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Síntese do C-azanucleosídeo de Schramm

3.3. Utilização de EE’s na Obtenção de C-azanucleosídeos

3.3.4. Síntese do C-azanucleosídeo de Schramm

A síntese do C-azanucleosídeo 3 foi visualizada tendo como etapa chave a arilação de Heck de um enecarbamato endocíclico quiral. A introdução do anel aromático ocorre D ao nitrogênio e o aduto de Heck obtido possui uma dupla ligação em C3-C4 estrategicamente posicionada para uma posterior funcionalização (figura 20).

Figura 20 – Análise retrossintética para a síntese do C-azanucleosídeo 3. N CO2R' X HO N H NH2 HO OH HO N CO2R' RO X N2BF4 + X=NO2 NHR

3 Diidroxilação Arilação de Heck

Foram consideradas duas estratégias para a introdução do grupo arila no anel pirrolidínico utilizando a 4-nitroanilina como material de partida: a primeira estratégia seria incorporar o grupo amino na forma de seu precursor direto, pela utilização do sal de diazônio da 4-nitro-anilina (X=NO2), com a redução do grupo

nitro sendo feita em uma etapa posterior à reação de Heck; a segunda estratégia, seria reduzir o grupo nitro da 4-nitro-anilina antes da reação de Heck e a utilização do sal de diazônio correspondente. As duas estratégias embora sejam equivalentes na sua essência, não o são em termos sintéticos, em virtude da natureza eletrônica do sal de diazônio empregado em cada caso, que pode ser determinante no sucesso da arilação de Heck.

No primeiro caso, o sal de diazônio 105 foi preparado a partir da para- nitroanilina 104, em condições de diazotação com nitrito de sódio na presença de ácido clorídrico. O íon cloreto foi substituído por tetrafluroborato fornecendo um sal estável à temperatura ambiente que foi purificado por recristalização (esquema 40). O sal pode ser armazenado por longos períodos sem decomposição.96

Esquema 40 – Preparação do sal de diazônio 105.

104 NH2 O2N 1. NaNO2, HCl, -5 O2N N2BF4 oC 2. NaBF4, H2O 66% 105

Alguns enecarbamatos endocíclicos foram utilizados para testar a arilação de Heck na presença do sal de diazônio 105. Os resultados estão descritos na tabela 5.

Inicialmente foram testados os enecarbamatos 59a, 59b, 59d e 61 nas condições desenvolvidas pelo grupo para a arilação de enecarbamatos endocíclicos utilizando Pd2(dba)3.dba em MeCN (condição a). Em todos os casos

não foi detectada a formação de produtos, ocorrendo a decomposição dos materiais de partida.

Alternativamente, Pd(OAc)2 (condição b) ou Pd/CaCO3 (condição c) foram

utilizados como fonte de paládio na arilação dos enecarbamatos 61 e 59d, respectivamente. Da mesma forma, o produto de acoplamento não foi observado, fornecendo indícios que a reação de Heck envolvendo enecarbamatos endocíclicos e sais de diazônio contendo grupos fortemente retiradores de elétrons ligados ao anel aromático pode ser problemática.

Tabela 5 – Arilação de Heck de EE’s com p-NO2PhN2BF4 105.

N RO CO2R' NO2 N RO CO2R' a, b ou c Enecarbamato R R’ Condição 59a Tr t-Bu a 59b TBDMS t-Bu a 59d Tr Me a, c 61 H t-Bu a, b

a) Pd2dba3.dba (1 mol%), AcONa, MeCN, t.a.; b) Pd(OAc)2 (10 mol%), 2,6-di-terc-butil-4-metil

piridina, EtOH 95%, 55 oC; c) Pd/CaCO3, EtOH.

Este resultado encontra precedentes em vários outros estudos descritos na literatura e também em resultados paralelos obtidos no grupo do prof. Correia.

