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A RPM E OS MUSEUS DA RPM

5.2. A RPM enquanto rede

Este segundo ponto do capítulo é inteiramente dedi- cado à RPM enquanto rede. Nele dá -se conta das modalidades de integração e da evolução do número de museus integrantes e das suas características. sistema de mediação e de articulação entre entidades

de índole museal, tendo por objetivo a promoção da comunicação e da cooperação com vista à qualifica- ção da realidade museológica portuguesa” (Camacho, Freire -Pignatelli e Monteiro, 2001: 32).

Assim, são princípios fundamentais da RPM: a articula- ção, a comunicação, a cooperação, a partilha, a flexi- bilidade, a transversalidade, a potenciação dos recur- sos, a inclusão e a participação (idem: 34 -36). Ainda segundo o mesmo documento, a RPM articula as verten- tes de “rede de informação” e de “rede física”, procu- rando, assim, retirar o carácter redutor que um sistema,

baseado apenas na parte corpórea, teria (idem: 33)11.

Em 2004, com a entrada em vigor da Lei Quadro

dos Museus Portugueses12, dá -se uma redefinição da

noção e dos objetivos da RPM (quadro 5.1). Trata -se de um importante passo com vista à sua institucionali- zação e desenvolvimento.

Esta nova definição da RPM “denota uma evolução face à noção inicial, constante das Linhas Programáticas de 2001, acentuando a vertente sistémica da RPM (nas suas características de organização, progressão e vontade) apontando inequivocamente os ‘museus’ enquanto des- tinatários, em contraste com a amplitude das ‘entidades de índole museal’, mencionadas na definição anterior e posicionando a RPM na política museológica nacio- nal, ao acrescentar o objetivo da descentralização” (Camacho, 2010a: 17). Ainda segundo Clara Camacho a publicação da Lei Quadro dos Museus Portugueses teve quatro consequências principais para a Rede: “a definição da noção de museu; o estabelecimento das funções museológicas; a institucionalização da RPM; a criação do sistema de credenciação” (idem: 17).

11 Para uma abordagem comparativa no tocante às especificidades da RPM relativamente a outros programas de equipamentos designados redes ver Neves (2004: 227-228). Resumidamente, são pontos comuns: assentar em parcerias entre a administração central e local, visar a qualificação de espaços, a diversificação de serviços oferecidos ao público e a formação profissional dos técnicos envolvidos. São características específicas: o modelo institucional adotado (até 2007, com uma autonomia relativamente alargada face à tutela, embora com um horizonte temporal limita- do); visar a qualificação dos serviços e das atividades e não a construção ou reconstrução de infraestruturas; não ter um carácter geográfico de implantação estrito, em geral de âmbito municipal ou distrital; abranger não apenas museus tutelados pelo sector público (incluindo a tutela dos museus), mas também os tutelados pelo sector privado, lucrativo e não lucrativo; e incluir desde a sua origem as regiões autónomas.

12 Lei nº 47/2004, de 19 de agosto.

13 Despacho conjunto nº 616/2000, de 17 de maio, dos Ministérios das Finanças, da Cultura e da Reforma do Estado e da Administração Pública. 14 A 2 de janeiro de 2012 cinco técnicos da RPM receberam um comunicado de cessação de contrato com pré-aviso de 60 dias, mantendo-se em

funções até 29 de fevereiro de 2012, não tendo sido renovada a prestação de serviços a um outro técnico. Este facto determinou a suspensão das atividades da Rede até aí acometidas à equipa, mas não, naturalmente, o fim da própria Rede. Aliás, na lei orgânica da nova DGPC refere-se que são suas atribuições “superintender, reforçar e consolidar a Rede Portuguesa de Museus” (Decreto-Lei nº 115/2012, de 25 de maio, Artº 2, nº 2, alínea c).

Linhas programáticas (2001) Lei Quadro dos Museus Portugueses (2004)

Definição

Um sistema de mediação e de articulação entre entidades de índole museal, tendo por objetivo a promoção da comunicação e da cooperação com vista à qualificação da realidade museológica portuguesa.

