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Módulo 5 – Das Primeiras Emissões Romanas à Ascensão de Sula, c. 280-88 a.C.

Roma produziu suas primeiras moedas depois de 300 a.C., cerca de quatro séculos e meio após a sua data tradicional de fundação (753 a.C.). Anteriormente, no entanto, os romanos certamente tinham um certo conceito da moeda como um meio de comparar valores, e tinham usado uma série de objetos como “moeda-mercadoria” e recorrido a trocas (escambo).

Até o séc. V a.C., na região de Roma, pedaços irregulares de bronze (“Aes rude”), sem indicação de valor ou marca oficial, circulavam a peso, exigindo o uso de balanças. Do séc. VI ao III a.C., os etruscos também usaram para trocas pequenas barras de bronze com a representação de um ramo de árvore (“ramo secco”), sem peso uniforme, mas cunharam moedas a partir do final do séc. V a.C.

Entre cerca de 300 e 210 a.C., os romanos adotaram um sistema monetário próprio, pouco usual, que era constituído de quatro elementos circulando em paralelo:

O primeiro, o “Aes signatum” (c. 289-241), consistia em barras ou lingotes retangulares de bronze, com peso definido (normalmente de cerca de 1600g ou 5 libras romanas), com desenhos de ambos os lados e com dimensões de aproximadamente 160 por 90mm. Esses lingotes podem ter continuado a ser usados a peso, visto que vários exemplares sobreviveram em fragmentos já cortados na Antiguidade, indicando a necessidade de frações.

O segundo e o terceiro elementos eram moedas de prata e de bronze cunhadas em diferentes oficinas monetárias, sem relação de peso entre si, e destinadas a diferentes áreas de circulação. As moedas de bronze, “litras” e múltiplos (5, 7, 8), possivelmente emitidos desde 273 a.C., circularam principalmente na Itália central, juntamente com o “Aes signatum” e depois o “Aes grave”. As moedas de prata, principalmente didracmas, (6), produzidas a partir de cerca de 280 a.C. (talvez em função da invasão de Pirro), circulavam mais ao sul, particularmente na Campânia.

O “Aes grave” (c. 280-211) constituía o quarto elemento do sistema, e consistia em grandes discos redondos de bronze fundido, com padrão de peso definido, figuras no

anverso e no reverso e marcas de valor (1-3). Tudo indica que as moedas romanas iniciais, nessas quatro formas, foram produzidas intermitentemente, em quantidades modestas em comparação com as de outros povos contemporâneos e com o orçamento público de Roma, o que exclui uma origem de ordem puramente militar, que teria exigido uma produção mais regular. Possivelmente as emissões não atendiam às necessidades do comércio a varejo. Assim, durante a primeira parte do período republicano, Roma pode ser vista como estando a meio caminho entre uma sociedade sem cunhagem e uma sociedade plenamente monetarizada, com a moeda funcionando principalmente como medida de valor, enquanto os pagamentos propriamente ditos também podiam ser efetuados em outras mercadorias ou em metal, a peso.

Em suma, a emissão das primeiras moedas romanas não parece ter resultado de necessidades econômicas ou militares prementes, e inicialmente preencheu funções limitadas. É possível que tenha surgido por influência da Grécia ou das cidades gregas do sul da Itália, inclusive por razões de prestígio.

A unidade do sistema do “Aes grave” era o “As”, a princípio equivalente a uma libra romana (As Libral). Mas logo o seu peso foi diminuído de 324 para 265g (mantido de 269 a 217 a.C. (10). Por volta de 225, quando a emissão de prata também foi transformada com a adoção dos didracmas “quadrigatus” (9), cunhados até cerca de 211 a.C., o sistema do “Aes grave” foi padronizado com a introdução de uma proa de galera no reverso e de uma divindade diferente no anverso de cada denominação de bronze fundido, conforme a seguinte relação:

Valor Tipo de anverso Marca de Valor Valor em “unciae”

As cabeça de Janus I 12

Semis cabeça de Saturno S 6

Triens cabeça de Minerva 4 glóbulos 4 Quadrans cabeça de Hércules 3 glóbulos 3 Sextans cabeça de Mercúrio 2 glóbulos 2 Uncia cabeça de Roma 1 glóbulo 1

No período de 225 a 211, além de outros múltiplos e subdivisões do As (12-17), chegou a ser emitida uma moeda muito grande, o decussis (10 asses), que seria substituída por denários de prata também equivalentes a 10 asses. A partir de 211, o As de bronze do padrão “sextantal” passou a pesar apenas 44g. Durante a Segunda Guerra Púnica, entre 217 e 208, houve uma emissão de ouro de caráter emergencial, logo descontinuada. A adoção do denário (e, temporariamente, de suas subdivisões em prata, o quinário e o sestércio – nos 18-10) coincidiu com uma maior utilização da moeda metálica na sociedade romana. A cunhagem de didracmas de prata foi abandonada, mas a produção de dracmas sob o nome de “vitoriatos” (21) continuou por várias décadas. O denário de prata - inicialmente de cerca de 4 gramas e elevado teor de metal -, seria a moeda básica da República Romana a partir aproximadamente de 211 a.C., e do Império Romano pelo menos até a metade do séc. III d.C. O denário foi retarifado para 16 Asses por volta de 141 a.C.

Os denários foram emitidos por várias famílias, ou “gens”, de moedeiros. Amplamente representados nesta exposição, têm tipos bem variados, às vezes referentes a feitos

passados de membros dessas famílias (30-48). Algumas “gens” também emitiram o quinário (1/2 denário). Na época da ditadura de Sula, ocorreu uma rara emissão do aureus de ouro, também logo descontinuada.

A partir da reforma de 211, as moedas de bronze republicanas deixaram de ser fundidas e passaram a ser cunhadas (22-26), abrangendo as seis denominações do sistema do Aes grave, desde o As até a úncia (1/12 do As). No período de 140 a 100 houve uma redução do peso dessa cunhagem para o padrão “uncial”. Em 92 a.C., a Lei Papíria reduziu ainda mais o peso da cunhagem de bronze para o padrão “semi-uncial”, mas a emissão dessas moedas cessaria por várias décadas após 82 a.C.

Módulo 6 – De Sula ao Fim da República, c. 87-27 a.C.

Durante o período entre a abdicação de Sula (79 a.C.) e as guerras civis dos anos 40 e 30 a.C., foi muito variada a emissão de denários de prata por numerosas famílias de moedeiros romanos (1-34).

Houve novamente cunhagens ocasionais de bronze na chamada era “imperatorial”, ou dos “imperatores” (chefes militares que disputavam o poder), que se encerraria em 27 a.C. quando Otaviano, sobrinho e herdeiro de Julio César, recebeu o título de “Augustus”, tornando-se o primeiro imperador romano. Em 46, sob César, voltou a ser emitido o “aureus” de ouro (55).

Foi nesse “período imperatorial” (49-67) que Julio César (52-57) teve uma ligação amorosa com Cleópatra, rainha do Egito, adiando possivelmente a conquista desse reino por Roma. Cleópatra teria depois um relacionamento mais longo com Marco Antônio (60-61, 63-65), ajudando-o a enfrentar Otaviano (66-67). Com a vitória naval de Otaviano e Agripa sobre o casal em Áccio, em 31 a.C., a morte de Antônio e Cleópatra e a anexação do Egito, em 30 a.C., Roma passou a dominar todo o Mediterrâneo.