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2. Contexto Geológico Regional

6.4. Rocha metaultramáfica da região de Marilac

No limite entre as Unidades A e D, ao sul da área mapeada, aflora uma lente boudinada de flogopita-tremolita xisto, de aproximadamente 1 metro de espessura. Este litotipo é verde claro, com textura nemalepidotoblástica, granulação fina a grossa e aspecto ligeramente sedoso (Figura 4.9-a). Encontra-se intemperizado, adquirindo tons amarronzados. Tremolita (~75%) está em cristais prismáticos, incolores, de até 6mm de comprimento. Flogopita (~24%) ocorre em cristais alaranjados, lamelares de 2-4mm de comprimento, subédricos a euédricos. Cristais muito finos de óxido (~1%) ocorrem esparsos pela amostra (Figuras 4.9-b e 4.9-c).

Figura 4.9. A) Amostra de flogopita-tremolita xisto intercalado no topo da Unidade A, nas proximidade de Marilac. B) Foliação Sn dobrada devido a boudinagem do corpo de rocha metaultramáfica. C) Detalhe dos cristais de tremolita e flogopita da amostra de rocha metaultramáfica.

Tr Fp

B

A

Fp Tr

C

1mm 250 µm

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5. Geologia Estrutural

5.1. Introdução

Regionalmente, a área caracteriza-se por um sistema de deformação transpressivo dextral (Figuras 5.1 e 5.2), resultando em uma estrutura em flor assimétrica vergente para W. Enquanto o contato das rochas metassedimentares com os granitoides neoproterozoicos, a leste, é marcado por falhas transcorrentes de alto ângulo, o contato a oeste com o embasamento paleoproterozoico/arqueano é marcado por uma zona de cisalhamento de empurrão, de baixo ângulo, a reversa oblíqua dextral. Essas duas estruturas parecem se conectar em profundidade (ver perfil da Figura 5.2), sendo a expressão de uma falha maior, provavelmente a continuação da Zona de Cisalhamento de Abre Campo. O transporte tectônico, de maneira geral, é dirigido para SW, mas é característica uma mudança progressiva, marcada pela inflexão da lineação de estiramento (Ln),

cuja orientação varia desde NNE-SSW, na porção mais a nordeste, até E-W, em direção a sudoeste. As unidades metassedimentares podem estar em situações parautóctones e alóctones (Figuras 5.1 e 5.2), sendo que todo o pacote metassedimentar (internamente) e contatos entre unidades encontram-se pervasivamente cisalhados. No primeiro caso, o contato das unidades possui movimentação reversa, localmente marcada por zonas de cisalhamento, mas estão em posições estratigráficas normais. A duplicação por empurrão ocorre verdadeiramente na colocação da Unidade B sobre a C, isto é, na colocação da Formação Ribeirão da Folha sobre a Formação Salinas, invertendo a estratigrafia, como ocorre na porção norte da área. As rochas metaultramáficas também se encontram limitadas por meio de empurrões que formam duplexes nas camadas quartzíticas (Figuras 5.1 e 5.2). Zonas de empurrão internas à formação Salinas também ocorrem na porção setentrional do mapa, onde o zonamento metamórfico é duplicado, colocando zonas de maior grau sobre zonas de menor grau.

Dentro do acervo estrutural, dois componentes parecem controlar a tectônica da região e, consequentemente, as feições geomorfológicas e o zonamento metamórfico. O principal é a lineação, que segue os principais lineamentos geofísicos observados em imagens magnetométricas da área (Figura 5.3). A tendência de paralelismo deste elemento com os eixos das dobras de primeira e segunda geração indica provável rotação dos eixos em direção ao movimento de massa. O reflexo em afloramento são tectonitos L e/ou SL pervasivos em todas as unidades (Figura 5.4). O segundo elemento é a foliação principal Sn, cujo aspecto sigmoidal nos metassedimentos, em escala

regional (Figura 5.1), reflete o sistema dextral transcorrente a transpressivo, bem marcado pelas zonas de cisalhamento que delimitam os contatos estratigráficos regionais. As isógradas do metamorfismo barroviano também acompanham Sn.

