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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.4 Riscos Ambientais

Alguns dos riscos ocupacionais podem facilmente extravasar os limites da exploração, transformando-se, deste modo, em problemas ambientais. Daí a importância de combater todos os riscos na origem, evitando os efeitos da externalização dos problemas. Essa externalização ocorre frequentemente, principalmente pela emissão de poeiras e efluentes líquidos contaminados, isolados ou na forma de lamas. Um dos riscos com maior impacte na saúde e originado pela atividade extrativa a nível ambiental reside na contaminação de solos e aquíferos, cujos efeitos podem estender-se por dezenas a centenas de quilómetros e afetar a saúde das populações, mesmo distantes, que entrem em contacto com esses produtos, quer sejam contaminações por metais tóxicos ou exposição à sílica cristalina (Almeida, Eston, & Assunção, 2002) ( Dowd, 2003) ( Aslibekian & Moles, 2004) ( Ersoy, Yunsel, & Atici, 2008) (Moetaz, Stuart , Lange, Lilley, & Morgan, 2008) (Jordan & Abdaal, 2013) (Donoghue A. , 2004) (Choe, et al., 2008) (Shang, et al., 2009) (Gyozo & Szucs, 2011) (Mirzaei, Ghorbani, Moghaddas, & Martín, 2014) (Adamu, Nganje, & Edet, 2015).

No ano de 2002 estimou-se que entre 1000 a 1500 km de cursos de água na UE tinham sido contaminados a partir de trabalhos de extração (Younger, Banwart, & Hedin, 2002). A avaliação de risco de parâmetros ambientais com recurso a SIG possibilita a sinergia entre diferentes recursos, fatores e variáveis (Gruiz, Vaszita, Siki, & Feigl, 2007) (Charou E. , Stefouli, Dimitrakopoulos, Vasiliou, & Mavrantza, 2010) (Pediaditi, et al., 2011) (Nykiforuk & Flaman, 2012). Esta avaliação permite ainda efetuar um controlo através da visualização de grandes extensões de terreno avaliando a sua evolução ao longo do tempo (Gruiz, Vaszita, Siki, & Feigl, 2007).

A nível ambiental, a indústria extrativa é muitas vezes responsável pela contaminação de solos e cursos de água e pela contaminação química do ar, responsável por vários casos de doenças profissionais. Este ponto será abordado mais à frente, no subcapítulo referente aos riscos físicos. Este tipo de contaminação pode, tal como na contaminação de cursos de água e solos, centrar-se na área da exploração, mas muitas vezes

abrange dezenas de km2, afetando as populações (Csavina, et al., 2012).

De acordo com a comunidade científica devem as boas práticas auxiliar na minimização do problema na sua complexidade, através da utilização de ferramentas de apoio à decisão de carácter direto (Jordan & Abdaal, 2013).

O risco de contaminação pode ser caracterizado como o efeito combinado da probabilidade de contaminação e a importância dos impactes tóxicos. Fatores como, descrição do perigo, efeito dose/resposta, análise do comportamento do transporte de contaminantes ao nível do solo e aquíferos e,

consequentemente, avaliação de risco9, são fatores fundamentais para a sua caracterização.

Na análise de riscos ambientais é possível tratar e relacionar dados tão diferentes como pluviosidade, geologia, litologia, geomorfologia, uso do solo, consolidação, permeabilidade, porosidade, redes de drenagem, declive e índices ecotoxicológicos, para o estudo das condições do local e para a eficácia da aplicação da solução a adotar (Pinder, 2002) (Sander, 2007) (Choi, Park, & Sunwoo, 2008) (Mancini, Stecchi, & Gabbianelli, 2009) (Jasmin & Mallikarjuna, 2011).

A avaliação de riscos em tempo real é fundamental nos casos de contaminação de solos e aquíferos para acompanhar a eliminação do contaminante e o seu percurso (Jiang, Wang, Lung, Guo, & Li, 2012).

9 US EPA (2007). Framework for metal risk assessment. U.S. Environmental Protection Agency, Denver. EPA120-

Uma das primeiras metodologias para avaliação de impactes ambientais associados a qualquer tipo de indústria foi desenvolvida por Leopold em 1971. Esta metodologia era constituída por uma matriz onde foram cruzadas 100 ações relacionadas com a indústria a avaliar e 88 condições ambientais. A título de exemplo, destacam-se a alteração da água superficial, do sistema de drenagem, alteração da irrigação, do clima, da superfície terrestre ou a existência de queimadas ou incêndios, nas condições ambientais e as características associadas ao tipo de indústria em estudo e ao seu processo produtivo. A matriz vai relacionando os aspetos ambientais com os do processo produtivo em que são avaliados de acordo com uma escala compreendida entre o zero e dez do possível impacte gerado (Leopold, Clarke, Hanshaw, & Balsley, 1971) (Tiwari, Dutta, & Yunus, 2015).

