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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.4. Estrutura das sinúsias arbóreas

4.4.1. Riqueza e Diversidade

O Cerrado de Lixeira apresentou a segunda maior riqueza, 37 espécies, e o maior valor de H’ (3,07) - Índice de Diversidade de Shannon - dentre as comunidades estudadas com os dados desbalanceados (Tabela 3). Quando os dados foram balanceados para seis parcelas, essa fitofisionomia assumiu a maior riqueza e diversidade, 33 espécies e H’ de 3,04. Embora a espécie C. americana dê nome a esta fitofisionomia, não há dominância ecológica dessa espécie na área, conforme podemos observar pela análise dos parâmetros fitossociológicos da espécie (Tabela 1 - Anexo) e pelos valores de J’ (equabilidade) de 0,85 e de diversidade (Tabela 3).

Esses valores de riqueza e diversidade apresentados pelo Cerrado de Lixeira devem ser considerados, no contexto geral junto com os das outras comunidades, com certo grau de cautela porque o critério de inclusão utilizado não foi o mesmo. Diferentemente das demais áreas, no Cerrado de Lixeira foi utilizado o critério de CAS ≥ 15cm enquanto nas outras áreas foi utilizado CAP ≥ 15cm. A utilização de CAS e não de CAP pode interferir na medida da riqueza e da diversidade conforme demonstrado por Batista (2007) que encontrou, para uma área de Cerrado, valores maiores de riquezas e diversidade quando utilizado o critério de inclusão ao nível do solo do que a 30cm desse.

Tabela 3. Parâmetros florísticos e estruturais das nove comunidades estudadas na RPPN SESC Pantanal, Barão de Melgaço, MT, aonde: N = número de parcelas; S = riqueza de espécies; H’ = Índice de Diversidade de Shannon; J’ = Equabilidade de Pielou; Dens. = Densidade; AB = Área Basal. Valores na coluna seguidos da mesma letra não diferem entre si pelo teste de médias de Tukey a 5% de probabilidade.

Área Fitofisionomia Desbalanceados Balanceados Dens. AB

N S H' J' N S H' J' (Ind/ha) (m2/ha)

1 Floresta Decídua da Borda 10 27 2,62 0,79 6 23 2,60 0,82 810b 38,43bc 2 Floresta Decídua com Gravatá 10 38 2,80 0,77 6 25 2,66 0,82 990b 58,92ab 3 Floresta Decídua de Aroeira 10 34 2,63 0,74 6 31 2,66 0,77 1505a 58,37ab 4 Floresta Decídua de Acuri com Gravatá 10 28 2,55 0,76 6 26 2,60 0,79 1095ab 49,78abc

5 Cambarazal 10 15 1,83 0,66 6 12 1,70 0,66 755b 38,93bc

6 Cerradão Baixo de Carvoeiro 8 17 2,07 0,72 6 14 2,10 0,77 962b 24,09cd 7 Cerradão Alto de Carvoeiro 8 30 2,70 0,79 6 25 2,53 0,77 1113ab 30,82bcd 8 Floresta Decídua de Acuri 6 23 2,29 0,72 6 23 2,29 0,72 1067ab 86,07a 9 Cerrado de Lixeira 10 37 3,07 0,84 6 33 3,04 0,86 850b 13,74d

F=5,43 F=10,89 p<10-4 p<10--5

46 Nas outras áreas, as maiores riquezas e valores de H’ foram observados nas Florestas Decíduas, sendo a maior riqueza e diversidade registradas na Floresta Decídua com Gravatá (38 espécies; H’ de 2,80) e os menores valores foram observados no Cambarazal (15; 1,83) (Tabela 3). Entretanto, quando os dados foram balanceados para seis parcelas, a maior riqueza foi verificada na Floresta Decídua de Aroeira (31 espécies) e a maior diversidade foi observada nessa e na Floresta Decídua com Gravatá. A diversidade de espécies apresentou, tanto para os dados desbalanceados como para os balanceados, relação direta com gradiente de inundação (R2=70% e 79%, respectivamente), sendo menor na floresta sazonalmente inundável (Cambarazal), intermediária no ambiente com solo sazonalmente saturado (Cerradão) e maior nos ambientes com solo permanentemente seco (Florestas Decíduas) (Figura 15). 15 17 30 23 27 28 34 37 38 y = 0.1165x + 1.9208 R² = 0.7013 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 0 10 20 30 40 5 6 7 8 1 4 3 9 2 Ín di c e de D iv e rs ida de (H' ) Ri q u e za A - Desbalanceados 12 14 25 23 23 26 31 33 25 y = 0.1205x + 1.8619 R² = 0.7282 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 0 10 20 30 40 5 6 7 8 1 4 3 9 2 Ín di c e de D iv e rs ida de (H ') Ri q u e za B - Balanceados

Figura 15. Riqueza (colunas) e diversidade (linhas pontilhadas) de espécies, ordenada segundo o gradiente de inundação (Figura 12), em cada comunidade ao longo do transecto na RPPN SESC Pantanal. A) número de parcelas desbalanceado; B) número de parcelas balanceado em 6 unidades de 10 x 20m, aonde: 1 - Floresta Decídua da Borda; 2 – Floresta Decídua com Gravatá; 3 – Floresta Decídua de Aroeira; 4 – Floresta Decídua de Acuri com Gravatá; 5 – Cambarazal; 6 – Cerradão Baixo de Carvoeiro; 7 – Cerradão Alto de Carvoeiro; 8 – Floresta Decídua de Acuri. Reta de regressão linear da diversidade de espécies.

