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São Paulo, o Planalto Atlântico e a Bacia Terciária de São Paulo

O Estado de São Paulo está situado na região Sul-Sudeste do país, entre os meridianos 43º05' e 53º10' a Oeste de Greenwich e os paralelos 19º45 e 25o10' de Latitude Sul, sendo cortado, de leste a oeste, pelo Trópico de Capricórnio (23o27 S), que atravessa a metrópole paulistana.

A maior parte da superfície do Estado é drenada por importantes afluentes do Paraná, que correm para o interior do continente, destacando-se as bacias do Grande-Mogi, com cabeceiras nos reversos da Serra da Mantiqueira, e as bacias do Tietê e Paranapanema com suas cabeceiras principais no reverso da Serra do Mar (Almeida 1976). Os rios que deságuam no Oceano Atlântico são de pequena extensão, com exceção do Ribeira de Iguape, situado no litoral sul, com cabeceiras mais afastadas do Oceano, e do Paraíba do Sul, a nordeste, drenando a fossa tectônica entre as Serras do Mar e Mantiqueira, desaguando no litoral do Estado do Rio de Janeiro. Todos estes rios têm suas cabeceiras nas regiões cristalinas do leste.

O território paulista apresenta uma grande diversidade geológica, geomorfológica e climática, conforme bem evidenciado por Ab'Sáber (1956), entre outros autores (FIGURA 5), tendo salientado o fato do Estado localizar-se em uma "flagrante posição de transição em relação às grandes unidades topográficas do leste e do sul do Brasil.

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FIGURA 5. Geologia do leste do Estado de São Paulo e perfil geológico, do Oceano Atlântico à calha do rio Paraná, passando pela Bacia Terciária de São Paulo, com indicação da localização aproximada da Reserva Florestal do Morro Grande (RFMG) (adaptado de Ab Sáber 1992).

Cinco grandes províncias geomorfológicas foram identificadas na superfície paulista por Almeida (1976), denominando-as de Província Costeira ou Litorânea, Planalto Atlântico, Depressão Periférica Paulista, Planalto Ocidental e, entre este e a Depressão Periférica, a Província das Cuestas Basálticas, não reconhecida anteriormente como província geomorfológica. Dentro destes grandes domínios, menores unidades do relevo podem distinguir-se, inclusive unidades de origem e contemporaneidade diferentes, como as bacias terciárias de Rio Claro, São Paulo e Médio-Paraíba (Taubaté), a primeira na Província da Depressão Periférica e as outras citadas na Província do Planalto Atlântico. Estas mesmas províncias foram adotadas e melhor descritas e delimitadas por Ponçano et al. (1981), notadamente os limites da Província das Cuestas Basálticas (FIGURA 6).

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FIGURA 6. Províncias ou divisões geomorfológicas do Estado de São Paulo: I. Província do planalto atlântico; II. Província litorânea; III. Província da depressão periférica paulista (1. Zona do Médio Tietê, 2. Zona do Paranapanema e 3. Zona do Mogi-Guaçu); IV. Província das cuestas basálticas; V. Província do planalto ocidental. O Planalto de Ibiúna está demarcado com o número 11, na Província I, Planalto Atlântico. (Almeida 1976 apud Ponçano et al. 1981).

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Do litoral, ou região da Província Costeira, em direção ao interior, aparecem os relativamente altos e extensos planaltos cristalinos, marcados por vários níveis de erosão, relacionados com as montanhas cristalinas a leste. Este conjunto de planaltos interiores forma talvez a mais característica unidade dentro de São Paulo (James 1946), denominada província do Planalto

Atlântico por Almeida (1976) e Ponçano et al. (1981) ou grande parte do Cinturão Orogênico do

Atlântico, por Ross & Moroz (1997). Basicamente pode ser representado pelas regiões montanhosas cristalinas das serras do Mar e da Mantiqueira, incluindo o vale do Paraíba e outras pequenas bacias sedimentares terciárias, como a Bacia Sedimentar de São Paulo (Almeida 1976, Ponçano et al. 1981), consideradas como unidade à parte por Ross & Moroz (1997).