Em um estudo metodológico paralelo, Patto97 observou uma relação direta entre a natureza eletrônica do sal de diazônio com os rendimentos da reação de Heck de enecarbamatos endocíclicos. Sais de diazônio contendo grupos doadores de elétrons forneceram o aduto de Heck em altos rendimentos (p-OMe). A medida que a densidade eletrônica do anel aromático foi diminuída (p-Cl, p-F), o aduto de Heck foi obtido em rendimentos moderados a baixos. A reação não ocorreu com sais de diazônio contendo grupos fortemente retiradores de elétrons (p-NO2 e p-

CO2Me).

Matsuda93b obteve bons rendimentos utilizando sais de arildiazônio possuindo grupos doadores de elétrons. Arilas possuindo grupos retiradores de elétrons (Br, Cl), forneceram rendimentos moderados enquanto que nitroderivados formaram preferencialmente nitrobenzeno.

Resultados análogos foram obtidos por Goeldner,94j para reações de Heck com sais de arenodiazônio substituídos e por Sengupta,94l,98 tanto para a reação de Heck quanto para a reação de Suzuki, onde sais de diazônio nitro-substituídos não forneceram o produto de inserção desejado.

Desta forma, parece que o sucesso da reação de Heck pode estar relacionado com a estabilidade do sal de diazônio empregado, seja por sua própria natureza ou pelas condições de reação.

Estudos da estabilidade de sais de diazônio têm mostrado que dois caminhos de dediazotação podem operar dependendo dos substratos (natureza dos substituintes no anel aromático) e das condições de reação (temperatura, presença de oxigênio). Em particular, sais de nitrofenildiazônios possuem uma grande tendência em se decompor via reação de dediazotação homolítica formando nitro-benzeno enquanto na maioria dos casos ocorre uma competição entre os caminhos homolíticos e heterolíticos.99

97 Patto, D. S. Tese de Doutorado, IQ/UNICAMP, 2003.

98 Sengupta, S.; Bhattacharyya, S. J. Org. Chem. 1997, 62, 3405.

99 (a) Milanesi, S.; Fagnoni, M.; Albini, A. J. Org. Chem. 2005, 70, 603; (b) Veja também as refs. 94j

Desta forma, é provável que a decomposição do sal de diazônio seja uma reação que esteja competindo com o acoplamento de Heck e se as condições forem favoráveis, pode se tornar o caminho principal.

No entanto, tem se verificado em trabalhos realizados no grupo do prof. Correia, que a arilação de Heck de 3-pirrolinas independe da natureza eletrônica do sal de diazônio utilizado. Em todos os casos, o produto de inserção foi obtido em bons rendimentos, mesmo em se tratando de sais de diazônio nitrosubstituídos.

Estes resultados sugerem que a natureza eletrônica da olefina é determinante para o sucesso da reação de Heck com sais de diazônio possuindo grupos fortemente retiradores de elétrons. Desde que enecarbamatos endocíclicos são olefinas mais ricas em elétrons que 3-pirrolinas, é possível que um mecanismo envolvendo transferência de elétrons do enecarbamato endocíclico para o sal de diazônio possa estar operando, levando a formação de produtos de decomposição.

Adicionalmente, como a inserção do aromático à olefina depende em algum grau de sua disponibilidade eletrônica, a inserção de um aromático deficiente de elétrons em uma olefina rica em elétrons, como é o caso de enecarbamatos, é particularmente dificultada.

Em função destas evidências optou-se por utilizar a segunda estratégia, reduzindo o grupo nitro antes do acoplamento de Heck. Assim, o grupo amino da 4-nitro-anilina 104, foi protegido com cloroformiato de metila em acetona sob refluxo100 obtendo-se o carbamato correspondente que foi usado sem purificação na próxima etapa (esquema 41).

100 Corey, E. J.; Bock, M. G.; Kozikowski, A. P.; Rao, V. R.; Floyd, D.; Lipshutz, B. Tetrahedron Lett.

Esquema 41 – Obtenção do sal de diazônio 107. 107 106 104 N2BF4 MeO2CHN NHCO2Me H2N NH2 O2N a b

(a) 1. ClCO2Me, acetona, K2CO3, refluxo, 5 h; 2. NaBH4, EtOH, Pd/C 10%, 1 h, t.a.,

(93%); (b) 1. NaNO2, HCl; 2. NaBF4, H2O (62%).

