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RL 04-12-2013 (Jerónimo de Freitas), p 1037/12.2TTLSB.L1-4

No documento O Tempo de Trabalho (páginas 151-154)

I. Embora a lei rodeie de cautelas a alteração dos horários dos trabalhadores, a verdade é que o empregador pode unilateralmente alterar tais horários. Só assim não será se:

− o horário constar expressamente do contrato de trabalho, ou seja, se o trabalhador foi contratado expressamente para determinado horário de trabalho; − o horário foi posteriormente estabelecido entre as partes e expressamente para o

trabalhador;

− resultar do IRC aplicável que o horário apenas pode ser alterado por acordo. II. Para efeitos de alteração do horário de trabalho, a consulta à Comissão de

Trabalhadores, sendo obrigatória não é vinculativa, e a consulta ao trabalhador não é obrigatória, incumbindo ao empregador decidir acerca de tal alteração de acordo com as necessidades de funcionamento da empresa.

III. No presente caso, o IRC aplicável à Autora, trabalhadora dos CTT (BTE nº21 de 1996) prevê a existência de um período complementar de repouso semanal correspondente a um dia. Coisa diferente é saber se esse dia pode ser descontinuado na semana a que respeita, e a essa questão o AE não dá resposta, prevendo apenas a sua existência. Assim sendo, tem aplicação o que dispõe o art. 206º nº2 do CT/2003, podendo o período de descanso semanal complementar ser repartido e descontinuado, como está previsto para a Autora.

4. RL 04-12-2013 (Jerónimo de Freitas), p. 1037/12.2TTLSB.L1-4 Sumário:

I. O artigo 217.º do CT regula as situações em que um trabalhador tem um determinado horário de trabalho, que configura no tempo a sua prestação de trabalho e em função do qual este organiza a sua vida, pretendendo o empregador alterar essa situação por necessidades organizativas da empresa.

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II. A alteração do horário de trabalho reconduz-se à fixação de um novo horário e, logo, é suscetível de forçar o trabalhador a reorganizar a sua vida, tal qual terá ocorrido relativamente ao horário inicial. Por isso mesmo, a lei regula essa possibilidade de cautelas significativas, estabelecendo o artigo 217.º, um conjunto de exigências ao empregador, entre as quais, o dever de ressarcimento económico dos trabalhadores que, por força da alteração do horário, tenham que suportar um aumento de despesas. III. O Acordo de Empresa entre a CP — Caminhos de Ferro Portugueses, E. P., e o SMAQ—

Sind. Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses, publicado no BTE de 22-09-2003, na parte respeitante à regulamentação da organização do tempo de trabalho, contém um conjunto de cláusulas dirigidas a regular o caso particular e específico do “pessoal da carreira de condução-ferrovia/tração”.

IV. Delas resulta que os seus horários de trabalho serão «(..) em princípio, os que lhes correspondem nas respetivas sedes”, mas com a particularidade de serem individualmente «(..) organizado(s) pela empresa em regime de escalas de serviço (..)», de modo a assegurarem «(..) a prestação de trabalho por períodos não regulares no que respeita à duração diária e semanal e às horas de início e termo do período normal de trabalho».

V. Tal significa que a colocação de um trabalhador dessa carreira numa determinada escala, diferente da que vinha praticando, embora se traduza na prática de um horário de trabalho diferente, não consubstancia uma verdadeira alteração ao horário de trabalho, nos termos previstos no art.º 217.º do CT. Na verdade, como decorre do n.º1 da Cláusula 20.º, é inerente à carreira de condução ferrovia/tração, estarem os trabalhadores nela integrados sujeitos a variações no seu horário, decorrendo as mesmas das escalas de serviço em que forem inseridos.

VI. É essa especificidade que explica as cláusulas imediatamente seguintes, em concreto a 20.º A e a 20.º B, onde se definem as regras, respetivamente, no que respeita às “Apresentações ou retiradas na sede” e às “Apresentações ou retiradas em local diferente da sede”, através das quais as partes procuraram fixar determinados princípios na organização das escalas de serviço, restringindo os poderes da empregadora Ré e impondo-lhe determinadas obrigações de natureza pecuniária, quando os mesmos não forem observados.

VII. Da cláusula 20.º A, retira-se que na organização das escalas de serviço, isto é, na organização dos horários de trabalho do pessoal que desempenha as funções inerentes

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Texto integral

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às categorias compreendidas na carreira de condução ferrovia/tração - Maquinista; Maquinista técnico; Inspetor de tração; Inspetor-chefe de tração – de modo a prestarem trabalho «(..)por períodos não regulares no que respeita à duração diária e semanal e às horas de início e termo do período normal de trabalho», deve observar-se o seguinte: i) as escalas não devem prever entradas e saídas na sede entre as 2 e as 5 horas; ii) nas grandes áreas urbanas servidas por redes regulares de transportes públicos, as escalas devem atender aos horários de funcionamento desses transportes; iii) excecionalmente, as escalas poderão não observar aquelas limitações, mas nesse caso a Recorrente terá que observar o disposto nos n.ºs 2 e 3, nomeadamente quanto aos pagamentos ai previstos.

VIII. A cláusula 20.º A do AE não exclui o n.º5, do artigo 217.º do CT. O que acontece é terem campos de aplicação distintos.

IX. Quando na colocação de um trabalhador da carreira de condução /ferrovia numa determinada escala, elaborada no âmbito dos poderes de fixação do horário de trabalho previstos nas aludidas cláusulas, a empregadora não observe os deveres a que está vinculado, isto é, os limites estabelecidos nas aludidas cláusulas ao seu poder de as elaborar, então a eventual violação de direitos do trabalhador deve ser aferida à luz do estabelecido nas próprias cláusulas, nomeadamente na cláusula 20.º A.

X. A cláusula 20.º A, não impõe ao empregador que atenda ao local de residência do trabalhador, assentando no pressuposto de que este tem a sua vida organizada em função de determinado local de trabalho, para tanto contando com o regime de trabalho em escalas de serviço organizadas pela empregadora, de modo “a não prever entradas e saídas na sede entre as 2 e as 5 horas”, e a ter em conta, “nas grandes áreas urbanas servidas por redes regulares de transportes públicos (..) os horários de funcionamento desses transportes” [n.º1, da cláusula 20.º A].

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ISENÇÃO DE HORÁRIO

1. RL de 09-04-2008 (Maria João Romba), proc. 318/2008-4

No documento O Tempo de Trabalho (páginas 151-154)

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