• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 6.  CONCLUSÕES 122 

6.1.  Síntese 122 

A teoria das actividades de rotina de Cohen e Felson, a perspectiva da escolha racional de Clarke e as estratégias de prevenção apresentadas, com especial destaque para a prevenção situacional de Clarke, permitem-nos retirar três conclusões:

1. Para certo tipo de crimes ocorrerem, tem que existir uma convergência no tempo e no espaço de três elementos em simultâneo: um delinquente

123

motivado, um alvo apropriado e a ausência de um guardião capaz;

2. O processo de tomada de decisão do delinquente em cometer um crime é desenvolvido no sentido de satisfazer uma necessidade, e essa satisfação envolve tomar decisões e escolhas, constrangidas pelo facto de que existem limites de tempo, habilidade e disponibilidade de informação relevante; 3. É possível reduzir a oportunidade da prática de actos criminosos, mediante o

aumento do esforço necessário para a sua prática, aumento do risco de ser apanhado, redução das recompensas pela prática do crime ou remoção das desculpas para justificar a sua prática.

O conhecimento destas teorias leva-nos a concluir que é possível reduzir, de forma reiterada, a oportunidade para o cometimento de crimes. Dos três elementos necessários para que um crime ocorra, dois podem ser manipulados: podemos colocar um guardião capaz no local certo à hora certa, ou podemos retirar o alvo apropriado, mediante campanhas de sensibilização às eventuais vítimas de crimes. No entanto, isto só é possível se tivermos informação relativa ao local e hora a que o crime ocorre, e qual o perfil da potencial vítima.

Os modelos de policiamento têm sofrido uma evolução no sentido da recolha de informações policiais, desde o modelo tradicional, que está provado que não funciona, até ao modelo de Intelligence-led Policing. Neste novo modelo, as informações policiais deixam de ser uma actividade acessória da actividade operacional, para passarem a ser reconhecidas como suporte principal para a definição do planeamento estratégico e orientação de meios policiais.

124

A PSP, enquanto Força de Segurança, foi criada para prosseguir uma das tarefas que constitucionalmente se encontram atribuídas ao Estado, produzindo deste modo um serviço – a segurança interna.

No sentido de modernização da sua actividade, acompanhando as tendências de outros países, a PSP introduziu, em 2004, o sistema Estratégico de Informação, Gestão e Controlo Operacional, com o objectivo de assegurar a criação, manutenção e disponibilização da informação necessária e relevante à actividade operacional e de gestão da PSP, garantindo a sua actualização, coerência, integração e acessibilidade em tempo útil e de forma segura.

No entanto, a Polícia de Segurança Pública não é a única responsável pela segurança dos cidadãos. O Sistema de Segurança Interna integra várias Forças e Serviços de Segurança, existindo ainda uma co-produção desta atribuição do Estado por parte de empresas de Segurança Privada, das Polícias Municipais e de várias entidades públicas e privadas mediante a celebração de Contratos Locais de Segurança.

A actividade de segurança e ordem públicas é uma das principais atribuições do Estado, sendo o sector de actividade com o quarto maior valor do Orçamento de Estado em 2008, tendo sido gastos cerca de 2.720,8 milhões de euros, correspondendo a 1,6% do PIB. No entanto, como verificámos, existem ainda outros custos, associados à insegurança.

O impacto do crime no turismo é um factor de significativa importância num destino, especialmente num país onde o turismo assume uma importância estratégica na

125 economia, como é o caso de Portugal.

A unidade territorial com competência para prosseguir as atribuições da PSP na sua área de responsabilidade do distrito de Faro, principal responsável pela receita turística em Portugal, é o Comando Distrital de Faro, sendo o mesmo integrado por seis subunidades com competência territorial. A análise realizada a vários rácios criminais e operacionais, permitiu-nos constatar que existem grandes assimetrias relativamente à distribuição de meios vs. índices de criminalidade nas subunidades territoriais, nomeadamente:

1. A Esquadra de Faro é a subunidade que apresenta os menores valores de número de crimes por polícia e de população por polícia;

2. As Esquadras de Olhão, Portimão e Lagos são as únicas que apresentam valores superiores à média nos rácios de população/efectivo, criminalidade/população e criminalidade/efectivo, denotando uma clara falta de elementos policiais; 3. A Esquadra de Tavira é a que tem menor densidade populacional e menor valor

de criminalidade por população, apresentando ainda o 3º menor rácio de criminalidade por efectivo;

4. A Esquadra de Vila Real de Santo António apresenta sempre o 2º menor valor nos rácios de população/efectivo, criminalidade/população e criminalidade/efectivo.

No sentido de dotar o Comando Distrital da PSP de Faro das ferramentas necessárias para gerir de forma mais eficaz e eficiente os recursos disponíveis, analisámos os dados criminais relativos ao distrito de Faro, registados no SEI nos anos de 2008 e 2009, mediante a aplicação da metodologia CHAID.

126

Esta metodologia permitiu estabelecer os perfis dos suspeitos e das vítimas dos seis tipos de crime com maior incidência na área de responsabilidade da PSP no distrito de Faro. Para além dos 27 perfis de suspeitos e 27 perfis de vítimas encontrados, foi possível retirar ainda as seguintes conclusões:

1. Verifica-se uma clara relação entre os suspeitos e as vítimas dos diferentes tipos de crime, no que diz respeito às variáveis com poder explicativo;

2. Nos crimes relacionados com veículos e nos crimes relacionados com edifícios, as únicas variáveis com poder explicativo são a idade do suspeito ou da vítima, a esquadra onde foi registado o crime e a hora da ocorrência;

3. A variável esquadra apresenta-se sempre como variável com poder explicativo no primeiro ou no segundo nível da árvore de classificação;

4. A variável sexo apenas tem poder explicativo nos crimes relacionados com pessoas, sendo sempre a variável com mais poder explicativo, quer nos suspeitos, quer nas vítimas;

5. Os crimes relacionados com pessoas são os únicos em que a variável esquadra não tem poder explicativo;

6. A metodologia CHAID segmentou a variável hora e a variável idade em diferentes categorias, em cada uma das árvores de classificação.

As conclusões apresentadas permitem-nos verificar que a distribuição de meios humanos e materiais pelas subunidades, e o modelo de policiamento aplicado no Comando Distrital de Faro, nomeadamente no que diz respeito aos turnos de serviço, podem e devem ser alterados.

127

Documentos relacionados