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Parte II Enfoque investigativo na qualidade das interações nas rotinas de cuidados em

1. Revisão da Literatura

1.3. Rotinas diárias da criança

Quando a criança chega a uma sala da creche pela primeira vez, vê-se envolvida num ambiente novo e estranho, fazendo-a sentir-se insegura. Contudo, quando se adapta a uma rotina diária, sabendo os acontecimentos sequenciais que vai tendo ao longo do dia, a criança consegue prever o que vai acontecer e desta forma sentir-se-á cada vez mais confortável, confiante e segura, diminuindo assim gradualmente a sua insegurança inicial.

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a sucessão de cada dia ou sessão tem um determinado ritmo existindo, deste modo, uma rotina que é educativa porque é intencionalmente planeada pelo educador e porque é conhecida pelas crianças que sabem o que podem fazer nos vários momentos e prever a sua sucessão, tendo a liberdade de propor modificações. Nem todos os dias são iguais, as propostas do educador ou das crianças podem modificar o quotidiano habitual.

Deste modo, em função das rotinas diárias as crianças começam a ter uma maior perceção das fases do dia por onde vão passando, pois “os horários e as rotinas são suficientemente repetitivos para permitirem que as crianças explorem, treinem e ganhem confiança nas suas competências em desenvolvimento” (Post & Hohmann, 2011, p.15).

Na perspetiva de Zabalza (2007), as rotinas diárias quando compreendidas e aceites são importantes marcos de referência, quer para o educador, quer para as crianças, uma vez que lhes permite ter liberdade de movimentos ao longo do dia. Também desempenham um papel simplificador na compreensão do tempo e dos processos temporais por parte da criança, e ainda ajudam-na a aprender que existem momentos, a saber o nome de cada um deles e a sua sequência.

Nesta ótica de pensamento, Post e Hohmann (2011) referem que as rotinas devem ser organizadas, previsíveis e flexíveis.

Assim, no seguimento dos aspetos anteriormente mencionados, na rotina diária da creche são visíveis os seguintes momentos: “Acolhimento”, “Atividades livres”, “Atividades dirigidas”, “Refeições”, “Higiene” e “Repouso”.

Relativamente a estes seis momentos, o blog Casa da Criança do Rogil (2011) refere que:

o acolhimento é uma fase muito importante do dia e, por isso, deverá

ser feito por um adulto da sala, disponível para conversar com quem traz a criança, de forma a saber como passou a noite, como acordou, a que horas comeu, para assim compreender melhor a criança.

as atividades livres são momentos em que a criança “escolhe aquilo que

está de acordo com os seus interesses e inclinações pessoais e, ainda, com o seu nível de desenvolvimento”, proporcionando assim “um período de exploração e de brincadeira sem qualquer tipo de interrupções” (Post & Hohmann, 2011, p. 249). Nos momentos de atividades livres as crianças podem fazer jogos, brincar com plasticina, brincar nas

38 permitido, entre outras atividades. Nestes momentos cabe ao educador observar e interagir com as crianças, respeitando sempre os seus tempos e as suas escolhas.

as atividades dirigidas são de extrema importância, por isso, é

fundamental que as crianças estejam todas na creche neste momento. É o momento em que se têm as “conversas da manta” e se explica a atividade que se irá realizar durante a manhã. Para as crianças nesta faixa etária, o tempo de concentração é diminuto, logo a entrada de crianças durante esta altura é prejudicial para o grupo em geral.

as refeições (lanche da manhã, almoço e lanche da tarde) são

essenciais, pois mais importante que “o dar de comer” é a relação afetuosa que se cria nas refeições. Estabelecem-se diálogos com as crianças, dá-se atenção, mostram-se sorrisos e isso permite transformar este momento num ato de afeto, de brincadeira, de jogo e de prazer. O respeito pelo horário das refeições, pela introdução de novos alimentos, pelo ritmo individual de cada criança e, ainda, por uma alimentação adequada e rica são, também, elementos fundamentais.

a higiene é a base indispensável para garantir o bem-estar do bebé ou

criança. A simples ação de mudar a fralda pode parecer, à partida, uma tarefa não valorizada, que qualquer pessoa pode assegurar. Contudo, mais do que o simples contacto físico, pode constituir uma ocasião privilegiada para a construção de sentimentos essenciais de segurança e reconhecimento.

o repouso também é essencial, pois quanto mais pequena é a criança,

maior é a sua necessidade biológica de dormir. Existem, no entanto, alguns fatores a ter em conta: adormecer num espaço calmo, silencioso, de modo a que o sono proporcione um momento agradável à criança. Se existir um objeto transacional (um peluche ou objeto preferido), deverá acompanhar a criança neste momento, pois transmite conforto e alívio, permite representar a família ausente e tolerar melhor a separação.

São estes os momentos que fazem parte da rotina diária de uma criança que frequenta a creche. No entanto, Zabalza (1992, citado por Bairos, 2015, p.20) também enumera um conjunto de atividades que considera pertinente existir numa rotina, são elas:

- atividades individuais, de pequeno ou grande grupo;

- atividades realizadas autonomamente pela criança e/ou com a presença e o apoio do adulto;

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- atividades que impliquem desgaste físico e relaxamento e calma, inclusive momentos de sesta para as crianças mais pequenas;

- atividades de interior e de exterior;

- e, ainda, atividades de higiene pessoal e de limpeza da sala.

Perante isto, na perspetiva de Marchão (2003), a rotina diária deve ser flexível, deve promover momentos de troca de aprendizagens significativas e, ainda, a autonomia da criança.

Segundo Oliveira-Formosinho (2007, p.69) criar uma rotina diária é “fazer com que o tempo seja um tempo de experiências educacionais ricas em interações positivas”, dado que também são os momentos da rotina que privilegiam as interações adulto- criança, uma vez que o adulto pode estabelecer um diálogo e uma relação afetuosa com cada criança.

Na creche, os dias das crianças devem ser organizados tendo por base uma rotina que proporcione interações de qualidade, a fim de que as crianças aprendam, explorem e confiem no adulto que está consigo. No entanto, também é crucial que os momentos da rotina sejam alegres, tenham qualidade, respeitem os tempos de cada criança e não sejam stressantes.

Assim, na ótica de Zabalza (1992, citado por Bairos, 2015, p.2),

as rotinas são, como os capítulos, o guião da vida diária de uma turma que, dia após dia, se vai nutrindo de conteúdos e ações. As crianças sabem o nome de cada fase, sabem o que virá depois, sabem qual é o procedimento para realizar determinadas atividades, etc., e, pouco a pouco, vão-se assenhoreando da sua vida escolar, vão-se sentido competentes e, ao mesmo tempo, vão comprovando vivencialmente como cada vez lhe saem melhor as coisas e sabem melhor o que há para fazer e de que forma resultam, e são divertidas, as tarefas.

1.4. O desenvolvimento e as necessidades da criança (18 meses aos 3