Um sistema organizado, baseado na adesão voluntária, configurado de forma progressiva e que visa a descentralização, a mediação, a qualificação e a cooperação entre museus.

O

bj

et

iv

os

Promover a diversidade cultural do panorama

museológico português; -

Recomendar e divulgar boas práticas museológicas, evidenciando os benefícios que a sua adoção poderá trazer;

A promoção do rigor e do profissionalismo das práticas museológicas e das técnicas museográficas;

Promover a divulgação sistemática dos projetos e das

realizações dos museus; A difusão da informação relativa aos museus; Incentivar o desenvolvimento de uma melhor gestão dos

museus, nomeadamente no que respeita ao estudo, à conservação e à divulgação do respetivo património e ao cumprimento da sua missão social;

O planeamento e a racionalização dos investimentos públicos em museus;

Promover a qualificação dos museus, designadamente dos seus espaços funcionais, dos seus serviços técnicos e científicos e das suas atividades dirigidas aos públicos, tendo em conta a especificidade dos respetivos programas museológicos;

A valorização e a qualificação da realidade museológica nacional;

Rentabilizar recursos logísticos, técnicos, científicos e

financeiros; A descentralização de recursos;

Motivar e valorizar a relação entre os museus e a realidade sociodemográfica que os envolve, bem como o seu papel de intervenção social; - Valorizar a interdisciplinaridade, o profissionalismo e a especialização nas várias vertentes da atividade

museológica; -

Fomentar oportunidades de partilha e de cooperação entre os profissionais do sector e entre os vários museus, mediante o desenvolvimento de projetos comuns e o intercâmbio de atividades e de serviços;

O fomento da articulação entre museus; Motivar e valorizar o estabelecimento de parcerias

entre museus e outros agentes culturais locais, regionais e nacionais com vista ao desenvolvimento de projetos comuns e complementares.

A cooperação institucional e a articulação entre museus.

5.2.1 Modalidades de integração

Ao longo do período 2000 -2010 verificam -se quatro modalidades de integração na Rede Portuguesa de Museus: Inerência (que contempla os museus tutelados pelo então IPM e, em 2007, os Palácios tutelados pelo

15 A adesão de novos museus à RPM foi suspensa a 29 de maio de 2003 por despacho do Ministro da Cultura, por estar em curso a preparação da Lei Quadro dos Museus Portugueses. Note-se que as adesões de 2003 e de 2004 resultam de processos anteriores àquela data.

IMC); Protocolo (que contempla os museus tutelados pelas direções de cultura dos governos regionais); Can-

didatura de Adesão (que decorreu 2001 e 200315) e

Candidatura de Credenciação (a partir de 2006 e já de acordo com o novo enquadramento legal conferido pela Lei Quadro dos Museus Portugueses) (quadro 5.3).

Quadro 5.1

Rede Portuguesa de Museus: Definição e Objetivos segundo as Linhas programáticas e a Lei Quadro dos Museus Portugueses Fontes: Linhas Programá- ticas da RPM (Cama- cho, Freire-Pignatelli e Monteiro, 2001: 32 e 36-37) e Lei Quadro dos Museus Portugueses - Lei nº 47/2004, de 19 de agosto (artigos 102º e 203º)

Em 2001 entram na Rede por Inerência os museus tute- lados pelo (então) IPM (28) e efetivam -se as primeiras adesões através de processo de Candidatura (36). Acrescente -se que a candidatura de adesão faz parte da estruturação progressiva do projeto RPM. O objetivo da adesão consistia em estimular as enti- dades museológicas a atingir e a prosseguir padrões de qualidade no cumprimento das funções museológi- cas e a desempenhar o respetivo papel sociocultural, contribuindo deste modo e desde logo para a quali- ficação dos museus (RPM, 2001).

