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c) Ruas, praças G passas — As ruas são

No documento A SERRA DA ESTRELLA (páginas 88-93)

calcetadas e resentem-se da configuração do solo, exceptuando a rua principal, a estrada que é sensivelmente plana na sua maior exten- são, como já tive occasião de apontar.

São mais ou menos espaçosas com ou sem passeios, conforme são mais ou menos modernas, e em geral seccas, porque além da constituição e do declive do solo as principaes ruas teem uma boa canalisação que leva todos os resíduos para fora da cidade.

H a no interior da cidade vários largos e

praças que além de a embellezarem e tornarem

muito hygienica servem para nos domingos se eftectuarem mercados, onde os camponezes da circumvisinhança vêem realisar a permutação dos seus géneros entre si e com os egitanien- ses.

Além d'estas feiras semanaes, de dois mercados mensaes mais importantes, e de duas feiras annuaes importantíssimas, ha, e é o que mais importa ao doente, a praça diária, suffi-

cientemente fornecida, mercearias, talhos, etc. onde se encontra uma grande variedade de gé- neros que o doente necessite.

Os passeios mais aproveitáveis para o

doente são o da Boavista uma espécie de amplo terraço rectangular, bastante abrigado d'oeste, e d'onde se abrange para leste um ho- rizonte superior a i 5 léguas, invadindo a raia hespanhola e comprehenclendo a enorme bacia entre a Serra da Gata e a da Estrella.

O solo é secco, arenoso e granitico em parte, e a sua vegetação é representada por um pequeno numero de pequeninas acacias e castanheiros.

Pcra commodidade do passeiante e ser- vindo-lhe de assento ha o muro que limita o passeio e alguns bancos de pedra.

Logo adjuncto á Boavista está o Campo

de S. Francisco também plano, espaçosos des-

arborisado, seguindo-se-lhe logo o melhor pas- seio para o doente — a estrada de Santo Andre e caminho do Forte.

E chamo-lhe o melhor passeio, porque além de ser plano, abrigado d'inverno, e som- breado de verão, conduz para o caminho do Forte que é também naturalmente plano, no descampado montanhoso, com uma imponente payzagem e seguindo por entre pinhaes.

d) 0 vestuário do doente na Guarda tem

de ser em geral de meia estação durante o estio, porque embora de dia esteja calor, de

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manhã e á tarde corre sempre uma aragem fria que nem sempre é impune para o doente que não se acautele.

No inverno deve o vestuário ser de lã e consistente, o calçado forte, etc.

ELEMENTOS SOCIAES

Do exposto a propósito dos elementos urbanos se deprehende em grande parte como serão constituídos os elementos sociaes.

Antes, porém, de mais nada temos a dis- tinguir sob o ponto de vista que nos occupa:

a) a acção do elemento social intrínseco; b) a acção do elemento social extrinseco.

*

—a) De dia ou de noute, em casa, ou fora, no estado physiologico ou pathologico somos constante e continuadamente influen-

ciados por este elemento social.

E é tal a sua influencia, que o clima de indivíduos habitando a mesma casa, e determi- nado, por consequência, só pelo elemento so- cial, diversifica de individuo para individuo, podendo chegar até ao opposto.

Assim, emquanto o favorecido da fortuna occupa aposentos bons e hygienicos, habitará talvez, o seu hortelão uma casa fria e húmida, o cosinheiro terá calor e seccura, e o cocheiro em lojas sem ventilação e luz respirará, talvez, um ar infecto.

E se, por acaso, este no desempenho das suas funcções sae para fora de casa com o pa- trão, ainda se accentua a esmagadora influen- cia do elemento social, pois na almofada goza d'um clima todo outro, incontestavelmente dif- férente do que goza o seu patrão gravemente encapuado dentro do trem.

Terrível desegualdade que se accentua ainda no estado pathologico — doenças dos ri- cos e doenças dos pobres.

Não é porém d'esté elemento social sub- jectivo ou intrínseco que mais importa tractar

aqui, mas do extrínseco; é o que vamos fazer.

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—b) A população da Guarda de 5 a 6000 habitantes, é activa, laboriosa, polida e hospi- taleira. A' falta de industria, entrega-se um pou- co á agricultura, e muito ao commercio local e commissionario.

E como os transportes são em geral feitos por animaes, ha sempre uma accumulação e convivência mais ou menos nociva de animaes e homens na cidade.

O doente deve ter o cuickido de se afastar das proximidades d'estes focos corruptos que alem de lhe perturbarem o somno, ainda lhe infeccionam o ar.

Comprehende além d'isso a Guarda, o" pessoal que preenche as repartições da sede d'um Districto e Bispado importantes com o

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seu respectivo lyceu, seminário e regimento d'infanteria.

Ora as exigências d'esta ultima classe, e em geral da camada social menos favorecida, dá lugar a uma ordem de estabelecimentos, — posto que indispensáveis ao equilíbrio social, — altamente prejudiciaes ao doente, sobretudo quando occupam o rez-do-chão das casas cujos altos são habitadas pelos doentes — refiro-me ás tabernas.

Assim originam-se ahi verdadeiros antros, pittorescos na sua austera e bisonha ornamen- tação, eternamente abafados e desempenhando cumulativameute funcções múltiplas: cozinha, sala de jantar, balcão e club ao alcance de to- das as algibeiras.

De modo que o desgraçado inquilino d o primeiro andar respira entre os vapores cons- tantes da cozinha a suffocante fumarada e o acre aroma de pitéos vários. Accrescendo ainda a tudo isto e para distracção do doente as me- lodias d';.ma musica avinhada.

Ainda referindo-me á casa d'habitaçao, terminarei dizendo que ha uma outra ordem de casas de que o doente deve fugir; são as que teem verdadeiros nascentes d'agoa nas lojas.

A alimentação é boa, abundante e não muito cara; ha boa carne, peixe fresco, legu- mes, bella frueta e o óptimo leite do Jermello, não faltando também o bom vinho.

Ha porem um elemento social ainda e da maior importância para um doente — é o

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