O grupo nitro foi reduzido usando geração química de hidrogênio com borohidreto de sódio em EtOH na presença de Pd/C,101 fornecendo a anilina 106 em 93% de rendimento após purificação por cromatografia em uma coluna de sílica.

A anilina 106 foi utilizada na obtenção do sal de diazônio 107, utilizando as condições usuais de diazotação com nitrito de sódio.102

O sal de diazônio 107 foi então empregado na arilação de Heck de enecarbamatos endocíclicos. Foram utilizados neste estudo os enecarbamatos 59a, 59c, 59d, 61 e 66 utilizando as condições descritas na tabela 6. Em todos os casos, os adutos de Heck foram obtidos em bons rendimentos.

101 Satoh, T.; Mitsuo, N.; Nishiki, M.; Inoue, Y.; Ooi, Y. Chem. Pharm. Bull. 1981, 29, 1443.

102 Nos primeiros testes o grupo amino da 4-nitro-anilina foi protegido com cloreto de acetila. No

Tabela 6 – Diastereoseletividades para a arilação de Heck de enecarbamatos com p-NHCO2MePhN2BF4107. + R" N2BF4 condição N R CO2R' N R CO2R' R" R"=NHCO2Me

Exp. EE R R’ Cond. Produto trans:cisc Rend.(%)

01 59c CH2OTBDPS t-Bu a 108 89:11 94

02 59a CH2OTr t-Bu a 109 84:16 95

03 59d CH2OTr Me a 110 81:19 93

04 61 CH2OH t-Bu a 112 40:60 80

05 61 CH2OH t-Bu b 112 45:55 67

06 66 CO2Me Me a 111 64:36 83

(a) 107, Pd2(dba)3.dba (1 mol%), AcONa, MeCN, t.a., 15-30 min; (b) 107, Pd(OAc)2 (10 mol%), 2,6-di-terc-

butil-4-metilpiridina, EtOH 95%, 55 oC, 15 min.; c) Determinada por CG do produto de desproteção da hidroxila

ou redução do éster.

Embora destes resultados preliminares não seja possível estabelecer o mecanismo preciso a respeito do curso estereoquímico da arilação, possivelmente os resultados obtidos reflitam a atuação de dois mecanismos: Um controle estéreo e um controle por quelação.

No primeiro caso, após a adição oxidativa (ou extrusão oxidativa de N2), a

coordenação do enecarbamato endocíclico à espécie de paládio catiônica deve ocorrer preferencialmente pela face menos impedida da olefina, ou seja, pela face oposta ao grupo em C5 do enecarbamato, para fornecer o complexo A (figura 21). A posterior inserção do grupo arila na olefina seguido da E-eliminação leva a obtenção preferencial do isômero 1’,4’-trans. Este caminho é seguido no caso de enecarbamatos contendo grupos volumosos em C5. Assim, a diastereosseletividade observada em cada caso deve ser um reflexo do volume estéreo do grupo em C5, com grupos mais volumosos fornecendo diastereoseletividades mais altas.

Como observado na tabela 6, a melhor razão trans foi obtida com o grupo TBDPS (exp. 01), seguida do grupo Tr (exp. 02). Grupos menos volumosos em C5 (exp. 04 e 06) levaram a uma diminuição da diastereosseletividade trans. Embora seja um caso pontual, pode-se supor que o grupo protetor do nitrogênio possui um leve efeito na diastereosseletividade, com o grupo Boc fornecendo seletividades mais altas do que o grupo carbometóxi (exp. 02 versus exp. 03).

No entanto, a baixa estereosseletividade observada no caso do enecarbamato 61, que levou a obtenção do isômero cis majoritariamente, indica que fatores adicionais estão afetando o curso estereoquímico do processo de inserção. Embora seja coerente esperar uma diminuição da diastereosseletividade em função do pequeno volume do grupo hidroximetila, parece razoável que algum grau de coordenação entre o intermediário de paládio catiônico e a hidroxila do grupo em C5, potencialmente coordenante, esteja operando (figura 21).

