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Anexo I – Síntese da entrevista exploratória

Síntese da entrevista exploratória realizada no dia 26 de Abril de 2009, com um Distinto funcionário aposentado da Direcção Geral das Contribuições e Impostos onde exercia o cargo de Representante da Fazenda Publica, Advogado, docente do Ensino Superior e formador das reuniões livres da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas.

Questão 1

Como classifica aplicação de regimes simplificados de tributação a micro empresas?

Considero ser uma medida adequada para aquelas empresas que têm um volume de negócios reduzido – o limite de € 150.000 mostra-se correcto à luz da dimensão das empresas nacionais. Trata-se de empresas que detêm uma estrutura organizativa frágil, a qual não se coaduna com as actuais exigências contabilísticas.

No entanto estes regimes forfetários não podem ser implantados de forma unilateral sem serem auscultados os empresários e as respectivas associações, tal como acontece em alguns Países.

Questão 2

Quais os factores que considera terem sido relevantes para uma empresa optar por um dos regimes de tributação?

Não haja dúvida que é ao nível da poupança fiscal que essa escolha foi realizada. A empresa tenderá adoptar o regime simplificado, se daí obtiver um menor pagamento de imposto. O mesmo sucede no caso da opção pelo regime da contabilidade organizada. Obviamente que essa escolha foi aconselhada pelo seu Técnico Oficial de Contas, pois é ele quem faz a gestão fiscal deste tipo de empresas.

No entanto o empresário tem conhecimentos sobre as implicações de cada um dos regimes. Não é por acaso que se assistem a pedidos de indemnização contra os TOC por não terem exercido a opção em tempo útil.

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Questão 3

Na sua perspectiva o que falhou no regime simplificado?

Eventualmente terão sido os coeficientes previstos na lei que a meu ver não reflectiram as especificidades das empresas, designadamente a sua localização, o sector de actividade em que se inserem, etc. Por exemplo, uma empresa distribuidora de tabaco que tem uma margem fixa de até 7%, dificilmente pode admitir aplicação de um coeficiente de rentabilidade de 20%.

O mesmo sucede com empresas que realizaram investimentos e que nos primeiros anos de vida não têm resultados positivos pelo que não é razoável terem de pagar imposto sobre um rendimento que não auferiram.

No mesmo sentido uma empresa da grande Lisboa trabalha com determinadas margens e suporta outro tipo custos, diferente de uma empresa do interior.

Existem no entanto empresas que poderão ter sido beneficiadas com aplicação deste regime. È o caso de sociedades que não consigam documentar todos os seus custos.

Questão 4

Qual é o papel que a contabilidade desempenha nestas empresas?

Na minha perspectiva profissional, a contabilidade vista como um sistema de informação para apoio na tomada de decisão, nestas micro-empresas, é uma visão utópica.

Infelizmente, o seu papel está confinado ao mero cumprimento das obrigações legais: fisco, segurança social, alfandegas, etc. Mas isto não quer dizer que o empresário não saiba o que ganhou ou que está a ganhar, pois ele executa as suas próprias contas, mas de uma forma muito mais simplificada.

Este fosso entre as contas do próprio empresário e as que estão reflectidas na contabilidade existe, entre outros factores, porque o actual sistema não está adequado às necessidades de informação deste tipo de empresas que tem de se basear numa óptica de recebimentos e pagamentos. Não é por acaso que em determinados Países, as micro- empresas podem adoptar um regime simplificado de contabilidade, que vai de encontro às suas necessidades.

99 Noutra perspectiva, também é um facto que este tipo de empresário está pouco sensibilizado e alertado para a importância que a contabilidade tem e na ajuda que esta lhe poderá dar, pois ele direcciona todos os seus esforços para área produtiva e de vendas. Por isso mesmo defendo que quem inicia uma actividade empresarial deveria ser obrigado a fazer um curso de formação, tal como acontece no sector dos transportes para a obtenção do respectivo alvará, onde todas estas questões seriam explicadas. Este deveria ser um aspecto a considerar pelos nossos governantes.

Por outro lado o TOC tem de saber lidar com este pequeno empresário, demonstrando- lhe que a contabilidade existe para o ajudar. Esta dinâmica exige uma postura mais activa o que nem sempre é fácil.

Questão 5

Actualmente muito se fala da política fiscal direccionada para as PME. Que considerações lhe apraz fazer?

Sim é verdade que actualmente, e na crise em que vivemos, as PME assumiram uma importância que até então não era muito publicitada ou assumida.

A fiscalidade sempre foi e será um dos principais instrumentos que os governos dispõem para estimular as PME. Aí, um dos factores nucleares nessa política é o da tributação do lucro. Que sentido faz tributar por exemplo estas micro-empresas a uma taxa igual à das outras, quando é através, desse lucro obtido, que estas empresas investem, crescem?

Não tenho grandes dúvidas que nos primeiros anos de actividade elas deveriam estar isentas de imposto sobre o rendimento, desde que esse lucro fosse reinvestido na actividade.

No entanto, desenganem-se os que pensam que a fiscalidade resolve todos os problemas deste tipo de empresas. Não. De forma alguma. Existe o problema do financiamento bancário, o prazo de pagamentos excessivamente dilatado que está a liquidar por completo estas empresas. Enfim, se houver a devida reflexão não é unicamente através da fiscalidade que serão resolvidos os problemas destas empresas.

Guarda, 26 de Abril de 2009.