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Capítulo II – Reflexão espacial e temporal sobre os eventos hídricos na cidade de

2.4. Síntese dos eventos hídricos na cidade de Santa Cruz

A análise das ocorrências de inundações em Santa Cruz conclui que a área com maior frequência corresponde ao núcleo delimitado pela Rua 17 de Julho de 1876, Rua da Praça, Rua Conselheiro Luís Freitas Branco e Rua da Praia, como é visível na figura 43. Assim, afirma-se que constitui a área de maior suscetibilidade a eventos hídricos.

No que se refere ao tipo de episódio é mais frequente a inundação urbana, registando-se de ano em ano ou de dois em dois.

A explicação das inundações urbanas centra-se na impermeabilização do centro funcional onde formam-se lençóis de água. Outra fonte da inundação urbana é a rede pluvial que a partir dos 33,6 mm diários ultrapassa a sua capacidade. Pelo observado, a inundação urbana com origem na incapacidade da rede pluvial associa-se à falta de limpeza das calhas de escoamento. Por fim, tem-se a inundação urbana com origem em transbordos de cursos de água a montante e nas áreas de maior altitude, como sucedeu a 20 de fevereiro de 2010.

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As cheias rápidas dotadas de correntes torrenciais são menos frequentes na cidade de Santa Cruz, registando-se apenas 3 eventos em 171 anos (eventos abrangidos pelo inventário).

Tanto eventos advindos de cheias rápidas como de inundações existe um escoamento superficial (quadro 6) que independentemente da sua origem confluí na área da Rua da Praia, sendo esta a área a que registou maior coluna de água, tanto na cheia rápida de 3-11-1956 como na inundação urbana de 20-02-2010. Dos dois eventos é a cheia rápida que detém os maiores valores, gráfico 4. Logo, é na Rua da Praia onde centram-se os maiores prejuízos.

Figura 43- Calculo da frequência de eventos hídricos através do historial (1842-2010) de cheias rápidas, galgamentos costeiros e inundações urbanas 8 na cidade de Santa Cruz

Ainda no que respeita ao escoamento superficial infere-se que a Praça Padre Gabriel Olavo Francês funciona como área de divergência em cenário de cheia e inundação urbana, sendo de convergência nos galgamentos costeiros.

No cenário de galgamento costeiro apenas interagem como vias de escoamento a Rua da Praia, Rua Conselheiro Luís Freitas Branco, Rua das Rosas, Rua do Cónego

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Alfredo Oliveira, Rua da Praça e a Rua do Cravo. Ou seja, todos os eixos transversais a Rua da Praia. Aqui a única via canalizadora é a promenade.

O escoamento superficial canalizador na situação de cheia rápida é difícil de definir pois depende do local do transbordo, contudo afirma-se que as vias recetoras/ canalizadoras são: Rua 17 de Julho de 1876, R. Cónego Alfredo Oliveira, Rua do Cravo, Rua da Praça e R. Dr. José Barros e Sousa. A Praça Dr. João Abel de Freitas onde localiza-se a C.M.S.C. é identificada como convergente de água tanto nas cheias rápidas como em inundações urbanas.

Fora do cenário das ocorrências ficam a Rua da Rochinha, a Rua da Fonte, a Travessa da Fontainha, Travessa do Pombal e a Rua de São Fernando.

A ausência desta última rua, São Fernando, das vias de escoamento permite afirmar que o lado ocidental da Ribeira de Santa Cruz após a ER207, não entra nas ocorrências como as inundações urbanas, porém é afetada em cheias rápidas. Nas saídas de campo constatou-se que a muralha da Ribeira de Santa Cruz é maior no lado oriental do que ocidental o que revela que em caso de transbordo a área que será afetada pelo transbordo primeiramente será o lado ocidental (figura 44).

Figura 44 - Perspetiva da altura das muralhas da Ribeira de Santa Cruz, o lado esquerdo corresponde ao sector oriental e o lado direito ao ocidental

Tanto o evento de 3 de novembro de 1956 e o de 20 de fevereiro de 2010 são processos raros de acontecer, classificando-se para o seculo XX o primeiro evento como o mais severo e para o seculo XXI o segundo.