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Figura 5.1. Mapa geológico simplificado da região de São José da Safira. a) Sinformes; b) antiformes; c) lineação Ln; d) foliação Sn; e) zona de cisalhamento transcorrente destral; f) zona de cisalhamento de empurrão; g) contatos tectonizados reversos; h) zonas de cisalhamento reversas com componente destral; i) contatos normais; j) traço da foliação. 1) Complexo Guanhães e metabásicas (Arqueano); 2) Complexo Mantiqueira (Paleoproterozoico); 3) Granito Jenipapo (Paleoproterozoico); 4-7: Sucessão metassedimentar (Neoproterozoico), respectivamente Unidades A, B, C e D. 8) Granito foliado Santa Rosa (Neoproterozoico/Cambriano); 9) Intercalações tectonônicas de rochas metaultramáficas. VG: Virgolândia; NR: NacipRaydan; SJ: São José da Safira.

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Figura 5.2. Perfis AA’ e BB’ mostrando as relações entre as principais unidades das regiões. Destaque para contatos alóctones (contato em linha grossa) e parautóctones (contato em linha fina).

Figura 5.3. A) Mapa magnetométrico (1ª derivada vertical) mostrando as principais zonas de cisalhamento do Orógeno Araçuaí (DS: Dom Silvério, AC: Abre Campo e sua possível continuação em linhas tracejadas) e os principais domínios tectônicos abrangidos pelo trabalho (BG: Bloco Guanhães, MS: Sucessão Metassedimentar, NC: Núcleo Cristalino). B) Ampliação da imagem (a) na área de estudo, as linhas contínuas mostram as principais zonas de cisalhamento, que acompanham a foliação, e as linhas tracejadas indicam os principais lineamentos magnéticos que sofrem inflexão de NNE-SSW para E-W, assim como a lineação de estiramento na área.

A

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Figura 5.4. a) Afloramento de tectonito SL (cuja superfície erosionada é bastante similar à geomorfologia da área). b) Tectonito L no xisto da Unidade D.

Duas fases de deformação coaxiais, que atingem as rochas do embasamento, xistos e granitoides, podem ser distinguidas, Dn e Dn+1. De maneira geral, apresentam as seguintes

características:

(a) A fase Dn é caracterizada pela geração de zonas de cisalhamento reversas e transcorrentes

dextrais de direção geral N-S e dobras Fn vergentes para W a SW. As dobras Fn são de

primeira geração, dão origem à foliação plano axial Sn e lineação de estiramento Ln nela

contida. Sn é pervasiva e paralela a subparalela ao bandamento composicional das rochas

(Sn-1), afetando intensamente as unidades de modo que estruturas primárias ou pré-existentes

não puderam ser documentadas. Nas rochas metassedimentares, a associação sin-cinemática de sillimanita, cianita, estaurolita, granada e micas indicam que esta fase está associada com o metamorfismo na fácies anfibolito, do tipo barroviano, impresso nos metassedimentos. A idade máxima de Dn é 544 ± 10 Ma (zircão, U-Pb, SHRIMP), datada neste trabalho (ver

Capítulo 7) através do granito Santo Rosa, que possui a foliação Sn pervasivamente

impressa.

(b) A fase Dn+1 é caracterizada pelas dobras Fn+1, de escalas regional e de afloramento,

geradoras de uma clivagem de crenulação Sn+1, de ocorrência local. Dn e Dn+1 são coaxiais e

formam padrões de redobramento em laço. A desestabilização de minerais como estaurolita e a paragênese de biotita, clorita, muscovita e granada associada às clivagens de crenulação indicam que esta fase ocorreu sob condições de P e T relacionadas à fácies xisto verde e, por conseguinte, mais baixas que a fase Dn.

De acordo com a natureza do sistema predominante e da orientação das estruturas, a área pode ser dividida em três domínios: I, II e III, localizados respectivamente nas porções oeste, central e leste (Figura 5.5).

60

Figura 5.5. Divisão dos domínios estruturais na área.

O Domínio I abrange a porção mais ocidental da área estudada, onde ocorrem predominantemente gnaisse, granito-gnaisse e anfibolito, e pode ser dividida em dois subdomínios. O primeiro deles - I.I - abrange quase toda porção do embasamento, exceto o contato com os metassedimentos, onde se encontra o segundo subdomínio - I.II (Figuras 5.1 e 5.5). No subdomínio I.I, a foliação Sn mergulha predominantemente para N ou S com ondulações para E e W. A lineação

de estiramento Ln cai predominantemente para E, com dispersões para NE. Já o domínio I.II

caracteriza-se por uma zona de cisalhamento reversa a oblíqua reversa, onde a foliação principal Sn

evolui para uma foliação milonítica Sm, e marca o transporte dos metassedimentos sobre o

complexo gnáissico em direção a oeste.

