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RS – Vegetação original florestas e campos nativos

No documento 2006HelenScorsattoOrtiz (páginas 71-75)

Fonte: ZARTH, Paulo Afonso. História agrária do planalto gaúcho 1850-1920. Ijuí: EdiUNIJUÍ, 1997. p.23.

No Planalto sulino, repetia-se a realidade excludente anteriormente formada no sul do Rio Grande do Sul. Estancieiros, em boa parte ex-oficiais das forças armadas, detentores do privilégio, apossaram-se das melhores terras e gerenciavam ricos recursos

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naturais. Politicamente, também comandavam a cena, formando poderosa classe dominadora. Aos primitivos habitantes restou a expulsão, para as matas, ou a integração à sociedade de classes, em forma subordinada, através da venda da força de trabalho nas estâncias ou na extração da erva-mate.

Fardas e terras

O avanço sobre os campos do planalto sulino também se efetivou de forma parcialmente militar, considerando o governo luso-brasileiro que a área em questão se constituía em zona fronteiriça e altamente estratégica. Buscando garantir o povoamento, autoridades lusitanas e locais distribuíram, em forma direta e indireta, aos eleitos, terras para a formação de inúmeras estâncias. Conforme Paulo Zarth, é “necessário destacar que a estratégica posição geopolítica do Sul trouxe como conseqüência uma série de guerras [...]. Diante desse estado de guerra quase permanente, o exército constituía uma presença marcante e que muito influenciou na própria ocupação da província.”151

Paulo Zarth lembra igualmente que a ocupação sulina não se deveu apenas a integrantes do exército; contudo não é possível negar sua importância e o poder que adquiriram no processo. Pessoas que tivessem prestado favores ao governo também poderiam ser agraciadas, assim como aqueles que tivessem recursos para adquirir a terra através da compra. Afora isso, somente a posse, regulada a partir da metade do século 19 pela Lei de Terras.152

No norte do Rio Grande do Sul, os mais altos militares não só recebiam como também concediam as terras. Nisso houve uma significativa diferença em relação à ocupação realizada na metade sul. Lá predominaram as concessões através de sesmarias, enquanto nas terras setentrionais esse instituto acabou não sendo muito usado, ao menos formalmente. Como vimos, a tomada dos campos do planalto iniciou- se em 1820, ao passo que o regime de concessão de sesmarias foi abolido dois anos mais tarde pelo governo imperial brasileiro. Dessa forma, mais recorrentes foram os pedidos de propriedades rurais aos comandantes de fronteira, comandantes gerais; assim como a compra e a posse. 153

151

ZARTH, Paulo Afonso. Do arcaico ao moderno [...]. Ob. cit. p. 53.

152

Id. História agrária [...]. Ob cit. p.52.

153

ZARTH, Paulo Afonso. História agrária [...]. Ob. cit. p. 46 e 48; Id. Do arcaico ao moderno [...]. Ob. cit. p. 60.

Filhos deste solo

Ao mesmo tempo em que se completava a ocupação territorial do Rio Grande do Sul, concluía-se também a exclusão das comunidades caboclas que se encontravam nas zonas de matas. Muitas e muitas vezes de forma violenta, eles foram desalojados das terras e intencionalmente preteridos em favor dos colonos-camponeses. A colonização sulina foi uma política agrária, que, levada a cabo pelos poderes públicos, pretendia dotar o Rio Grande do Sul de uma região agrícola caracterizada pela pequena propriedade em mãos de colonos-camponeses imigrantes europeus. Nesse projeto, não houve espaço para que a população pobre local também pudesse ser inserida socialmente, tornando-se proprietária. Realidade dificultada igualmente pela própria forma de produção daquelas comunidades.154

A paulatina privatização das áreas florestais devolutas acabou por acirrar a luta de classes entre grandes proprietários, ervateiros, caboclos, pequenos agricultores, etc. O fato de não contarem com a propriedade jurídica da terra, não terem grandes recursos econômicos nem influência política, impossibilitou que extrativistas e pequenos posseiros pudessem manter-se nas terras e ervais que usufruíam. De certa forma, foram alvos fáceis, compelidos a migrar ou a vender sua força de trabalho nas zonas rural e urbana. Passaram a atuar em papéis secundários, nas estâncias e na própria infra- estrutura necessária à colonização – estradas, ferrovias, desmatamento, demarcação. 155 Com os filhos deste solo, a pátria amada não foi mãe gentil.

