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SÍNTESE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS

Terminada a análise empírica, apresentamos o quadro composto pela totalidade dos valores promovidos nos episódios analisados acompanhados de seu respectivo registro de inscrição. Temos, com ele, o objetivo de facilitar uma visão sintética daquilo que foi por nós mostrado de maneira fragmentada. Tal quadro torna mais acessível a consulta ao valor promovido, explicitando a personagem que o promoveu, o episódio em que tal promoção ocorreu e o registro em que se inscreve seu respectivo desenvolvimento argumentativo, conforme a análise empírica nos possibilitou expor. Abaixo está o quadro. Na sequência, interpretamos esses resultados.

Programa Personagem Valor promovido Registro

A Grande Família Lineu Competitividade Imaginário

A Grande Família Lineu Justiça Imaginário

A Grande Família Lineu Sinceridade Imaginário

A Grande Família Lourenço Carisma Imaginário

A Grande Família Lourenço Descontração Imaginário

A Grande Família Lourenço Alegria Imaginário

A Grande Família Lourenço Extroversão Imaginário

A Grande Família Mendonça Confiança Simbólico

A Grande Família Agostinho Ciúme Imaginário

A Grande Família Agostinho Conservadorismo Imaginário

A Grande Família Agostinho Tradição Imaginário

A Grande Família Martinha Liberalismo Imaginário

A Grande Família Martinha Modernismo Imaginário

A Grande Família Róbson Liberalismo Imaginário

A Grande Família Róbson Modernismo Imaginário

Aventuras da Família Brasil/1º episódio Filho Ganância Imaginário

Aventuras da Família Brasil/1º episódio Neto Ganância Imaginário

Aventuras da Família Brasil/1º episódio Pai Otimismo Imaginário

Aventuras da Família Brasil/1º episódio Pai Dedicação. Imaginário

Aventuras da Família Brasil/1º episódio Eduardo Dedicação Simbólico

Aventuras da Família Brasil/2º episódio Pai Independência (Financeira)

Imaginário

Aventuras da Família Brasil/2º episódio Ademir Religiosidade Simbólico

Os Normais Vani Consumismo Imaginário

Os Normais Vani Juventude Imaginário

Os Normais Vani Oportunismo Imaginário

Os Normais Vani Magreza Imaginário

Os Normais Vani Popularidade Imaginário

Os Normais Vani Beleza Imaginário

Os Normais Vani Sexualidade Imaginário

Os Normais Soraya Irredutibilidade Imaginário

Os Normais Soraya Sexualidade Simbólico

Os Normais Rui Sexualidade Imaginário

Os Normais Rui Ludicidade Imaginário

Fantasias de uma Dona de Casa/1º episódio Susana Oportunismo Imaginário Fantasias de uma Dona de Casa/1º episódio Susana Liberalismo Imaginário Fantasias de uma Dona de Casa/1º episódio Carmem Conservadorismo Imaginário Fantasias de uma Dona de Casa/1º episódio Carmem Lealdade Imaginário Fantasias de uma Dona de Casa/1º episódio Ivone Modernismo Imaginário

Fantasias de uma Dona de Casa/1º episódio Edgar Ganância Imaginário

Fantasias de uma Dona de Casa/1º episódio Soraya Vaidade Imaginário

Fantasias de uma Dona de Casa/2º episódio Edgar Parcimônia Imaginário Fantasias de uma Dona de Casa/2º episódio Soraya Futilidade Imaginário

Fantasias de uma Dona de Casa/2º episódio Carmem Ciúme Imaginário

Quadro 47 – Totalidade dos valores promovidos

Quanto à interpretação dos resultados, consideramos que três aspectos devem ser destacados, tendo em vista nosso problema de pesquisa. O primeiro deles diz respeito a que em aproximadamente duas horas de material de análise, o qual constitui nosso corpus exemplar, encontramos por meio de nosso exame 44 promoções de valor pelas personagens das sitcoms. Nestas 44 promoções, 24 valores ocorreram apenas uma vez e oito deles tiveram sua promoção reiterada. Entre os valores reiterados, quatro deles o foram duas vezes e quatro deles o foram três vezes. A repetição da promoção de valor aconteceu tanto internamente a um mesmo episódio analisado, através da mesma ou de distintas personagens, quanto entre diferentes programas, obviamente através de distintas personagens. Abaixo apresentamos outro quadro, desta vez com o objetivo de facilitar a visualização da reiteração dos valores promovidos.

