• Nenhum resultado encontrado

O mercado acionário apresenta indício de falhas no processo de incorporação das informações junto aos preços, levando-o a uma ineficiência temporária, que tende a desaparecer com o passar do tempo, conforme é apontado por Fama (1998). Essa não é uma peculiaridade que está restrita aos mercados acionários dos países emergentes ou dos países desenvolvidos, as evidências empíricas mostram indícios de ineficiências em ambos (JEGADEESH; TITMAN, 1993; MOSKOWITZ; GRINBLATT, 1999; SCHNUSENBERG; MADURA, 2001; ZHANG, 2006; HONG; TOROUS; VALKANOV, 2007; BARBOSA; MEDEIROS, 2007; FENG; HU, 2014).

Considerando que, temporariamente, os preços tendem a apresentar uma má precificação, é possível que os preços sejam influenciados por notícias e pelas emoções, como

é especulado, desde a década de 1930, por Keynes (1936) e evidenciado nos estudos empíricos de Tetlock (2007), Tetlock; Saar-Tsechansky; Macskassy (2008); Dougal et al. (2012); Engelberg et al. (2012); García (2013); Carretta et al. (2013); Liu (2014); Ferguson et al. (2015); Ahern; Sosyura (2015); Fraiberger (2016); Strauß,Vliegenthart e Verhoeven (2016); Wei et al. (2017); Allen et al. (2017) e Shapiro et al. (2017).

Nas explicações sobre o que movem os preços no mercado, a discussão sobre o sentimento textual das notícias tem sido enaltecida, em decorrência de ser considerada uma importante medida informacional, capaz de capturar informações mais refinadas sobre questões financeiras e sobre o estado da economia, que nem sempre ficam evidentes nos dados quantitativos ou levam um certo tempo até serem incorporadas nos dados quantitativos (TETLOCK et al., 2008; WEI et al., 2017; SHAPIRO et al., 2017).

Nesse sentido, os preços podem ser influenciados pelo sentimento das notícias, em função do impacto que elas podem provocar na expectativa dos investidores sobre os ativos, fazendo com que os investidores atualizem, de algum modo, as suas crenças sobre os fundamentos das empresas. Segundo Tetlock (2014), as notícias divulgadas em mídias, como jornais, contribuem com esse processo de atualização das crenças dos investidores, e os preços no mercado tendem a expressar o comportamento médio dos investidores quanto às suas expectativas. Diante do exposto e considerando que a movimentação do mercado pode ser avaliada em termos de retorno e risco (volatilidade), tem-se a primeira e segunda hipóteses do estudo:

H1: O sentimento das notícias exerce influência sobre o retorno das ações do mercado

acionário brasileiro.

H2: O sentimento das notícias exerce influência sobre a volatilidade do retorno das ações

do mercado acionário brasileiro.

Acredita-se que os indivíduos atualizam as suas crenças com base nas informações disponíveis no mercado, seguindo a lógica do teorema da concordância de Aumann (1976). Assim, se os participantes do mercado apresentassem expectativas homogêneas, os preços seriam um sistema informacional perfeito (MILGROM; STOKEY, 1982). No entanto, os indivíduos apresentam divergências no alinhamento das suas expectativas, provocando falhas no processo de precificação dos ativos, conforme é apontado por Grossman e Stiglitz (1980).

Tetlock (2014) explica que a chegada de informações, em geral, provoca a convergência das crenças de alguns investidores, porém, outros investidores tendem a apresentar

divergências, provocadas por motivos racionais ou não. Uma das explicações atribuídas a existência dessas divergências são as restrições provocadas pelos vieses cognitivos dos indivíduos (KAHNEMAN; TVERSKY, 1979; CAMPBELL et al. 2017).

No processamento informacional, é comum as pessoas atribuírem uma maior importância às notícias negativas (PEETERS; CZAPINSKI, 1990; ANDERSEN; BOLLERSLEV; DIEBOLD; VEGA, 2003; ROZIN, ROYMAN, 2001; BAUMEISTER et al., 2001; FERGUSON et al., 2012; ALVES et al., 2017; LIU et al., 2017; COX et al., 2017). Isso ocorre devido a um viés cognitivo do processamento informacional, que leva os indivíduos a processarem as informações positivas e negativas de forma assimétrica.

No contexto financeiro, as informações negativas despertam uma maior atenção, em função da sua ameaça potencial à sobrevivência econômica (SVENSSON et al., 2017). Os estudos que procuraram investigar o valor informacional do sentimento das notícias apontam indícios de que as notícias negativas apresentam um maior valor informacional para o mercado (TETLOCK, 2007; TETLOCK et al., 2008; KOTHARI et al., 2009; DOUGAL et al., 2012; ENGELBERG et al., 2012; GARCÍA, 2013; CARRETTA et al., 2013; LIU, 2014; FERGUSON et al., 2015; WEI et al., 2017). A maior valoração atribuída às informações negativas se deve ao fato de que bons eventos tendem a dissipar muito mais rapidamente do que os eventos ruins, conforme é explica por Baumeister et al. (2001).

