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7. CONCLUSÃO

7.1. P RINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS

Depois de se ter exposto todo o trabalho realizado, com um óbvio maior destaque par as etapas fundamentais desta dissertação, como é o caso da campanha experimental (capítulo quatro), do tratamento dos resultados obtidos (capítulo cinco) e da sua interpretação (capítulo seis), sintetizam-se neste capítulo as principais ideias retiradas de todo o processo de investigação efectuado.

Assim, com base naquilo que foi apresentado no capítulo dois, onde se descreve o carácter único da madeira, podem reter-se as seguintes principais reflexões:

 A madeira apresenta-se como uma material de construção muito particular, exibindo características próprias devido à sua origem natural;

 A obtenção de madeira maciça classificada para utilizar em estruturas ou em construções com elevadas exigências conceptuais constitui uma enorme dificuldade; Os derivados estruturais assumem-se como uma boa resposta face a dificuldades em obter madeira maciça com as características adequadas, inerentes à variabilidade das propriedades e às dimensões geométricas e quantidades disponíveis para sistemas estruturais;

 As propriedades da madeira, tanto físicas como mecânicas, são influenciadas por factores como a espécie botânica, a humidade, a temperatura, a localização da peça na árvore original e a existência de defeitos;

 Os defeitos naturais (nós, fendas, inclinação do fio, empenos, descaio, ataques de insectos e fungos, etc.) afectam de forma muito significativa a qualidade dos elementos e provocam uma diminuição da sua capacidade resistente;

 Os agentes físicos, químicos e biológicos ao actuarem sobre a madeira aumentam a velocidade de degradação e decomposição dos elementos.

O capítulo três, sendo a continuação do capítulo dois, expõe conceitos relacionados com a classificação de madeiras novas e antigas. A parte mais importante deste capítulo surge na parte final, onde se encontra uma apresentação sintética do método de classificação visual de madeira antiga agora designado como “método Amorim Faria”, resultante da adaptação da metodologia desenvolvida na dissertação de Sónia Franco [37] e que serviu de base à avaliação da qualidade e aptidão para funções estruturais dos provetes ensaiados. O referido método de classificação constitui assim a principal base de trabalho seguida nesta dissertação.

A campanha experimental, descrita genericamente no capítulo quatro, é bastante extensa e envolve dois lotes de madeiras:

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 Carvalho proveniente de madeira ardida de um palacete localizado em Braga;

 Castanho oriundo de pavimentos de um edifício em reabilitação na Ribeira do Porto.

Os dois lotes que foram incluídos na campanha experimental serviram como conjuntos de amostras para a realização de ensaios mecânicos de flexão e compressão axial com a finalidade de se obterem valores experimentais das suas principais propriedades mecânicas, ou seja da:

 Resistência à compressão axial na direcção do fio;  Resistência à flexão na direcção do fio;

 Módulo de elasticidade na direcção do fio.

O trabalho desenvolvido na campanha experimental (capítulo quatro) contou ainda com o envolvimento da caracterização da massa volúmica das amostras, provenientes tanto da madeira de Carvalho como da madeira de Castanho.

O principal objectivo traçado para a campanha experimental realizada era a validação do “método Amorim Faria”, tanto pela aplicação dos critérios de limitação de defeitos às peças de madeira dos lotes ensaiados à flexão como pela comparação entre os valores experimentalmente obtidos para as propriedades mecânicas apresentadas e os valores sugeridos na metodologia. Depois de se ter desenvolvido um amplo trabalho, pode-se dizer que esta dissertação constitui uma contribuição muito importante para a validação da metodologia proposta de classificação de madeira antiga por inspecção visual, trabalho de investigação em curso e que necessita ainda de importantes desenvolvimentos como se refere e melhor se explica no ponto seguinte (7.2).

Detalhadamente, os principais resultados alcançados são: 1) Em relação ao método “Amorim Faria”

• Classificação visual não é aplicável a madeira ardida (resultados da classificação não são completamente fiáveis);

• Classificação visual tem maior fiabilidade em madeira antiga que apresente sintomas de poucos ataques bióticos, ocorridos no passado, já que não define um critério rigoroso que limite a presença deste factor apesar de, em muitas ocasiões, este facto se ter revelado condicionante para o comportamento das amostras;

• Por si só, a Classificação visual não pode ser utilizada como único mecanismo de avaliação; necessita do apoio de métodos de avaliação não destrutiva e, em casos com mais importância, da extracção de carotes e mesmo da realização de campanhas experimentais de validação sobre amostras de madeira serrada extraídas da população em análise;