De acordo com o Regulamento (RPM, 2001), esta adesão era voluntária e estava aberta a qualquer tipo de museu, independentemente do seu campo temático, das suas coleções e da sua tute-

la, pressupondo o empenhamento e com- promisso com os princípios e objetivos da própria RPM e devendo ser acompanhada de elementos de verificação da respetiva condição de ‘museu’.

A apreciação das propostas tinha como objetivo fundamental a verificação de que as entidades candidatas correspon- diam à definição de museu do Conselho Internacional de Museus (ICOM), ou seja,

refletindo e cumprindo na sua essência as funções museológicas fundamentais e o papel social o museu. Assim, as vertentes estruturantes do processo de adesão à RPM (que por sua vez correspondiam aos parâmetros de apreciação das candidaturas) consis- tiam no “cumprimento da função social do museu, a observância dos cuidados de preservação e de valo- rização das coleções e dos acervos e condições de sustentabilidade” (RPM, 2001: 4).

Ou seja, ou a entidade candidata preenchia os parâ- metros mínimos e passava a integrar a RPM, ou não preenchia e, então, caso os pretendesse adquirir de forma voluntária, poderia fazê -lo ao longo de um ano. A entidade entrava, assim, em “processo de Ano Coordenação superiores Técnicos Apoio administrativo e técnico Consultores externos i

2000 2 1 1 0 2001 2 2 2 2 2002 2 3 2 2 2003 2 4 3 6 2004 2 4 3 4 2005 1 4 3 4 2006 1 4 3 4 2007 1 4 3 nd 2008 1 4 3 nd 2009 1 4 3 nd 2010 1 4ii 2 0 Modalidade de integração Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Inerência i 28 iii 6 Protocolo ii14 Adesão / Candidatura Adesão 36 19 17 6 Processo de adesão 9 10 11 - Em fase de instalação 5 3 4 -

Não cumprem os quesitos 4 7 7 11

Credenciação/ Candidatura

Credenciação (aprovação

SMCR/CNC) - - - - - - 10

Parecer da SMCR/CNC - - - - 16

Visita e relatório técnico (RPM) - - - - 18 59 5 5 6 Em processo de credenciação - - - - 7 5 10 Formalização da candidatura - - - - 2 4 10 10 Pedido de código de acesso - - - - 30 23 16 9

Integrações na RPM 64 33 17 6 - - 6 - - 10 Encerramento ao público iv1 Cancelamento da Credenciação 4 Quadro 5.2 Recursos Humanos da Rede Portuguesa de Museus (2000-2010) Fontes: RPM. Notas: i) não inclui cinco elementos do Grupo de trabalho que, entre 2000 e 2003, apoiou a EPRPM na afinação conceptual e no desenvolvimento das linhas programáticas (Camacho, 2010a: 13); ii) Acrescem, durante alguns meses do ano de 2010, dois técnicos superiores dos quadros do IMC; nd: Não determinado.

Quadro 5.3

Modalidade de integra- ção na RPM por Ano (números absolutos) Fonte: OAC a partir

de RPM. Notas: i) Museus do IPM;

ii) Museus tutelados pelas das Direções de Cultura da Madeira e dos Açores; iii) Palácios do IMC; iv) O encerramento ao público determinou, por parte da Tutela, a sua saída da Rede.

64 33 17 6 6 64 97 114 120 120 120 125 125 125 131 20 40 60 80 100 120 140 17 6 6 10 -1 -4 -20 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Novas integrações Encerramento ao público Cancelamento da Credenciação Museus integrados na RPM (total anual)

adesão à RPM”16 e podia beneficiar das ações de

formação e dos programas de apoio técnico e de qualificação, embora com limitações. Após este perí- odo, a candidatura voltava a ser apreciada. Voltando ao quadro 5.3, se o ano de 2001 fica marcado pelas primeiras integrações de museus na RPM (por Inerência e por Candidatura de Adesão), em 2002 regista -se a integração, através de Proto- colo, de museus tutelados pelas direções de cultura dos governos regionais, e ainda as adesões decor- rentes da segunda fase de candidatura (19 museus), perfazendo um total de 33 entradas em 2002. Em 2003 todas as 17 adesões decorrem da apreciação de candidaturas. O mesmo sucede em 2004 com a

adesão de 6 museus17.