O método Environment Accident Index (EAI) desenvolvido por (Scott, 1998) também foi uma das metodologias validadas para este tipo de avaliação. Foca-se nas consequências ambientais originadas por descargas de substâncias químicas no solo e nas águas superficiais e subterrâneas. Como variáveis de análise, destacam-se a solubilidade em água, a distância ao curso de água mais próximo, a permeabilidade do solo e a direção de escoamento (Paralikas & Lygeros, 2005) (Andersson, Tysklind, & Fangmark, 2007). São inúmeros os trabalhos científicos desenvolvidos que visam a avaliação, caracterização e monitorização da contaminação de solos ( Aslibekian & Moles, 2004) (Paralikas & Lygeros, 2005) (Dinis & Fiúza, 2010) (Harp & Velimir, 2013) (Dong, et al., 2011) (Zarei, Pourkhabbaz, & Khuzeztani, 2014) (Mirzaei, Ghorbani, Moghaddas, & Martín, 2014) (Adamu, Nganje, & Edet, 2015). A concentração de metais pesados depende de fatores como a composição geológica de origem e das propriedades do solo que influenciam a absorção e transporte de contaminantes através da circulação de água por extensos quilómetros (Mirzaei, Ghorbani, Moghaddas, & Martín, 2014).

A maioria das metodologias existentes pressupõe a recolha de amostras, adotam modelos e simulações matemáticas para determinar o grau de contaminação e a extensão dos danos ( Aslibekian & Moles, 2004) (Paralikas & Lygeros, 2005) (Choe, et al., 2008) (Zarei, Pourkhabbaz, & Khuzeztani, 2014) (Li & Feng, 2012) (Martín, et al., 2014). Destaca-se a importância desta avaliação já que estes contaminantes podem facilmente afetar a saúde das populações e entrar na sua cadeia alimentar caso a contaminação esteja próxima de locais de cultivo (Martín, et al., 2014).

Da mesma forma, a contaminação de aquíferos e cursos de água, tem sido bastante estudada pela comunidade científica, uma vez que a utilização de água nos ciclos produtivos é recorrente e são inúmeros os casos de contaminação (Younger, Banwart, & Hedin, 2002) (Chilton & Seiler , 2006) (Gruiz, Vaszita, Siki, & Feigl, 2007) (Dutta & Chaki, 2012) (Zarei, Pourkhabbaz, & Khuzestani, 2014) (Adamu, Nganje, & Edet, 2015) (Liphadzi & Vermaak, 2015) (Anawar, 2015). A menos que os resíduos provenientes de trabalhos de extração sejam protegidos da oxidação e lixiviação de metais, a contaminação será evidente (Suresh S. , Dinakar, Prasad, Nagajyothi, & Damodharam, 2007).

Parâmetros como o pH, dureza, oxigénio dissolvido, total de sólidos dissolvidos, salinidade, condutividade, turvação, acidez e alcalinidade, azoto, cloretos, carência de oxigénio, temperatura e nível de água, são fundamentais para caracterização físico-química da qualidade da água. No caso de proximidade de atividades extrativas, são ainda considerados os principais metais/minerais presentes na zona, nomeadamente a presença de metais pesados (Dutta & Chaki, 2012).

Mais recentemente, encontram-se desenvolvidas ferramentas e metodologias que permitem analisar problemas relacionados com as águas provenientes de bacias de decantação, com a interrupção de cursos de água, ou mesmo a contaminação de aquíferos e solos com metais pesados (Boni, Costabile, Vivo, &

Gasparrini, 2000) (Jiang, Wang, Lung, Guo, & Li, 2012) (Ersoy M. , 2013) (Choi, Park, & Sunwoo, 2008) (Cidu & Biddau, 2009) (Komnitsas & Modis, 2009) (Dong, et al., 2011) (Jain , Baruah, & Khare, 2014). Tal como na contaminação de solos, a maioria das metodologias existentes para avaliação da contaminação de água, realizam-se através de modelos matemáticos e modelações. São recorrentemente efetuadas recolhas de amostras de solo ou de água de forma a, de acordo com diferentes métodos de análise, como as equações de oxidação-redução, serem propostas várias abordagens para controlar ou minimizar as contaminações (Bartzas, Komnitsas, & Paspaliaris, 2006) (Beznzaazoua, et al., 2008) (Dutta & Chaki, 2012) (Adamu, Nganje, & Edet, 2015).