• O método precisa de uma revisão profunda ao nível da correcção dos critérios definidos e da forma como se limitam os defeitos para efeitos de aprovação das amostras nomeadamente, alterando de forma significativa o critério dos nós, o critério de degradação biótica e o critério da massa volúmica;

• No que refere ao critério dos nós, pensa-se que a limitação devia ser mais abrangente, englobando outros factores para além do diâmetro do nó verificado no exterior da peça;

• Em relação ao ataque biológico deve-se repensar a forma de limitação, já que o critério actual é muito alargado e carece de clareza;

• O critério da massa volúmica deve ser retirado da proposta de classificação por não assumir importância na aprovação/rejeição das peças;

• A Classificação visual é de mais difícil aplicação a madeira redonda devido à menor evidência dos defeitos, mesmo realizando a limpeza superficial recomendada (esta

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conclusão resulta da comparação com os resultados da dissertação realizada por Sónia Franco ao nível da classificação efectuada);

O processo de classificação por inspecção visual in situ só deve ser efectuado por pessoa muito experiente e conhecedora da temática dado que, se forem aprovadas peças com defeitos graves, as roturas dão-se para valores muito baixos da resistência (exemplo da amostra D4 submetida ao ensaio à flexão);

• Os nós ocultos no interior das peças, não visíveis com facilidade por observação exterior, constituem o maior risco de classificação (provocam roturas inesperadas face ao aspecto visual exterior das peças, tal como aconteceu com a amostra D7);

2) Em relação ao comportamento mecânico da madeira

• Ocorreram roturas frágeis por corte em peças com defeitos de difícil detecção visual, principalmente em peças ardidas de madeira de Carvalho e, em alguns casos, em peças de madeira de Castanho;

• A massa volúmica não constitui um critério relevante para a classificação de peças de madeira antiga nas classes definidas por Aprovada e Rejeitada; pode ser usado apenas como auxiliar de avaliação qualitativa global;

• O comportamento das peças em serviço e o tipo de esforços sobre elas actuantes determinam, em conjunto com os defeitos, os mecanismos de rotura; os defeitos por si só, em peças de que não se conhecem os esforços a que vão estar sujeitas, não permitem aprovar as peças com total fiabilidade; torna-se necessário estudar os defeitos no contexto do tipo de esforço a que as peças estão sujeitas (corte, flexão, compressão), incluindo direcções e esforços combinados;

• Para peças provenientes de elementos previamente sujeitos à acção do fogo, os efeitos mais nocivos, porventura não detectados, ocorrem em peças à flexão (o comportamento é de difícil previsão por observação visual); em peças à compressão o risco é menor, pois verificou-se que o comportamento dos dois lotes testados, tanto o de madeira de Carvalho ardida como o de madeira de Castanho, era basicamente muito semelhante;

• O módulo de elasticidade não pode ser estimado por ensaios de compressão, já que os valores alcançados diferem em larga escala comparativamente com aqueles que foram obtidos a partir dos ensaios de flexão, isto é o módulo de elasticidade em compressão não assume o mesmo valor do ensaio em flexão embora pareça possível afirmar que o valor do módulo de elasticidade em compressão obtido pelo procedimento de ensaio definido na EN 408 [12] é fiável e representativo da fase elástica da deformação em compressão;

• A fórmula de determinação do módulo de elasticidade definida na norma EN 408 [12], e apresentada nesta dissertação através da expressão 5.8, parece ser adequada já que os resultados obtidos são praticamente iguais aos alcançados graficamente sobre os valores experimentais;

• Fez-se a explicação do modo de rotura de alguns ensaios efectuados; o número de amostras não é muito grande mas pode-se concluir que a variabilidade verificada nos ensaios de flexão é maior que nos ensaios de compressão (comportamento das amostras submetidas aos ensaios de flexão é mais diversificado e os modos de rotura bastante variáveis);

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• Pode-se também dizer que, no caso dos provetes de flexão, o modo de rotura é, em muitos casos, imprevisível devido à influência dos defeitos na resposta à solicitação, sobretudo dos nós e fendas;

• Para peças mais limpas (que se encontram menos afectadas por defeitos) a rotura em flexão ocorre em geral por rompimento das fibras de celulose na direcção do fio, traccionadas por efeito da solicitação e situada numa das secções da zona central, sujeita a flexão circular;

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