• Nenhum resultado encontrado

Devido à diversidade de sinais neurológicos encontrados nos animais infectados com cinomose, Amude et al., (2012) agruparam as apresentações em três síndromes clínicas levando em conta também a idade, imunização e

história clínica. A encefalite pela cinomose em cães imaturos é caracterizada por acometer animais de até um ano, com sinais gastrointestinais iniciais, seguido de convulsões e mioclonia. A encefalomielite multifocal pela cinomose em cães adultos, também chamada de crônica, acomete animais adultos e observa-se inicialmente fraqueza nos MPs e ataxia, que progride para tetraparesia ou tetraplegia espastica. A encefalite do cão idoso acomete animais acima de seis anos, é de curso crônico e rara ocorrência, onde observam-se alterações de comportamento e sinais cerebelares como hipermetria, mas não se observa mioclonia (VANDEVELDE et al., 1980; AMUDE et al., 2012)

A encefalomielite multifocal do cão adulto, apesar de descrita como rara na literatura, é observada frequentemente em áreas endêmicas como o Brasil (AMUDE et al., 2012) e estudada neste trabalho.

2.1.2.1. Sinais clínicos da encefalomielite multifocal do cão adulto

Nos animais infectados podem-se observar sinais isolados ou associados de hiporreflexia (TUDURY et al., 1997), envolvimento de nervos cranianos, alteração sensorial, mioclonia e alteração de comportamento, que podem se apresentar isoladamente ou em conjunto, como por exemplo, os animais que apresentam exclusivamente paraparesia e ataxia como sinal clínico ou sinais cerebelares ou vestibulares (TIPOLD et al., 1992; DEEM et al., 2000).

Os sinais clínicos vestibulares centrais podem se caracterizar por desvio lateral de cabeça, nistagmo, desequilíbrio, alteração de outros nervos cranianos e alteração da propriocepção consciente, já os sinais cerebelares podem ser ataxia, hipermetria e tremor intencional de cabeça (TIPOLD et al., 1992).

Estudos focam principalmente nos sinais clínicos neurológicos de animais que sofreram eutanásia ou óbito natural e se limitam principalmente a dados histopatológicos, já que os métodos de diagnóstico laboratoriais in vivo podem originar falsos negativos, o que diminui a acurácia diagnóstica. Os

achados histológicos da encefalite do cão velho e encefalomielite multifocal do cão adulto diferem. A encefalite do cão velho produz inicialmente perda da acuidade visual e progride para demência e andar compulsivo em círculos. Na encefalomielite multifocal do cão adulto observa-se ataxia e paraparesia, que progride para nistagmo, lesão do nervo facial, desvio lateral da cabeça, tremores de cabeça e atrofia muscular. Em ambos os casos observam-se reflexo de ameaça diminuído e alteração das reações posturais e reflexos espinhais (VANDEVELDE et al., 1980).

A mioclonia é um movimento rítmico caracterizado pela contração de um grupo muscular, seguido de seu relaxamento de frequência esporádica ou rítmica e pode se apresentar um movimentos finos ou grosseiros. Quando esporádica, não ocorre por grandes períodos, pode ser considerada como eventos isolados e confundida com convulsões focais, pois não apresenta perda de consciência. Na mioclonia rítmica pode-se apresentar de forma constante, episódica, relacionada com movimento, postura ou repouso e pode ser focal ou difusa (LORENZ et al., 2012).

Na cinomose observa-se a mioclonia repetitiva constante, caracterizada por contração involuntária rítmica, entretanto também pode ocorrer em situações raras em raças específicas, por administração de alguns fármacos ou em outras doenças inflamatórias, como meningoencefalomielites e intoxicação por chumbo. A mioclonia secundária à cinomose foi descrita pela primeira vez em 1862 e ocorre mais frequentemente nos grupos musculares flexores de um membro, mas pode afetar mais de um grupo muscular e mais de um membro, bem como a musculatura facial e mastigatória. A mioclonia ocorre em menos da metade dos casos e sua fisiopatologia não está totalmente elucidada (BREAZILE et al., 1966; TIPOLD et al., 1992; SILVA, 2005; AMUDE et al., 2006; GREENE e APPEL, 2006).

Normalmente a mioclonia repetitiva constante permanece ao movimento, repouso, sono ou anestesia leve, porém no repouso ou sono sua frequência e severidade podem diminuir. A mioclonia pode aparecer em qualquer fase da cinomose, mas normalmente é observada após a resolução dos sinais clínicos sistêmicos (LORENZ et al., 2012).

A mioclonia repetitiva induzida por fármacos, como a morfina, etomidato e propofol, desaparece rapidamente ou após a biotransformação dos fármacos (LORENZ et al., 2012).

Estudos experimentais demonstraram que o gatilho da mioclonia pode ser por lesão nos núcleos basais, que funcionaria como um marca-passo na medula espinhal ou no tronco encefálico (SUMMERS et al., 1995; AMUDE et

al., 2006; LORENZ e KORNEGAY, 2006). A lesão oriunda do vírus causa uma

irritação neural local nos neurônios motores da medula espinhal ou no núcleo dos nervos cranianos no tronco encefálico (TIPOLD et al., 1992; GREENE e APPEL, 2006).

Segundo Chrisman et al. (2005) as despolarizações rítmicas que originam as contrações musculares, provavelmente são produzidas na substancia cinzenta da medula espinhal, no caso das contrações da região cervical, tronco e membros, e do tronco encefálico, quando ocorrem na cabeça. A mioclonia em membros persiste mesmo com a transecção da medula cranial ao segmento relacionado e/ou transecção das raízes dorsais do segmento correspondente a inervação motora do membro e cessa apenas com a transecção dos NMI (BREAZILE et al., 1966; CHRISMAN et al., 2005).

Inada (1989) confirmou que os neurônios motores inferiores são os principais desencadeadores da mioclonia, já que pela eletromiografia a contração pode não ocorrer de forma sincronizada e inicia-se em tempos diferentes em um ou mais músculos. Outra evidência que os neurônios motores inferiores originam a mioclonia é que ela permanece rítmica tanto nos momentos de vigília, quanto nos sono NREM e REM (INADA et al., 1993).

Quanto à localização, a mioclonia pode estar presente em um membro ou grupo muscular ou em mais de um grupo muscular. Frequentemente persiste na atividade, descanso, sono ou anestesia, entretanto tanto no descanso quanto no sono a intensidade pode diminuir em casos (INADA et al., 1993)

Não há tratamento efetivo para mioclonia, entretanto o bolus intravenoso de lidocaína pode interromper ou reduzir a frequência. Anticonvulsivantes não

são efetivos e em alguns animais pode melhorar espontaneamente ao longo dos anos. Quando a mioclonia interfere na locomoção ou alimentação a eutanásia é normalmente recomendada (GEBARA, 2004; GREENE e APPEL, 2006; LORENZ e KORNEGAY, 2006).

Documentos relacionados