Destacam-se ainda, os estudos desenvolvidos por Suresh S., Dinakar, Prasad, Nagajyothi & Nagaraju (2007), Zarei, Pourkhabbaz & Khuzeztani (2014), Jain, Baruah & Khare (2014), Molenda (2014), Adamu, Nganje & Edet (2015), Kerolli-Mustafa, Fajkovic, Roncevic & Curkovic (2015), onde são efetuadas recolhas de amostras e desenvolvidas simulações matemáticas de forma a determinar a contaminação de metais, comparando os valores com os valores limite para cada substância.

A aplicação de metodologias de recuperação e regeneração de solos e aquíferos são tanto mais eficazes quanto maior for a monitorização constante das zonas, o que permite avaliar a evolução da contaminação. Uma das formas é a retirada de amostras em intervalos de tempo conhecidos, estabelecidos dependendo das condições de solo, permeabilidade e tipo de contaminante, permitindo assim o controlo da contaminação e análise da extensão de dano, considerando sempre os valores limite presentes na legislação em vigor (Kemper & Sommer, 2004) (CAPRA, 2009); ( Ji, Xu, Yu, & Zhao, 2008) (Komnitsas & Modis, 2009) ( Zhang , Gong , Li, & Ross, 2009).

A análise dada, obtida através de imagens de satélite ou com recurso a GPS, tem-se mostrado uma mais- valia no que respeita à avaliação de impacte ambiental. O seu amplo espetro, alcance, custo acessível e a cobertura de grandes áreas, são as principais vantagens. A título de exemplo, destacam-se as metodologias que combinam a modelação geoquímica (onde se destaca a importância do teor em metais pesados), a tipologia de resíduos e suas características com dados SIG de modo a estudar a contaminação em bacias hidrográficas originada pela atividade extrativa (Charou E. , Stefouli, Dimitrakopoulos, Vasiliou, & Mavrantza, 2010) (Gyozo & Szucs, 2011) (Turner, Braungardt, & Potter, 2011) (Jiang, Wang, Lung, Guo, & Li, 2012).

Outra abordagem possível e de caráter ecológico, realiza-se através da introdução de vegetação natural para a reabilitação das zonas contaminadas. Apesar de ser uma forma morosa em termos temporais, permite um tratamento mais natural e ecológico possível (Escarré, et al., 2011) (Conesa & Faz, 2011) (Valente, Gomes, Pamplona, & de la Torre, 2012).

Dentro das metodologias de avaliação de risco ocupacional existentes, algumas podem ser adaptadas à avaliação de risco ambiental. Destacam-se as árvores de falha, a metodologia What-if, FMEA, Análise de modos de falha, seus efeitos e criticidade (FMECA), HAZOP e os métodos matriciais (Vernez & Vuille, 2009).

Entre as metodologias existentes encontram-se bastante desenvolvidos os métodos de apoio à decisão com suporte em simulações, técnicas interativas, modelagem multicritério e bases de dados (Sahnoun, Serbaji, Medhioub, & Karray, 2012) (Harp & Velimir, 2013) (Jordan & Abdaal, 2013).

Outra metodologia comummente utilizada é a ARAMIS (Accidental Risk Assessment Methodology for

regras de identificação de cenários de acidente, assim como, a elaboração de um índice relevante tendo como base a Diretiva Seveso II. São considerados a severidade do risco e a vulnerabilidade da envolvente das instalações da indústria a avaliar, podendo estes dados ser integrados em SIG para mapeamento das

zonas de risco. No presente, já é considerada a Diretiva Seveso III10.

As etapas de avaliação passam por uma identificação dos perigos e principais, riscos, identificação das barreiras de segurança e avaliação de desempenho, o tipo de transporte efetuado pelo contaminante e avaliação da eficiência da gestão de segurança e mapeamento da gravidade de risco (Salvi & Debray, 2006) (Duijim, 2009) (Ma, et al., 2015).

Para a reabilitação eficaz e integrada de resíduos de mineração, é essencial compreender a petrologia e geologia estrutural, textura geológica, tipo de mineralização, geoquímica. Essa análise deve ser efetuada ao longo do processo produtivo e após o encerramento da exploração (Dinis & Fiúza, 2010) (Adamu, Nganje, & Edet, 2015) (Anawar, 2015).