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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.5 SÍNTESE DOS RESULTADOS

Nesta seção apresentaremos uma síntese dos resultados obtidos nas situações problemas de acordo com as unidades de análise, a fim de situar os principais aspectos identificados em relação à apropriação colaborativa do artefato simbólico táxi-distância.

Em relação à comunicação interpessoal, que corresponde à primeira unidade de análise, foi possível observar que o fato de os participantes serem todos de uma mesma turma e já se conhecerem antes do experimento fez com que a comunicação entre eles fluísse de maneira bastante perceptível.

A partir da análise dos fluxogramas das interações, pudemos destacar alguns aspectos relacionados aos modos de comunicação considerados no experimento, virtual e presencial. Notamos que, na sessão 2 na qual os participantes trabalharam presencialmente, houve maior envolvimento na resolução das situações problemas e que as interações foram mais rápidas e eficientes, considerando que as estratégias elaboradas eram facilmente compreendidas pelos demais participantes sem que houvesse a necessidade de elaboração muito detalhada das hipóteses e sugestões. Entendemos que na sessão 1 por estarem trabalhando no ambiente VMT, que até então era desconhecido para todos haveria a necessidade de mais tempo de familiarização com as ferramentas disponíveis. Diante disso, destacamos a importância do processo de gênese instrumental do artefato tecnológico utilizado e consequentemente o desenvolvimento de outros esquemas relacionados ao VMT, que não foram discutidos por não ser o foco da pesquisa.

Consideramos a comunicação interpessoal como nossa principal fonte de dados, visto que por meio dela foi possível registrar as estratégias dos participantes e, assim, identificar indícios da apropriação colaborativa do artefato simbólico.

Os fluxogramas de interação de cada situação deram uma visão mais objetiva do desencadeamento da comunicação síncrona dos participantes e nos auxiliou a analisar, a partir da sequência das falas, as trocas e construções compartilhadas entre eles.

Em nossa segunda unidade de análise, pudemos observar as tentativas de ação com o artefato simbólico táxi-distância, ou seja, a descoberta progressiva do artefato simbólico táxi-distância em instrumento.

Ficou evidente na resolução das situações problemas que as primeiras tentativas de ação com o artefato táxi-distância tinham como principal referencial as noções euclidianas que já são do conhecimento dos participantes. Esta relação com os lugares geométricos de equidistância já era esperada, pois, se tratando de situações problemas, era necessário que os participantes tivessem condições de iniciar a resolução a partir de conhecimentos prévios e de esquemas desenvolvidos anteriormente.

Para a resolução das situações problemas envolvendo os conceitos de menor distância, ponto médio, circunferência e mediatriz na Geometria do Táxi notamos que os conhecimentos prévios dos participantes sobre lugares geométricos de equidistância não foram suficientes quando eles precisaram utilizar a noção de distância na Geometria do Táxi.

O conflito entre os objetos gráficos na Geometria Euclidiana e a “nova” noção de distância a ser considerada por eles nos possibilitou observar elementos da Instrumentalização, quando a partir deste conflito os participantes começam a moldar o artefato considerando as suas características.

Ainda sobre a articulação com os lugares geométricos de equidistância, ficou evidente ao longo da análise das situações problemas que as representações gráficas na Geometria Euclidiana, que já era do conhecimento dos participantes, prevaleceram sobre as definições formalizadas destes mesmos lugares geométricos na Geometria do Táxi. Um exemplo disso pode ser visto na Situação Problema 4, quando questionados sobre a equidistância de um ponto fixo, conforme recorte da transcrição:

Participante Fala

Pesquisadora Posso fazer um questionamento? Quando a gente tem um ponto fixo e a gente quer todos os lugares que estão a mesma distância dele...

Júpiter Maria Círculo Tasilver Circunferência

Pesquisadora Certo, vocês podem usar essa mesma lógica nessa questão?

Nesta situação, os participantes haviam feito apenas a construção da circunferência euclidiana, e como esta não atendeu ao que era solicitado, a estratégia foi desconsiderada, ficando evidente, nesse momento, que, no conflito entre objeto gráfico e definições, os participantes se apoiaram na representação da circunferência euclidiana.

Estas observações em relação às tentativas de ação com o artefato e sua articulação com noções da Geometria Euclidiana nos direcionam a nossa última unidade de análise referente à Instrumentação.

Nesta unidade, consideramos para a análise o uso do artefato simbólico, o surgimento dos esquemas individuais e a evolução dos esquemas em esquemas de atividades coletivas instrumentadas (EACI). A partir da observação e análise desses aspectos será possível apontar elementos sobre o processo de aprendizagem colaborativa na apropriação do artefato simbólico.

Diante da observação das tentativas de ação com o artefato e a articulação com as definições e representações na Geometria Euclidiana, que, como visto anteriormente, prevaleceram sobre a definição de lugar geométrico formalizada, compreendemos que, em nossa pesquisa, o uso do artefato simbólico em dados momentos esteve condicionado à aceitação dos objetos gráficos na Geometria do Táxi. Dessa maneira, o uso do artefato simbólico táxi-distância na resolução das situações não dependeu apenas da sua apropriação e, sim, pela aceitação, por parte dos participantes, dos objetos que têm suas representações modificadas diante da noção de distância utilizada. Como exemplo, o reconhecimento da táxi- circunferência, como um lugar geométrico de equidistância, visto que sua representação se assemelha a um quadrado.

Em relação ao surgimento dos EACI nas interações, as análises confirmaram que, assim como apontado por Rabardel (1995), eles evoluem a partir dos esquemas individuais, o que pode ser constatado a partir das conexões nos fluxogramas de interações.

Ficou evidente durante toda a análise que, inicialmente, as estratégias eram apresentadas por um ou dois participantes e que, a partir das discussões, os demais participantes passavam a compreendê-las e a considerar na construção colaborativa das resoluções.

Vale ressaltar que, em algumas situações, essa compreensão das estratégias não se deu de maneira rápida, sendo necessárias discussões para testar e validar

diferentes hipóteses e, só assim, ser compreendida e considerada para a resolução da situação problema.

Mediante a reconstrução das estratégias e interações dos participantes pudemos identificar dois elementos centrais presentes nas definições e fenômenos da aprendizagem colaborativa, sendo eles: a) uso implícito ou explícito dos esquemas individuais como esquema coletivo e b) argumentação e negociação na resolução das situações problemas.

Estes dois elementos indicam que houve a coordenação das ações individuais e a evolução de esquemas compartilhados como contribuição para alcançar um objetivo comum (RABARDEL,1995).

Dessa maneira, podemos notar na análise das situações problemas que para os participantes colaborarem por meio do artefato simbólico táxi-distância foi necessário chegarem a um acordo compartilhado do seu uso, sendo estes, evidenciados a partir dos EACI.

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