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Na Figura 5 os problemas de agência identificados no referencial teórico e os desafios de governança levantados após a análise de conteúdo são colocados lado a lado. É possível perceber relações, ao menos parciais, entre as questões encontradas no referencial teórico e o produto da investigação.

Figura 5 - Fragilidades de Agência x Desafios de Governança Fonte: Autoria própria

Ao juntarmos os problemas de (A) difusão tanto de objetivos quanto de (B) atores responsáveis pelo direcionamento e monitoramento das empresas públicas podemos explicar em parte os desafios da (1) falta de direcionamento e monitoramento e a (4) carência da fiscalização sobre os resultados.

Os (C) problemas relacionados a influência política potencializados pelas incertezas causadas por outras fragilidades (p.ex.: A e B) podem explicar o fato (2) da estatal ser vista como parte da administração direta e a (5) baixa efetividade dos conselhos de administração.

As (D) regras específicas interferindo nos negócios das estatais podem explicar as (4) dificuldades de operação causadas pelas particularidades dos processos de aquisição e contexto trabalhista.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo de caso se lançou a identificar os principais desafios da governança corporativa nas empresas públicas federais do Brasil.

Ao longo do marco teórico percebe-se que a essência dos problemas de governança nestas organizações está relacionada as razões da participação do Estado no setor produtivo. As visões industrial e social explicam que a criação das estatais como instrumentos de desenvolvimento econômico e social tem um efeito colateral de dar complexidade ao conjunto de objetivos aos quais estas instituições devem perseguir. Enquanto a utilização política das estatais, explicada pela visão política, reduz a capacidade com que as empresas conseguem perseguir os objetivos dos proprietários em detrimento de interesses particulares.

Foi possível identificar a manifestação acentuada destes problemas no sistema brasileiro de governança das empresas públicas federais. No sentido que a multiplicidade de atores e regimentos a serem seguidos amplificam as dificuldades de direcionamento e monitoramento destas empresas. Destacou-se de forma específica neste sistema quatro problemas centrais: multiplicidade de objetivos, multiplicidade de supervisores, interferência política e regras diferenciadas de funcionamento em relação ao mercado.

Complementarmente também se trouxe ao referencial teórico o aprendizado possibilitado pelas bibliotecas de melhores práticas da OCDE, BM&F Bovespa e na própria legislação brasileira. A análise das melhores práticas complementou os dados bibliográficos essenciais para construção do roteiro de entrevistas utilizado na etapa de pesquisa de campo do trabalho e também foram úteis ao analisar os achados destas entrevistas.

Foram entrevistados atores importantes no desenvolvimento da governança corporativa com experiência nos papeis de conselheiros, dirigentes, envolvidos com controle e na supervisão ministerial. Os entrevistados responderam perguntas nas categorias de Estado, mercado, programas de responsabilidade e conselho de administração.

O trabalho teve diversas limitações. Se deteve na experiência de um conjunto restrito de caso e atores e, portanto, tem sua capacidade de generalização limitada. Ainda assim, tomou-se o cuidado de enquadrar o estudo dentro das empresas públicas federais mesmo contando com atores com participação em outros tipos de estatais. O estudo também não incluiu no seu escopo o cruzamento aprofundado dos desafios identificados contra as melhores práticas.

Ainda assim foram identificados cinco desafios de governança para as empresas públicas federais. Há um destaque para os efeitos da multiplicidade de atores com papel de supervisão e monitoramento colocando as empresas em uma configuração de incerteza do que é esperado delas, tornando pouco relevante o monitoramento realizado pelo Estado e também fragilizando o controle sobre os resultados.

Também foi identificado que aliado aos efeitos da multiplicidade de objetivos e atores governamentais, o ambiente político tem um efeito de afrouxar as fronteiras entre a gestão da empresa pública e a administração direta, interferindo na efetividade dos conselhos de administração e no design de negócios das empresas públicas.

Finalmente, foram encontrados desafios relacionados a dificuldade em operar de forma competitiva, enquanto se obedece às legislações e práticas exclusivas para aquisições e contexto trabalhista.

As empresas estatais e seu subconjunto de empresas públicas federais são um importante instrumento de desenvolvimento econômico e social para o Brasil. A correta governança destas empresas é um ponto central para que elas não sejam usadas como anteparo fisiológico e consigam cumprir sua missão junto à sociedade. O amadurecimento deste sistema passa por diagnosticar e aprimorar desde arranjos mais estratégicos como que órgãos efetivamente provêm direcionamento as estatais, quanto a ajustar práticas pontuais como a correta instrumentação dos conselhos de administração. Este trabalho dá uma pequena contribuição nesse processo ao ajudar na identificação dos principais desafios de governança a serem superados nas empresas públicas federais do Brasil.

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