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4 Apresentação e análise dos resultados

4.3 Cruzamento entre variáveis

4.3.3 Síntese

O primeiro aspecto a ser registrado é que os dados sistematizados pela pesquisa confirmam as conclusões de outros autores acerca da propensão dos partidos a formarem coligações em eleições majoritárias municipais, de forma que 85,5% das candidaturas a prefeito, consideradas aptas pelo TSE, concorreram por meio de coligações. Da mesma forma, confirmou também o pressuposto da pesquisa

de que uma vez que os partidos decidem se coligar, esses optam maciçamente por atribuir uma denominação específica às suas coligações.

Em segundo lugar, a metodologia desenvolvida pela pesquisa possibilitou capturar, parcialmente, as mensagens contidas nas denominações das coligações que, em geral, são de tamanho reduzido e compostas por poucas palavras. Isto foi feito por meio da construção das 11 categorias sintéticas, o que possibilitou observar a forma como essas mensagens são utilizadas pelas coligações em suas denominações.

Do universo de 26.025 unidades de análise que compõem o objeto da pesquisa, cerca de 94% utiliza pelo menos uma das 11 categorias sintéticas, ou seja, 24.428 coligações denominadas. As demais, por certo, também contêm mensagens. No entanto, essas não foram abarcadas pelas categorias construídas e foram agregadas na categoria “Outros” e não foram objeto da análise.

Considerando-se o total de unidades de análise, as 11 categorias sintéticas são utilizadas de forma proporcionalmente diferente pelo conjunto das denominações: União (24,2%), Povo (21,5%), Éticos-Morais-Religiosos (19,8%), Mudança (19,4%), Força (16,4%), Progresso-Futuro (14,5%), Continuidade-Rumo Certo (11,1%), Trabalho (7,9%), Democracia-Temáticos (4,5%), Experiência-Governo (3,3%) e Frente-Aliança (3,3%).

Do total de coligações, pouco mais da metade utiliza apenas uma das categorias sintéticas em suas denominações e cerca de um terço combina pelo menos duas delas. Dentre essas combinações binárias, cinco são mais utilizadas pelas coligações e suas principais mensagens podem ser apresentadas da seguinte maneira: “força do povo” (6,8%), “força da união” (3,9%), “trabalho honesto e transparente” (3,1%), “união para o progresso (futuro)” (3,1%), “força da mudança” (3%), “o progresso continua” (2,3%) e “união e trabalho” (1,5%).

Em traços gerais, pode-se dizer que essas mensagens, combinadas ou não, são compartilhadas indistintamente pelas diferentes coligações, independentemente de qual seja a região, estado, partido, orientação ideológica ou qualquer outra das variáveis operacionalizadas na pesquisa. No entanto, a intensidade com a qual são utilizadas apresenta variações.

Desta forma, algumas variáveis não se demonstraram muito operacionais e suas variações não são tão expressivas, mas outras têm variações mais expressivas

ou apresentam uma tendência, como parece ser o caso da variável “porte populacional”, que se mostrou mais robusta para grande número de denominações.

As exceções quanto à utilização generalizada das categorias ocorrem apenas entre os que possuem menor número de coligações denominadas. O único caso entre as variáveis referentes às características dos municípios é o estado do Acre (participação de 0,5%). Entre as variáveis referentes às características das coligações, são poucos casos e todos entre os partidos que têm menos de 210 coligações denominadas, aproximadamente 0,8%. Tais partidos, quando somados, representam 7,9% do total de unidades de análise.

Os resultados obtidos não são suficientes para estabelecer relações causais entre as características das coligações e a forma como as categorias sintéticas são utilizadas em suas denominações. No entanto, as variações observadas representam a forma como essas categorias foram utilizadas por essas coligações. Assim, suas variações servem para indicar uma maior ou menor preferência no uso que as coligações fazem dessas categorias em suas denominações ou algumas tendências. É preciso considerar, também, que ao se estabelecer duas dimensões analíticas, as características dos municípios e as das coligações, isto não implica considerar que essas duas dimensões estejam dissociadas. Por exemplo, as regiões geográficas, estados e os municípios onde os pleitos foram realizados são os mesmos, tanto em 2012 quanto em 2016. Porém, a participação desses municípios no universo pesquisado depende do número de candidaturas que concorreram por meio de coligações às quais foram atribuídas uma denominação, portanto está relacionado com as características políticas das coligações.

No entanto, quando se comparam as proporções como as categorias são utilizadas, podem-se observar algumas preferências, ou seja, algumas características são utilizadas de forma mais expressivas.

Assim, entre as regiões geográficas, as categorias Povo e Força são expressivamente mais utilizadas no Nordeste, quando comparadas com as demais regiões. Da mesma maneira, a categoria Frente é mais utilizada nas regiões Sul e Norte e a Experiência-Governo é a única em que a região Sudeste se destaca das demais com o maior percentual da categoria.

