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3. TURISMO E TRANSPORTES

6.2 M ETODOLOGIA APLICADA NO T RAÇADO DA R OTA

6.2.4 A POIO À D ECISÃO A NÁLISE M ULTICRITÉRIO E SPACIAL

6.2.4.1 O RGANIZAÇÃO E P REPARAÇÃO DOS D ADOS

 Organização dos dados: Critérios de selecção da rota

No planeamento da Rota, ainda outros critérios foram seleccionados de modo a torna- la mais complexa, diversificada e até mesmo desafiante para quem a percorre.

- Valor Ecológico da Paisagem

A paisagem pode ser uma importante expressão cultural entre todas as populações do mundo, devido à criação de relações estáveis e harmoniosas com o ambiente. Nesta perspectiva, o valor ecológico da paisagem acaba por ser algo de relevante no desenho da rota, integrando diversos critérios secundários que estabelecem uma ligação ecológica que assegura a biodiversidade do local e concorre para uma maior estabilidade e equilíbrio do território. Dentro dos vários critérios possíveis foram seleccionados algumas das componentes da Estrutura Ecológica Nacional (EEN) (Figura 21) (Magalhães et al., 2003), tais como, as linhas de água, o sub-sistema vegetação, o valor ecológico do solo e o património geológico (geossítios). Foi necessário seleccionar as classes de maior importância de algumas componentes seleccionadas. As componentes referentes às linhas de água, o sub sistema vegetação e o Valor de ecológico do Solo, foram seleccionadas as classes 1 e 2 (linhas de águas principais); classes elevado e muito elevado (vegetação com elevado e muito elevado interesse para conservação); e classes 4 e 5 (solos de elevado e muito elevado valor ecológico) respectivamente. Foram eleitas apenas as classes de valor elevado para que as áreas por onde a rota projectada passasse, sejam não só, áreas naturais de grande valor e qualidade cénica, mas também zonas de valorização da Estrutura Ecológica, constituindo uma nova maneira de olhar para a paisagem que envolve o viajante.

Figura 21: Componentes da Estrutura Ecológica Nacional (Adaptado de Magalhaes et al., , 2003)

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De facto, a sua integração na rota dá a conhecer as componentes da Estrutura Ecológica, bem como a preservação da integridade dos principais recursos naturais e processos ecológicos, integrados numa estrutura contínua de características diversas. Promove ainda o

Continuum Naturale, ou seja, interliga uma sucessão de ocorrências naturais do território,

servindo como estratégia de defesa e viabilização desta estrutura. A adição destes critérios à rota tem em conta uma coexistência sustentável do Homem com a paisagem, sendo necessário a preservação dos sistemas ecológicos que lhes estão subjacentes.

As áreas de conservação da natureza, ICNF (Instituto da Conservação e da Natureza e Florestas), referentes às Áreas Protegidas e às Áreas de Conservação da Biodiversidade, foram um outro critério utilizado no seu planeamento (Figura 22). Segundo a ICNF, são áreas que promovem “a gestão racional dos recursos naturais e a valorização do património natural e

cultural, regulamentando as intervenções artificiais susceptíveis de as degradar”. Dentro

destas áreas foram seleccionadas a Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP), os Sítios de Importância Comunitária (SIC) e Zona de Protecção Especial (ZPE). A sua inclusão como critério diz respeito à raridade, ao valor científico, ecológico, social ou cénico que diversas ocorrências naturais apresentam ao longo do território, na qual as actividades humanas deverão ser compatíveis com a preservação destes mesmos valores.

Figura 22: Áreas Protegidas (RNAP, SIC e ZPE), Portugal (Adaptado de Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, ICNF, 2010)

49 - Turismo Rural

Os pontos de turismo rural foram seleccionados no planeamento da rota (Figura 23), uma vez que uma das vertentes no qual esta se desenvolve é de facto o incentivo à prática deste tipo de turismo, de modo a que a viagem se torne mais completa, proporcionando experiências verdadeiramente únicas. De acordo com o artigo, Desenvolvimento Sustentável do Turismo (2000) a qualidade da experiência turística é uma condição primordial quando se viaja, e segundo Lane (1993), um dos autores citado neste artigo, “o visitante deverá ganhar

um profundo conhecimento e compreensão da área, das suas paisagens e gentes. O turista tomar-se-á interessado, logo, defensor da área visitada”. De facto é um tipo de turismo

alternativo que já apresenta um bom indício no que diz respeito à vanguarda do desenvolvimento do turismo sustentável.

Neste sentido foram utilizados todos os empreendimentos turísticos classificados, da tipologia TER-HR (Turismo em Espaço Rural – Hotel Rural), cujo licenciamento é da responsabilidade do Turismo de Portugal, IP. É de notar que a informação disponibilizada apresentada pode não estar actualizada uma vez que este Instituto não intervém no licenciamento e classificação das seguintes tipologias: Parques de Campismo e de Caravanismo, Empreendimentos de Turismo no Espaço Rural (nos grupos Casas de Campo e Agroturismo) e Empreendimentos de Turismo de Habitação.

