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1- OS XOKLENG: CULTURA E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO

2.3 Objetos da Cultura Material

2.3.4 Ritualísticos

Os objetos ritualísticos confeccionados pelas comunidades indígenas possuem muitas vezes, conteúdos de natureza social e simbólica muito maior que qualquer outro artefato. Para B. G. Ribeiro: “No objeto ritual, tudo é simbólico. No caso do instrumento musical, por exemplo, o são: a forma, a matéria-prima, o som. Todos esses elementos e, sobretudo, os eventos em que se produz à música implicam em ‘teias de significados’”.224 A autora ressalta ainda que“... em cada contexto seu manuseio obedece a uma técnica operacional que lhe confere sentido e ‘eficácia simbólica’. O maracá é o principal objeto ritual do arsenal magico- religioso do xamã. Como objeto, faz parte do elenco dos produtos materiais as cultura; porém não pode ser isolado dos outros domínios: do ritual, do xamanismo.”.225

O autor R. Lavina faz referência ao maracá ,ou chocalho utilizado durante os rituais de morte, confeccionado pelos homens. O maracá era feito de cabaça madura, seca ao sol por aproximadamente uma semana, sendo retirada as sementes e deixada na água por um ou dois dias. Depois era feito uma limpeza interna, após nova secagem ao sol, assim como outro orifício no lado oposto ao aberto anteriormente sendo encaixado nele uma vara de bambu; antes da fixação definitiva dessa vara eram colocadas sementes de caeté. 226

222 HENRY, J. Jungle … p. 169. 223 SILVA, C. Entrevista cit.

224 RIBEIRO, B. G. Arte Índia... p. 22 225 Id.

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O mesmo autor, ainda, referindo-se ao processo de confecção do chocalho globular menciona que: “a haste é inserida de maneira a uma ponta projetar-se na parte superior, sendo fixada com cordéis encerados. A decoração é feita com anéis de penas amarrados com casca de imbé, podendo possuir longos cordéis fixados ao longo do cabo para o transporte”.227

Em depoimento sobre a confecção do maracá, Dona N. Ndilli esclarece que: “é uma baga que a gente planta né, depois de seca daí a gente tira. Aquele é assim, depois de seco, a gente tira, fura de um lado né, aonde é que tira, que tem aquelas aonde ele fica no baraço, a gente arranca aquele, a gente fura e bota essas baguinha dentro aqui, ai aquele semente agente tira, tira tudo e bota outro semente, outro semente branca agente coloca”.228 Era

utilizado no momento dos rituais de perfuração dos lábios dos meninos e tatuagem na perna das meninas e também no ritual de cremação dos mortos.

Na foto a seguir podemos ver um chocalho confeccionado atualmente na Terra Indígena Ibirama:

Fig.: 14 – Chocalho globular. Foto de E. E. Vieira, 12 de setembro de 2003. (Foto no Acervo:

LABHIN – Laboratório de História Indígena).

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Um fator relevante a ser colocado é o fato de que na maioria das comunidades indígenas, determinados instrumentos musicais são restritos aos homens, podendo haver restrições também quanto ao uso, conforme a faixa de idade. De um modo geral, somente os adultos tocam certos instrumentos, adolescentes tocam outros, as mulheres cantam certas canções, homens maduros e velhos outras.229

Já entre os Xokleng, as informações obtidas através de depoimento de Dona N. Ndilli e outros entrevistados indicam que “... a finalidade dele é também pra faze, assim o som mais forte. Então esse aqui a gente usa pra muitas coisas, ele usa, como assim pra dança, pro luto. Esse de dentro a gente usa pra dança do luto, entendeu”.230 O maracá trata-se de um

instrumento musical que era usado nos rituais e em momentos de festas.