De modo geral o Planalto Atlântico corresponde ao domínio dos mares de morros florestados atlânticos de Ab Sáber (1970c, 1971), sendo nessa região que se desenvolvem os estudos de vegetação aqui apresentados.

As outras províncias de Almeida (1976) são relacionadas à Unidade da Bacia Sedimentar do Paraná, por Ross & Moroz (1997), sendo a primeira resultante da escavação periférica do pacote sedimentar em contato com o cristalino, já denominada de Depressão Periférica Paulista por L.F. Moraes Rego, em 1932, termo adotado por Almeida (1976) e Ponçano et al. (1981). Ao oeste, a província do Planalto Ocidental apresenta-se como extenso planalto sedimentar levemente inclinado para a calha do rio Paraná.

Estas duas províncias possuem diversos níveis de erosão e abrasão sobre rochas sedimentares, intercaladas, sobrepostas ou sustentadas por rochas eruptivas básicas (Almeida 1976). Entre estas, Almeida (op.cit.) distinguiu uma quinta província geomorfológica, localizada em região intermediária à depressão periférica paulista e o planalto ocidental, a Província das Cuestas

Basálticas (FIGURA 6), justamente a área de escavação ( erosão ) do pacote de sedimentos. Um

relevo de cuestas sustentados pelas rochas basálticas, ou por rochas oriundas da metamorfização dos sedimentos em contato com a lava quente, empresta a essa região uma morfologia de rara beleza e singularidade na paisagem do interior paulista.

Esta configuração seria resultante do soerguimento pós-cretácico, proporcionando o entalhe de grandes cursos de rios paralelos, configurando-se as atuais bacias do Paranapanema, Tietê e Grande, atravessando o pacote de sedimentos sobrepostos, desde os velhos terrenos cristalinos de leste até a calha central correspondente ao rio Paraná, a oeste. Afluentes destes rios teriam

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entalhado a periferia da bacia sedimentar, na zona de transição com os terrenos cristalinos, onde as diversas formações eram menos espessas e não protegidas pelo edifício basáltico, mais resistente. Ao fim do Cretáceo, boa parte do Planalto Sul-Brasileiro deveria assemelhar-se a uma vasta extensão de terras baixas, nas quais se entremeavam restos aplainados e esbatidos de núcleos cristalinos antigos, além de porções aflorantes do platô basáltico e planícies estabelecidas em extensos planos lacustres lineares. Até então, havia imperado na região um sistema endorrêico, regido pelas condições de um clima semi-árido (Ab Sáber 1969a).

Um clima mais úmido, com sistema hidrológico exorrêico, estabelecido depois do Cretáceo, enquanto o planalto entra em soerguimento, deu início à fase de entalhamento e esculturação generalizada que ocorreu em toda a região meridional do Brasil, com entalhamento da depressão periférica paulista (Ab Sáber 1969d). O clima regional, durante a fase de entalhamento da Depressão Periférica, deve ter sido sensivelmente mais úmido do que no Cretáceo (Ab Sáber 1951, 1957a, 1969a).

Segundo Almeida et al. (1981) o soerguimento epirogênico foi o movimento predominante no Estado durante a maior parte do Terciário. Seria devido a ele o modelado do relevo tal qual hoje se apresenta, com a escavação do Vale do Ribeira e da Depressão Periférica resultando nas cuestas por erosão diferencial.

Ao final do Cretáceo, uma nova fase de movimentos da crosta terrestre, teria desempenhado um papel essencial na configuração topográfica contemporânea (Suguio 1999). Estes movimentos, denominados amplamente de neotectônica ocorreriam até hoje (Hasui 1990 apud Suguio 1999). Estas manifestações tectônicas teriam sido responsáveis por deformações cenozóicas em toda a plataforma brasileira, expressando-se em uma nova compartimentação do relevo em unidades neotectônicas, os quais teriam sido sedimentadas no decorrer do terciário, representando as grandes formações terciárias do Brasil, da Amazônia às pequenas bacias terciárias paulistas, como as deRio Claro, Taubaté e São Paulo, dentre outras (Suguio 1999).