Figura 23: Distribuição das classes do Turismo em Espaço Rural (TER) em Portugal (Adaptado de Turismo de Portugal, IP 2015)

50 - Aptidão Ciclável

Um último critério adicionado ao planeamento da rota, e um dos mais importantes, diz respeito à aptidão clicável que esta apresenta. De facto a lógica de funcionamento de uma rede clicável passa inicialmente pelo seu declive ser apropriado à circulação da bicicleta, de modo a que o viajante se sinta, na maioria do tempo, mais seguro e confortável ao percorre-la. Visto que é uma rota que percorre um vasto território, com grande variação no relevo, os declives longitudinais foram agrupados em três classes diferentes: 0-8 % (declives mais suaves e por isso mais confortáveis), 8-15 % (declives intermédios, considerados ainda como satisfatórios para circulação) e >15 % (declives mais acentuados, considerados menos confortáveis).

A determinação do declive longitudinal (aptidão ciclável) das quatro rotas é feita através de várias ferramentas do ArcGIS (Figura 24), utilizando como informação geográfica de base o Modelo Digital de Terreno (MDT) de 30 metros de Portugal (ESRI Portugal). O processo é feito para as quatro rotas geradas anteriormente, em todas as secções ao longo do território e divide-se em duas fases: uma primeira na qual é adicionado às rotas informação espacial derivada de uma superfície; e uma segunda onde é feita uma reclassificação dos declives, conseguindo obter três classes de declives distintas.

Numa primeira fase, é utilizado a ferramenta Split Line at Vertices que tem como objectivo dividir a linha pelos seus vértices, repartindo-a em vários segmentos e atribuindo o comprimento (em metros) desses mesmos segmentos. É criado um novo ficheiro de formato vectorial de linhas e uma tabela de atributos associada com os comprimentos dos segmentos. De seguida, sobre esta informação é utilizado uma segunda ferramenta, Add Surface

Information, de modo a que os vários segmentos repartidos anteriormente adquirem

propriedades espaciais, atribuindo uma cota Z ao interpolar medições de superfície (através do MDT) ao longo dos seus comprimentos. Como resultado obtém-se uma nova tabela de atributos, na qual é gerado um campo Avg_Slope, apresentando todos os declives de cada segmento da rota. Numa segunda fase, é feita uma reclassificação desses declives,

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adicionando à tabela de atributos gerada anteriormente, uma nova coluna Rec_decl, na qual os declives irão ser reclassificados da seguinte forma:

-

0-8 %, corresponde ao valor 3, ou seja, declives com aptidão completa para a circulação em bicicleta;

-

8-15 %, corresponde ao valor 2, isto é, declives com aptidão média para a circulação em bicicleta;

-

> 15 %, corresponde ao valor 1, ou seja, declives com pouca aptidão para a circulação em bicicleta;

Tal como referido anteriormente, esta classificação não se enquadra dentro dos valores standard na implementação de uma rede ciclável. Isto acontece, visto que é uma rota que percorre um vasto território com grande variação no relevo e ao serem percursos cicláveis, na sua maioria, em zonas não urbanas, a determinação de novas classes de declives é, neste caso, necessária para que o projecto possa ser exequível, não comprometendo o conforto de quem a percorre. O resultado final é uma tabela de atributos com um campo onde é possível observar uma distribuição dos declives pelas três classes, de modo a compreender melhor a morfologia de cada rota.

 Preparação dos dados

Procedeu-se, em todas as secções, à estruturação dos dados obtidos nas fases anteriores de modo a serem utilizados posteriormente para análise multicritério espacial. Em primeiro lugar foi necessário transformar toda a informação (linhas de água, sub-sistema vegetação, valor ecológico do solo, geossítios, TER, zonas protegidas e o declive das quatro rotas) de formato vectorial para formato matricial, recorrendo ao MDT de 30 metros de Portugal. Em segundo lugar foi feita uma reclassificação de toda a informação matricial, transformando os valores iniciais em novos valores, de modo a obter-se uma informação classificada em áreas mais e menos valorosas. A atribuição de classes 1, 2 e 3, indicam, deste modo, as áreas de menor valor, as áreas com valor intermédio e as áreas de maior valor, respectivamente. Os valores identificados como NoData serão reclassificados com o valor 0, de modo a que estas células possuam um valor próprio (um fundo) e não sejam desprezadas. No Quadro 4, é possível observar o processo de uma forma mais sintetizada.

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Quadro 4: Reclassificação da Informação Matricial

Ao atribuir novos valores aos dados adquiridos permitiu que toda a informação geográfica neste estudo, agora num formato matricial, pudesse ser igualmente comparada, analisada e posteriormente trabalhada para a execução das fases seguintes.