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Exemplo de uma comunidade totalmente integrada na terra que a acolheu, mas que soube conservar e salvar os valores culturais positivos que trouxe da velha Itália.114

Fonte: BERTOLDI, Frei José; SCOTTINI, Frei Guido. Rodeio 1875-1975: aspectos de sua história e de sua gente. Rodeio. 1975. (anexo s/p.) Mapa ampliado no anexo 3.

112

LENARD, op. cit., p. 08.

113

Ibid., p. 8.

114

BERTOLDI, Frei José; SCOTTINI, Frei Guido. Rodeio 1875-1975: aspectos de sua história e de sua gente. Rodeio,1975. 100 anos da sua Fundação. p.10 A.

“Vinte e cinco anos após a fundação da colônia Blumenau,” 115

em 1850 o Dr. Hermann Otto Bruno Blumenau, que comandava o empreendimento, teve que recorrer às autoridades Austro-Húngaras para obter a quota de colonos necessária para cumprir as cláusulas do contrato firmado com o governo brasileiro. Na ocasião, o governo do Império Austro-Húngaro ofereceu os habitantes da região sul, os considerados “italianos.” Assim a colônia Blumenau passa a receber levas de imigrantes italianos.

Angelo Trento argumenta que em meados dos anos 1870, a imigração italiana foi vista como a solução frente a “certa apreensão” do governo com a “progressiva germanização das províncias sulinas devida à organização das colônias alemãs.” 116

As “colônias situadas sob o governo de Doutor Blumenau (Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra, etc.) em menos de um mês cada família de colonos italianos que chegava já recebia o seu lote. ”117

No entanto, “esses imigrantes são responsáveis pela fixação de novos centros irradiadores de povoamento e colonização: Rodeio, Ascurra, Rio dos Cedros e Apiúna. ”118

Em Rodeio, foram ao todo “114 famílias distribuídas em três turmas: a primeira, composta de 20 famílias (...) a segunda, composta de 34 famílias (...) a terceira, com 60 famílias.” 119

Começava uma nova história para esses imigrantes originários do Tirol Trentino e também para esse território. História que foi feita, contada e relembrada por seus descendentes e que foi transmitida, inicialmente, por meio da única língua que conheciam. E que com o passar do tempo, o dialeto Trentino trazido por esses imigrantes foi entrelaçando-se na vida e na sociedade que estava sendo construída por esses cidadãos.

115

Livro tombo da paróquia São Francisco de Assis de Rodeio. v. I. 1900. p.02.

116

TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil. Tradução: Mariarosaria Fabris (cap. 2 a 5) e Luiz Eduardo de Lima Brandão (cap. 1,6 e 7) - São Paulo: Nobel: Istituto Italiano di Cultura San Paolo, Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, 1988. p. 79.

117

CURI, José. A influência do “Talian” na fala catarinense apud Blumenau em Cadernos. Tomo XLVI - n. 05/06 – maio/jun, 2005. p. 35.

118

PIAZZA, Walter F. A Colonização Italiana em Santa Catarina. Florianópolis: IOESC- Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina S.A., 1976. p. 87.

119

Em alguns momentos da história, esse dialeto foi o único meio de comunicação, em outros passa a dividir o mesmo espaço com a língua Italiana standard que passou a ser ensinada pelos freis franciscanos, conforme veremos a diante. O uso do dialeto passa por vários momentos distintos: era o meio de comunicação da colônia, depois, como já vimos, foi proibido durante a política de nacionalização, mais tarde sua fala torna-se motivo de vergonha por parte dos usuários, até que o orgulho pela italianidade é retomado após a festa do centenário da imigração e novamente divide o mesmo espaço com o Italiano standard que agora é ensinado na rede municipal de ensino. Todos esses momentos deixaram marcas que contribuíram para a transformação do dialeto Trentino na região de Rodeio.

O município de Rodeio tem atualmente uma população de 11.146 habitantes120, sendo que “80% da população são descendentes de italianos da região de Trento, mantendo vivos os costumes e a tradição de seus antepassados.”121

Localizada em “pleno vale alemão,” Rodeio é considerada “uma das cidades mais italianas do sul do Brasil.” 122

É partindo desse epíteto que buscou-se compreender como foi construída essa ideia de italianidade e principalmente como se portou o imigrante, falante de língua aloctone,123 personagem principal dessa história. A pesquisa é desenvolvida no intuito de compreender e analisar os desdobramentos históricos e os meandros nos quais tivemos, de um lado, uma etnia, uma identidade, um dialeto e do outro lado, o poder político, o religioso e o econômico que tentava moldar essa realidade de acordo com seus interesses e da nação brasileira.

Faz-se necessária aqui uma observação: que algumas pessoas não sabem a diferença entre o dialeto Trentino e o Italiano standard. Muitas vezes ao perguntar sobre o ensino de Italiano na escola, observou-se que havia aprovação da iniciativa, pois é recorrente que em Rodeio se fala “Italiano”. Portanto, conclui-se que essa

120 Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2008/POP_2008_TCU.pdf acesso em 24/02/2009. 121 Idem. 122

Disponível em: http://www.sc.gov.br/portalturismo/Default.asp?CodMunicipio acesso em: 29/08/08

123

Segundo o Dicionário Aurélio Online,”Alóctone: Diz-se de pessoa que não é originária do país onde habita”, logo, língua de imigração.

situação causa este equívoco, pois acredita-se que na escola se ensina o mesmo “Italiano” que é falado no município. Não é verdade, pois o que se ensina na escola é o Italiano standard ou padrão e, portanto, diferente. Ilustramos a situação com a seguinte fala: “eu falo tudo Italiano eu entendo tudo, mas escrever é diferente, é diferente.” 124

Outro fato que reforça nossa hipótese é o fato contado por uma professora de língua italiana da cidade, Laura Scoz ao relatar que quando começou trabalhar com a língua italiana standard no ano de 1989 na cidade de Ascurra,125

em uma escola estadual, na primeira reunião que teve com os pais, era uma assembleia, e aí os pais questionaram o ensino da língua italiana, que eu estava ensinando errado para ele. Na verdade eles conheciam o dialeto e não sabiam a diferença do dialeto e da língua italiana. Nessa reunião eles “malharam” que eu não estava ensinando direito, por exemplo, que os dias da semana não eram lunedì, martedì e sim lune, marte, mercole eu tive que explicar que o dialeto era uma coisa e o Italiano outra. E eu coloquei toda essa situação e aí eles entenderam a questão, mas foi difícil no começo trabalhar, muito difícil, complicado.

Porém conta que em Rodeio, houve um caso mais recente,

isso também aconteceu em uma escola municipal aqui em Rodeio, foi em 2003, quando comecei a trabalhar para o município, eram crianças pequenas, de 2ª série. Tinha uma avó que ensinava muito uma criança lá, quando eu cheguei na escola, eu ensinava muita coisa solta, porque eram crianças pequenas,então a gente ensinava através de canto, através de joguinhos. Eu estava ensinando os dias da semana, e aí essa criança começou a questionar. Dizendo – minha avó disse que é assim, que a professora ensina tudo errado. Eu tive que conversar com a mãe dessa criança, com a avó, e explicar para elas que são línguas diferentes.