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Outra particularidade comum a ambos os eventos é a de que o material transportado tanto pela ribeira como pelas vias de comunicação tem origem na área rural (montante da cidade).

O material transportado pelas vias de comunicação devido ao longo percurso e energia que adquirir com a declividade degrada os pavimentos das vias, causando prejuízos não em propriedades privadas mas em património camarário.

Gráfico 4 - Coluna de água na Rua da Praia, segundo pontos de medida, na cheia de 1956 e na inundação urbana de 2010.

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Nome dos Eixos Comportamento dos eixos como vias de escoamento Cheia rápida Galgamento Costeiro Inundação Urbana R. da Praia Acumulação e Canalizadora * Recetora/Canalizadora Acumulação

R. Conselheiro Luís de Freitas Branco Canalizadora e Recetora/Canalizadora * Recetora/Canalizadora Recetora/Canalizadora

R. das Rosas Canalizadora e Recetora/Canalizadora * Recetora/Canalizadora Acumulação e Canalizadora *

R. 17 DE Julho de 1876 Recetora/Canalizadora Não afetada Recetora/Canalizadora

R. Cónego Alfredo Oliveira Recetora/Canalizadora Recetora/Canalizadora Recetora/Canalizadora

Praça Padre Gabriel Olavo Francês Divergência Acumulação Divergência

R. do Cravo Recetora/Canalizadora Recetora/Canalizadora Recetora/Canalizadora

R. da Praça Recetora/Canalizadora Recetora/Canalizadora Recetora/Canalizadora

R. da Ponte Nova Recetora/Canalizadora Não afetada Recetora/Canalizadora

R. do Ribeirinho Canalizadora Não afetada Recetora/Canalizadora

Tv. Da Figueira Recetora/Canalizadora Não afetada Recetora/Canalizadora

R. Bela S. José Recetora/Canalizadora Não afetada Canalizadora e Recetora/Canalizadora *

R. do Tribunal Não afetada Não afetada Recetora/Canalizadora

R. da Rochinha Não afetada Não afetada Não afetada

TV. Da fontinha Não afetada Não afetada Não afetada

R. da Fonte Não afetada Não afetada Não afetada

Tv. Do Pombal Não afetada Não afetada Não afetada

Praça Dr. João Abel de Freitas Convergência Não afetada Convergência

R. Irmã Wilson Recetora/Canalizadora Não afetada Recetora/Canalizadora

Avenida 25 de Junho Recetora/Canalizadora Não afetada Canalizadora

R. da Calçada / das Levadas (a) Não afetada Não afetada Recetora/Canalizadora

R. de São Sebastião (b) Canalizadora Não afetada Não afetada

R. Fabien Burnay (a) Não afetada Não afetada Não afetada

ER207 (a, b) Recetora/Canalizadora Não afetada Não afetada

R. do Janeiro (b) Não afetada Não afetada Recetora/Canalizadora

R. do Cano (b) Canalizadora Não afetada Canalizadora

R. Velha da Terça (b) Não afetada Não afetada Canalizadora

R. de São Fernando Não afetada Não afetada Não afetada

R. da Morena (a) Não afetada Não afetada Canalizadora

Avenida 2 de Agosto de 1996 Canalizadora Não afetada Recetora/Canalizadora

R. da Ribeira Canalizadora Não afetada Canalizadora

R. Dona Mécia (a) Não afetada Não afetada Canalizadora

R. do Bom Jesus Não afetada Não afetada Canalizadora e Recetora/Canalizadora *

Promenade Acumulação Canalizadora Acumulação

R. Dr. José Barros e Sousa Recetora/Canalizadora Não afetada Canalizadora e Recetora/Canalizadora *

Nota: Cores correspondem à representação cartográfica

* Dependendo da origem do evento (a) Ligação com o centro funcional

(b) Não possui ligação direta mas influencia o centro funcional

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Capítulo III – Análise espacial da vulnerabilidade de cheias e inundações