O Domínio II é composto pelas porções ocidental e central da sequência metassedimentar mais o granito neoproterozoico neles intrudido. Difere do domínio I em termos de lineação, que é oblíqua a Sn e cai predominantemente para NE, e em termos da foliação Sn, que ondula entre as

orientações NNE-SSW (variando a NNW-SSE), WNW-ESE e, novamente, NNE-SSW, respectivamente da porção norte para sul do mapa. Esta variação pode ser observada nas três concentrações modais observadas no estereograma do item 5.2.2 (neste capítulo) e claramente distinguidas quando dividida em subdomínios (Figuras 5.1 e 5.5). Em escala regional, a foliação Sn possui a forma de um “S”, cuja indicação cinemática ao lado da zona de transcorrência a leste

aponta um sistema dextral (Figura 5.1).

O Domínio III e mais oriental abrange, além da unidade metassedimentar, os granitoides neoproterozoicos com os quais fazem contato. A principal característica deste domínio é o predomínio de um sistema transcorrente, onde a zona de cisalhamento principal segue a foliação Sn.

Esta passa a ser subvertical a vertical, com direções NS a NNE-SSW.

Apesar de Dn e Dn+1 serem pervarsivas em toda a área estudada, cada um destes domínios

61 geometria resultante em cada um deles. Para tanto, ambas as fases serão descritas a seguir e analisadas em cada domínio.

5.2. Fase Dn

5.2.1. Domínio I

5.2.1.1. Subdomínio I.I

A fase Dn neste subdomínio é caracterizada pelo dobramento de um bandamento gnáisso já pré-formado (Sn-1), gerando as dobras Fn abertas a isoclinais, simétricas a assimétricas, de

charneiras arredondadas. São formadoras da foliação plano-axial Sn, dada principalmente pela

orientação da biotita, e da lineação Ln nela contida, marcada principalmente por cristais de anfibólio

orientados e estirados. Comumente Fn são dobras intrafoliais, em que Sn se torna paralela a

subparalela ao bandamento gnáissico (Figura 5.6).

Figura 5.6. Dobras Fn, geradoras de foliação plano-axial Sn: (a) do tipo intrafolial, no Complexo Guanhães, Domínio I;

(b) em dobras fechadas do gnaisse do Complexo Guanhães, com micas orientadas segundo Sn.

Em relação à fase Dn, ocorre uma variação na deformação (principalmente no que tange à

relação entre entre eixo bn e lineação Ln) que pode ser representada por dois afloramentos. No

primeiro deles (Figuras 5.7-a e 5.7-b) as dobras Fn são intrafoliais, de escala centimétrica a

decimétrica, com eixo de caimento para NW e lineação Ln com caimento para NE, isto é,

aproximadamente ortogonais entre si (neste afloramento, observam-se ainda dobras Fn+1, suaves e

coaxiais, que redobram Fn, ver item 5.3.1, deste capítulo). O outro extremo pode ser representado

pelo afloramento das Figuras 5.7-c a 5.7-e, em que o bandamento (Sn-1) não foi ainda

completamente transposto. Neste caso, a dobra Fn é de escala decimétrica a métrica e apresenta o

eixo subparalelo à lineação Ln, ambos com caimento para ENE. Em relação a Sn, Ln é oblíqua,

próximo ao strike. O aspecto não cilíndrico das dobras pode ser melhor observado através do estereograma na Figura 5.7-d, do afloramento.

S

n

S

n

62

Figura 5.7. Dobras Fn no Domínio I. A) Dobras Fn intrafoliais apertadas. B) Estereograma do afloramento em (A), com

eixo medido em azul e lineação de estiramento em vermelho. C) Dobra de primeira geração (Fn) no Domínio I, com

foliação plano axial (Sn) e bandamento composicional (Sn-1) não completamento transposto. C) Estereograma do

afloramento em (C), com lineação Ln perpendicular a bn. E) Detalhe da relação plano-axial de Sn em relação a Fn do

afloramento em (C).

De maneira geral, a lineação de estiramento Ln no Domínio I cai variando de NE para E,

com máximo modal em 080/18, sendo oblíqua ou strike em relação a Sn (Figuras 5.8-a e 5.8-b).