Valor promovido Número de ocorrências de promoção

Programa em que foi promovido e personagem que o promoveu

Ganância 3

Aventuras da família Brasil/Filho Aventuras da família Brasil/Neto Fantasias de uma dona de casa/Edgar

Modernismo 3

A grande família/Martinha A grande família/Róbson

Fantasias de uma dona de casa/Ivone

Liberalismo 3

A grande família/Martinha A grande família/Róbson

Fantasias de uma dona de casa/Susana

Sexualidade 3

Os normais/Vani Os normais/Rui Os normais/ Soraya

Ciúme 2 A grande família/Agostinho

Fantasias de uma dona de casa/Carmem

Oportunismo 2 Os normais/Vani

Fantasias de uma dona de casa/Susana Dedicação 2 Aventuras da família Brasil/Pai

Aventuras da família Brasil/Eduardo Conservadorismo 2 A grande família/Agostinho

Fantasias de uma dona de casa/Carmem Competitividade 1 A grande família/Lineu

Justiça 1 A grande família/Lineu

Sinceridade 1 A grande família/Lineu

Carisma 1 A grande família/Lourenço

Descontração 1 A grande família/Lourenço

Alegria 1 A grande família/Lourenço

Extroversão 1 A grande família/Lourenço

Confiança 1 A grande família/Mendonça

Otimismo 1 Aventuras da família Brasil/Pai Independência

(financeira)

1 Aventuras da família Brasil/Pai

Cientificidade 1 Aventuras da família Brasil/Pai Religiosidade 1 Aventuras da família Brasil/Ademir

Consumismo 1 Os normais/Vani Juventude 1 Os normais/Vani Magreza 1 Os normais/Vani Popularidade 1 Os normais/Vani Beleza 1 Os normais/Vani Irredutibilidade 1 Os normais/Soraya Ludicidade 1 Os normais/Rui

Lealdade 1 Fantasias de uma dona de casa/Carmem

Vaidade 1 Fantasias de uma dona de casa/Soraya

Parcimônia 1 Edgar

Futilidade 1 Soraya

Quadro 48 – Número de ocorrência(s) dos valores promovidos

Citamos como exemplo o caso do valor ganância, promovido pelas personagens Filho e Neto, no primeiro episódio analisado do programa Aventuras da família Brasil, na mesma unidade semiótica e através do mesmo desenvolvimento argumentativo, e também por Edgar, em Fantasias de uma dona de casa, mas através de diferente desenvolvimento argumentativo. Outro exemplo é o do valor ciúme, promovido através de diferentes desenvolvimentos argumentativos por Agostinho, em A grande família, e por Carmem, no segundo episódio analisado de Fantasias de uma dona de casa. Também o caso do valor oportunismo, o qual foi promovido através de diferentes desenvolvimentos argumentativos pelas personagens Susana, no programa Fantasias de uma dona de casa, e pela personagem Vani, no programa Os normais.

O segundo aspecto destacado é a percepção a que chegamos de que os desenvolvimentos argumentativos que contribuem para a promoção dos valores nas unidades semióticas apresentam diferenças substanciais entre si. Como exemplo, trazemos o desenvolvimento argumentativo que contribuiu para a promoção do valor modernismo, por Róbson e Martinha, no programa A grande família. O referido desenvolvimento

argumentativo justifica a troca de casais que propõem a Agostinho e Bebel por ser uma possível forma de aumentar a rede de vendedores de um produto para emagrecer, da qual fazem parte. Em contraste, o mesmo valor modernismo, promovido pela personagem Ivone no primeiro episódio analisado do programa Fantasias de uma dona de casa, tem sua promoção acentuada pelo desenvolvimento argumentativo que enfatiza ser muito antiquado o vacilo de Carmem quanto a sua participação em um comercial de televisão caso haja alguma cena que envolva beijar um ator na boca.

Outra situação ilustrativa é a dos diferentes desenvolvimentos argumentativos que acentuam a promoção do valor sexualidade no programa Os normais. Soraia contribui para a promoção de tal valor ao afirmar que após sete anos de relacionamento o desejo sexual acaba, atribuindo o abandono que sofreu de seu ex-marido a tal situação. Rui contribui para a promoção de tal valor ao propor o entendimento de que, para superar seu complexo de inferioridade, Otávio precisa focar-se no que realmente interessa, “a pexereca”. Já Vani contribui para a promoção deste mesmo valor ao sugerir ser o destino de Otávio crescer e tornar-se “um taradão”, como Rui.

O terceiro aspecto que destacamos refere-se ao registro onde inscrevem-se os desenvolvimentos argumentativos que constroem os valores que encontramos nas sitcoms e contribuem para a promoção. Quanto à construção dos desenvolvimentos argumentativos, destacamos que em apenas duas das 44 unidades semióticas em que observamos promoção de valor o desenvolvimento argumentativo foi construído principalmente a partir das interpretações, cabendo às falas um papel secundário quanto à construção do sentido. Já nas quarenta e duas unidades semióticas restantes, o desenvolvimento argumentativo foi construído principalmente a partir das falas, cabendo às interpretações, na grande maioria das vezes, o papel de ilustrá-las.

A interpretação que destacamos acima pode conduzir ao entendimento de que a tematização predomina sobre a figurativização no processo de construção de sentido nos desenvolvimentos argumentativos analisados, uma vez que o sentido é construído na ampla maioria dos casos principalmente a partir das falas. Entretanto, a partir de nossa análise, o que percebemos foi justamente o contrário, como a interpretação quase que invariavelmente ilustrou as falas, ou seja, como os temas foram frequentemente ilustrados por figuras, concluímos que há a predominância da cobertura figurativa nos desenvolvimentos argumentativos.