Figura 21 – Racionalização do estereocontrole na arilação de EE’s.

B A

Controle por Quelação Controle Estéreo N HO Boc PhX N RO Boc PhX N RO Boc N O H Boc [Ar-Pd-L2]+ [Ar-Pd-L2]+

Assim, pode-se supor que uma coordenação do grupo hidroximetila em C5 com a espécie de paládio catiônica leva a formação do complexo B (figura 21) que deve direcionar a inserção intramolecular do grupo arila pelo mesmo lado do grupo hidroximetila para fornecer o isômero 1’,4’-cis. A proporção dos isômeros

formados neste caso deve ser resultado da atuação conjunta dos dois mecanismos ilustrados na figura 21.

Existem vários precedentes de arilações de Heck estereosseletivas de olefinas, promovidas por grupos vizinhos.103 Novos auxiliares quirais para a

reação de Heck assimétrica têm sido desenvolvidos onde uma coordenação do tipo Pd-N direciona a inserção intramolecular do grupo arila determinando um alto grau de indução assimétrica.103g

Da mesma forma, altas regiosseletividades têm sido observadas na arilação de álcoois alílicos103c e alil aminas103a,b e atribuídas a uma coordenação entre o Pd-O e Pd-N respectivamente, que determina o regiocontrole observado. Grupos coordenantes têm sido incorporados à estrutura de enol-éteres para controlar a regioquímica da arilação.103d,e,f

Embora as observações do estudo da diastereosseletividade da arilação de Heck de enecarbamatos endocíclicos com o sal de diazônio 107 se baseiem em um número limitado de experimentos, elas estão em linha com o observado em outros estudos realizados no grupo do prof. Correia.104

Os adutos de Heck 108-111, provenientes dos enecarbamatos 59a, 59c, 59d e 66 foram obtidos como uma mistura inseparável de diastereoisômeros. Em todos os casos, somente um “spot” foi observado em CCD. Análises de CG levaram invariavelmente à decomposição dos produtos.

Por outro lado, a arilação do enecarbamato 61 forneceu diretamente uma mistura das 3-pirrolinas diastereoisoméricas D-112 (isômero trans) e E-112 (isômero cis) que puderam ser separadas por cromatografia em coluna. A razão diastereoisomérica D-112/E-112 foi determinada através da análise de CG de uma

103 (a) Olofsson, K.; Larhed, M.; Hallberg, A. J. Org. Chem. 2000, 65, 7235; (b) Olofsson, K.;

Larhed, M.; Hallberg, A. J. Org. Chem. 2001, 66, 544; (c) Kang, S.-K.; Lee, H.-W.; Jang, S.-B.; Kim, T.-H.; Pyun, S.-J. J. Org. Chem. 1996, 61, 2604; (d) Nilsson, P.; Larhed, M.; Hallberg, A. J. Am.

Chem. Soc. 2001, 123, 8217; (e) Vallin, K. S. A.; Larhed, M.; Hallberg, A.; J. Org. Chem. 2001, 66,

4340; (f) Larhed, M.; Anderson, C.-M.; Hallberg, A. Tetrahedron 1994, 50, 285; (g) Buezo, N. D.; Alonso, I.; Carretero, J. C. J. Am. Chem. Soc. 1998, 120, 7129; (h) Itami, K.; Mitsudo, K.; Kamei, T.; Koike, T.; Nokami, T.; Yoshida, J. J. Am. Chem. Soc. 2000, 122, 12013; (i) Kang, S.-K.; Jung, K.-Y.; Park, C.-H.; Jang, S.-B. Tetrahedron Lett. 1995, 36, 8047; (j) Kang, S.-K.; Jung, K.-Y.; Park, C.-H.; Namkoong, E.-Y. Tetrahedron Lett. 1995, 36, 6287.

amostra bruta previamente derivatizada com anidrido trifluoroacético105 e foi estimada em 40:60 (D/E).