Localmente, Ln se torna predominantemente downdip na foliação Sn, que adquire um carácter

milonítico devido à associação com uma espessa zona de cisalhamento, sendo, por isso, analisada separadamente no subdomínio I.II. Indicadores cinemáticos, como porfiroclastos de feldspato

Máx=317/21 (15,80%) N(Sn)=13 Ln bn Pólo Sn-1 Pólo Sn

A

B

D

C

E

F

n

S

n

F

n

63 sigmoidais ou com cauda de recristalização, dobras intrafoliais, tensiongashes, apontam movimentos reversos de topo para W a SW. As medidas com caimento para NW ou SW encontram- se em flancos mergulhantes neste sentido, resultantes do dobramento de Sn (pela fase Dn+1, item

5.3.1). Da mesma forma, a dispersão de Ln no estereograma deve-se a flutuações de Sn no

embasamento.

Os dados de Sn no estereograma resultam em duas guirlandas. A principal reflete as dobras

de eixo estatisticamente com caimento para leste (máximo de densidade em bn = 096/14). A

densidade máxima de Sn, em 024/30, indica o flanco dominante, enquanto o valor modal para o

outro flanco é 167/37. Uma guirlanda secundária reflete as ondulações da foliação presentes no embasamento, com dispersões para centros de densidade de Sn em 100/54 e 300/25, cujo eixo

estatístico possui caimento aproximado para NNE (018/07).

Os eixos das dobras Fn são bem variáveis, de acordo com o resultado da sobreposição do seu

posicionamento inicial com o redobramento da fase Dn+1 (item 5.3.1). Caem principalmente

variando de ENE a SE, mas também foi medido com caimento para SSW.

Em escala regional, o que se observa é um continuum da variação da direção da foliação, cujas medidas variam desde para norte, girando em direção a leste, até a direção sul. Este padrão é bem definido nos estereogramas deste domínio, que mostram uma guirlanda principal, refletindo dobras com eixos que caem para leste e por guirlandas secundárias, com eixos que caem para norte (Figura 5.8). Esta mudança é provavelmente o reflexo do sistema transpressivo atuante, juntamente com o transporte de massa dirigido de SW até W e com a paleogeografia da área. Este último fator é considerado quando se observa a alta sinuosidade no contato do embasamento com os metassedimentos e como a foliação se molda em torno deste contato. Devido a esta variação, embora sejam observadas duas fases de deformação no embasamento, não é plausível relacionar em termos fractais as orientações locais das dobras para uma abordagem regional.

Figura 5.8. Estereograma do subdomínio I.I. (a) Variação de Sn no embasamento, formando uma guirlanda principal

com eixo com caimento para leste e uma secundária, com eixo para norte. (b) Lineação de estiramento com caimento predominantemente para leste.

64 De ocorrência apenas neste subdomínio, observa-se localmente um terceiro tipo de dobra (Fs), em que Ln é paralela ao eixo, provavelmente resultante de dobramentos relacionados a zonas

de cisalhamento geradas na fase Dn (Figura 5.9). Diferenciam-se de Fn por não estarem relacionadas

à geração de foliação plano-axial.

Figura 5.9. Dobras associadas a zonas de cisalhamento, conforme esquema retirado de Harris et al., 2002.

5.2.1.2. Subdomínio I.II

Na porção oriental do embasamento, encontra-se uma zona de cisalhamento com até cerca de 0,5 km de espessura, de movimento reverso para W e cujo baixo ângulo de mergulho contribui para a alta sinuosidade de seu traço em superfície. Neste setor predomina o sistema deformacional frontal. O bandamento gnáissico torna-se retilíneo e mais espesso, com bandas variando de decimétricas a métricas. A foliação Sn passa a apresentar carácter milonítico (Snm), com máximo

modal em 120/30 e maiores dispersões para E. A lineação de estiramento relacionada (Lnm) é

predominantemente downdip no plano Snm, com caimento predominantemente para E com

dispersões para NE, com máximo em 085/18 (Figura 5.10). Indicadores cinemáticos são abundantes nesta porção, como porfiroclastos rotacionados, caudas de recristalização e dobras intrafoliais, e apontam movimento reverso de topo para W ou SW (Figura 5.11).

Figura 5.10. Estereograma do subdomínio I.II, onde a foliação é milonítica e a lineação de estiramento predominantemente downdip.

65

Figura 5.11 . A) Sigmoide de foliação indicando movimento reverso de topo para W, Complexo Guanhães, subdomínio I.II. B) Sigmoide quartzo-feldspático indicando movimento reverso de topo para W, Subdomínio I.II. C) Sigmoide quartzo-feldspático indicando movimento reverso de topo para W, Subdomínio I.II. D) Boudins de foliação do tipo

“cabeça-de-peixe”, com preenchimento de quartzo no espaço entre os boudins.

