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5.3 Das observações

5.3.1 A rotina do grupo

Cada criança, como todos os dias, ao chegar à escola, guarda sua mochila e lancheiras nos devidos lugares (as mochilas e lancheiras são deixadas, enfileiradas, em cima de uma mureta que cerca o pátio/refeitório). Ao colocá-la apressadamente sobre este local, a mochila de “L” cai; ele olha disfarçadamente para a professora, que está sentada no banco do refeitório conversando com sua companheira de trabalho; “L” parece pensar que ela não havia visto o acontecido e sai vagarosamente deixando a bolsa no chão; “H”, no entanto, olha para o menino com um “ar de surpresa” pela sua atitude; ao perceber sua expressão “L” volta e coloca o objeto no lugar. A professora então sorri para o garoto, como que aprovando sua nova atitude, e ele também lhe oferece um sorriso envergonhado.

As crianças brincam com alguns objetos trazidos de casa e conversam entre si, sentadas nos bancos do refeitório, enquanto esperam pelos outros colegas de turma. Estão aí as crianças pertencentes ao Maternal e ao Pré-II. Hoje “Y” trouxe um gibi; ela, sozinha, finge estar lendo o livro. Após terem chegado todos os colegas, depois de já fechado portão da EMEI, as crianças guardam na mochila seus pertences (“Y” guarda seu gibi, “P” guarda seu

gloss e “J” guarda sua boneca Barbie) e vão para sala, após o chamado da professora. Ficam,

no entanto, no pátio, “W”, “A” e “C”. “W” está brigando com “C” por esta não querer devolver sua luva; somente depois de “W” gritar com “C” é que ela devolve o objeto. “A” observa a discussão. Depois de resolvido, as três dirigem-se para a classe.

Como todos os dias, as crianças estão empurrando as cadeiras e as mesas da sala, no intuito de alcançarem mais espaço para fazerem a “roda da conversa”; sentam todos no chão, e cantam a música “Bom dia”. “H” percebe que “C” está brava e pergunta o “por quê”; “C” não responde. “A”, que havia visto o ocorrido, espontaneamente explica o fato. A professora explica, então, para “W”:

- “C” só queria experimentar sua luva, não é, “C”? Não há necessidade de brigar e nem de gritar” (“C” afirma com a cabeça e pede à “W” para que, depois, deixe-a

experimentar a luva. “W”faz um sinal de positivo com a cabeça). “H” conversa com ambas, explicando a não necessidade de brigar e de gritar para resolver as coisas. As duas escutam sem dizer nada.

Algumas crianças ouvem o fato, outras conversam. A professora pede, então, para que se sentem em seus lugares na roda, porque iria ler uma história. Todos sentam e ela começa a ler (a história era “Lúcia, já vai indo”). Todos prestam a atenção e pedem para ver as ilustrações. Enquanto lê, a professora faz perguntas sobre o texto, para instigar suas interpretações e as crianças participam vivamente. As crianças além de responderem às

perguntas, argumentam contando fatos relacionados sobre os personagens, lugares, acontecimentos da história. A professora também conta fatos ocorridos com ela.

Ao término da leitura, “H” adentra à questão dos valores trabalhados na história (hoje a amizade, a ajuda mútua) e deixa que as crianças se exponham, comentando sobre assuntos relacionados e fatos já ocorridos na sala. (“H” não permite que os alunos façam argumentos, neste momento, que não sejam relacionados ao assunto em questão). Agora partem para a atividade do dia.

