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5 ESTUDO DE CASOS

5.1 DESCRIÇÃO DOS CASOS

5.1.6 SÉRGIO J MATOS

Sergio José de Matos29 é designer de produto formado pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) na Paraíba e, desde 2008, atua com o desenvolvimento de produtos utilizando como processo produtivo a prática artesanal (FIGURA 21).

                                                                           

FIGURA 21: Sérgio J. Matos. Fonte: Site Nas Entre Linhas, 2013

 

Sérgio J. Matos é um mato-grossense paraibano, que descobriu, durante a universidade, o cenário da cultura popular nordestina, somou-o a suas referências da região centro-oeste e desde então desenvolve e confecciona móveis e objetos decorativos e utilitários a partir desses repertórios (OLIVEIRA, 2014). Seu trabalho vem cada dia mais ganhando espaço nas mídias nacionais e internacionais por criar objetos de design contemporâneo a partir da referência material de artefatos artesanais.

Em 2008, foi premiado pelo I Prêmio SEBRAE Minas de Design, posteriormente, dedicou-se à academia por dois anos como professor substituto no curso de Design pela Universidade Federal da Paraíba (Campus Rio Tinto), e seguiu                                                                                                                

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Sérgio José de Matos é designer, formado pela UFCG – PB, tem 37 anos e atua com ações que aproximam a área do design ao artesanato desde 2009.

com o desenvolvimento de produtos em seu estúdio - Stúdio de Design Sérgio J. Matos.

Por desenvolver produtos manufaturados utilizando as habilidades e os saberes de artesãos locais em parte do processo de confecção dos seus produtos, Sérgio criou uma relação direta com o artesanato. A partir disso, teve a oportunidade de atuar, a partir de 2012, como consultor em grupos de produção artesanal.

Suas primeiras demandas de trabalho com grupos de produção artesanal foram solicitadas pelo SEBRAE-PB e posteriormente atuou no Programa Jovem Artesão (em 2013) vinculado ao Museu do Homem do Nordeste e à Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ) localizado no Recife–PE com a proposta de orientar o processo de criação e produção de produtos inspirados nos gradis de ferro da arquitetura histórica do Recife antigo.

A partir dessas experiências, Sérgio aproxima o design e o artesanato de duas maneiras diferentes: projeta os seus produtos seguindo tendências de mercado com referências locais criando objetos autorais que são produzidos por artesãos da região da Paraíba e desenvolve ações junto a grupos de produção artesanal estimulando a produção coletiva de objetos com foco na geração de renda e na inclusão social.

Ele comenta que atua de acordo com a solicitação e com os prazos estabelecidos pelas instituições de fomento e que o tempo dos projetos varia de quatro a seis meses. Por iniciar suas ações junto a grupos de produção artesanal recentemente e por desenvolver produtos autorais voltados para públicos específicos, Sérgio adaptou o modelo de atuação que desenvolve no Studio para as ações em grupos produtivos. Essa dinâmica proporciona uma troca de experiências e conhecimentos que colaboram com os resultados de suas ações.

5.1.6.1 Modelo de Atuação

O processo de desenvolvimento de produtos utilizado pelo Stúdio de Design Sérgio J. Matos mescla teoria e prática de metodologias projetuais aproximando o

As demandas para a realização das ações junto a grupos de produção artesanal chegam através de agentes de fomento que convidam Sérgio para executar algum projeto específico.

Ele nunca participou de edital de fomento ou buscou parceria com agentes de fomento para desenvolver seus trabalhos com os artesãos. As ações nasceram de iniciativas pessoais e do desejo de aproveitar a mão de obra e o talento dos artesãos locais.

Após as primeiras experiências junto a grupos produtivos, Sérgio adaptou sua maneira de trabalhar no Studio para essas novas ações externas.

A partir de 11 etapas, o seu modelo de atuação é executado da seguinte maneira: 1. Pesquisa local; 2. Levantamento de materiais; 3. Levantamento de temas para o conceito; 4. Geração de ideias; 5. Aprimoramento das ideias; 6. Testes; 7. Protótipos; 8. Peça piloto; 9. Produto final; 10. Divulgação; e 11. Lançamento. As etapas 1 e 2 são realizadas diretamente nas comunidades, são as etapas comuns em todos os projetos dele: o momento inicial do diagnóstico. Nesse momento ele tem os seus primeiros contatos com os artesãos e conhece um pouco da história do local e quais as técnicas e matérias que o grupo já utiliza. Da terceira à sétima etapa, o que ele chama de segundo momento da ação, as atividades acontecem internamente no estúdio, a conceituação, os testes com os materiais e o desenvolvimento inicial das alternativas dos produtos. Após essas etapas ele retorna à comunidade para produção das peças piloto, ele observa a identificação dos artesãos com os produtos propostos, apresenta as técnicas mescladas aos conhecimentos prévios dos artesãos e acompanha o processo de produção do produto final.