A

B

C

D

E

W E

W

66 5.2.2. Domínio II

Neste domínio, o acamamento primário é transposto até o paralelismo com a pervasiva foliação Sn, que é marcada nas unidades metassedimentares principalmente pela orientação planar

de biotita e muscovita, além do achatamento e estiramento de minerais como quartzo, feldspato, cianita e estaurolita. No granito foliado Santa Rosa, a foliação é marcada principalmente pela orientação de biotita, mas também pelo achatamento e estiramento de quartzo e feldspato.

As dobras da fase Dn, assim como no Domínio I, afloram de maneira mais escassa. São

comumente dobras intrafoliais, fechadas a predominantemente isoclinais, de charneiras arredondadas e escala decimétrica. Nos xistos de granulação mais grossa, observa-se a relação plano axial de Sn nestas dobras, que claramente corta suas charneiras (Figura 5.12). Nas rochas onde

há bandamento composicional, como das unidades C e D da Formação Salinas, ou onde ocorrem transições litológicas, como na unidade B da Formação Ribeirão da Folha, estes são paralelos a Sn.

O eixo das dobras possui máximo em 015/40 e é comumente paralelo a subparalelo a Ln, como

mostrado pelos estereogramas das dobras Fn na Figura 5.13. Em apenas um afloramento, no

subdomínio II.II, foi observada uma dobra em bainha.

No granito Santa Rosa, a relação plano axial de Sn pode também ser observada em apófises

dobradas, como mostrado na Figura 5.12-e.

A lineação de estiramento, Ln, marcada principalmente por minerais como quartzo,

feldspato, cianita, sillimianita, biotita e estaurolita, cai de maneira geral para NE, com dispersões para N até NNW ou E. Quando analisada por subdomínio, observa-se que a lineação é relativamente constante, com máximo sempre para NE. No entanto, há uma pequena variação de acordo com a orientação da foliação. Isto pode ser obsevado através dos estereogramas, que mostram, respectivamente, nos subdomínios II.I, II.II e II.III, os máximos modais da foliação em 060/30, 114/50 e 104/33 e os da lineação em 048/30, 054/30 e 051/27 (Figura 5.13). Outra observação neste sentido pode ser feita no sudomínio II.I, em que ocorre maior variação da direção da foliação, principalmente em direção a NW-SE, e há maior ocorrência de lineações que caem para N.

67

Figura 5.12. A) Dobras Fn, geradoras de foliação plano-axial Sn em quartzo-biotita xisto da Unidade D, Domínio II. B)

Fotomicrografia da dobra em (A). C) e D) Dobras Fn, geradoras de foliação plano-axial Sn em quartzo-biotita xistos da

Unidade C, Domínio II. E) Apófise do granito Santa Rosa dobrada, com foliação plano-axial Sn pervasiva no granito e

no xisto, onde corta o bandamento Sn-1 pré-existente (bem marcado no xisto).

A

B

S

n

S

n

C

S

n

F

n 1 mm

S

n-1

E

D

68

Figura 5.13. Estereograma geral da foliação Sn e lineação de estiramento Ln no domínio II da sucessão

metassedimentar. A) As três concentrações no estereograma indicam os subdomínios. B) O estereograma de lineação mostra a predominância de lineações com caimento para NE e o efeito do redobramento em Dn+1, que rotaciona a

lineação para caimentos no sentido SW. C) Estereogramas de dobras Fn, mostrando relação entre eixo bn, foliação Sn e

lineação Ln.

Os principais indicadores cinemáticos são caudas de porfiroclastos, porfiroblastos rotacionados e foliações sigmoidais associados a Ln, que indicam uma movimentação de topo

reversa progressivamente inflexionada, apresentando sentidos de transporte desde para SW até para W (de nordeste para sudoeste do mapa, respectivamente, Figura 5.14).

Foliação Sn n=11 Máx.= 086/35 (13,38%) Eixo bn Lineação Ln n=12 Máx.= 015/40 (6,71%) Máx.= 047/20 (8,72%)n=12

A

B

C

69

Figura 5.14. A) e B) Porfiroclastos de veio de quartzo indicando movimento reverso de topo para W, Unidade C, Domínio II.

