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As pesquisas sobre os saberes docentes têm evidenciado a importância de se analisar os conhecimentos necessários à profissão do professor. Novas perspectivas e modelos tentam compreender a prática pedagógica e os saberes pedagógicos referentes aos processos de ensino e de aprendizagem.

Diversos estudos consideram os saberes docentes como partes fundamentais no papel do professor, sinalizando a necessidade de se pensar numa formação acadêmica que abranja o desenvolvimento profissional, organizacional e pessoal.

No entendimento de Tardif (2002), Pimenta (2005) e Gauthier (2006), existe uma variedade de saberes que concentram a formação do professor. Os saberes docentes se manifestam na sua prática, no seu modo particular de ser educador. Conforme tais estudiosos, a relação do professor com os seus saberes é constituída ao longo de sua história.

Segundo Gauthier (2006, p. 28) é imprescindível entender que

[...] quem ensina sabe muito bem que para ensinar, é preciso muito mais que simplesmente conhecer a matéria, mesmo que esse conhecimento seja fundamental. [...] pensar que ensinar consiste apenas em transmitir um conteúdo a um grupo de alunos é reduzir uma atividade tão complexa quanto o ensino a uma única dimensão.

[...] a relação dos docentes com os saberes não se reduz a uma função de transmissão dos conhecimentos já constituídos. [...] pode-se definir o saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.

Em seus estudos sobre a relação existente entre os saberes docentes e os processos de ensino e de aprendizagem, Tardif (2002, p. 36-37) classifica quatro saberes: Saber da formação profissional, Saber disciplinar, Saber curricular e Saber

experiencial.

O saber profissional é o conjunto de saberes transmitidos pelas academias de formação de professores, ao longo do processo de formação inicial e/ou continuada. Os conhecimentos pedagógicos relacionados aos métodos e estratégias de ensino (saber-fazer) também se integram ao conjunto dos saberes da formação profissional (TARDIF, 2002).

O saber disciplinar é o conjunto de saberes que correspondem aos diversos campos de conhecimento, aos saberes de que dispõe a nossa sociedade, tais como se encontram hoje integrados nas universidades, sob a forma de disciplinas, no interior de faculdades e de cursos distintos (TARDIF, 2002).

O saber curricular é o conjunto de saberes correspondentes a técnicas, métodos, objetivos, discursos e conteúdos, a partir dos quais a instituição escolar categoriza e define como cultura erudita (TARDIF, 2002).

Por último, o saber experiencial é o conjunto de saberes específicos que resultam do próprio exercício da atividade profissional dos professores. Esses saberes são produzidos pelos docentes por meio da vivência de situações específicas relacionadas ao espaço da escola e às relações estabelecidas com estudantes e colegas de profissão, que podem ser incorporados à experiência individual e coletiva sob a forma de habitus (TARDIF, 2002).

Dessa forma, de acordo com Tardif (2002, p. 39),

O professor ideal é alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da educação e a pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiências cotidiana com os alunos.

Pimenta (2005) afirma que os saberes dos professores, chamados por ela como “saberes da docência”, mediam o processo de construção da identidade profissional dos professores. Nessa perspectiva, a autora entende que

O saber do professor se fundamenta na tríade saberes das áreas específicas, saberes pedagógicos e saberes da experiência. É na mobilização dessa tríade que os professores desenvolvem a capacidade de investigar a própria atividade e, a partir dela, constituírem e transformarem seus saberes-fazeres docentes. (PIMENTA, 2005, p. 08).

Para a autora, os saberes do conhecimento formam o conjunto de saberes construídos na formação específica (Português, Geografia, Artes, Matemática, História, etc). Nessa categoria, a autora acrescenta os saberes disciplinares e curriculares identificados por Tardif e Gauthier.

Os saberes da experiência podem ser definidos em dois níveis: os saberes da experiência dos futuros professores enquanto estudantes, ou seja, saberes construídos durante a formação, e os saberes da experiência produzidos pelos professores na prática pedagógica cotidiana.

Os saberes pedagógicos são compreendidos como os conhecimentos que viabilizam a ação do ensinar e do como ensinar, de modo que ocorra a superação do tradicionalismo, onde o estudante só recebe.

Em aspectos semelhantes a Tardif, Gauthier et al (2006) apresentam uma classificação para os saberes docentes, que são eles: Saberes disciplinares,

Saberes curriculares, Saberes das ciências da educação, Saberes da tradição pedagógica, Saberes experienciais e Saberes da ação pedagógica.

De acordo com o autor, os saberes disciplinares são aqueles saberes elaborados pelos cientistas e pesquisadores envolvidos com atividades de pesquisa nas diferentes áreas de conhecimento. Logo, mesmo não estando envolvidos no processo de elaboração desses saberes disciplinares, os docentes têm como função retirar desses saberes aquilo que é importante ser ensinado.

Os saberes curriculares são os conhecimentos dos programas escolares. Os professores precisam ter um mínimo de conhecimento sobre os programas que são implantados por meio de diretrizes oficiais e, ainda, os que são inseridos nos materiais e livros didáticos.

Os saberes das ciências da educação, segundo Gauthier et al (2006) são os saberes a respeito da instituição escolar, seu funcionamento e sua ordenação. Esses saberes são alcançados pelos professores ao longo de sua formação profissional.

Em suma, [o professor] possui um conjunto de saberes a respeito da escola que é desconhecido pela maioria dos cidadãos comuns e pelos membros das outras profissões. É um saber profissional específico, que não está diretamente relacionado com a ação pedagógica, mas serve de pano de fundo tanto para ele quanto para os outros membros de sua categoria socializada da mesma maneira. Esse tipo de saber permeia a maneira de o professor existir profissionalmente. (GAUTHIER et al, 2006, p. 31).

Os saberes da tradição pedagógica são correspondentes às representações que cada educador dispõe a respeito da escola e do seu papel, da figura do professor, dos estudantes, dos processos de ensino e de aprendizagem, dentre outros. Segundo os autores, essas representações são elaboradas muito antes do ingresso na carreira, ou seja, antes mesmo de o professor decidir ser professor e ingressar num curso de formação inicial.

Conforme Gauthier et al (2006), os saberes experienciais são os conhecimentos incorporados pelos professores em um processo individual de aprendizagem da profissão. A forma como as experiências ocorrem no trabalho docente vão definir a amplitude desses saberes experienciais.

Os saberes da ação pedagógica, segundo Gauthier et al (2006), correspondem à validação dos saberes experienciais dos professores, ou seja, a partir do momento em que os saberes experienciais tornam-se públicos e são legalizados através de pesquisas e estudos realizados tendo a sala de aula como cenário empírico.

Diante da tal complexidade e importância dos saberes docentes, estes precisam e devem fazer parte da formação de professores e futuros professores, pois, segundo Tardif (2002), ensinar é movimentar uma gama de saberes, utilizando- os sempre e adaptando-os pelo e para o trabalho, resultando em aprendizagem para os estudantes.