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7. Circuito das conservas: uma alternativa turística para Matosinhos

7.1 Rotas de turismo industrial

As rotas, itinerários e circuitos culturais são fundamentais para a promoção do património, representando processos interativos, dinâmicos e evolutivos das relações humanas que refletem a diversidade e a sua riqueza das distintas localidades. O reconhecimento dos itinerários culturais como novo conceito patrimonial levou a que fosse construída uma visão mais plural e mais completa da história e também a que houvesse uma maior preocupação com a conservação do património328. Assim, a definição do itinerário cultural torna-se necessária. Esta definição pode ser encontrada na carta de itinerários culturais, da responsabilidade do ICOMOS. Desta forma, toda a via de comunicação terrestre, aquática ou de outro tipo, fisicamente determinada e caraterizada pela sua própria dinâmica e funcionalidade histórica, interligada aos serviços de um fim determinado e concreto, tem que reunir as seguintes condições: o resultado e reflexo de movimentos interativos de pessoas, tal como de fluxos contínuos e recíprocos de bens, ideias, conhecimentos e valores entre países, regiões ou continentes; gerar uma fecundação múltipla das culturas a partir do seu património tangível e/ou intangível; integração de um sistema dinâmico de relações históricas e bens culturais associados à sua existência. Por sua vez, o seu contexto, conteúdo, valor de conjuntos, o caráter dinâmico e outros elementos básicos são importantes para definir o itinerário em si. No que concerne a tipos de itinerários culturais, estes podem ser classificados a partir da sua dimensão territorial (local, nacional, regional, continental ou intercontinental), dimensão cultural, pelo objetivo ou função (social, económico, político ou cultural), referência temporal, configuração estrutural (linear, circular, radial, etc.), pelo marco natural (terrestre, aquático, misto ou de outra natureza física)329. Dentro da esfera do património cultural e do turismo cultural, podemos encontrar o património industrial e o turismo industrial, como tal, estas orientações também se aplicam no planeamento de uma rota, itinerário ou circuito de turismo industrial.

No que diz respeito ao património industrial, a European Route of Industrial Heritage (ERIH) é, talvez, o exemplo mais paradigmático de sucesso de rotas de património industrial. Esta surge como ideia em 1999 e a primeira fase da rota prolonga-se até 2001, período em que várias redes de regiões europeias de associaram. A criação concreta da ERIH deu-se em 2002, com a participação das regiões alemãs, britânicas e holandesas. O principal organizador da rota foi o governo da Renânia do Norte de Vestefália. O êxito dos vários pontos-chave da rota está relacionado com a colaboração que é definida com os organismos turísticos locais. A rota

328 AAVV (2008) – Carta de Itinerarios culturales. Canadá: ICOMOS, p. 1. 329

149 começa na Grã-Bretanha (destaque para Ironbridge, Manchester, em Inglaterra, e o vale de Derwent, em Gales), passando pela Holanda, Luxemburgo, Norte de França, Norte de Espanha, Suíça, Norte de Itália, Áustria, República Checa, Polónia, Finlândia, Suécia, Dinamarca e, por fim, Alemanha330. Esta é uma grande rota continental, albergando uma série de países e uma série de temáticas industriais (têxtil, minas, ferro e aço, papel, sal, manufatura, energia, transporte e comunicação, água, indústria e guerra, arquitetura, serviço e indústria do lazer e paisagens industriais)331. Por sua vez, existem casos a nível regional e nacional de grande importância, vejam-se os seguintes em Espanha: Rota do Ferro, no Pirenéus, criada para promover o património metalúrgico. Na sua origem, o itinerário centrava-se na metalurgia de Andorra, no entanto, depois de ser estruturada como Itinerário Cultural do Conselho da Europa, passou a englobar outros vestígios na França, Catalunha e País Basco; Rota de Lã (sede em Bilbau); Rota de construção naval (em Ferrol); Rota de Turismo Industrial de Toledo, Alicante, Cádis, Sevilha, Corunha, Segóvia, Barcelona332. Um dos projetos que se tem consolidado e projetado é o da Xarxa de Turisme Industrial de Catalunya (XATIC), no qual estão integrados 22 municípios, desde 2005, com o objetivo de criar uma agenda comum para o turismo industrial na região. A partir da XATIC é possível visitar antigas fábricas, centros de interpretação, colónias industriais, fábricas no ativo, minas e museus333. Em Portugal, os exemplos são mais escassos, mas destaque-se a Rota da Cortiça (estruturada em 6 pilares temáticos: património, natureza, ruralidade, tradição, inovação e conhecimento), em S. Brás de Alportel, Algarve, e os circuitos de património industrial em S. João da Madeira, já mencionado anteriormente334.

As formulação de rotas turísticas a partir do património industrial permite consolidar a cultural produtiva regional, dinamizar a economia regional e local, sensibilizar e consciencializar para a importância do património industrial (na sua recuperação e na identidade dos municípios), incorporar nos grandes circuitos nacionais outros circuitos turísticos localizados em espaços marginais, preservar o património industrial e dar a conhecer as condições de trabalho e os processos técnico-produtivos do presente e do passado, promover o

330 PARDO ABAD, Carlos J. (2002) – Rutas y lugares de patrimonio industrial en Europa:

consideraciones sobre su aprovechamiento turístico. Espacio, Tiempo y Forma, série VI, p. 92-93.

331 Sítio da rota europeia do património industrial. Consultado em 05/05/2015, disponível em:

http://www.erih.net/european-theme-routes.html

332

CORDEIRO, José Manuel Lopes (2012) – Oportunidades e fragilidades do turismo industrial. Revista

Turismo & Desenvolvimento, N.º Especial, p. 15-16.

333 Sítio da Xatic. Consultado em 05/05/2015, disponível em: http://www.xatic.cat/

334 CORDEIRO, José Manuel Lopes (2012) – Oportunidades e fragilidades do turismo industrial. Revista

150 desenvolvimento produtivo local a partir de um Plano Estratégico para o património industrial e consequente valorização turística, etc.335.

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