O maracá era muito enfeitado e sua haste coberta de uma trança feita em cruz, com fibras pretas de casca de imbé-mirim. O chocalho, em seu engaste era cercado de pelos e penas multicores, sendo o porongo lavrado com múltiplos desenhos, repetindo-se, em cima, na extremidade da haste, os mesmos enfeites encaixados.231 Entre os Kaingáng, o maracá é um objeto tipicamente masculino, sendo confeccionado e utilizado somente por homens. Já entre os Kayapó, ele “simboliza o centro do mundo,... eles consideram-se parte integrante do mundo circular e vêem o processo do universo e da vida como ciclo, os ciclos do tempo ecológico e estrutural que determinam e acompanham a vida e as atividades humanas”.232

Para o preparo da bebida fermentada, consumida durante os rituais, os Xokleng faziam uma espécie de cocho233, de madeira de cedro. O tamanho dos cochos variava,

dependendo da aldeia e do número de pessoas. Sua profundidade dependia do tamanho da árvore.

Escolhem, para isto, grossos troncos de velhos cedros que são derrubados e atorados no comprimento de um metro e cincoenta, a dois metros. Depois descascam-nos convenientemente, abrindo, em seguida, uma fenda longitudinal de dezoito a vinte centimetros de largura, pela qual escavam o troco completamente, deixando-o inteiramente ôco, com paredes lateraes de trez a quatro centimetros sómente de espessura; tendo as cabeças do cocho, a espessura de oito a dez centimetros.

228 NIDILI, N. Entrevista cit.

229 RIBEIRO, B. G. Arte Índia... p. 25-26. 230 NDILI, N. Entrevista cit.

231 HOERHANN, E. de L. e S. Anexo... paginação irregular. 232 VIDAL, L. & SILVA, A. L. da. op. cit. p.386.

233 O cocho era uma espécie de recipiente que os Xokleng usavam para o preparo da bebida

80 Servem-se, para este trabalho, além do fogo, de uma espécie de formões, que antigamente eram feitos de pedra, e que hoje os fazem de ferro.234

A fim de se fazer o cocho, um cedro era derrubado e uma seção cortada. Poderia ser necessário cortar-se outra, até que finalmente se achasse uma tora perfeita. Então, esta era removida até o acampamento, e como era impossível para apenas um homem transportá-la, era necessária a cooperação de todos.235

Quando a tora chegava no acampamento, alguém ia trabalhá-la com um machado. Ele marcava a forma da abertura e começava a cortá-la firmemente até não mais conseguir ir mais profundamente. Quando ele ficava cansado, outro assumia o trabalho, e esse processo só terminava quando o cocho estava oco. Então, era feito fogo no seu interior, com bambu seco, para limpá-lo, e depois o carvão era raspado. Para protegê-lo contra vazamento, uma cera era bem aquecida e esfregada sobre as pontas do cocho. As pontas eram também aquecidas a fim de fazer a cera agir. Quando o cocho era finalizado um buraco raso era escavado para acomodá-lo.236 A partir desse momento, era iniciada a fabricação da bebida, que levava vários dias no seu preparo, devido ao processo de fermentação.

Os ornamentos segundo a afirmação de J. Henry, eram feitos pelas mulheres e usados na cerimônia de perfuração dos lábios dos meninos e tatuagem na perna das meninas. Os ornamentos da dança Lu237 eram feitos de pequenos objetos de cestaria, fixos na ponta dos

postes de aproximadamente 2,5 m. de tamanho e fixos na área de dança. Assim que as festividades começavam, os postes eram elevados de seus buracos e carregados ao redor nos ombros dos homens. Esses objetos de mais ou menos oito polegadas de tamanho, eram seguros nas mãos.238 Não há informações sobre a continuidade na confecção desses

ornamentos entre os Xokleng.

Sobre a confecção dos objetos da cultura material Xokleng, atualmente percebemos que técnicas utilizadas para produzi-la diferem das técnicas anteriormente empregadas, haja vista o fato de, por exemplo, as armas não serem mais usadas para a guerra ou mesmo para a caça, associada à questão da dificuldade em encontrar alguns tipos de matéria-prima.

234 HOERHANN, E. de L. e S. Anexo... paginação irregular. 235 HENRY, J. Jungle... p. 171.

236 Id.

237 A dança Lu, era realizada no velório das crianças menores.

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3 - REELABORAÇÃO E SIMBOLISMO

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