Este método foi utilizado na determinação da diastereosseletividade de todos os experimentos descritos na tabela 6, visto que os adutos primários de Heck foram convertidos aos derivados 4’-hidroximetílicos correspondentes pela remoção dos protetores do grupo hidroximetila em C4’ ou pela redução do éster metílico de 111.

Assim, o grupo tritila de 109 foi removido usando ZnBr2 em uma mistura de

DCM e MeOH e o grupo TBDPS de 108 foi removido após tratamento com TBAF em THF, fornecendo uma mistura dos álcoois D-112 e E-112 que foram analisadas por CG de acordo com o método citado anteriomente. A proporção dos isômeros foi estimada em 84:16 e 89:11 (D-112/E-112) respectivamente.

De maneira análoga, quando o éster metílico 111 foi convertido ao álcool correspondente pelo tratamento com LiBH4 ou NaBH4/CaCl2, uma mistura das 3-

pirrolinas diastereoisoméricas D-113 (isômero trans) e E-113 (isômero cis) foi obtida. Os seus derivados trifluoroacetilados foram analisados por CG permitindo atribuir a razão 64:36 (D-113/E-113) respectivamente.

Por fim, o grupo tritila de 110 foi removido obtendo-se uma mistura dos álcoois D-113/E-113 estimada em 81:19.

Cabe salientar que em todos os casos a diastereosseletividade foi determinada utilizando os produtos brutos provenientes da arilação de Heck e da subseqüente conversão aos álcoois correspondentes.106

Os álcoois diastereoisoméricos D-112/E-112 e D-113/E-113 foram separados por cromatografia em coluna e sua estereoquímica absoluta foi inequivocamente elucidada utilizando experimentos de NOESY 1D.

No experimento de NOESY 1D observou-se que a irradiação dos sinais referentes às absorções dos hidrogênios aromáticos dos isômeros E-112 (espectro

105 A injeção direta de D-112 e E-112 levou a decomposição do produto não sendo possível

determinar a razão diastereoisomérica.

106 Os adutos de Heck 108-111 não foram caracterizados. Somente os álcoois D,E-112 e D,E-113

114; página 273) e E-113 (espectro 126; página 285) em 7,30 ppm, causou um incremento de 0,65% e 0,30% respectivamente, nos sinais correspondentes aos hidrogênios do grupo hidroximetila na região entre 3,5 e 3,9 ppm. Neste caso, todos os hidrogênios aromáticos (orto e meta) foram irradiados uma vez que a separação em Hertz entre as duas absorções era muito pequena e não permitiu a irradiação seletiva dos Horto.107

No caso dos isômeros D-112 e D-113 (isômeros trans), foi possível irradiar seletivamente os Horto devido a boa separação entre as duas absorções (espectros

108 e 120; páginas 267 e 279). A irradiação dos sinais em 7,10 ppm (D-112) e 7,02 ppm (D-113) causaram um incremento de 1,44% e 0,49% respectivamente, nos sinais correspondentes às absorções do hidrogênio H4’ na região entre 4,7- 4,9 ppm relevando sua orientação cis em relação ao grupo aromático.

Figura 22 – nOe’s selecionados do espectro de NOESY 1D de D,E-112 e D,E-113.

nOe nOe N HO H H R NHCO2Me H HO N H H NHCO2Me H H H R

R=CO2Me (0,30% nOe), E113

R=Boc (0,65% nOe), E112

R=CO2Me (0,49% nOe), D113

R=Boc (1,44% nOe), D112

No caso específico da arilação de Heck do enecarbamato endocíclico 61, usando o sal de diazônio 107 e Pd2(dba)3.dba (esquema 43), ocorreu a formação

dos adutos de Heck D-112 e E-112 em 80% de rendimento e numa proporção isomérica de 40:60 a favor do isômero cis, que foi utilizado na seqüência da síntese.

107 No caso do isômero E-113, o nOe de 0,30% pode ser a soma das contribuições de H5’ e da

metoxila do protetor do nitrogênio, que absorvem na mesma região. Este nOe, embora pequeno é conclusivo, uma vez que não foi observado no isômero trans.