O início da redução das comunidades caingangues do Alto Uruguai deu-se a partir da abertura do passo de Goio-En, ao final da Guerra Farroupilha. Esse processo, retomado em fins do século 19, acelerou-se em 1908-1913, quando do governo republicano, apoiado pela necessidade de terras para a colonização e a nova “doutrina indigenista de cunho positivista, que defendia o respeito às tradições e à evolução cultural das populações nativas”.156 Em 1922, contávamos já com as reservas de Cacique Doble, Carreteiro, Guarani, Guarita, Inhacorá, Ligeiro, Nonoai, Serrinha, Ventarra, Votouro que, nas décadas seguintes, perderiam boa parte de seus territórios.

154

Ver MAESTRI, Mário. Rio Grande do Sul e a imigração italiana em fins do século XIX. In: CARBONI, Florence e MAESTRI, Mário (org.). Raízes italianas [...]. Ob. cit. p. 24; ZARTH, Paulo Afonso. História agrária [...]. Ob. cit. p. 77.

155

MAESTRI, Mário. Ib. p. 24; ZARTH, Paulo Afonso. Ib. p. 98.

156

MAESTRI, Mário. Uma história do Rio Grande do Sul: A República Velha. Desenvolvimento, consolidação e crise do capitalismo regional – 1889-1930. Passo Fundo: EdiUPF, 2005. p. 58.

Por muito tempo a historiografia reproduziu a idéia de que os imigrantes europeus foram os pioneiros na ocupação do planalto. Ao desconsiderar os nativos, os missioneiros, os caboclos extrativistas e posseiros como habitantes primitivos, aquele discurso reforçou a discriminação e exclusão desses sujeitos históricos. Massacrados, subjugados, privados do acesso à terra em vida, foram excluídos da História por longo período. Felizmente, diversos trabalhos historiográficos vêm paulatinamente negando aos imigrantes europeus o primitivismo da ocupação florestal do planalto.

2.3 – Localização e origem de Soledade

O município de Soledade está localizado na metade norte do Rio Grande do Sul, compondo o planalto rio-grandense. Com latitude 29º 03’ 14’’S e longitude 5º 26’ 00’’ W.Gr., encontra-se no alto da Serra do Botucaraí, atingindo uma altitude de 726 metros.157 No século 19, quando o viajante alemão Maximiliano Beschoren ali esteve, declarou que “Nossa Senhora da Soledade está situada no alto de uma coxilha que domina toda a região.”158 Sua área atual é de 1.213,4 km2, para uma população de 30.541 habitantes. 159 Encabeça uma microrregião formada por oito municípios – Barros Cassal, Fontoura Xavier, Ibirapuitã, Lagoão, Mormaço, Soledade, São José do Herval e Tunas – ao longo de uma área de 3.658,40 km2 e 70.773 habitantes. 160

Emancipada desde 1875, Soledade atualmente possui quatro distritos. O 1º é sua sede, o 2º denominado Pinhal, o 3º de Santa Terezinha e o 4º Rincão do Bugre.161 Os limites municipais são formados pelos municípios de Espumoso, Mormaço, Tio Hugo, Ibirapuitã, Camargo, Nova Alvorada, Itapuca, Arvorezinha, Fontoura Xavier, Barros Cassal, Lagoão e Tunas.

157

Os dados referentes à latitude e longitude foram retirados do site www.citybrazil.com.br/rs/soledade>. Acesso: 19 abr. 2005.

158

BESCHOREN, Maximiliano. Impressões de viagem na Província do Rio Grande do Sul – 1875-1887. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1989. p. 30.

159

Dados referentes ao ano de 2005, extraídos do site <www.fee.rs.gov.br>. Acesso: 09 jul. 2006.

160

Dados retirados do site <www.citybrazil.com.br/rs/soledade>. Acesso: 09 jul. 2006.

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No documento 2006HelenScorsattoOrtiz (páginas 71-75)

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