Após a primeira tiragem dos produtos finalizados, Sérgio retorna ao estúdio e, junto com o órgão de fomento, realiza a divulgação do trabalho executado por meio das mídias e redes sociais e encerra a ação com o lançamento dos produtos em feiras, exposições e eventos nacionais. Os artesãos também apresentam e comercializam seus produtos em eventos e feiras da região, mas, devido ao reconhecimento nacional e internacional do designer, o impacto desta ação é maior quando vinculada ao nome dele. Ele não participa diretamente do processo de comercialização junto aos artesãos, mas se posiciona como articulador, quando recebe alguma encomenda dos produtos desenvolvidos pela comunidade ele encaminha o contato direto para o grupo e, caso o grupo necessite de ajuda, ele

auxilia com a logística de embalagem e distribuição e adiciona ao preço do produto final estes gastos.

No estúdio, esse modelo é utilizado desde 2010 e, a partir de 2012, é aplicado para ações em grupos produtivos. Esse modelo pode ser realizado integralmente em conjunto com o grupo de artesãos, ou simplesmente aplicando etapas específicas. No projeto desenvolvido com o Programa Jovem Artesão (Recife-PE), todas as etapas foram realizadas coletivamente com os jovens participantes do projeto. Nesse caso, os jovens compreenderam todo o processo criativo para desenvolvimento de produtos e criaram seus próprios produtos a partir do conceito principal que eram as grades encontradas na arquitetura antiga da cidade de Recife. Sérgio ressalta que os jovens se apropriaram do conhecimento e dos ensinamentos para desenvolverem “sozinhos suas próprias peças” (FIGURA 22).

           

FIGURA 22: Produtos e participantes da ação design e artesanato desenvolvido por Sérgio J. Matos para o Programa Jovem Artesão. Fonte: Site Nas Entre Linhas, 2013

Nesse projeto, Sérgio não retornou ao estúdio para pensar nos possíveis produtos. Tudo foi desenvolvido coletivamente a partir de experimentações e vivências com os jovens. Para ele a proposta do agente de fomento é que direciona as suas ações, assim o Programa Jovem Artesão tinha como objetivo envolver os

jovens em todo o processo de criação e isso nem sempre acontece em outros projetos, visto que uma ação como essa demanda mais tempo de contato com os artesãos, consequentemente mais investimento do financiador.

O tempo médio de atuação em projetos junto a grupos de produção artesanal varia de três a quatro meses. A maioria dos projetos realizada em grupos produtivos veio através do SEBRAE-PB. Nesse tipo de trabalho, Sérgio atua como pessoa física e conduz as visitas e oficinas de design sozinho. Por ser reconhecido na área do design e arquitetura, as ações e produtos desenvolvidos junto a comunidades artesanais ganham rapidamente destaque na mídia, aumentando a visibilidade das ações e potencializando a comercialização dos produtos.

Sérgio não comercializa os produtos desenvolvidos nas comunidades. Ele auxilia em exposições e feiras e, caso existam encomendas, ele encaminha diretamente para os grupos produtivos.

Das propostas realizadas junto a grupos de produção artesanal, Sérgio também cria novos produtos autorais a partir dos materiais ou técnicas desenvolvidas junto aos grupos. Por exemplo, a Mesa de centro Acaú foi desenvolvida após uma ação junto ao grupo produtivo de Pitimbu-PB a partir da coleção Corais de Acaú (linha de produtos decorativos) (FIGURA 23).

 

Figura 23: Artesão e vaso coleção Corais de Acaú e Mesa de Centro Acaú (produto Stúdio de Design Sérgio J. Matos. Fonte: Sérgio J. Matos, 2014.

Essas experimentações plásticas desenvolvidas por Sérgio mantêm uma relação com as comunidades já atendidas em projetos junto a grupos produtivos,

visto que esses, muitas vezes, além de desenvolverem os seus próprios produtos, passam a confeccionar os produtos projetados pelo Stúdio de Design Sérgio J. Matos.

Para as atuações junto a grupos de produção artesanal, Sérgio trabalha como pessoa física e conduz as visitas e oficinas de design sozinho, visto que sua ação é voltada somente para desenvolvimento de novos produtos. Outras questões que envolvem temas como empreendedorismo, gestão do grupo e vendas, por exemplo, são realizados através de outras consultorias e não por ele. A temática sobre sustentabilidade se mantém em propostas de aproveitamento de materiais locais estimulando principalmente o aumento de geração de renda para os artesãos.