A par das diferentes opiniões sobre o período e a contemporaneidade da deposição da Bacia Sedimentar de São Paulo (FIGURA 7) em relação às Bacias de Taubaté, Tremembé e Rezende (vale do Paraíba), expressas por Ab Sáber (1951, 1957b, 1969c) e Ricominini, Turcq & Suguio (1991), esta teria início no paleógeno (eoceno-oligoceno), mais provavelmente no Plioceno (Almeida 1976, Hasui & Ponçano 1978 apud Almeida et al. 1981) ou Mioceno (Ab Sáber 1969b).

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No entanto, todos concordam que as últimas camadas da Formação São Paulo podem ser interpretadas como devidas à deposição sob um sistema fluvial meandrante, sob clima úmido e de tectonismo brando.

FIGURA 7. Perfil geológico / geomorfológico atravessando a região metropolitana de São Paulo e Bacia Sedimentar ou Terciária de São Paulo, do Oceano (São Vicente) a serra da Cantareira (Fontes: Ponçano et al. 1981, Ab Sáber 2003).

Os movimentos tectônicos teriam ocasionado uma falha contrária ao curso do paleo-Tietê, formando uma barragem tectônica , resultando na bacia flúvio-lacustre de soleira tectônica, dando início à gênese da bacia de São Paulo, toda constituída de sedimentos argilo-arenosos terciários e sistema de drenagem predominantemente endorreico. Um lento movimento de epirogênese positiva, ocorrido ao longo do quaternário, fez com que este pacote de sedimentos viesse a ser novamente entalhado pelos altos cursos dos rios Tietê e Pinheiros (Ab Sáber 1969b, 2004), reestabelecendo-se a drenagem exorrêica. Sobre esta bacia sedimentar terciária, rodeada de terrenos cristalinos, cresce hoje a metrópole paulistana.

Supondo a existência de climas tropicais úmidos contemporâneos à paleo-bacia flúvio lacustre terciária, as regiões mais elevadas do cristalino poderiam ter suportado florestas em torno de uma grande região úmida e de rios com cursos meandrantes. Ao contrário, durante climas mais secos,

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formações campestres poderiam expandir-se no entorno e mesmo avançado sobre a região da atual bacia de São Paulo, agora drenada pelo Tietê.

Costumeiramente, as grandes províncias geomorfológicas paulistas têm sido relacionadas à vegetação (Catharino 1989, Mantovani 1993, Ivanaukas 1997). No entanto, essas grandes regiões foram secundariamente tratadas no último mapa geomorfológico do estado (Ross & Moroz 1997), considerando novas técnicas e enfoques no mapeamento geomorfológico. Estes autores adotaram uma divisão primária do Estado, de base estritamente geológica, dividindo-o em três grandes Unidades Morfoestuturais: o Cinturão Orogênico do Atlântico, a Bacia Sedimentar do Paraná e as Bacias Sedimentares Cenozóicas, trazendo um novo entendimento sobre a geomorfologia paulista, apesar de suas unidades morfoesculturais assemelharem-se à divisão de Almeida (1976) e Ponçano et al. (1981).

Deve-se ponderar, no entanto, que esta classificação não considera a topografia do terreno associada a variações e gradientes climáticos, tratando as bacias terciárias separadas da paisagem do entorno, por exemplo, devendo ser utilizada secundariamente em comparações biogeográficas. Assim, consideramos a divisão geomorfológica de Almeida (1976), aprimorada por Ponçano et al. (1981), como base para o entendimento fitogeográfico, sem desconsiderar a moderna classificação (Ross & Moroz 1997), e a origem e idade das formações superficiais da paisagem.

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