Esquema 43 – Arilação de Heck do enecarbamato 61. a R"=NHCO2Me 61 D112 E112 N Boc HO N Boc HO R" N Boc HO R" +

a) 1. Pd2dba3.dba (1 mol%), MeCN, AcONa, 30 min., t.a., (80%); 2. Separação dos

diastereoisômeros por CC.

A etapa seguinte do planejamento sintético consistiu na diidroxilação de E-112. A diidroxilação foi feita usando osmato de potássio em quantidade catalítica na presença de NMO, em uma mistura de acetona, H2O e t-BuOH.108

Após 1 h de reação, todo o material de partida foi consumido e a análise de CCD indicou a formação de um único produto, que foi obtido em 89% de rendimento e caracterizado como o triol 114.

Esquema 44 – Diidroxilação do aduto de Heck E-112.

114 N Boc NHCO2Me HO HO OH N Boc NHCO2Me HO único estereoisômero E112 a

a) K2OsO4.2H2O, NMO, acetona:H2O:t-BuOH 0,5:1,2:0,2, t.a., 1 h, (89%).

Os dados de IV, RMN e EMAR (espectros 129 a 132; páginas 288 a 291) estão coerentes com a estrutura proposta. Como esperado, o triol 114 foi obtido em alta estereosseletividade com somente um estereoisômero sendo formado, proveniente da diidroxilação da olefina pela face oposta aos grupos estereodirigentes em C1’ e C4’.

108 Lin, C.-C.; Shimazaki, M.; Heck, M.-P.; Aoki, S.; Wang, R.; Kimura, T.; Ritzèn, H.; Takayama, S.;

A estrutura molecular do triol 114 foi confirmada por difração de raio-X.109 Considerando que 114 possui um centro estereogênico conhecido, proveniente do enecarbamato de partida, foi possível determinar a estereoquímica absoluta dos três novos centros gerados. Na figura 23 está representada a projeção de 114 onde pode ser visualizada a configuração absoluta dos quatro centros estereogênicos da molécula (1’S, 2’S, 3’R, 4’R). O grupo arila em C1’ possui uma relação cis com o grupo hidroximetila em C4’ e uma orientação trans em relação às hidroxilas em C2’ e C3’.

Figura 23 – Estrutura cristalográfica de 114 determinada por difração de raio-X. (determinação da configuração absoluta).

O grupo Boc de 114 foi removido usando uma solução de HCl(g)em MeOH.

A solução foi preparada pela adição de cloreto de acetila sobre metanol seco110 e adicionada via cânula para um balão contendo o triol 114, resfriado a 0 oC. A análise de CCD do meio reacional indicou que o material de partida foi consumido após 30 minutos de reação e o produto caracterizado como o C-azanucleosídeo 115, que foi obtido em rendimento quantitativo a partir do triol 114 (esquema 45).

109Para uma descrição dos dados cristalográficos, detalhes do refinamento da estrutura e ângulos

de ligação, veja: Zukerman-Schpector, J.; Caracelli, I.; Teijido, M. V.; García, A. L. L.; Costenaro, E. R.; Correia, C. R. D. Z. Kristallogr. 2005, 220, 1.

Esquema 45 – Obtenção do C-azanucleosídeo 115. 30 min.(100%) AcCl, MeOH, 0 oC N Boc NHCO2Me HO HO OH 114 115 N H.HCl NHCO2Me HO HO OH

O grupo carbometóxi de 115 foi removido sob refluxo em meio ácido (EtOH/HCl) durante um período de 30 h. O cloridrato 116 foi obtido em 88% de rendimento a partir de 115 (esquema 46).

Finalmente, a síntese do C-azanucleosídeo de Schramm 3 foi completada pela passagem do cloridrato 116 através de uma coluna de Dowex® 50WX8-400, para fornecer a amina livre 3 (esquema 46) e permitir a comparação espectral.

Esquema 46 – Obtenção do C-azanucleosídeo de Schramm 3.