Em 2004, com a entrada em vigor da Lei Qua- dro, estabelece -se a credenciação como condição necessária para a integração dos museus na Rede. Segundo este documento legislativo, a credenciação consiste na avaliação e no reconhecimento oficial

da qualidade técnica do museu e tem como objeti- vos promover o acesso à cultura e o enriquecimen- to do património cultural através da introdução de padrões de rigor e de qualidade no exercício das funções museológicas dos museus portugueses (artº 110º e 111º da Lei Quadro dos Museus). Implica o cumprimento de todas as funções museológicas enu-

meradas na Lei Quadro18; a existência de recursos

humanos, financeiros e instalações19; a aprovação

do regulamento do museu20; e a garantia do acesso

público às coleções21 (artº 113º).

Por vicissitudes várias (ver adiante ponto 5.3.1), apenas em 2010 se concretiza a entrada de 10 museus por candidatura de credenciação e a sus- pensão da credenciação de 4 museus.

5.2.2 Museus RPM

Ao longo do período em análise, o número de museus integrados na RPM passou de 64 para 131.

Gráfico 5.1

Museus integrados na RPM por Ano (valores absolutos) Fonte: OAC a partir de RPM.

16 Procedimento 6-b) do Regulamento de Adesão (RPM, 2001: 6).

17 Como referido anteriormente as adesões concretizadas em 2003 e 2004 decorreram de processos anteriores à suspensão determinada a 29 de maio de 2003, por despacho do Ministro da Cultura, dado estar em preparação a Lei Quadro dos Museus Portugueses. 18 Estudo e investigação; Incorporação; Inventário e documentação; Conservação; Segurança; Interpretação e exposição e Educação (artigos 8º ao 43º da Lei Quadro dos Museus).

19 Tal como disposto nos artigos 44º ao 51º da Lei Quadro dos Museus. 20 De acordo com o artigo 53º da Lei Quadro dos Museus.

O gráfico 5.1 resume a evolução mostrando o total de museus em cada ano bem como as respetivas

entradas e saídas22. Repare -se que parte substan-

cial das integrações dá -se até 2004 (por inerência, por protocolo e por candidatura de adesão). O quadro 5.4 permite seguir pormenorizadamente o alargamento da RPM e evidenciar as característi- cas dos museus que a integraram no período 2001-

-201023 segundo quatro variáveis: Tutela, Tipo,

Região e Ano de abertura ao público.

Os museus da RPM são maioritariamente museus de Tutela pública, entre os quais avultam os dependen- tes de municípios (mais de 40%). A Administração Central é a segunda tutela com mais expressão (33% em 2010), seguida dos Privados e depois pelos Governos Regionais. O mapa nº 5.1 mostra a distribuição dos museus da RPM por concelho em 2010, diferenciando as Tutelas.

Do ponto de vista do Tipo, estão sobretudo presen- tes os museus de Arte, os Mistos e Pluridisciplinares, e os de Etnografia e Antropologia – os três mais significativos no panorama museológico nacional, como demonstrado nos capítulos anteriores. Mas importa assinalar igualmente a diversidade de tipos representados.

Um relance pela distribuição por Região mostra a presença de museus de todas elas (as do continente em 2001 e as Regiões Autónomas em 2002). Lisboa e Norte são, em todos os anos, as regiões com mais museus integrados na RPM. Em conjunto, compreen- dem sempre mais de metade dos museus.

Quanto ao Ano de abertura sobressaem os perío- dos 1930 -1969 e 1990 -1999 (ambos em redor dos 20%). É também assinalável o crescimento do valor percentual dos museus que abriram ao público na primeira década do século XXI (de 5% em 2001 passa para 12% em 2010).