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Rios da capitania do Siará grande – Vertente sudeste

RIOS DA CAPITANIA DO SIARÁ GRANDE – VERTENTE SUDESTE

Mapa dos Indígenas na época do povoamento – Vertente sudeste. Apud: GIRÃO, Valdelice Carneiro. Op. cit., p. 48.

No rio Banabuiú, a primeira concessão foi feita em 1683, não tendo efetiva ocupação, e sendo novamente doada em 1706 aos requerentes João de Barros Braga, Antonio Pereira Façanha, Maria Pereira da Silva, Serafim Dias e demais companheiros.

A sesmaria de 1706, doada a Maria Pereira da Silva e seus companheiros, estava na área dos Sertões de Mombaça. Como se pode ver no

mapa 05, os Sertões de Mombaça tinham uma área limítrofe das etnias genipapos, jucás e candadus.

1.3.1 Estradas da capitania do Siará grande

A partir da conquista da terra por parte dos sesmeiros advindos das capitanias do Rio Grande e de Pernambuco, os caminhos de comunicação no Siará grande foram sendo constituídos a partir do final do século XVII.

Com o aumento constante das fazendas de gado no século XVIII, margeando os rios das ribeiras do Siará grande, formaram-se caminhos naturais que interligavam as propriedades destinadas a criação de gados vacuns e cavalares.

O caminho mais importante do Siará grande foi a Estrada Geral do Jaguaribe. A Estrada Geral do Jaguaribe, segundo Carlos Studart Filho, “partindo da região do Aracati, rio acima, transpunha o Jaguaribe em Passagem das Pedras, atravessava os lugares onde hoje estão as cidades de Russas e do Icó, subindo depois o Salgado até quase suas nascenças”.88

Pode-se dizer que as vias de comunicação descritas por Studart Filho, constituíam-se mais em caminhos naturais do que em estradas. Segundo Laura de Mello e Souza, os caminhos dos sertões longe do litoral eram difíceis, pois as passagens dos víveres de extremo a outro do Brasil colonial eram mais caminhos naturais do que estradas com algum recurso.89 Portanto, ao se

analisarem, neste trabalho, as estradas do Siará grande, compreende-se a designação destas mais no sentido de caminhos naturais, que permitiam a passagem de gados e homens que circulavam por entre os povoados, freguesias e ribeiras, do que propriamente de estradas com benfeitorias.

Os caminhos de comunicação da capitania tiveram uma fundamental importância nos deslocamentos das boiadas que iam às feiras ou que estavam sendo remanejadas de fazendas e sítios para outras, devido a vendas, trocas e demais motivos que pudessem ocasionar os deslocamentos dos gados e dos

88 STUDART FILHO, Carlos. Vias de comunicação do Ceará colonial. In: Revista do Instituto Histórico do Ceará. Ano 51. 1937, p. 28.

89 SOUZA, Laura de Mello e. Formas provisórias de existência: a vida cotidiana nos caminhos,

nas fronteiras e nas fortificações. In: SOUZA, Laura de Mello e. (Org.). História da vida privada

no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras,

sujeitos que estavam envolvidos nas negociações. Valdelice Carneiro Girão aponta que:

(...) as estradas das ribeiras, desenvolvidas ao longo dos cursos dágua, por onde o rebanho acrescido permitiu a multiplicação de transações comerciais, transformando o produto quase exclusivo do

Ceará noutras utilidades, de que a Capitania necessitava.90

No desenvolver dos percursos que os rebanhos faziam rumo às feiras e fazendas, existiam as fazendas de engorda ou comumente chamadas de invernadas. Estas ficavam “localizadas estrategicamente nas bordas do sistema. Umas ficavam junto às grandes feiras, como Capoame ou Feira de Santana, outras junto às grandes charqueadas, como Aracati”.91

Os responsáveis pelos deslocamentos dos bois às feiras e fazendas foram os passadores e os tangedores. O trabalho destes por entre as estradas que cortavam a região da pecuária nas capitanias do norte foi descrito pelo padre Antonil da seguinte forma:

Guiam-se indo uns adiante cantando para serem desta sorte seguidos do gado e outros vêm atrás das reses tangendo-as e tendo cuidado que não saiam do caminho e se amontoem. As suas jornadas são de quatro, cinco a seis léguas, conforme a comodidade dos pastos, aonde hão de parar. Porém, onde há falta de água, seguem o caminho de quinze a vinte léguas, marchando de dia e de noite, com pouco descanso até que achem paragem, onde possam parar, nas passagens de alguns rios, um dos que guiam a boiada, pondo uma armação de boi na cabeça e nadando, mostra às reses o

vão por onde hão de passar.92

A descrição das atividades desenvolvidas por tangedores e passadores feita por Antonil permite entender como eram dificultosas as idas e vindas destes com os gados por entre os caminhos naturais. O mapeamento dos caminhos/vias de comunicação da capitania do Siará grande, apresentado no Mapa 06, abaixo, possibilita compreender os entroncamentos que os vários caminhos possuíam, por onde também se constituíram fazendas e paragens de

90 GIRÃO, Valdelice Carneiro. Op. cit., p. 89.

91 SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Pecuária, agricultura de alimentos e recursos naturais

no Brasil-Colônia. In: SZMRECSÁNYI, Tamás (Org.). História econômica do período colonial. 2. ed. São Paulo: Edusp, 1993, p. 151.

92 ANTONIL, Pe. André João. Cultura e opulência do Brasil, por suas drogas e minas, etc.

descanso para as boiadas, passadores, tangedores e demais companheiros de trabalho.

A Estrada São João do Príncipe-Quixeramobim, entre as enumeradas no Mapa 06, partia de São João do Príncipe em direção a Quixeramobim. No caminho, cortava os Sertões de Mombaça. Pela Estrada de São João do Príncipe-Quixeramobim, os gados e sujeitos dos Sertões de Mombaça podiam alcançar as demais estradas, como a Estrada das Boiadas, a Estrada Nova das Boiadas e a Estrada Geral do Jaguaribe.

Os sujeitos vindos da região sul do Siará grande em direção à região central e norte da capitania passavam pelos Sertões de Mombaça. O mesmo trajeto para quem vinha da região norte e central em direção ao sul. Assim, os Sertões de Mombaça constituíam-se como uma importante área de paragem e de passagem para quem estava a caminho da regiões sul, central e norte da capitania. Por meio deste sertão, chegava-se ao entroncamento da Estrada das Boiadas, da Estrada Nova das Boiadas e da Estrada Geral do Jaguaribe, que acontecia em Santo Antonio de Quixeramobim (Campo Maior).

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