em que fosse necessário. Alegando que possuíam alguns dos “inimigos da Revolução”, os estabelecimentos de ensino superior foram desativados em todo o país.

O escritor e ensaísta belga Simon Leys afirma que “a Revolução Cultural, que de

revolucionária só teve o nome, e de cultural só o pretexto tático inicial, foi uma luta pelo poder travada na cúpula entre um punhado de indivíduos, por trás da cortina de fumaça de um

movimento de massa fictício”.

No geral, a Revolução tencionava manter o fervor revolucionário num estado constante de luta e superação, sem os quais a Revolução Comunista estaria fadada ao fracasso. Mao colocou em si mesmo, inclusive, o apelido de Grande Timoneiro.

Essa Revolução queria tornar cada unidade econômica chinesa (como fazendas e fábricas) em unidades de estudo e reconstrução do comunismo. Enfim, era uma tentativa de

redescobrimento do comunismo em que cada unidade que participava deveria se concentrar em expandir a coletivização para o campo das idéias, um conceito que encontrava nos meios

acadêmicos certa resistência, já que estes acreditavam que isso só seria possível de ser feito em centros específicos.

Para Mao, entretanto, a próxima fase da Revolução Chinesa deveria levar os conceitos econômicos a patamares ideológicos diretamente para dentro da alma do cidadão chinês.

O primeiro comitê desta nova Revolução foi formado em 29 de maio de 1966 na

Universidade Tsinghua. Seu objetivo, entretanto, tornou-se logo bem mais claro: expurgar e eliminar as oposições ao presidente chinês.

Em 1º de agosto daquele ano, os dirigentes da República Popular da China aprovaram uma lei chamada “Decisões acerca da Grande Revolução Cultural Proletária”, que posicionava o governo no apoio aos expurgos de intelectuais reacionários e imperialistas. Expurgos estes, claros, que foram executados pela Guarda Vermelha e que terminaram por ocorrer aos milhares.

Por cerca de quatro anos, a Guarda Vermelha expandiu sua autoridade e acelerou as

execuções dos expurgos. A entidade logo se tornou a principal autoridade do país e responsável pela proteção do regime contra os “reacionários burgueses”. E aqueles que caíam no desagrado desses guardas eram punidos de maneira criativa como, por exemplo, ser enviado para realizar trabalhos braçais e, assim, conhecer as tarefas diárias dos mais simples.

Enquanto Mao e seus seguidores eram duramente criticados pela iniciativa da Revolução Cultural, principalmente numa peça chamada Hai Rui Ba Guan ou Hai Rui Demitido do Governo, que mostrava de maneira satírica o conflito entre Mao e Peng Dehuai, um dos

dirigentes do PCC que fora expulso por criticar a campanha do Grande Salto para Frente, revertiam as críticas por meio de uma série de artigos que defendiam o presidente, o que

terminou por caracterizar a época num “culto de personalidade” (nome dado a uma estratégia de propaganda política comum em regimes autoritários, baseada na exaltação das virtudes reais ou supostas do governante em questão, bem como da divulgação positivista e inventiva de sua figura).

Se por um lado era complicado sobreviver num ambiente desses, por outro as coisas

pareciam mais apertadas ainda, pois os expurgos continuavam e eram inclusive acompanhados de rituais estranhos de humilhação. Num deles, os contra-revolucionários vestiam túnicas e eram levados às ruas com cartazes no pescoço e linchados por multidões incitadas pela Guarda Vermelha. Foi num desses eventos que Peng Dehuai foi humilhado e linchado.

O ano de 1967 viu acontecer a chamada Tempestade de Shangia, que tomou o poder na cidade de mesmo nome e colocou o controle na mão de um comitê revolucionário. Esse ato mostrou que a Revolução Cultural não estava para brincadeiras e preocupou aqueles que não apoiariam o movimento. Para fugir de qualquer tipo de perseguição, a única maneira segura era se envolver em algum tipo de atividade ligada à própria Revolução, embora mesmo nesse caso o perigo de ser “expurgado” não estava de todo afastado.

A partir de 1968, Mao foi praticamente elevado à condição de “deus vivo” e o “culto de personalidade” baseado nele ganhou proporções ainda maiores. Foi quando o Livro Vermelho, que continha citações do presidente e que havia sido lançado originalmente em 1964, passou a ditar todas as regras da vida chinesa.

Os dirigentes do PCC perceberam que a situação estava fora de controle e para contê-la decidiram desmantelar a Guarda Vermelha com o expurgo de alguns oficiais e o envio para trabalho nos campos de outros. Muitos dirigentes temiam as providências que Mao pudesse tomar em relação a qualquer um que tivesse grande influência no partido além dele.

Quando Mao morreu, em 1976, a Revolução Cultural terminou. O poder foi para as mãos de Hua Guofeng, que, apesar de ter recebido a confiança de Mao, tomou providências graves logo ao assumir e mandou prender os seguidores do falecido presidente, num episódio que recebeu o nome de A Camarilha dos Quatro. Os quatro em questão eram Jiang Qing (esposa de Mao), Zhang Chunqiao, Wang Hongwen e Yao Wenyuan, todos acusados de terem promovido os excessos da Revolução Cultural. O julgamento dos componentes desse grupo aconteceu em 1980 e condenou os dois primeiros à pena de morte (depois alterada para prisão perpétua) e os dois últimos a vinte anos de prisão.