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2. As finalidades do contrato swap

2.1 Hedging

2.1.2 Risco de Crédito

O risco de crédito depende da solvabilidade ou liquidez do obrigado ao pagamento e é “a álea do não cumprimento da correspetiva obrigação pelo devedor, também dito, por isso mesmo, risco da contraparte”284.

Crédito significa reputação ou confiança, daí que o risco de crédito esteja intimamente ligada à possibilidade de quebra da confiança ou reputação do devedor da obrigação. O risco será tanto maior quando maior for a evolução de degradação da situação do devedor, sendo que mesmo que essa degradação não conduza necessariamente ao incumprimento, basta que aumente essa probabilidade para que haja risco de crédito. Não se pode confundir a natureza deste risco com a natureza do risco de mercado, pois as variações de preços no mercado, seja de acções, obrigações ou mercadorias, é algo expectável e inerente ao funcionamento do mercado, enquanto o risco de crédito se relaciona mais com a situação que determinada posição creditícia

283 Certamente que acarretará para o beneficiário a riqueza típica da economia virtual a qual é tão lícita como é qualquer outra, desde que não contrarie os limites impostos pela boa-fé e pela ordem jurídica. 284 Cfr. SILVA, João Calvão da, «Seguro de Crédito como Seguro de Grandes Riscos: Garantia Indemnizatória Acessória ou Autónoma», Revista de Direito do Consumidor, vol. 94, Julho/Agosto, 2014, Ponto 2.1.

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assume no contexto da situação financeira do devedor da obrigação, situação essa que é de evolução mais lenta e independente.

i) Risco de incumprimento

Falamos em risco de incumprimento quando o cumprimento de uma obrigação está em crise devido a mora do devedor ou devido à possibilidade da sua insolvência. Associado a este risco encontra-se a capacidade financeira e de gestão das contrapartes, portanto, diremos que é um risco subjetivo, porque ligado às partes.

a)Risco de liquidação

As instituições de crédito incorrem em situações de risco no âmbito da execução das suas atividades bem como quando assumem determinadas obrigações perante terceiros, as quais devam ser cumpridas numa data futura acordada – operações a prazo. E neste contexto, as instituições de crédito estão expostas a um risco de crédito285 atendendo a que pode ocorrer um incumprimento por parte de quem tem de prestar as respetivas contrapartidas.

Nas operações a prazo, os riscos de incumprimento designam-se de riscos de liquidação, os quais se podem traduzir na não entrega dos títulos acordados pela contraparte ― liquidação física ― ou na não entrega das quantias pecuniárias convencionadas na data de vencimento ― liquidação financeira286.

Este risco é de natureza mais técnica e intimamente ligado ao processo de regularização das obrigações. O risco de liquidação compreende o risco de financiamento ou de funding, o risco de liquidez do mercado e o risco de liquidez dos ativos287.

Uma nota apenas para o risco de financiamento. É aquele em que uma instituição pode incorrer quando tem dificuldades para obter fundos para solver os seus

285 Uma outra situação em que as instituições financeiras estão expostas a um risco de crédito verifica-se quando assumem a posição de garantes das obrigações incumbidas a terceiros, como por exemplo, nas garantias bancárias autónomas. Mas mesmo quando são beneficiárias das garantias, as instituições de crédito estão expostas a riscos de crédito, bastando para isso que os garantes não cumpram com essas garantias.

286 PIRES, José Maria, Elucidário de Direito Bancário, Coimbra, Coimbra Editora, 2002, p. 302. ISBN 972-32-1104-1.

287 FFERREIRA, Domingos, Swaps e outros derivados, Liboa, Rei dos Livros, 2011, p. 61. ISBN 978- 989-8305-30-5.

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compromissos constantes, daí que a necessidade de financiamento seja praticamente permanente. Este risco pode conduzir à insolvência da entidade.

b)Risco de contraparte

Por risco de crédito de contraparte entende-se o risco de incumprimento por uma contraparte numa transação antes da liquidação final dos respetivos fluxos financeiros. Isto é, nas transações de instrumentos de dívida ou de títulos de capital poderá ainda acontecer o risco de contraparte que se traduz na possibilidade de não receber os títulos da contraparte,quando já procederam ao respetivo pagamento, ou o inverso, quando já entregaram os títulos mas ainda não receberam o respetivo pagamento.