Hoje as crianças têm que ilustrarem a história contada e circular, no papel entregue, com a ajuda da professora, os “doces que tinham na festa da personagem Lúcia”. (“H” diz não ver fundamento nesta atividade: “é muita coisa pra eles”; ela se refere ao fato de circular as palavras referentes aos doces). Para começar a atividade, pede para que cada criança procure seu estojo na caixa (percebe-se que, como todos os estojos têm nome, as crianças o procuram pela letra inicial do seu próprio nome; quando se confundem, por ter mais de um aluno com a mesma letra inicial, pedem o auxilio da professora. Hoje, “J” pega, sem querer, o estojo de “J”:

- “J”, você não ‘ta’ vendo que pegou o meu estojo? Este é o seu. (“J” está com o estojo de “J”na mão). O meu nome não tem a letra N; o seu tem, olha. “J”olha o escrito e destroca os estojos.

Nesta mesma atividade, na hora de circular as palavras (estas estavam escritas na lousa para que as crianças copiassem), “D”, “T” e “L” discutem sobre as palavras. Vendo que “T” iria circular a palavra errada, “L” fala:

- Não, “T”; “ta” errado! Chocolate não começa com a letra G (a professora havia pedido para circular este doce e “T” iria circular “gelatina”). “D” fala:

- Olha lá na lousa, “T”, chocolate começa com a letra C. “T” olha na lousa e circula a palavra certa.

Enquanto fazem a atividade, a professora vem me falar (sempre frisa isso) que “falta

pintura, falta atividade de criar; aqui já vem tudo pronto” (refere-se ao sistema).

Para o recreio, cada criança guarda seu estojo, seus cadernos e vão lavarem as mãos. Pegam sabonete-líquido, lavam e enxugam as mãos nos guardanapos de papel. “J” para “L”:

- “L”, você não vai enxugar a sua mão, não”? “L” volta e enxuga as mãos.

Cada um escolhe se vai e o que vai querer de comida. Comem, conversando às vezes; trocam lanches, oferecem/dão para a professora e também para mim. Às vezes, é necessário que a zeladora chame a atenção por conversarem muito no momento da refeição. Após todos terminarem, cada um pega a sua lancheira e, após comerem os lanches trazidos de casa,

guardam-nas no mesmo lugar e voltam para sala. Hoje, porém, foram para o parque ensaiarem as músicas e coreografias para a festa junina.

Ao voltarem, brincaram de massinha na sala de aula. Antes, a professora explicou a importância de brincar com o material (articular os dedinhos) e deu liberdade para que cada uma escolhesse a cor da massinha, um de cada vez. Enquanto brincavam, ela participava ajudando-os a criarem vários personagens, objetos. As crianças criaram aviões, a lesma, personagem da estória contada, bolas “da copa do mundo”, flores. Ao final, ajudaram a professora guardar as massinhas e foram para o parque. Antes, ainda, “H” relembrou com as crianças as regras; eles mesmos ajudavam: “H” diz que “N” não poderia ir no gira-gira vestindo suas luvas, porque “B” havia escorregado há alguns dias por isso; não poderia empurrar o coleguinha no escorregador porque machucaria, se ele caísse . “K” diz que iria cuidar das crianças do maternal hoje (às vezes as duas turmas ficam juntas no parque no final do dia) para elas não se machucarem.

Lá, “B” esbarra em “T” e começa a chorar. “H” pede para que ambos se sentem e expliquem-se, um da cada vez; escuta a versão dos fatos e explica ao menino que foi só um tombo e que isso havia acontecido porque ambos estavam correndo muito; explica que se não corressem daquele jeito a probabilidade de acontecer isso de novo seria a mínima. “B” se acalma e os dois voltam a brincar.

Faltando dez minutos para o horário de saída a professora pede para que todos peguem suas mochilas, lancheiras e blusas (as crianças tiraram suas blusas de frio enquanto brincavam) e se sentem para descansarem e esperarem dar a hora para saírem. Todos se sentam e conversam entre si e com a professora (esta deixa que “A” e “J” penteiem seus cabelos). Quando a zeladora começa a chamar o nome das crianças as quais os responsáveis já estão no portão para levá-las, espontaneamente todos ficam em silêncio para prestar a atenção, à espera de ouvirem ser chamados.