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Saúde física e mental: condição imprescindível para o envelhecimento com

No decorrer do processo de envelhecimento ocorrem alterações funcionais nos sistemas orgânicos, determinadas geneticamente e influenciadas pelo contexto social, ambiental e de saúde, as quais podem comprometer a capacidade funcional e psicológica aumentando a vulnerabilidade do ser que envelhece. Este entendimento fica evidenciado nas seguintes falas:

Nós não temos quem nos apóie, o idoso está muito excluído, uns tem diabetes, tem pressão alta, tem outras doenças, e não recebem ajuda, o dinheiro que ganhamos, muitas vezes nem dá para o remédio, aí como vamos fazer? Ter acesso à saúde é indispensável para a qualidade de vida na velhice. E2

Receber um melhor atendimento, se tivéssemos mais acesso à saúde, às vezes vamos no posto para marcar consulta e marcam para sermos atendidos na semana que vem, os exames só daqui a um mês, então tudo isso prejudica a saúde, se for algo mais grave ficamos sem assistência e podemos até morrer. É preciso ter mais agilidade neste setor de saúde. E4

O acesso à saúde é reconhecido, pelas participantes, como fator determinante para se envelhecer com qualidade de vida. A lei 8.080/90 conhecida como Lei Orgânica de Saúde106 que refere sobre a organização dos serviços e de como garantir os direitos assegurados na carta magna107, em seu Art. 2º afirma que “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. E no Art. 3º aponta para fatores determinantes e condicionantes da saúde, entre eles cita a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; enfatizando que os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País106.

O Sistema Único de Saúde (SUS) apresenta como porta de entrada no sistema a Atenção Básica à Saúde (ABS), nível em que aproximadamente 80% das necessidades de saúde de uma comunidade adstrita devem ser abordadas de maneira resolutiva. Neste nível, o Programa Saúde da Família (PSF) ocupou destacado papel nos últimos anos como estratégia indutora de eqüidade108. O cuidado aos idosos implica ofertar serviços cuja estrutura apresente características que possibilitem o acesso e o acolhimento de maneira adequada, respeitando as limitações que proporções relevantes de idosos apresentam. O Estatuto do Idoso, lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003, prescreve diretrizes para o cuidado, com objetivos de prevenção e manutenção da saúde deste grupo populacional. A política nacional de saúde do idoso109 tem como principal objetivo à promoção do envelhecimento saudável, a manutenção e a melhoria, ao máximo, da capacidade funcional

dos idosos, a prevenção de doenças, a recuperação da saúde. Fato importante e preocupante constatado pelos sujeitos do estudo no que diz respeito ao gasto com remédios e saúde. O que se opõe ao estabelecido no estatuto do idoso, que atribui ao Poder Público, a incumbência de fornecer ao idoso, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, bem como tratamento, habilitação ou reabilitação95. No entanto, o que emerge das falas é uma realidade diferente da descrita no estatuto do idoso e do SUS.

Para que se possa cuidar do idoso é preciso adentrar no mundo deles, isto é, estar atento as suas reais necessidades e desenvolver habilidades e sensibilidade observando os espaços onde o idoso se faz presente promovendo ações oportunas para a manutenção de sua qualidade de vida. Envelhecer é direito do cidadão, envelhecer dignamente, um dever da sociedade110.

As políticas de saúde são necessárias, mas para as pessoas terem saúde na velhice e as sociedades diminuírem o peso e o custo do cuidado daqueles cronicamente doentes, é necessário adotar uma perspectiva de curso de vida, isto é, começar com as crianças de hoje, os jovens e aqueles que estão chegando à idade adulta.