Este risco engloba de uma maneira geral todas as relações que duas partes mantenham entre si. Em caso de mora no cumprimento de uma das obrigações legitima a avaliação relativamente a todas as outras operações que as partes conservem. Isto é, a mora em relação a uma operação da carteira de créditos legitima que se faça uma correlação com as restantes obrigações pertencentes à carteira de créditos relativos a esse devedor, pois o risco de contraparte verifica-se e afere-se em relação ao devedor e não relativamente a uma obrigação em específico.

Com o crescimento exponencial do mercado dos CDSs, o risco de contraparte aumentou paralelamente. Aliás, uma das grandes preocupações traduzia-se, precisamente, no facto de os maiores dealers de CDS servirem de contrapartes para outros, sendo portanto interdependentes. Ora, atendendo às operações cruzadas que entre estes dealers se estabelecia, preocupava o facto de a inadimplência de um acarretar sérias implicações nos restantes.

A crise financeira implicou, como veremos adiante, a tomada de medidas estruturais destinadas à mitigação do risco de contraparte, principalmente no mercado de CDSs. Essas medidas consistem na mudança de padrões de negociação e na criação ou introdução de uma contraparte central288.

288 Também neste sentido refere VAUSE, Nicholas, Counterparty risk and contract volumes in the credit default swap market, BIS Quarterly Review, December 2010, p. 62: “The most important structural measures implemented in the CDS market to reduce counterparty risk were to accelerate the pace of trade compression and to introduce central counterparties (CCPs). The effect of both measures is to allow contracts on offsetting positions to be torn up. The scope for such tearups, however, greatly depends on how far CDS contracts are standardized”, disponível em: http://www.bis.org/publ/qtrpdf/r_qt1012g.pdf (acedido em 24 de dezembro de 2014).

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ii) Risco de Mercado

O risco de mercado não depende, por sua vez, de qualquer qualidade inerente às partes intervenientes numa operação, mas antes da oscilação dos valores associados ao objeto da transação. No que ao nosso estudo interessa, este risco traduz-se na variação das posições em cada instrumento financeiro. As posições podem ser curtas ou longas.

Para melhor percebermos estes conceitos, referimos que a abertura de posição consiste no ato ou operação inicial de investimento, em que o investidor se se coloca numa posição em que irá beneficiar da subida do preço do ativo, assume uma posição longa, ou de comprador; se se coloca numa posição em que irá beneficiar da descida do preço do ativo, assume uma posição curta, ou de vendedor.

Numa posição longa, o investidor beneficia sempre que haja uma subida do preço do ativo, mas caso o preço desça, o investidor sofre uma perda. A título de exemplo, diz-se que se o investidor assume no início uma posição compradora, ou longa, num certo contrato e a mesma vier a ser fechada com a venda do instrumento financeiro mas com um valor inferior, o investidor sofre uma perda, mas se a venda do instrumento financeiro for efetuada por um preço superior, o investidor obtém um ganho.

Já numa posição curta, o raciocínio é idêntico mas em sentido inverso. Ou seja, o investidor beneficia com a descida do preço do ativo e se o preço subir, regista uma perda.

No mesmo exemplo, se o investidor assume de início uma posição vendedora, ou curta, num certo contrato e a mesma venha a ser fechada com a compra do instrumento financeiro mas a um preço inferior, será realizado um ganho; se for efetuada por um preço superior, o investidor sofre uma perda.

O risco de mercado traduzir-se-á no desequilíbrio existente entre o volume das posições curtas e das posições longas detidas pelo investidor.

a)Risco de câmbio

Aquele que se financiou em certa divisa sabe que está exposto ao risco de o reembolso do empréstimo se tornar demasiadamente oneroso para si num cenário imprevisível mas de verificação possível, de subida da cotação da moeda em que se financiou.

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b)Risco de taxas de juro

Verifica-se, por exemplo, quando uma parte se tenha financiado a uma taxa variável. Se ocorrer uma subida das taxas de juro, os custos inerentes ao financiamento tornar-se-ão muito mais onerosos. Através do contrato de swap é permitido à parte fixar a taxa de juro para que naquele cenário não sofra as consequências do agravamento dos seus custos no financiamento.

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