Assim, a presença de uma maior concentração de notícias pessimistas na mídia pode transmitir informações importantes sobre os preços dos ativos. Nesse sentido, Tetlock (2007), Kothari et al., (2009), García (2013), Ferguson et al. (2015), mostram evidências de que o pessimismo da mídia tende a provocar quedas nos retornos das ações e a elevar a volatilidade. Tendo em vista que o mercado é mais sensível às informações pessimistas, a terceira e quarta hipóteses de pesquisa são:

H3: O sentimento pessimista das notícias reduz o retorno no mercado acionário

brasileiro.

H4: O sentimento pessimista das notícias eleva a volatilidade do retorno no mercado

acionário brasileiro.

No mercado acionário, as decisões dos investidores refletem a previsão realizada sobre o comportamento futuro dos ativos, e são reveladas no sistema de preços do mercado. Assim, os preços evidenciam as expectativas médias dos agentes, e na medida que ocorrem eventos inesperados, que frustram as expectativas dos agentes, os preços sofrem alterações.

Nesse sentido, a incerteza contribui com as flutuações do mercado acionário, em função de provocar perturbações sobre as expectativas dos agentes (JURADO et al., 2015). O impacto provocado pela incerteza costuma diferir entre os países, as evidências empíricas mostram que países emergentes apresentam mais incertezas em sua economia, comparado às economias de países desenvolvidos (KOREN; TENREYRO, 2007; BLOOM, 2014). Isso significa que países emergentes apresentam uma maior vulnerabilidade à ocorrência de eventos que possam desencadear incertezas econômicas.

Ao investigar os períodos de recessão/ascensão econômica dos Estados Unidos, García (2013) levanta indícios de que as notícias da mídia contribuíam com explicações sobre as movimentações do mercado, especialmente nos períodos de recessão econômica. Resultados semelhantes foram encontrados por Liu (2014) ao analisar a crise Europeia, entre 2009-2012, verificando que o pessimismo da mídia contribuía com a previsão dos spreads dos títulos avaliados.

Os indivíduos tendem a apresentar uma maior reação às notícias negativas, porém, as notícias negativas da mídia parecem apresentar uma maior importância nos períodos de incerteza econômica.

Considerando que o sentimento das notícias apresenta um maior valor informacional em períodos econômicos ruins, como crises (LIU, 2014) e de recessões (GARCÍA, 2013); tendo em vista que os períodos de maior incerteza estão correlacionados a eventos ruins (BLOOM, 2009; COSTA, 2014; JURADO et al., 2015; SCOTTI, 2016; BAKER et al., 2016; CHULIÁ et al., 2017); e levando em consideração que países emergentes apresentam uma maior incerteza econômica (KOREN; TENREYRO, 2007; BLOOM, 2014), a quinta e a sexta, hipóteses de pesquisa são:

H5: O impacto do sentimento de pessimismo das notícias sobre o retorno no mercado

acionário brasileiro é maior em períodos de incerteza econômica.

H6: O impacto do sentimento de pessimismo das notícias sobre a volatilidade no

mercado acionário brasileiro é maior em períodos de incerteza econômica.

Teoricamente, os preços dos ativos financeiros refletem as informações disponíveis (FAMA, 1970). No entanto, as evidências empíricas mostram que o mercado apresenta falhas temporárias no ajuste dos preços às informações (JEGADEESH; TITMAN, 1993; MOSKOWITZ; GRINBLATT, 1999; SCHNUSENBERG; MADURA, 2001; ZHANG, 2006; HONG; TOROUS; VALKANOV, 2007; BARBOSA; MEDEIROS, 2007; FENG; HU, 2014).

Em função de os preços não incorporarem todas as informações disponíveis, portanto, é possível encontrar padrões de previsibilidade nas séries de preços.

Os estudos que analisaram a conexão das notícias com a movimentação dos preços no mercado mostram evidências de que o tom das notícias apresenta valor informacional capaz de predizer retornos no mercado (TETLOCK, 2007; TETLOCK; SAAR-TSECHANSKY; MACSKASSY, 2008; GARCÍA, 2013; LIU, 2014; FERGUSON et al., 2015; BIANCONI et al., 2015; SHAPIRO et al., 2017).

Ao ser investigado o comportamento do sentimento das notícias em modelos de previsão, Bianconi et al. (2015) levantaram indícios de que o sentimento era uma boa medida para a previsão de retornos médios. Já Shapiro et al. (2017) encontraram evidências de que o sentimento das notícias prever o comportamento de índices do mercado financeiro.

Assim, ao considerar que o mercado acionário brasileiro apresenta indícios de não reagir eficientemente à chegada de notícias otimistas/pessimistas (BARBOSA; MEDEIROS, 2007; MÜLLER; RIGHI; CERETTA, 2015), que o sentimento das notícias apresenta valor informacional capaz de predizer os movimentos dos ativos (BIANCONI et al. 2015; SHAPIRO et al., 2017), e que o risco do mercado (volatilidade) está relacionado ao sentimento (BROWN, 1999; CAMPOS; REYES, 2017), acredita-se que o mercado brasileiro pode apresentar um padrão de previsibilidade na volatilidade do retorno associado ao tom das notícias. Isso leva a hipótese de que:

H7: O sentimento textual das notícias financeiras contribui com a previsão da

3 METODOLOGIA

O presente capítulo trata dos instrumentos metodológicos adotados para a realização do estudo quanto à apresentação dos dados, métrica de mensuração do sentimento textual e modelagens econométricas.