Além da necessidade de políticas públicas de saúde que contemple as peculiaridades dos idosos, as participantes do estudo, têm convicção de que um envelhecimento satisfatório também está relacionado à responsabilidade em assumir um comportamento e hábitos saudáveis em prol da vida e da continuidade desta. Este entendimento é expresso através das seguintes falas:

Se alimentar corretamente, não ficar sem fazer exercícios físicos, não ser sedentário, não usar medicação sem controle médico e principalmente não se automedicar. E5

Cultivar a saúde, tanto física como emocional, se tem uma doença, se cuidar, tomar a medicação, cuidar na alimentação, sair, passear, se divertir E6

Ter uma boa alimentação, procurar fazer algum tipo de exercício físico, nem que seja uma caminhada, fazer um crochê, tricô, isso tira as pessoas da tristeza, tem que desenvolver alguma habilidade e realizar alguma coisa que dê prazer, alegria, não dá para ficar parada! E7

Tem muita coisa que contribui: a saúde, o bem estar, o lazer, é muito importante, cada idoso tem um lazer a sua maneira, uns gostam de dançar, outros de rezar, outros de sair, outros jogar baralho, bocha, isso é bem variado e precisa ser respeitado. E10

Para ajudar as pessoas a conservar sua saúde e prevenir a doença, é preciso não somente ajudá-las a identificar os perigos, como também levá-las a definir sua própria concepção de saúde e doença. Assim, elas terão condições de fazer suas escolhas de maneira consciente, sabendo as implicações que estas acarretarão em sua vida. É, na verdade, construir um processo educativo libertador que não impõe, mas orienta e estimula o autocuidado, capaz de oferecer novos rumos ao ser humano. Existem parâmetros sócio- ambientais que interferem na qualidade de vida, são eles: moradia, transporte, segurança, assistência médica, remuneração adequada, educação, opção de lazer, meio-ambiente e parâmetros individuais, tais como: hereditariedade e o estilo de vida assumido durante a vida: hábitos alimentares, controle do stress, atividade física habitual, manutenção dos relacionamentos e o comportamento preventivo111.

Os idosos, ao assumirem determinados comportamentos e atitudes, estão direcionando seu processo de viver-envelhecer que poderá ser mais ou menos saudável. Algumas falas demonstram está consciência e estão descritas a seguir:

Conhecer o nosso potencial, nossa capacidade, porque a pessoa sempre tem capacidade até à hora de morrer. Procurar aprender coisas novas, ver o sol, ver o vento, ver a chuva, ver á vida acontecendo, ter vontade de viver e de se renovar a cada dia. E3

Ter metas para atingir, isto estimula a pessoa a viver, reconhecer seu potencial e a sabedoria que conquistou durante estes anos de vida. E6 É preciso ir em busca daquilo que a gente acredita e que nos faz feliz, temos que lutar por aquilo que queremos, porque nada vai cair do céu. Isso tem que partir da vontade da gente, de viver, de ser alguma coisa ainda, no meu entendimento a pessoa tem que conquistar aquilo que ela quer é ter sabedoria para viver. E12

A habilidade pessoal de se envolver, de encontrar significado para a vida, influencia de modo positivo às transformações biológicas e de saúde que ocorrem na velhice. Assim, o envelhecimento é decisivamente afetado pelo estado de espírito e ânimo do indivíduo, muito embora dele não dependa para se processar. O idoso necessita estar engajado em atividades que o façam sentir-se útil. Mesmo quando possui boas condições financeiras, o idoso deve estar envolvido com ocupações que lhe proporcionem prazer e felicidade. “Viver-envelhecer com qualidade significa tanto estar aberto para novas experiências como valorizar e aproveitar as experiências adquiridas ao longo desse processo é refletir-agir sobre a vida e o modo como se vive, pois a forma como se vive o presente e o sentido que se dá a ele determina o envelhecer futuro”3. As ações constituem necessidades básicas de todo ser humano podendo através delas criar, descobrir, aprender, ser, realizar e transformar seu meio e seu mundo, construindo, assim, a sua própria história112.

O seminário europeu sobre “A Formação em Gerontologia Social – uma exigência para a qualidade” destacou a existência de conhecimento, sabedoria e experiência que comumente acompanha a idade avançada, ainda refletiu sobre a importância de a sociedade saber valorizar as inestimáveis qualidades das pessoas idosas e de seu saber interior113.

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