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CAPITULO 2 – PRINCIPAIS MUDANÇAS NA ESTRUTURA PRODUTIVA DA

2.3 O DESEMPENHO E O PAPEL DA AGRICULTURA E DA AGROINDÚSTRIA NA

2.3.1 SÍNTESE DO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DA

Nas décadas de 1.980 e 1.990, houve um processo de “desmanche” dos instrumentos de política agrícola desenvolvidos até então (garantia de preços mínimos, estoques reguladores, redução do crédito agropecuário), juntamente com a significativa queda nos recursos públicos destinados à agricultura (infra-estrutura, pesquisa agropecuária, assistência técnica, etc). (GRAZIANO DA SILVA, 1996). Além disso, a abrupta abertura comercial dificultou a competição da agricultura nacional frente aos produtos internacionais, fortemente subsidiados pelos países de origem.

O setor público, que vinha desde o final da década de 1.970 reduzindo substancialmente os recursos oficiais subsidiados ao financiamento da produção, devido a crise fiscal passou a incentivar apenas as atividades com maior agregação de valor e maiores possibilidades exportadoras. Assim, rompendo o padrão de modernização anterior.

Apesar da falta de incentivos ao pequeno produtor, a agricultura obteve desempenho satisfatório, ao contribuir para os sucessivos superávits comerciais por toda a década de 1.980. Outra característica foi a mudança no sistema de produção e o aumento da produtividade com a incorporação de uma série de alternativas tecnológicas, até então não disponíveis como, por exemplo, a inserção das máquinas colheitadeiras de café, de cana e de vários cereais. Porém, contribuiu para a redução do emprego rural. (GRAZIANO DA SILVA, 1996).

Vários fatores contribuíram para este conjunto favorável do setor agrícola paulista:

- os incentivos do governo federal às produções agroindustriais com maiores possibilidades de penetração no mercado internacional e de maior agregação de valor. Alguns passando por algum tipo de processamento industrial;

- a consolidação do Programa Federal do Pró-Álcool e do PROCANA (Programa de Expansão da Canavicultura para a Produção de Combustível) fora das tradicionais zonas de produção delimitadas pelo governo estadual;

- a condição de mais moderna e diversificada agropecuária, com maior capacidade técnica e empresarial, permitiu que São Paulo respondesse prontamente às políticas governamentais;

- a maturação dos impactos do processo de interiorização do desenvolvimento no estado de São Paulo;

- o crescimento e a complexidade da urbanização.

O conjunto desses fatores, ao lado dos condicionantes macroeconômicos descritos, contribuiu para a estruturação de novas cadeias agroindustriais no início da década de 1.990, articulando-as às cadeias produtivas estritamente agrícolas desenvolvidas anteriormente. Contribuíram ao desempenho satisfatório e o avanço das áreas cultiváveis da cana-de-açúcar, laranja, milho, soja (mesmo com a migração desta produção para a região Centro-Oeste do país), algodão e ainda da pecuária paulista.

No entanto, o processo de “globalização” e a menor atuação do Estado no direcionamento da atividade agrícola produziram impactos que acabaram alterando os padrões de concorrência e de produção, atingindo inclusive a agroindústria e a estrutura produtiva agrícola. As mudanças no padrão de consumo e da produção, com a abertura comercial, fizeram com que os produtos se apresentassem com um melhor padrão de qualidade e padronização, condizente às novas exigências do mercado e da agroindústria de processamento.

As empresas agroindustriais, frente a uma concorrência internacional mais acirrada, procuraram melhorar a competitividade através de um processo de reestruturação produtiva. Dentre as principais transformações, ocorreram a reformulação das formas de organização com o intuito de diminuir os custos e melhorar o padrão de qualidade, através do estreitamento dos vínculos com os fornecedores, distribuidores, clientes, concorrentes, etc. Quanto as alterações no sistema produtivo das unidades agrícolas mais capitalizadas, deram-se através de maiores níveis de produtividade e do cultivo intensivo.

Mesmo com a aparente recuperação da agricultura brasileira após 1994, muito dos problemas permaneceram ou se agravaram, como a falta de crédito, carência de pesquisas, assistência técnica, etc. As novas formas de financiamento da agropecuária pelo mercado atingiram somente um pequeno número de produtores ligados à exportação.

De um modo geral e sob esse contexto, a evolução das principais culturas do estado de São Paulo desde 1965 mostra que as áreas dos produtos cultiváveis, voltados ao suprimento industrial e de maiores vantagens competitivas no mercado internacional, como a cana e a laranja, expandiram-se, principalmente, sobre as terras antes destinadas às pastagens, ao café e ao

algodão. Em que pese a substituição das áreas de pastagens, estas ainda continuaram relevantes, ao representarem 62% do total da área plantada no estado e estarem presentes em grandes proporções em todas as regiões paulistas ao final da década de 1.990.

Os dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) mostraram que, a maior área cultivável agrícola esteve na divisão regional de Ribeirão Preto, o qual ao final do período representou aproximados 18% da área cultivável do estado, seguida por São José do Rio Preto e Presidente Prudente (13% cada), Sorocaba (12%), Marília (11%), Campinas e Araçatuba (10% cada), Bauru (7%), Vale do Paraíba (4%) e São Paulo (2%).

Na pastagem natural, Presidente Prudente chegou a ter 18% do total estadual em 1.990, São José do Rio Preto (14,7%), Sorocaba (13,2%), Araçatuba (12,1%), Marília (9,7%), Ribeirão Preto (8,3%), Bauru (8,2%), Campinas (7,2%), Vale do Paraíba (6,1%) e São Paulo (2,1%).6

De modo geral, a agricultura paulista no período 1.980 a 2.005, caracterizou-se pelo estabelecimento de uma importante integração e proximidade entre a lavoura, a pecuária e os estabelecimentos agroindustriais, e, pela especialização das instituições financeiras no segmento agroindustrial e no destino de recursos às unidades agrícolas mais capitalizadas a partir dos anos 90. Espacialmente, as estruturas produtivas agrícolas mais complexas das regiões interioranas do estado de São Paulo, consideradas mais dinâmicas, localizaram-se entre os grandes eixos viários na direção das regiões noroeste e nordeste do estado, incluindo a região de Campinas. Enquanto as regiões litorâneas e da RMSP tiveram uma dinâmica particular, embora tenham ficado à margem da produção agrícola exportadora. A primeira pela atividade da pesca e a segunda pelo auto-abastecimento de sua demanda por produtos hortifrutigranjeiros. A RA de Registro foi a única região que se mostrou à margem da dinâmica do período.