Quando se observa as proporções de uso das categorias Povo e Força nos diferentes estados, verifica-se que na região Nordeste, com exceção da Bahia (Povo)

e Alagoas (Força), todos têm percentuais superiores à média geral das categorias e superiores à dos estados das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

No caso da categoria Frente-Aliança, verifica-se que tanto na região Sul quanto na Norte, um estado se destaca dos demais estados da região, respectivamente, Rio Grande do Sul (10,7%) e Acre (41,6%), de forma que todos os demais têm percentuais bem inferiores. Na região Nordeste, que também tem percentual elevado, é o estado de Pernambuco (23,3%) que se destaca dos demais.

Com relação à categoria Experiência-Governo, todos os estados da região Sudeste têm percentuais de uso da mesma superiores à média geral e, também, ao de todos os demais estados. Na região Sul, Rio Grande do Sul (4,5%) e Santa Catarina (4,1%) superam a média geral e dos demais estados, com exceção do Mato Grosso do Sul (4,5%).

No que concerne ao uso das categorias conforme o porte populacional dos municípios, é importante destacar o aparente movimento de redução da utilização das categorias União, Povo, Progresso-Futuro, Continuidade-Rumo Certo, Trabalho e Democracia-Temáticos, na medida em que aumenta o porte populacional dos municípios.

No caso das categorias Éticos-Morais-Religiosos, Mudança, Força e Experiência-Governo, suas variações são pequenas, mas ainda assim apresentam o mesmo comportamento. Assim, no caso das categorias Éticos-Morais-Religiosos e Mudança, o uso das categorias diminui na medida em que diminui o porte populacional dos municípios. Quanto às categorias Força e Experiência, o movimento é contrário, ou seja, a intensidade de uso diminui na medida em que aumenta o porte populacional. Com relação à categoria Frente-Aliança, que apresenta grande variação, assim como nas categorias Éticos-Morais-Religiosos e Mudança, são os grandes municípios que têm maior percentual. Porém, esta categoria apresenta índices muito elevados em três estados. Todavia, tal como nas demais categorias, existe uma tendência na sua utilização, ou seja, a intensidade de seu uso diminui na medida em que aumenta o porte populacional dos municípios.

Com relação às características políticas das coligações, as principais variações ocorrem quando se observa a forma como as categorias sintéticas são utilizadas segundo os partidos líderes das coligações. Nestes casos, as categorias que são mais utilizadas no geral (União, Povo, Éticos-Morais-Religiosos, Mudança e Força) são as que têm variação mais moderada entre os partidos com maior participação (acima de

400) com variação entre o maior e menor percentuais entre 50% e 70%. As demais categorias (Progresso-Futuro, Continuidade-Rumo Certo, Trabalho, Democracia- Temáticos, Experiência-Governo e Frente-Aliança) apresentam maior amplitude, com variações entre 99% e mais de 600%.

É interessante apontar a posição dos dois partidos que protagonizaram, praticamente, todas as eleições presidenciais realizadas até o pleito de 2014, que antecedeu às eleições municipais de 2016, o PT e o PSDB, que, também, estão entre os quatro partidos que têm mais coligações denominadas. Nas quatro categorias com maior amplitude de variação em cada um dos dois grupos acima, Povo, Éticos-Morais- Religiosos, Experiência-Governo e Frente-Aliança, os partidos encontram-se em posição oposta.

No caso da categoria Povo, o PT (28,9%) tem o maior percentual; enquanto o PSDB (17%) tem o segundo menor percentual geral, e é o menor dentre os partidos com maior participação. Na categoria Éticos-Morais-Religiosos, o PT (16,1%) tem o menor percentual entre os partidos com maior participação e o PSDB (21,6%), um dos maiores – e é o maior percentual entre os partidos com mais de 1000 coligações denominadas.

Na categoria Experiência-Governo, o PSDB (4,2%) é o segundo que mais a utiliza, dentre os partidos com maior participação, enquanto o PT (2,0%) é aquele que menos a utiliza nesse grupo. Quanto à categoria Frente-Aliança, a situação é novamente invertida e é o PT (7,7%) o segundo que mais a utiliza, enquanto o PSDB (1,2%) tem o segundo menor percentual dentre os partidos com maior participação.

Quando as coligações são agregadas segundo a posição ideológica do partido líder, as diferenças observadas entre os partidos são reduzidas e a categoria Éticos- Morais-Religiosos praticamente não apresenta variação. As diferenças seguem acentuadas nas categorias que são menos utilizadas. No caso de Experiência- Governo, o maior percentual é dos partidos posicionados ao centro (3,8%) e os posicionados à esquerda (2,5%), o menor. Na categoria Frente-Aliança, a situação se inverte, com de esquerda (5,8%) e os de centro (2%).

No que tange ao posicionamento dos partidos líderes em relação ao apoio ao Presidente ou Governador (governismo), a variável não apresentou variações relevantes no uso que indicassem alguma preferência. No caso da variável Tipo de Partido, as variações mais significativas ocorrem na categoria Frente-Aliança.

Por fim, no que concerne às características políticas das coligações, a categoria Frente-Aliança, consideradas em sua definição como um tipo específico de coligações, apresenta uma preferência dos partidos de esquerda em sua utilização. Em particular, pelos dois que têm maior participação, PT e PSB, mas essa preferência não ocorre de forma generalizada por todos os estados, posto que a categoria apresenta concentrações específicas em três estados (Acre, Pernambuco e Rio Grande do Sul).

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