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Rural Específi co: uma aproximação das Terras Indígenas

Um importante desafi o na análise das informações censitárias dos autode- clarados indígenas, em particular na ausência de dados sobre etnia, língua falada e outras características, é o de retratar da maneira mais próxima possível os indígenas residentes em Terras Indígenas. Para tanto, a partir de informações fornecidas pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI, o estudo Tendências demográfi cas: uma análise dos indígenas com base nos resultados da amostra dos Censos Demográfi cos 1991 e 2000, conduzido pelo IBGE em 2005, identifi cou os municípios (um total de 437) nos

quais há Terras Indígenas. Utilizando as informações do Censo Demográfi co 2000, contabilizou-se que, do total de 350 mil pessoas que se autodeclararam indígenas vivendo em situação de domicílio rural, 304 mil viviam nesses municípios (86,7%). Dessa forma, foi denominado “Rural Específi co” (terminologia utilizada no estudo) o conjunto de pessoas indígenas residentes nas áreas rurais dos municípios com Terras Indígenas, em função da estreita relação existente com os povos indígenas residentes nas Terras Indígenas.

A Região Norte concentra o maior número de municípios com Terras Indígenas, enquanto a Sudeste apresenta o menor número, e grande parte dessa população indígena está concentrada nas áreas urbanas dos respectivos municípios. Existem evidências de que os povos indígenas no Brasil estão, em seu conjunto, experimen- tando acelerado crescimento.

As hipóteses levantadas quanto ao notável crescimento da população autodeclarada indígena têm no efeito da autoidentificação o seu ponto forte. Registra-se, entretanto, que nos últimos anos foram realizados diversos estudos

4 Consideram-se desocupadas na semana de referência as pessoas sem trabalho nessa semana que tomaram alguma

demográfi cos que indicam que, em muitas etnias indígenas, houve uma recuperação dos contingentes populacionais, com taxas que variam de 3% a 5% ao ano (PAGLIARO; AZEVEDO; SANTOS, 2005; TENDÊNCIAS..., 2005). Para algumas áreas específi cas, o efeito demográfi co estaria presente, podendo-se citar, neste caso, o aumento das populações de Kadimani e de Auaris – 115% e 152%, respectivamente – devido, essencialmente, ao crescimento vegetativo, que refl ete, antes de tudo, uma diminuição da mortalidade infantil (RAMOS, 1993). Segundo Pagliaro (2005), o crescimento demográfi co observado entre alguns povos indígenas, como Kamaiurá, Nambiquera, Krahô, Bakairi, Canela, Tenetehara, dentre outros, seria resultado da interação de fatores, tais como: a) aumento da capacidade de resistência dessas populações às agressões dos agentes infecciosos, com a menor ocorrência de epidemias; b) contribuição de ações de saúde voltadas para essas populações; e c) organização dos povos indígenas em instituições que agem em sua própria defesa (GOMES, 1991; MELATTI, 1999). Baruzzi e Junqueira (2005) constatam, pelo acompanhamento da distribuição etária dos Panará (Parque Indígena do Xingu) no período 1975/2002, um nítido crescimento populacional. A transferência de alguns povos indígenas, como os Kaiabi, Ikpeng, Tapayuna e Panará, para o Parque Indígena do Xingu colaborou, historicamente, para um sucesso demográfi co, com interrupção das perdas populacionais (BARUZZI, 2005; PAGLIARO, 2005). Vale a pena mencionar que o crescimento demográfi co de signifi cativa parcela dos mais de 200 povos indígenas é um importantíssimo aspecto na recente história indigenista no Brasil (GOMES, 2002; TENDÊNCIAS..., 2005).

Os resultados apresentados pelo ritmo de crescimento anual da população autodeclarada indígena no período 1991/2000, calculado para as áreas rurais dos mu- nicípios com Terras Indígenas, revela que o efeito demográfi co pode ter uma intensa relação, entretanto, para o conjunto das áreas rurais da Região Sudeste, confi rmam que não se trata de mesmo universo populacional.

Segundo Pagliaro (2005), o crescimento médio anual da população nas aldeias Kaiabi, no período 1970/2000, foi 4,5% ao ano. Rodrigues (2005) estimou o crescimento populacional do conjunto de 14 povos indígenas residentes no Parque Indígena do Xingu, no período 1998/2002, em aproximadamente 4% ao ano.

Quanto à dinâmica demográfi ca, nas áreas rurais onde há Terras Indígenas, a média é de 6,2 fi lhos por mulher, e os níveis de fecundidade são sempre mais altos do que os estimados para outras áreas, sendo de 7 fi lhos em média, por mulher, para as Regiões Sul e Centro-Oeste. Estes níveis de fecundidade são compatíveis com os resultados de pesquisas recentes sobre o comportamento reprodutivo de alguns povos indígenas habitantes da Amazônia Legal, por exemplo.

A mortalidade infantil estimada para as pessoas autodeclaradas indígenas re- sidentes na área rural dos municípios com Terras Indígenas, em 2000, foi 45,9 óbitos por mil nascidos vivos. Faz-se um paralelo com o estudo realizado com os Xavante, por Souza, Santos e Coimbra Júnior (2004), onde as taxas calculadas estão dentre as mais elevadas registradas no País. Os autores sustentam

a hipótese de que os indígenas estão atravessando um complexo processo de transição epidemiológica no qual, ainda que as doenças infecciosas e parasitárias persistam como importantes causas de óbito, nota-se também um peso expressivo de doenças crônicas não- transmissíveis e de lesões, envenenamentos e causas externas (SOUZA; SANTOS; COIMBRA JÚNIOR, 2004, p. 3).

Importância dos censos nacionais no conhecimento da

demografi a e da saúde dos indígenas no Brasil ______________________________________________________________

Considerações fi nais