5.2.3. Domínio III

As unidades mais representativas deste domínio são a Unidade D do pacote metassedimentar e o tonalito da Supersuíte G1. No tonalito, a foliação é marcada principalmente por biotita e pelo achatamento de cristais de anfibólio, feldspato e quartzo bem como de autólitos máficos (Figuras 5.16-a e 5.16-b). A principal característica deste domínio é o predomínio de um sistema transcorrente, em que a foliação Sn passa a ser subvertical a vertical, com máximo em 286/78, e a

direção de Ln torna-se NNE, com máximo em 011/24, strike em relação a Sn (Figura 5.15). As

dobras Fn são intrafoliais, apertadas a isoclinais, raramente observadas (Figuras 5.16-c e 5.16-d).

Figura 5.15. Estereogramas comparativos das dobras Fn e Fn+1 em escala de afloramento. Os eixos bn e bn+1 são

subparalelos, a foliação Sn+1 possui mergulho mais forte e Ln é subparalela a bn, com ângulo modal de aproximadamente

30º. Lineação Ln Máx=011/24 (6,34%) Foliação Sn Máx=286/78 (9,18%) N=16 N=9

E

W E

W

A

B

70

Figura 5.16. A) e B) Foliação Sn subvertical em rochas calcissilicáticas com intercalações metapelíticas da Unidade D,

Domínio III. C) Tonalito G1 com foliação Sn. D) Tonalito G1 com foliação Sn subvertical e autólito estirado.

5.3. Fase Dn+1

5.3.1. Domínio I

A segunda fase, Dn+1, é caracterizada no Domínio I pelo redobramento das rochas do

embasamento, formando dobras suaves a abertas, mas variando a fechadas (Figura 5.17). Dobras parasíticas das dobras regionais ocorrem em escala de afloramento, onde se observa que esta fase não é penetrativa em todo o pacote, isto é, a abertura das dobras torna-se cada vez mais suave até o desaparecimento, como mostrado na Figura 5.17-a. Apesar das duas fases de deformação ocorrerem neste domínio, não foram encontrados padrões de redobramento em afloramento.

S

n

F

n

S

n

A

B

71

Figura 5.17. Dobras de segunda geração no Domínio I. A) Dobras abertas que gradualmente tornam-se suaves até o desaparecimento e redobram dobras intrafoliais de primeira geração, mostradas na Figura 5.7-a. Estruturas da fase Dn+1.

C) e D) Dobras de Sn (paralela ao bandamento gnáissico), abertas a suaves, no embasamento do Complexo Guanhães.

5.3.2. Domínios II e III

As estruturas da fase Dn+1 são mais pervasivas na sucessão metassedimentar (dos Domínios I

e II) em relação às rochas do embasamento (do Domínio I) devido às próprias condições reológicas de cada um deles. Sendo assim, nos domínios II e III, a relação coxial das dobras Fn+1 com as

dobras Fn (como pode ser visto no estereograma da Figura 5.18) é mais nítida tanto pelo maior

número de afloramentos em que cada uma delas podem ser observadas como também por ocorrerem juntas, formando padrões de redobramento em laço (Figuras 5.19-d e 5.19-e). As dobras Fn+1 são suaves a fechadas, com charneiras arredondadas e vergentes para oeste a sudoeste (Figuras

5.19-a a 5.19-c). Estas dobras não geram uma foliação plano-axial penetrativa, como Sn em Fn, mas

localmente podem ser observadas crenulações (Figuras 5.19-f, 5.19-g e 5.20) ou clivagens de fratura (Sn+1) bem discretas na direção deste plano, com mergulho maior e direção aproximada NW-

SE (Figura 5.18). A clivagem de crenulação é marcada principalmente por biotita e muscovita e, subordinadamente, clorita. Dn+1 é responsável também pela geração de anticlinais e sinclinais

regionais, de escala hectométrica a quilométrica, expressando-se também na arquitetura geral de um

Máx=317/21 (15,80%) N(Sn)=13

C

D

72 sinclinal da sequência metassedimentar (ver perfis na Figura 5.2). O redobramento causado por Fn+1

reflete-se também nas lineações Ln, cuja rotação causa caimento para SW, W e NW, como pode ser

vistos nos estereogramas da Figura 5.13.

Figura 5.18. Estereogramas comparativos das dobras Fn e Fn+1 em escala de afloramento. Os eixos bn e bn+1 são

subparalelos, a foliação Sn+1 possui mergulho mais forte e Ln é subparalela a bn, com ângulo modal de aproximadamente

30º.

No Domínio III, a única diferença em relação ao Domínio II é que, devido ao fato da foliação Sn ser mais vertical, as dobras Fn+1 adquirem geometria mais aberta (Figura 5.13-a). As

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