N H NH2 HO HO OH C-azanucleosídeo de Schramm, 3 N H.HCl NHCO2Me HO HO OH 115 EtOH, HCl, refluxo 30 h, (88%) 116 N H.HCl NH2.HCl HO HO OH Dowex 50WX8-400 N H.HCl NH2 HO HO OH 117 Dowex (50WX8-400) Dowex (50WX8-400)

Cabe mencionar que as primeiras tentativas de filtração em Dowex® não foram efetivas e o cloridrato 117, resultante de uma neutralização parcial de 116 foi isolado, o que foi atribuído à qualidade da resina Dowex® utilizada. Nos experimentos posteriores foi utilizada uma resina recentemente adquirida e neste caso, somente o C-azanucleosídeo 3 foi isolado.

Os dados de RMN de 1H e 13C de 3 (espectros 148 e 149; páginas 307 e 308) estão em boa concordância com os publicados na literatura,111 embora pequenas variações de deslocamento químico tenham sido notadas no espectro de RMN de 1H. No entanto, é descrito na literatura,112 que os deslocamentos químicos desta classe de compostos mostram uma significante dependência da concentração, pH e temperatura, que poderiam explicar a variação observada neste caso.

Contudo, para fins de comprovação da estereoquímica foram feitos alguns experimentos de NOESY 1D (espectros 150 a 152; páginas 309 a 311) e os incrementos observados estão ilustrados na figura 24. No primeiro experimento (a), foram irradiados seletivamente os hidrogênios aromáticos na posição orto (7,27 ppm), sendo observados incrementos com H1’ (4,00 ppm), H2’ (4,14-4,08 ppm) e com os hidrogênios na posição meta (6,88 ppm). Não foi observado incremento com os hidrogênios do grupo hidroximetila em C4’ (3,78 ppm), o que confirmaria a relação 1’,4’-cis.

No segundo experimento (b) foram irradiados os hidrogênios do grupo hidroximetílicos em C4’ (3,78 ppm), sendo observados incrementos com H4’ e H3’. Não foram observados incrementos nos sinais dos hidrogênios aromáticos.

O terceiro experimento (c) foi bastante elucidativo quanto a estereoquímica em C4’ e C1’. Com a irradiação de H4’ foram observados incrementos nos sinais referentes aos hidrogênios do grupo hidroximetila (1,34%), H3’ (0,51%) e com H1’ (1,02%). Este último confirma a estereoquímica 1’,4’-cis entre estes grupos.

Adicionalmente, no espectro de COSY de 3 (espectros 153 e 154; páginas 312 e 313), visualizou-se um acoplamento do tipo W entre H1’ e H4’, indicando

111 Para uma comparação veja a página 147 da parte experimental; veja também a ref. 33.

que estes núcleos estão do mesmo lado do anel pirrolidínico, fornecendo forte evidência da estereoquímica em C1’ e C4’.

Figura 24 – nOe’s observados no espectro de NOESY 1D de 3. (a) Irradiação dos hidrogênios aromáticos na posição orto; (b) irradiação dos hidrogênios hidroximetílicos; (c) irradiação de H4’. 0,62 % c N H OH H H OH H H NH2 OH N H OH H H OH H H NH2 H H HO H 1,34% 0,51% 1,02% N H OH H H OH H H NH2 OH 3' 2' 1' 0,84% 1,23% a b 0,67% 0,84% 4'

No espectro de RMN de 13C (espectro 149; página 308), pode ser

observado que a maioria dos sinais estão entre 2 e 3 ppm mais blindados em relação aos originalmente publicados por Schramm. Como os sinais estão deslocados na mesma magnitude, provavelmente isto seja uma questão de calibração em função da referência interna utilizada para a atribuição dos sinais de

13C, desde que não existe uma referência de consenso para a atribuição dos

deslocamentos químicos de carbono em soluções de D2O (neste caso foi utilizado

um capilar contendo CCl4 como referência interna).

Desta forma, a metodologia desenvolvida permitiu a síntese do C- azanucleosideo 3 em apenas 4 etapas a partir do enecarbamato endocíclico 61, com um rendimento global de 42%. Essa metodologia é mais simples, direta e

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