47 As menores riqueza e diversidade observadas no Cambarazal são função da dominância ecológica exercida pela espécie Vochysia divergens, que apresentou 72% da dominância relativa (DoR) e 50% do valor de cobertura (VC) da comunidade (Tabela 2 - Anexo). As condições ambientais restritivas originadas a partir do longo período de inundação restringem o número de espécies aptas a colonizar o Cambarazal (Lüttge, 1997; Arieira & Nunes da Cunha, 2006), restando algumas poucas, como V. divergens. Sendo assim, uma maior quantidade de espécies competidoras torna-se mais abundante na medida em que o período e a intensidade de inundação são reduzidos ou passa a ser ausente, como demonstrado no trabalho de Arieira & Nunes da Cunha (2006), onde a diversidade de espécies apresentou relação inversa com a altura da lâmina de água da inundação em outro Cambarazal na RPPN SESC Pantanal enquanto a dominância absoluta de V. divergens foi diretamente proporcional.

O Cerradão Alto de Carvoeiro se destaca em riqueza e diversidade junto com as Florestas Decíduas apresentando o terceiro maior valor de H’ para dados desbalanceados e balanceados (Figura 15 e Tabela 3). A maior riqueza (30 e 25 espécies, desbalanceados e balanceados, respectivamente) e diversidade (2,70 e 2,53, respectivamente) apresentada por este Cerradão em relação ao Cerradão Baixo de Carvoeiro (17 e 14 espécies e 2,07 e 2,10, respectivamente) demonstram uma situação transicional dos Cerradões de Carvoeiro para as Matas Decíduas. Das 13 espécies que o Cerradão Alto de Carvoeiro possui a mais que o Cerradão Baixo de Carvoeiro, Scheelea phalerata, Anadenanthera macrocarpa, Combretum leprosum,

Tabebuia roseo-alba, Anadenanthera colubrina e Casearia gossypiosperma (47%) são típicas das Florestas Decíduas e reforçam a idéia do Cerradão Alto ser um ambiente transicional, que em função da alteração do regime hídrico do solo para uma condição mais seca, passa a receber e permitir o estabelecimento de espécies pouco hábeis em colonizar ambientes mais úmidos.

A unidade florística e fisionômica dos dois Cerradões se devem a espécie

Callisthene fasciculata que se apresenta como a mais importante nas duas comunidades nas quais representa 42 e 40% do VC para o Cerradão Baixo e Alto, respectivamente. No Cerradão Baixo essa espécie detém 43% da DoR e 42% da DR (densidade relativa) e no Cerradão Alto representa 47 e 33% dos mesmos parâmetros, respectivamente (Tabela 3 e 4 - Anexo).

Embora os valores de diversidade das Florestas Decíduas sejam os maiores registrados no estudo, esses valores são baixos se considerados com as Florestas Semidecíduas do Sudeste cujos valores estão entre 3,2 e 4,2 (Meira-Neto et al., 2000) mas estão entre o esperado para Florestas Decíduas, segundo os registros de Silva &

48 Scariot (2004), Rodal & Nascimento (2006) e Duarte (2007) que informaram índices de diversidade variando entre 2,35 e 2,99.

A estacionalidade climática que acarreta na criação de um período de baixa disponibilidade hídrica para a vegetação é apontada por Gentry (1995) como principal causa da baixa riqueza das Florestas Secas se comparadas às Florestas Úmidas. A baixa disponibilidade hídrica condicionada primeiramente pelo clima pode ser acentuada e potencializada por condições pedológicas locais, como a presença de solos pedregosos e rasos, ou solos arenosos que, naturalmente, absorvem e retém pouca umidade. Em todas as fácies das Florestas Decíduas estudadas na RPPN SESC Pantanal o solo se apresentou arenoso.

As Florestas Decíduas estudadas possuem uma característica em comum muito marcante que é a presença da palmeira Scheelea phalerata no primeiro estrato da floresta. Em algumas das fácies é observado dominância ecológica da espécie, como na Floresta Decídua de Acuri aonde essa palmeira representa 64% da DoR, 41% da DR e 52% do VC; na Floresta Decídua com Gravatá a palmeira foi registrada com 56% da DoR, 25% da DR e 40% do VI e na Floresta Decídua de Aroeira com 56% da DoR, 15% da DR e 36% do VC (Tabelas 5, 6 e 7 - Anexo). Dominância ecológica é entendida quando uma espécie possui mais de 50% de qualquer dos parâmetros da comunidade, podendo ser denominada então, de monodominante (Connell & Lowman, 1989). Na Floresta Decídua da Borda e na Floresta Decídua de Acuri com Gravatá a palmeira não apresenta dominância ecológica, mas é a espécie mais importante nas duas comunidades, com 27 e 32% do VC (Tabelas 8 e 9 - Anexo).

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