Quanto ao registro em que se inscrevem os 44 desenvolvimentos argumentativos que destacamos, ao longo de nossa análise consideramos que há quatro desenvolvimentos

argumentativos de conteúdo simbólico e 40 desenvolvimentos argumentativos de conteúdo imaginário. Dessa forma, afirmamos que há ampla predominância da inscrição no registro do imaginário dos conteúdos dos desenvolvimentos argumentativos que constroem e contribuem para a promoção dos valores que encontramos nas sitcoms.

***

Concluímos que a análise empírica evidenciou ser elevada a quantidade de valores que encontram-se promovidos nas veiculações midiáticas examinadas. Uma vez que a escolha das sitcoms como objetos empíricos de análise se deu em função de este ser um subgênero de grande aceitação entre os telespectadores, o que se pode comprovar pelos índices de audiência que alcançam, entendemos que um grande número de pessoas está em contato com este padrão quantitativo de promoção de valores que se verificou neste segmento da esfera midiática. Consideramos ser grande a possibilidade de que este padrão se repita em outras produções midiáticas.

Pensando pelo lado qualitativo, a partir de nossa análise concluímos que podem ser inúmeras as formas através das quais são construídos os desenvolvimentos argumentativos que contribuem para a promoção de determinando valor na esfera midiática, sejam estes desenvolvimentos argumentativos conflitantes ou harmônicos, e que é frequente nessas inúmeras formas através das quais os desenvolvimentos argumentativos são construídos o caráter figurativo, imaginário, com que tal construção é investida. Tais desenvolvimentos mostraram-se muito pouco investidos simbolicamente. Outra percepção foi a de que diferentes valores podem receber contribuição de um mesmo desenvolvimento argumentativo para promover-se na esfera midiática.

Por conseguinte, considerando estes três proventos que obtivemos com a análise empírica, (1) que são muitos os valores promovidos na esfera midiática e (2) que os desenvolvimentos argumentativos, percursos temáticos e coberturas figurativas, que contribuem para a promoção destes valores podem ser, e frequentemente são, substancialmente distintos entre si, e que (3) na ampla maioria das vezes os desenvolvimentos argumentativos são imaginariamente construídos, entendemos que podemos afirmar que, assim sendo, o telespectador acaba exposto a uma elevada quantidade de valores, a qual tem sua promoção acentuada através de construções discursivas imaginárias radicalmente distintas entre si. Como os valores promovidos na mídia são destacados parâmetros para constituição das identidades, uma vez que entendemos que a mídia é a instituição culturalmente

hegemônica na contemporaneidade, é grande a probabilidade de que o telespectador identifique-se com boa parte deles, ficando sob sua responsabilidade simbolizar, através das referências simbólicas que possuir, os desenvolvimentos argumentativos imaginários a que se identifica. Vejamos, no capítulo seguinte, a relação que em nosso modo de pensar existe entre tal conjuntura e o problema das identidades na pós-modernidade.

CAPÍTULO 3 – DO PROBLEMA DAS IDENTIDADES

Chegamos ao capítulo onde abordamos especificamente qual, em nosso entendimento, é o problema com as identidades na pós-modernidade. Para chegarmos até aqui, no primeiro capítulo, apresentamos nossos pressupostos teóricos e, em meio a tal apresentação, problematizamos nossa questão de pesquisa. Nesta etapa, iniciamos estabelecendo a pertinência da noção de identidade ao campo epistemológico da Comunicação, em especial ao subcampo da Comunicação Midiática. Diferenciamos as configurações identitárias da modernidade e da pós-modernidade. Problematizamos o modo como se constituem identidades. Por termos concluído que a cultura é a principal fonte de elementos e parâmetros de identificação, empreendemos uma breve genealogia das instituições culturalmente hegemônicas, o que nos levou à mídia como instituição que ocupa tal posição na atualidade e fez com que a definíssemos nosso objeto empírico de análise.

O segundo capítulo corresponde à análise empírica pertinente a nossa pesquisa. Nele, inicialmente, apresentamos os aspectos metodológicos nos quais nos baseamos para essa análise, assim como os procedimentos metodológicos que utilizamos para operacionalizá-la. Passamos, então, à análise propriamente dita, onde analisamos semioticamente quatro sitcoms televisivas. Finalizamos este capítulo apresentando a síntese daquilo que obtivemos e interpretando tais resultados. Concluímos que um grande número de valores encontra-se promovido nas sitcoms e que tal promoção é acentuada por desenvolvimentos argumentativos pertinentes a cada valor promovido substancialmente distintos entre si, sendo tais desenvolvimentos argumentativos referências imaginárias e não simbólicas.

Neste terceiro capítulo, relacionamos os resultados da análise empírica com nossos pressupostos teóricos. As (in)conclusões a que chegamos abrem a perspectiva para um panorama apenas implicitamente indicado nos pressupostos teóricos de que nos valemos, o que nos leva a teoricamente abordá-lo e assim finalizar nosso estudo.

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